sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O autoritarismo eletrônico e as efêmeras relações objetais






A Pós-Modernidade vem sendo um palco onde tudo parece ser o que não é; e onde o que é, não quer ser. Nesta premissa, muitas mulheres parecem conseguir o patamar de muitos outros homens: a equidade na estupidez. Para quem tem dúvidas que toda aparecia moderna é muito mais pretensiosa do que sua essência, tudo indica, tal equilíbrio entre gêneros vem se aproximando com relativo sucesso.

A impunidade é um convite para a ação irrefreável, ou seja, é o lugar onde a castração não foi fundada. Logo, diante da sobra do anonimato, se permite fazer tudo na era da tecnologia ao alcance da ponta dos dedos, inclusive as mulheres cultivarem posturas autoritárias e ofensivas e, curiosamente, podem também fazer o mesmo que alguns homens fazem contra muitas mulheres: o sintomático abuso. Um novo aplicativo para celular foi inventando tendo a brilhante idéia de dar notas aos homens as quais as mulheres "trepam" (ou fingem fazer tal exercício físico) em baladas, ficadas e afins. Tudo muito inovador e moderno, tanto quanto, moderno era o fogão a lenha.

Depois, para delírio histérico do lesbo-feminismos, muitas destas mesmas mulheres, que compartilham com este universo de hostilidades grotescas, futilidades voláteis e relacionamentos patológicos, se posam de sacras vitimas indefesas de homens cafajestes ou com sérios problemas de transtorno de personalidade. Logo, quem seria o culpado disto tudo? Lá vem a "Sociologia da Vitimização" tecendo seu cabedal de pérolas politicamente correta, mas que não leva a lugar algum, exceto a incidência do gozo no papel de "vítima". Como sempre o Outro é o culpado e nunca a condição do "Eu" se torna protagonista, ou seja, a eterna voz passiva do velho discurso da vitimização por osmose.

Na onda do autoritarismo eletrônico, o Facebook, por exemplo, vem se tornando cada vez mais um espaço de manifestação de calúnias, injúrias e intolerâncias de toda a natureza, praticando tanto por homens quanto por mulheres (inclusive adolescentes). A agressividade transpõe o cotidiano palpável e inunda o info-mar das redes sociais. Logo, sem castração, as redes sociais se tornam o um espaço sedutor para o despojamento do ego sem sofrer tanto a influência "paternal" do superego.

Com a falsa impressão que as pessoas estão mais próximas via meio eletrônico, mas mantendo-se afastados da realidade física (ou seja, a interação da não-relação), estamos evoluindo para uma predominância de relações fluídas e descartáveis, cada vez mais covardes nas posturas perante o Outro, a falência do respeito e a canalhice generalizada nas relações sexo-objetais. Por outro lado, a superação deste caminho seria um retorno à tentativa de aproximação da realidade, do elemento concreto, de se posicionar perante o olhar e a dor do Outro. Certamente, é uma via nada trivial.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Flamengo em 2013: um enredo psicanalítico.







A covardia e a falta de compromisso com o outro são sintomas passíveis a qualquer ser humano. Uns superam tais processos com profunda análise de suas atitudes, outros gozam neste hiato entre os elementos narcíseo e o agressivo. Sendo assim, é interessante observar um outro lado da conquista da Copa do Brasil pela equipe do Flamengo nesta noite de quarta-feira, 27 de novembro. Abandonado pelo ex-técnico em plena disputa de dois campeonatos nacionais, há cerca de três meses, a perda se tornou um elemento desestabilizante de um grupo inseguro de jogadores o qual recebeu uma castração abrupta e severa, sentiu-se sem rumo até conseguir se projetar para outro lugar, sair da posição cômoda da apatia (discurso passivo) para ocupar outro lugar, a da ação (discurso ativo). O advento do novo técnico foi fundamental para um novo olhar diante do espelho.

A história do Flamengo em 2013 na Copa do Brasil significou muito mais que um mero título entre tantos outros conquistados de um dos maiores clubes de futebol do planeta, mas a vivência de um grupo de jogadores, abandonado e humilhado por seu ex-treinador, Mano Menezes (na ocasião, o qual ele se referiu a um elenco limitado e que "não soube entender que ele, Mano Menezes, entendia de futebol"). Trocando em miúdos, Mano quis dizer que o Flamengo, de tão ruim, teria o rebaixamento no Campeonato Brasileiro como algo inevitável, mesmo ainda apenas começando o segundo turno do campeonato e sequer caminharia no outro campeonato em disputa, a Copa do Brasil. 


