O Brasil é um país sui
generis. Todos os modelitos não servem para entendê-lo, nem da direita e nem da
esquerda. É projeto único, um molde próprio, uma deformação que nos mete à
varias incursões reais e psicanalítica, entre a abundância, a crueldade o abuso
da sorte à covardia e a apatia do medo de ser grande, de um povo que nem sempre
se olha como povo mas adora se parecer como aqueles lá fora. Sim, um povo em
seu eterno labirinto carnavalescamente colonizado à sua maneira e cuja angústia
é ser o que não foi ainda e tampouco se tem alguma idéia mais plausível. O
Brasil não é um país cartográfico e sólido, mais é um manejo de uma identidade
multifacetada e fluída unido pela cultura, ou melhor, diversas culturas.
Quem é o brasileiro? Homens e
mulheres paridos da agressividade sexual e do fetiche idílico do colonizador
português e da importação de estrangeiros degradados de suas nações e
encantados pela eterna ideal de recomeço. No plano de ocupação territorial, sua
expansão populacional deveu-se aos estupros deliberados de mulheres negras e
indígenas. O machismo brasileiro é uma manifestação cultural e de povoamento
forçado.
A sua independência política
não foi a revelia do povo como alguns acreditam, mas não houve povo para lutar
por liberdade. As elites dirigentes negociaram os trâmites da independência
como um grande balcão de armazém de secos e molhados e, paradoxalmente, ao
contrário da colcha de retalhos sangrenta da América Espanhola, tais negociatas
evitaram a fragmentação do solo brasileiro e evitaram o "haitinismo"
do país.
A educação do povo nunca foi
uma prioridade, ao contrário, um luxo que somente caberia alguns escolhidos da
elite. Nem a Igreja Católica interessava um povo letrado, pois os ensinamentos
se passavam de geração a geração, por via da oralidade de seus sacerdotes e a
obediência sagrada à Santíssima Trindade. Logo, a educação sempre foi vista com
desconfiança, o receio que muita sapiência popular pudesse dar vozes destoantes
das políticas governamentais vigentes. Curiosamente, após meio milênio depois,
a mesma mentalidade segue firme e forte na cabeça dos herdeiros da elite
colonial.
Não é difícil entender as
razões históricas de uma subserviência popular que não consegue se identificar
no cenário nacional. Também não é difícil de entender a tamanha demanda
refreada recalcada que milhões de brasileiros que ainda carecem (e suplicam)
por cidadania plena às portas de um modelo de inclusão à marretadas com doses
de populismo eleitoreiro.
A Língua Portuguesa, o
carnaval, o apego à religião, o sexo suprarracial fundado por um machismo atávico e o futebol
tiveram mais importância para a identidade brasileira do que qualquer outra
doutrina política importada.
[Continua nas próximas
postagens...]
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