sábado, 16 de novembro de 2013

O teatro da justiça brasileira: mensalão, grande mídia, pesos e medidas





Finalmente a sede de vingança por parte da ala mais conservadora da sociedade se concretizou com a condenação do núcleo "duro" do episódio mais nebuloso do governo Lula conhecido como "Mensalão". Sim, de fato, que houve transição entre dinheiro e votos não tenham muitas dúvidas, todavia a questão não é tão simples quanto possa parecer perante os olhos da grande mídia.

Em um país mergulhado historicamente em diversos tipos de corrupção, é sintomático que os primeiros que realmente vão para cadeia são derivados de partidos de esquerda, em particular, do PT. Certamente, a mesma convicção que o juiz supremo do STF e do Universo, Joaquim Barbosa, não teve para abrir os casos do governo FHC, principalmente com o maior escândalo da República pós-golpe militar, que foi o processo de privatização das empresas públicas e, vale lembrar também, o famigerado PROER, plano de ajuda estatal com dinheiro público para financiar as falcatruas dos bancos privados e tirá-los da bancarrota. A grande imprensa, o atual setor político de oposição mais organizado no país, martelou incessantemente contra o Mensalão e se calou como um coelhinho com medo da chuva perante todos os escândalos dos governos tucanos. Lembrando ainda que em termos financeiros de usurpação do erário, as falcatruas tucanas dão de goleada no caso do Mensalão petista.

O PT errou, sim. Feio e irresponsavelmente, melhor dizendo, errou para se acertar eleitoralmente. Seu projeto político, ou seja, seu projeto original se perdeu e foi atirado no ralo quando quis compactuar com a conservadora classe média e os setores do grande capital financeiro nacional e internacional. O preço foi alto, muito alto do ponto de vista político e das possibilidades de se fazer uma nova forma de fazer política no Brasil. As eleições, em nível federal, foram vencidas, duas vezes por Lula e uma com Dilma, mas com um leque de alianças que incluía desde o PC do B até o PP de Maluf, e todos os oportunistas de plantão num imenso bailo de gatos. O almofadinha do Eike Batista foi uma destas figuras do universo da bandidagem burguesa que muito se aproveitou do envolvimento com a alta cúpula do governo petista. Como em qualquer governo de coalizão e com problemas de governabilidade, a lista de parasitas apoiadores da Republica petista é longa, inclui desde sindicalistas pelegos até as famigeradas ONGs.

O mensalão não foi uma novidade, uma vez que as políticas entre o Poder Executivo e o Legislativo é uma promiscuidade bem mais "consolidada" e "legitimada" nas diversas esferas de poder. O próprio governo tucano de FHC utilizou das premissas mensalônicas que o neopetismo copiou e se ferrou com a grande mídia. O recado é simples: a direita pode roubar o erário como desejar, todavia, já à esquerda, se o fizer, deverá ir para a cadeia! E fim de papo.

O PT errou também por que não soube entender que não se poder servir a dois amos. Não se pode agradar a todos. Não abraça ao mesmo tempo Deus o e o capeta. Demagogia tem limites e o tempo mostrou tais limites!

Que a Justiça brasileira é punitivamente seletiva, isto é um fato histórico e as cadeias superlotadas de pobres é um exemplo vexatório. O populismo jurídico atende a interesses meramente econômicos, políticos e, praticamente, não se lixa para qualquer senso de responsabilidade social. Vale a premissas: aos amigos, afagos; aos inimigos, a rigidez das leis. Desta maneira, o bajulado STF, não teve nenhuma vontade para apurar quaisquer escândalos na gestão tucana, mas se empenhou ao máximo para punir os petistas. Ninguém é ou deve ser tratado como querubim, mas que todos devem ser punidos, indistintamente, se de fato, comprovado suas participações em atos ilícitos.

Com os resultados desta sexta-feira, 15/11, não me parece que as condenações de envolvidos com o Mensalão tenham grandes motivos para comemorações, exceto pelos ares de vingança contra o PT. Tudo em indica, na onda conservadora que vem sendo conduzido o país, ficará muito mais na história como um revanchismo oportunista e pontual do que a aplicação de fato das normas jurídicas, indistintamente, perante todos os criminosos do colarinho branco.

Não será na grande teatralização neste episódio, que teremos no Brasil uma necessária e real onda de caça à criminosos do colarinho branco. Quando os holofotes cessarem e a onda vingativa espairecer, tudo voltará como antes e os magistrados voltarão a se esconderem bem debaixo de suas togas da covardia e do oportunismo político.

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