Importante notar, que o Flamengo, em 2013, o mesmo Mano ao aceitar comandar o Flamengo estava ciente que iria trabalhar comum elenco limitado tecnicamente, desmotivado e baixo prestígio perante sua grande torcida, resultado imediato do aperto financeiro que passa o clube e, também, após trocas infrutíferas de técnicos. Então, por qual motivo teria aceitado ser técnico? A questão era a exposição do seu nome no lastro da evidência midiática do Flamengo, quando Mano carregava nas costas o fracasso no comando da Seleção Brasileira, o qual foi substituído por Luís Felipe Scolari.

Todavia, a história de Mano era outra e a ganância e a falta de compromisso mostrariam mais uma vez o que o fracassado ex-técnico da Seleção Brasileira tem de melhor: a falsidade lastreada com falsa aura de "profissionalismo". Já no comando do Flamengo, Mano Menezes havia "apalavrado" um acordo com o clube do Parque São Jorge e, simplesmente, abandonou o Flamengo em plena crise. Mano somente aguardava a hora da derrubada do técnico Tite do Corinthians para assumir o seu posto (posição esta que tardou a acontecer devido ao apoio do elenco de jogadores corintianos a Tite e que Mano, finalmente, irá assumir somente nos próximos dias). 


Não tardou para o desvencilhamento de Mano do Flamengo chegar afinal. Em pelo Maracanã, a derrota, de virada, por 4 a 2 para o mesmo Atlético Paranaense da final da Copa do Brasil, há menos de três meses atrás pelo Campeonato Brasileiro, foi o momento oportuno para que Mano Menezes pedisse sua aguardada demissão. Nas palavras do próprio goleiro rubro-negro, Felipe, relatado por ele, após se sagrar campeão, mostrou a situação da equipe época após o abandono do então profissionalismo técnico Mano: “Primeiro temos que agradecer ao Atlético Paranaense por estarmos aqui. Foi lá [no jogo contra o Atlético] que tivemos a mudança. Foi ali que a ficha caiu”. Não apenas a “ficha” iria cair, mas também um outro modo dos jogadores encararem a situação que havia se transformado a equipe do Flamengo. O próprio Felipe sofreu uma grave contusão, foi operado, ficou quase um mês afastado e conseguiu voltar para jogar os dois jogos finais da grande decisão do título.

Logo após, assumir um desconhecido e relegado dos holofotes midiático, o auxiliar técnico, Jayme de Almeida, um ex-jogador e funcionário do clube (o que se convenciona chamar de “prata da casa”), passou de técnico interino a técnico efetivado e conseguiu dar “alma” (voz ativa), raça (posição ativa) e padrão de jogo ao rubro-negro. Jogadores como o novo goleador, Hernane, além de Paulinho, Luiz Antônio e o sempre moroso, Carlos Eduardo, rendem mais do que esperado assim como boa parte do elenco (como alguns renegados de Mano Menezes, Samir e Amaral) que melhoram o entrosamento e, o que de fato ajudou e, muito, foi time-base definido por Jayme de Almeida.

No final deste enredo com final positivo para o rubro-negro, o Flamengo não apenas se livrou do fantasma do rebaixamento como também e se sagrou campeão da Copa do Brasil com glória, uma campanha excepcional (11 vitórias em 14 jogos e apenas uma única derrota) e mantendo o mesmo elenco o qual Mano tanto desprezou. A receita rubro-negra de soluções caseiras de técnicos “prata da casa” que assume em meio à crise, se efetivam e levam à glória o rubro-negro mais uma vez se confirmaria com os títulos nacionais em 1987 com Carlinhos, 2009 com Andrade e, agora, com Jayme de Almeida, em 2013.

Quanto à falsa profecia de Mano Menezes que o time iria “cair”, seria apenas um palpite frustrado a ou a diferença entre o compromisso e a ganância imediatista? A vida dá voltas e muitas vezes, escapa da lógica determinista impregnada nas Ciências da Natureza, e em dados momentos, não tem grandes explicações materialistas. Todavia, é importante refletir o quanto a mudança de lugar, saindo de uma posição da voz passiva (o gozo de uma dor) para uma posição ativa (o ressignificado do agir) pode fazer muita diferença tanto nos aspectos psíquicos do indivíduo quanto da conjuntura de grupo. Neste caso, para o Flamengo em 2013, de fato e, para usando um bordão bem popular, fez toda a diferença.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Simplificações do maniqueísmo lesbo-feminista e a dura realidade da violência contra a mulher.






