sábado, 2 de novembro de 2013

Os ativismos seletivos de conveniência






As ondas catárticas na sociedade não tem explicação racional, envolve uma série de manifestações subjetivas com ansiedades latentes, independente de suas bandeiras e legitimidades. A momentânea onda catártica da classe média é "salvar" os animais de laboratórios supostamente que sofrem maus-tratos, claro somente os fofinhos e bonitinhos, pois os feinhos que se lasquem. Tarefa nobre? Nem tanto.

Não é a toa que a mesma classe média deposita enormes recursos em shopping centers de "pets" (uma fashion designação importada para "animais de estimação"). É sintomática uma crescente onda de casais que trocam a possibilidade de terem "filhos humanos" para ter "pets", ou seja, "filhos" com quatro patas e mais "domesticáveis".

Nenhum nos vários jornais ou noticiário que acompanho, percebi que alguma ala muito fashion de "black blocs" (seriam os "black pets" ou "pets blocs"?) defensores de animais bonitinhos com a mesma volúpia ardente entrando em favelas, orfanatos, casas de abrigo para recuperar crianças em estado de risco. Será que elas não merecem a mesma consideração de um beagle? Talvez não com tanta doçura e com focinho todo molhado, afinal de contas, crianças têm seus caprichos infantis. Argumentação "apelativa"? Talvez mais apelativo seria o ativismo seletivo de conveniência.

Curioso que também não vejo nenhum socialite, atriz global ou alguma bela garota ou algum varão invadindo cercas, granjas e matadouros para salvar vacas, bois, carneiros, patos, galinhas ou porcos. Nem mesmo as cobaias e os camundongos são lembrados por esta gente tão heroica. Certamente, vacas, bois, carneiros, patos, galinhas, porcos, cobaias, camundongos e crianças não tem o mesmo apelo de beagles e outros bichinhos fofuchos.
Uma coisa são os maus-tratos de animais em pesquisas laboratoriais que deve ser observado com máximo rigor, controle e segurança. Outra coisa bem diferente é a histeria hipócrita que ultimamente tomou conta de algumas pessoas da classe média levadas ao reboque dos protestos de inverno.

Cada ramo da ciência tem seus meios e métodos. As ciências biológicas e médicas ainda precisam de alguns tipos de animais para seu desenvolvimento científico, caso a humanidade desejar curas para muitas das doenças que devastam milhões de humanos. 
 Ninguém em sã consciência deverá ser favorável aos métodos do Dr. Frankenstein, Dr. Moreau ou qualquer outro lunático da ciência ficcional (nunca podemos esquecer-nos dos nefastos experimentos com humanos, em particular, os realizados na Alemanha sob o domínio nazista). Não podemos nos iludir que por mais que a tecnologia esteja avançada, ainda são imprescindíveis alguns usos de animais de controle. Ademais, sempre no último estágio, as cobaias acabam virando sempre os seres humanos.

Quem sabe um dia os seres humanos tenha tanto apreço pelos seres humanos tal como alguns “ativistas” tem pelos mimosos "pets". Certamente seríamos um mundo bem melhor e bem mais harmonicamente habitável para todos os seres humanos, a flora e a fauna. Mas infelizmente, a mediocridade utilitarista humana é superior à suas benevolências, daí temos que conviver tragicamente com o eterno jogo de hipocrisia, cretinices e violências abissais.
 
Talvez o único consolo seja que somos todos seres humanos iguais sem distinções de raça, credo e insanidades que alguns sempre querem fazer separar uns dos outros, e a certeza que todas as nossas canalhices terráqueas são universais.

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