domingo, 12 de outubro de 2025

QUANDO A MILITÂNCIA IDEOLÓGICA REACIONÁRIA SE FANTASIA DE "JORNALISMO PROGRESSISTA"

 


Para variar, como já se tornou rotina das “reportagens jornalísticas” que grassam pelo país em tempos de redes sociais, a matéria do GGN Notícias, “População de rua precisa ser incluída no censo do IBGE”, é um exemplo prático de como fazer ativismo ideológico reacionário travestido de jornalismo com preocupações progressistas — induzindo o leitor ao erro, à distorção da realidade e fomentando a projeção do ódio racial na sociedade.

Se a reportagem trata, em seu tema central, da necessidade de o IBGE mapear e contabilizar a população em situação de rua no Brasil, como é possível que a mesma reportagem afirme, de antemão, que essa população é "majoritariamente negra"?

Dessa forma, sem apresentar qualquer dado que comprove tal afirmação, a reportagem segue induzindo e seduzindo o leitor ao equívoco, ao enfatizar que o problema da população de rua se sintetiza na famigerada "questão racial" — inviabilizando qualquer reflexão mais profunda sobre a complexidade dessa população específica que, apesar do preconceito latente, vai muito além do simplório estereótipo racial.

Ora, se fosse verdade, a priori, que a população de rua é fruto de uma suposta moral preconceituosa da sociedade brasileira, qual seria, então, a razão de o IBGE desejar realizar tal pesquisa? Logo, se a bola de cristal do redator da matéria fosse levada a sério, a própria reportagem sequer existiria, já que o perfil demográfico da população de rua já seria conhecido — o que tornaria a pesquisa do IBGE redundante ou desnecessária.

Em tempos de ideologia neoliberal, tornou-se tão leviano quanto corriqueiro o apelo racial para justificar as brutais desigualdades sociais de forma tão acachapante e definitiva. A questão da estrutura de exploração e massacre dos trabalhadores brasileiros é ocultada e, num passe de mágica, tudo é reduzido ao apelo moral do "racismo".

O apelo generalista e desonesto, recorrendo ao uso da inquestionável questão escravocrata brasileira como justificativa totalizante, é outra falácia argumentativa usual pós-moderna. É equivocado e rasteiro partir de uma premissa verdadeira — a escravidão colonial — para justificar o nível de miserabilidade racial da população de rua na atualidade, como se, mais de 137 anos depois, a estrutura social brasileira permanecesse intacta, sem nenhuma alteração desde a promulgação da Lei Áurea, em 1888, e como se sequer o capitalismo tardio tivesse sido inaugurado no Brasil.

Não é estranho que, dentro de uma onda de promoção à guerra racial no Brasil, esteja se produzindo até a alcunha de um suposto “capitalismo racial”, como se as estruturas capitalistas obedecessem, somente, a regras morais que tangenciam a ideia eugenista nazista de raça. Assim, diante dessa retórica racialista, tudo derivaria de uma “ancestral” guerra racial entre dois tipos ideais de seres humanos: os “com” e os “sem” melanina.

As atrocidades do capitalismo são tão complexas, diante da luta de classes, que não obedecem a um único fator determinístico capaz de explicar suas contradições e destrutividade dentro de uma sociedade de exploração do trabalho e deificação do capital. Enfim, chegamos ao fosso ativista da estupidez ideológica do deserto neoliberal que reina na pós-modernidade.

Não causa surpresa, ao se observar o baixo nível do repertório argumentativo do ativismo identitário racial — promovido aberta e fartamente pelo Grande Capital —, que se busque induzir à ideia preconcebida de que todos os atuais problemas sociais brasileiros se restringem à questão moral da escravidão e, por sua vez, a esta como o único vetor de construção da complexa estrutura socioeconômica brasileira.

Vale ressaltar que, se considerarmos a realidade da estratificação social da população negra brasileira (sem utilizar a instrumentação ideológica de incluir a “população parda” para ampliar artificialmente os dados estatísticos), essa população seria majoritária apenas no discurso, pois, na realidade, restringe-se a cerca de 10% da população geral, segundo o último censo do IBGE.

A retórica das identidades racializadas segue uma mesma e mecânica estratégia ideológica: a manipulação da linguagem por meio das palavras mágicas da política identitária, que busca transformar toda a realidade material em espalhafatosas questões comportamentais e moralistas.

Sendo assim, não seriam as brutais desigualdades estruturais da economia que devastam os seres humanos, mas sim o sintético e subjetivo "preconceito". Segundo essa lógica rasteira, desloca-se a questão da disparidade de classes sociais, imposta pelo aparelhamento de exploração capitalista, para o campo subjetivo e moral da racialização social.

Quando a militância política se fantasia de jornalismo, o resultado é um show de mentiras e distorções da realidade — seja em noticiários mais "conservadores" ou "progressistas". Em ambos os casos, a verdade é sempre a primeira vítima a sangrar quando o ativismo se impõe acima dos fatos materiais que interessam à sociedade, embalado por uma retórica discursiva obcecada pelo obscurantismo e pelo fanatismo ideológico.

(Wellington Fontes Menezes)

  

👉 PARA SABER MAIS: https://jornalggn.com.br/noticia/populacao-em-situacao-de-rua-precisa-ser-incluida-em-censo-do-ibge-alerta-especialista/

 

 


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