Mais uma da série do lesbo-feminismo que Revista Fórum nos brinda com a lógica simplista onde tudo é culpa dos homens, que todos são feios, sujos e maus contra as pobres virgens e imaculadas mulheres. Nesta lógica "anti-homem", a única solução seria do estilo "cada macaco no seu galho", ou seja, meninas não brincam mais com meninos e viva a neurose sexual da pós-modernidade travestida de "progresso da emancipação sexual". Ledo engano!

Sintomaticamente temos uma profunda construção social violenta contra as mulheres que é uma chaga histórica, mas insisto que não se trata de meramente transformar tal questão num mero maniqueísmo simplificado com histeria generalizada. Percebe-se tal sintoma na nova redação do artigo 213 do Código Penal Brasileiro, para atender a Lei nº 12.015, de 2009, que classifica o estupro como constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Nesta interpretação, não há mais a tipificação do termo "atentado ao pudor". Logo, na prática, tudo virou "estupro" e o que explica o salto (inflado) estatístico deste tipo de crime no país nos últimos anos. Na prática, há uma generalização para todas as situações que tecnicamente se enquadraria como "estupro". Claro que não será apenas mudando um artigo do código de leis que algum crime se minimizará num passe de mágica. É preciso avançar nas formas de prevenção e ser impositivo em suas penalidades.

Nestas relações de violência de gênero, deve-se ressaltar as relações sadomasoquistas envolvendo relacionamentos de concordância entre homens e mulheres, que são de difíceis tratamentos e, praticamente, impossíveis de serem protegidos previamente pelo Poder Público, via ação policial ou judicial. Ressaltando que a questão da violência contra a mulher, a criança e idosos são muito mais difícil de serem denunciados quando provém dentro o núcleo familiar.

Não será com histeria neurótica e demagogia sexista que resolveremos a questão de qualquer tipo de violência social, em particular, contra a mulher. Mas ressalta-se que é no respeito e na convivência, e também a escolhas de melhores possibilidades de relacionamento e resistindo aos abusos impostos, também são mecanismos possíveis de enfrentamento de um dado tipo particular de violência contra a mulher (a chamada "violência consentida"). A mulher precisa construir um novo enlace afetivo-existencial que permita ser ela a protagonista de sua própria história. Essa questão vai além da ação do Estado e se trata do tipo mais difícil de ser colocado em prática.

As quadrilhas de exploração da fé e a articulação política no brasil





A onda conservadora, entre outras patologias, tem um forte componente pseudo-religioso com a organização cada vez mais empresarial das quadrilhas de exploração da fé no país. O avanços desta bancada evangélica vem ganhando força no Congresso Nacional e em cada eleição vem buscando consolidar fortes tentáculos dentro da política nacional, impondo uma visão de política que beira a um espécie de fascismo reacionário em desacordo com regras básicas referentes aos Direitos Humanos.

A busca de inventarem tabus sociais por parte destas quadrilhas, como o aborto ou a questão da homossexualidade, são estratégias que visam tão somente provocar falsas polêmicas e manter tais quadrilhas como os únicos arautos das famílias brasileiras, o que também se veem órfãs da representatividade política. O recuo da igreja Católica das áreas mais pobreza criou condições para os tentáculos destas organizações empresariais de exploração da fé se aproveitar deste vácuo e ocuparem terreno na lógica multiplicadora do gueto: em cada esquina, um bar, uma desesperança e uma igreja.

Ademais, além de buscarem um retrocesso cada vez maior no que tange os Direitos Humanos no país, com mais poderes e maior pujança econômica, tais quadrilhas vem se aproximando em contato com as facções criminosas ligadas ao narcotráfico, o que explica elos entre pastores e narcotraficantes em favelas e dentro do sistema carcerário. O que poderia explicaria inclusive, o livre-trânsito de pastores nas prisões e, por exemplo, impedimentos físicos por parte de traficantes, de terreiros de religiões de origem africana dentro das favelas cariocas.

