quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Flamengo em 2013: um enredo psicanalítico.
A covardia e a falta de compromisso com o outro são sintomas passíveis a qualquer ser humano. Uns superam tais processos com profunda análise de suas atitudes, outros gozam neste hiato entre os elementos narcíseo e o agressivo. Sendo assim, é interessante observar um outro lado da conquista da Copa do Brasil pela equipe do Flamengo nesta noite de quarta-feira, 27 de novembro. Abandonado pelo ex-técnico em plena disputa de dois campeonatos nacionais, há cerca de três meses, a perda se tornou um elemento desestabilizante de um grupo inseguro de jogadores o qual recebeu uma castração abrupta e severa, sentiu-se sem rumo até conseguir se projetar para outro lugar, sair da posição cômoda da apatia (discurso passivo) para ocupar outro lugar, a da ação (discurso ativo). O advento do novo técnico foi fundamental para um novo olhar diante do espelho.
A história do Flamengo em 2013 na Copa do Brasil significou muito mais que um mero título entre tantos outros conquistados de um dos maiores clubes de futebol do planeta, mas a vivência de um grupo de jogadores, abandonado e humilhado por seu ex-treinador, Mano Menezes (na ocasião, o qual ele se referiu a um elenco limitado e que "não soube entender que ele, Mano Menezes, entendia de futebol"). Trocando em miúdos, Mano quis dizer que o Flamengo, de tão ruim, teria o rebaixamento no Campeonato Brasileiro como algo inevitável, mesmo ainda apenas começando o segundo turno do campeonato e sequer caminharia no outro campeonato em disputa, a Copa do Brasil.
Importante notar, que o Flamengo, em 2013, o mesmo Mano ao aceitar comandar o Flamengo estava ciente que iria trabalhar comum elenco limitado tecnicamente, desmotivado e baixo prestígio perante sua grande torcida, resultado imediato do aperto financeiro que passa o clube e, também, após trocas infrutíferas de técnicos. Então, por qual motivo teria aceitado ser técnico? A questão era a exposição do seu nome no lastro da evidência midiática do Flamengo, quando Mano carregava nas costas o fracasso no comando da Seleção Brasileira, o qual foi substituído por Luís Felipe Scolari.
Todavia, a história de Mano era outra e a ganância e a falta de compromisso mostrariam mais uma vez o que o fracassado ex-técnico da Seleção Brasileira tem de melhor: a falsidade lastreada com falsa aura de "profissionalismo". Já no comando do Flamengo, Mano Menezes havia "apalavrado" um acordo com o clube do Parque São Jorge e, simplesmente, abandonou o Flamengo em plena crise. Mano somente aguardava a hora da derrubada do técnico Tite do Corinthians para assumir o seu posto (posição esta que tardou a acontecer devido ao apoio do elenco de jogadores corintianos a Tite e que Mano, finalmente, irá assumir somente nos próximos dias).
Não tardou para o desvencilhamento de Mano do Flamengo chegar afinal. Em pelo Maracanã, a derrota, de virada, por 4 a 2 para o mesmo Atlético Paranaense da final da Copa do Brasil, há menos de três meses atrás pelo Campeonato Brasileiro, foi o momento oportuno para que Mano Menezes pedisse sua aguardada demissão. Nas palavras do próprio goleiro rubro-negro, Felipe, relatado por ele, após se sagrar campeão, mostrou a situação da equipe época após o abandono do então profissionalismo técnico Mano: “Primeiro temos que agradecer ao Atlético Paranaense por estarmos aqui. Foi lá [no jogo contra o Atlético] que tivemos a mudança. Foi ali que a ficha caiu”. Não apenas a “ficha” iria cair, mas também um outro modo dos jogadores encararem a situação que havia se transformado a equipe do Flamengo. O próprio Felipe sofreu uma grave contusão, foi operado, ficou quase um mês afastado e conseguiu voltar para jogar os dois jogos finais da grande decisão do título.
Logo após, assumir um desconhecido e relegado dos holofotes midiático, o auxiliar técnico, Jayme de Almeida, um ex-jogador e funcionário do clube (o que se convenciona chamar de “prata da casa”), passou de técnico interino a técnico efetivado e conseguiu dar “alma” (voz ativa), raça (posição ativa) e padrão de jogo ao rubro-negro. Jogadores como o novo goleador, Hernane, além de Paulinho, Luiz Antônio e o sempre moroso, Carlos Eduardo, rendem mais do que esperado assim como boa parte do elenco (como alguns renegados de Mano Menezes, Samir e Amaral) que melhoram o entrosamento e, o que de fato ajudou e, muito, foi time-base definido por Jayme de Almeida.
No final deste enredo com final positivo para o rubro-negro, o Flamengo não apenas se livrou do fantasma do rebaixamento como também e se sagrou campeão da Copa do Brasil com glória, uma campanha excepcional (11 vitórias em 14 jogos e apenas uma única derrota) e mantendo o mesmo elenco o qual Mano tanto desprezou. A receita rubro-negra de soluções caseiras de técnicos “prata da casa” que assume em meio à crise, se efetivam e levam à glória o rubro-negro mais uma vez se confirmaria com os títulos nacionais em 1987 com Carlinhos, 2009 com Andrade e, agora, com Jayme de Almeida, em 2013.
Quanto à falsa profecia de Mano Menezes que o time iria “cair”, seria apenas um palpite frustrado a ou a diferença entre o compromisso e a ganância imediatista? A vida dá voltas e muitas vezes, escapa da lógica determinista impregnada nas Ciências da Natureza, e em dados momentos, não tem grandes explicações materialistas. Todavia, é importante refletir o quanto a mudança de lugar, saindo de uma posição da voz passiva (o gozo de uma dor) para uma posição ativa (o ressignificado do agir) pode fazer muita diferença tanto nos aspectos psíquicos do indivíduo quanto da conjuntura de grupo. Neste caso, para o Flamengo em 2013, de fato e, para usando um bordão bem popular, fez toda a diferença.
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