No silêncio de quem conta causticamente dízimos e acumula vasta riqueza nas costas dos bestializados, o que temos pela frente, é um cenário novo e bizarro para a sociedade brasileira e nada animador.
Um panorama descritivo da distribuição da bancada evangélica no Congresso Nacional poderá ser encontrada no artigo: http://www.revistaovies.com/reportagens/2011/12/um-estado-laico-com-bancada-evangelica/

As prisões da miséria brasileira e a retroalimentação da violência social





O Estado brasileiro não permite a pena de morte em suas leis penais, porém, ou outro e mais devasso sistema punitivo se encontra nas condições subumanas das prisões. Não se trata de transformar tais lugares em "hotéis cinco estrelas" como muitos acreditam de forma debochada, mas deve-se entender que estes locais de encarceramentos são um reduto agregador de seres humanos que deverá ter toda a assistência básica do Estado.

Devemos lembrar que Justiça brasileira opera de forma torta, morosa e que propícia aqueles mais bem afortunados e que podem pagar advogados com maior desenvoltura dentro dos burocráticos trâmites judiciários. A grande maioria da população sequer consegue pagar qualquer tipo de advogado e os fornecidos gratuitamente pelo Estado são completamente exíguos e praticamente inacessíveis. Desta forma, dentro de um Estado que não respeito os Direitos Humanos básicos, qualquer cidadão potencialmente poderia estar sujeito à adentrar nestes alojamentos prisionais que muito mais lembra alguma imagem do inferno. Todas as formas de violência, desde a simbólica até aquela sujeita a contrair doenças fatais, passam livremente nestes ambientes prisionais.

Entra e sai governo com rótulo de direita ou esquerda no Planalto, de FHC a Lula, nada foi substancialmente realizado para minimizar os efeitos deletérios da quarta maior população carcerária do mundo. Todas as formas de desrespeitos aos valores humanos dentro das prisões que apenas contribuem para orquestrar as facções do crime organizado que diante do total colapso do sistema, controlam e mantêm-se na orquestração de crimes fora do seus muros.

O sistema prisional brasileiro esta falido e morto. O Estado, mais uma vez, finge que não vê o que passa dentro de suas prisões da miséria e do abandono e, por sua vez, diz não entender como cresce a criminalidade, em particular, o crime organizado, que conta com apoio de facções de policiais corruptos e agentes administrativos criminosos.

Para implementar o cotidiano explosivo brasileiro, esta massa de absurdos e indiferença do Poder Público diante da falência prisional induz ainda mais violência, na condição de retroalimentação de um sistema perverso que atinge indistintamente a todos dentro da sociedade.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Educação básica pública brasileira: uma queda para o infinito



Mais uma vez, o MEC metendo os pés pelas mãos, numa briga de foice no escuro sem fim. As lambanças são cada vez mais desastrosas e populistas onde reina a demagogia rasteira, asquerosa e barata. Depois do lançamento das bolsas de turismo acadêmico, sem eira nem beira, para alunos da graduação do programa "Ciência sem Fronteiras" e cortar verbas para os alunos da Pós-graduação, agora é dar mais "bolsa-incentivo" para ver se terá alguma alma querendo lecionar no Ensino Básico. É muito surrealismo irresponsável e demagógico! Mais dinheiro público jogado no ralo para objetivos sem contexto, sem sentido e sem lastro com a realidade.

Impressiona a quantidade de bobagens que o MEC vem fazendo na Educação neste país. Uma medida mais esdrúxula do que a outra. O problema não é a falta de professores, mas falta de infraestrutura mínima para seguir carreira na Educação Básica. Sem carreiras definidas, jogada às traças, dependendo da esmola de um piso nacional salarial e, por sua vez, com salários ínfimos, exceto aqueles de desejam por fé e esperança se tornarem professores deste segmento, o restante faz por falta de outra opção e tem que se formarem de forma mambembe em faculdades igualmente mambembe, daí uma das causas seríssimas do péssimo nível dos professores: o ciclo da ignorância consentida pelo Estado. O profissional da Educação Básica vive a base de esperança e entalados de comprimidos de clonazepam e similares.

No Estado de São Paulo, onde a monstruosidade é maior na área de Educação Básica, praticada pela dinastia do PSDB e jorrando uma política canalha por excelência no campo da Educação. Para contemplar a perversidade completa, até mesmo o governo do Estado submeteu os professores a ridícula humilhação pública a fazem provinhas imbecis para supostamente ganharam uns trocados a mais em seus holerites (ou seja, o aumento do salário estaria atrelado as malditas provinhas que a metodologia neoliberal dos tucanos vem causando um lastro de excremento pelo país). O resultado, é claro e transparente: a Educação Básica público no fosso, uma classe docente adoecida e um sindicalismo da área parasita e conivente com os desmando dos governos tucanos. E quanto o PT? Simples: copia a mesma cartilha tucana e coloca uma estrela imbecilizada no alto da página e, para dar um ar de sofisticação, incrementa ainda a técnica dos cursos à distância para tapear com mais rapidez e distribuir papéis timbrados que querem ser chamados por "diplomas", ou seja, como se o computador fosse resgatar nosso atraso abissal!

Temos uma realidade muito difícil com governos completamente estúpidos e incompetentes na área de Educação Básica, seja petistas, seja tucanos ou qualquer outra sigla. Dar royalties do petróleo para Educação em um futuro qualquer é bonito politicamente, mas demagógico e não condiz com a realidade daqueles que não podem mais esperar a ilusão política do pré-sal (que por sinal, pelas políticas neoliberais aplicados pelo neopetismo, anda sendo fatiada para doar para as empresas multinacionais do setor!). Em sua maioria, até mesmo os partidos de esquerdas mais radicais não possuem propostas que sejam serias para a área, exceto alguns estereótipos doutrinários que num mundo democrático e respeito à dignidade humana não poderiam serem levadas a sério (que me perdoe os colegas que acham que o significado da vida é fazer celibato dogmático do messianismo operário-camponês!).

De todos os problemas estruturais no país, após a questão da Segurança Pública (que certamente é o maior desafio atual de uma América Latina que tenta se reestruturar economicamente e absurdamente desigual socialmente), a crise da Educação é a maior de todas e a mais difícil de resgatar, onde se encontra os maiores papagaios de pirata que nada sabem do que fazem em seus gabinetes monitorados por ar condicionado e ainda levam a mais atraso (com cara de "progresso") ao país.

Para a desgraça deste Brasil, que teima em jogar fora grandes oportunidades históricas no campo da cidadania, a Educação, cada vez mais, parece ser uma queda para um fosso infinito e rumo ao vazio existencial.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

O Eu, o Outro e a terceirização existencial





Há uma onda sintomática na sociedade e parece se enveredar pela "vitimização", ou a "terceirização de responsabilidades individuais". Muito se reclama do Estado de sua ineficiência histórica, fato realmente verdadeiro, mas este mote é repaginado para todos os fatores, inclusive os pessoais. Estaríamos vivendo a era da “terceirização” da existência?

Como fazer os indivíduos serem sujeitos de suas próprias histórias e não reféns de externalidades ou do Outro? Afinal, quem quer ser protagonista de seu próprio enredo? Observado casos estritamente passionais, os indivíduos se atolam em relacionamentos patológicos e não assumem suas devidas responsabilidades. Muitos colocam o termo "machismo" em todos os casos que deveriam ser estritamente são do departamento de polícia ou mesmo qualquer situação do cotidiano, por mais simples que possa acontecer. A situação é tão neurótica e, uma boa parte destes movimentos histéricos lesbo-feministas contribuem para uma catarse da sublimação do desejo, onde um simples esbarrão em uma mulher já seria motivo dela lançar seu repressor olhar para o indivíduo como se ele fosse seu potencial estuprador (Até eu já virei já uma "vítima" destes olhares inquisidores em pleno tumulto avassalador do final de tarde no metro em região central de São Paulo, cujo metro quadrado corpóreo é exíguo e o oxigênio é escasso).

Quando a cidadania é substituída pelos "direitos do consumidor", a lógica dos direitos humanos passa pelo viés dos direitos de reclamar pontualmente das mercadorias. Neste ínterim, as relações pessoas se tornam também objetivamente mercantis. A judicialização da vida se torna um mecanismo balizador dos direitos, ou seja, para reconhecer a dignidade humana de alguém, tem que recorrer a um tribunal, contratar um advogado e esperar a sentença de um togado. Nós viciamos nesta lógica simplista e perversa com tutela estatal e tribunal de pequenas ou grandes causas.

O neoliberalismo quando transpõem sua perversa lógica econômica, contamina a política e seduz a esfera social. Portanto, todas as relações, desde a mera amizade até a sexual, criam uma lógica de distanciamento do outro, terceirizando experiências, sensações e sublimando responsabilidades. Assim é fácil, cada um faz suas presepadas e culpa o outro (um elemento ou a toda a sociedade) por sua baixa maturidade existencial e suas escolhas infelizes.

Naturalmente, não se deve buscar culpados ou caçar bruxas imaginárias e, por sua vez, não seria prudente culpar os indivíduos por suas escolhas (isto seria uma bobagem inquisitória e inútil!). Devemos é repensar o conceito de convívio humano, entender o quanto premissas dos elementos coletivos se reproduzem no indivíduo e, por sua vez, quanto o indivíduo poderá contribuir para transformar aridez em polimento.

Na lógica de mercado, a terceirização se tornou um sinônimo de eficiência e rapidez de processos, todavia é uma experiência que o conjunto não tem conhecimento das partes, ou seja, são peças desarticuladas e que são apenas anexadas para um dado interesse. Eis o perigo de transportar estes processos para a vida cotidiana, os laços sociais e afetivos. Quando o processo não está de acordo com o desejo esperado (elemento mutável e subjetivo), troca-se, muda-se e contrata outro processo já terceirizado. Tendo em vista tais premissas, do ponto de vista do imaginário coletivo, na aceleração econômica brasileira, a avidez de monetizar direitos sociais em economias voláteis, solaparam as possibilidades mais reais de construção da cidadania como um valor social fundamental. Neste contexto, a materialização da sociedade, com seu “boom” de consumo se tornou mais importante do que valorizar questões básicas de infraestrutura social, como saúde, educação, moradia, transporte, saneamento básico e segurança pública. A avidez pelo atendimento ao desejo mais latente ocultou as necessidades reais de uma nação com forte demanda reprimida de cidadania.

Ao materializar o desejo social, capacitando as classes menos favorecidas com um mínimo poder de comprar, o Estado se distancia do processo de promoção da cidadania e terceiriza as possibilidades de quaisquer reclamações para reduzi-las para o âmbito policial ou jurídico. Vale a premissa da carnavalização da barbárie: “moramos na favela, subempregados ou escravos pontuais do tráfico de drogas, mas vamos assistir ao jogo da Copa do Mundo em TV digital “a gato” de 50 polegadas”! Para as demais demanda, tudo é uma promessa para os próximos anos.

A “responsabilidade do consumidor”, diz a regra dos direitos materiais, é reclamar se o produto não estiver de acordo com as especificações fornecidas. Ao produtor, cabe vender o máximo possível e para qualquer eventualidade tem sua equipe de advogados e seguro contra externalidades desta natureza. A troca é mercantil, entre consumidor-fornecedor, não há nenhuma valorização da conduta ética com o ser humano, tão somente negócios e trocas imediatistas de satisfação material.

Com a aceleração dos padrões materiais, aceleraram-se também as relações humanas, tornando-as mais próximas e distantes, simultaneamente. As relações pessoais se materializaram com os mesmos níveis das trocas mercantis, do desrespeito à dignidade humana e apenas a satisfação imediata do desejo latente. Para qualquer problema, é usar a cartilha dos direitos dos consumidores, reclamar pelo excesso de auto-consumo e encontrar um responsável pela infelicidade imediata.

Não é difícil de entender a onda conservadora, narcísea e autoritária que vem se avolumando sorrateiramente em algumas sociedades ocidentais (sobretudo em profunda crise econômica, se encontra a Europa e, claro, há respingos no Brasil, com outros contextos e suas variantes canibalizadas). Aliás, culpar o Outro é sempre o mais fácil (para isto que foi inventado Deus e o Diabo, e a transferência de responsabilidade pessoal). Enquanto as premissas fetichistas do consumo e do descarte enfileirarem as demandas de uma sociedade brutalmente desigual economicamente, cinicamente intolerante entre seus próprios cidadãos e sem observarem suas próprias responsabilidades neste processo, a cidadania e seus valores fundantes da dignidade humana continuaram apenas a ser uma promessa.

Com soluções prometidas e terceirizadas para um futuro improvável e onde uma horda de milagreiros de plantão ofertará aos bestializados o caminho para o desejado Éden terreno. Mais uma vez, continuando a lógica comentada, o Outro é tanto o culpado como também um guia do destino do próprio “Eu” (uma espécie de casamento da frustração do encanto com a sinergia reconfortante da histeria). Assim, neste deslocamento para o vazio, prosseguiremos uma encruzilhada perigosa e a história já cansou de mostrar como é o final deste enredo.

TRUMP NÃO FOI UM (NOVO) ACIDENTE DA HISTÓRIA. FOI UMA ESCOLHA!

  Quase todas as tentativas de explicação que surgem do campo de uma Esquerda, magnetizada pelo identitarismo, é de uma infantilidade atroz,...