sexta-feira, 7 de março de 2014

A ética na era da banalização da vida.




É sintomático que em tempos de crise, os padrões de uma ética e moralidade são colocados em cheque. Agora, o diretor carioca José Padilha que alcançou o estrelado filmando os bons "Tropa de Elite I e II", além de "Robocop", segue sua dramaturgia ao desejar filmar a vida do colombiano Pablo Emilio Escobar Gaviria, o Pablo Escobar (1949-1993), fundador do poderoso Cartel de Medelín, considerado o mais impiedoso, o mais bilionário e mais poderoso traficante de todos os tempos que reinou absoluto no eixo Estados Unidos, México e Colômbia, mas que influenciou todo o comércio do gênero em, praticamente, toda a América Latina.

Pablo Escobar e sua macabra indústria da cocaína levaram a Colômbia a um profundo mar de sangue na medida em que abastecia narizes vorazes de consumidores, em especial, os estadunidenses. Derivou-se daí toda uma arquitetura a respeito de políticas anti-drogas nos Estados Unidos, de intensa repressão, e o mar de violência espalhou pela América Latina. Para se mostrar um homem generoso, distribuía dinheiro, simpatia e ajudar a comunidade local em Medelín, além de fomentar o futebol, sua segunda paixão após os negócios. A tática obvia era de se passar por um “homem bom” que se preocupava com o sofrimento alheio em troca do silêncio e da proteção da população a sua volta contra seu maior temor: ser pego e extraditado para os Estados Unidos.  Após longa caçada e cerco, em 1993, Pablo Escobar foi morto em sua fortaleza em Medelín em combate contra as tropas colombianas apoiadas pelo governo estadunidense.

O anti-herói que ganha contornos míticos. O mesmo sentido que desperta do público pelo ilícito, pela transgressão, pela degeneração escatológica do ser humano. Somos assim, hipócritas por natureza, onde tem aqueles que reclamam acidamente quando polícia vem interromper o festivo consumo de alucinógeno, mas, por outro lado, também os mesmos reclamam da polícia com a mesma veemência quando algo é furtado do inquieto consumidor de pó.

Alguns buscam argumentar que é "democrático" cheirar à exaustão e oferecer elementos imediatamente corrosivos para as demais pessoas, ou seja, “vicie-se, agora, na ‘onda do momento’ e todo o restante será problema inteiramente seu”. No lastro deste tipo de argumentação, ou seja, numa espécie de “ética narcísea pós-moderna”, muitas vezes confundem-se democracia com irresponsabilidade social, mas aí é um grande debate que cada vez mais vem ganhando contornos mais disformes na sociedade. 

Ademais, segundo a mesma esteira desta “ética”, qualquer desavisado que for contrário a liberação de drogas, será imediatamente tachado de forma acusatória como sendo “de direita”, “fascista”, “reacionário”, pois não estaria coadunando com os hiperflexíveis “valores da nova ética pós-moderna”.  Curiosamente, os mesmos que apontam ao dedo em riste para quem é contrária a farra do alucinógeno raramente são o mesmo que irão acolher o corpo saturado e tísico daquele desesperado por tentar sair do mesmo caminho naufrágio por onde começou a dar as primeiras braçadas.

É bom lembrar, que muitas vezes, no debate pós-moderno, a lógica e coerência de uma dimensão hipernarcísea não são elementos fundamentais em discursos cada vez mais esburacados e pouco dados à responsabilidade social coletiva.

É fundamental lembrar que um grande câncer que assola a atualidade da América Latina é a violência epidêmica derivada do narcotráfico. Pablo Escobar representou a figura do grande empresário mafioso que matou, assassinou, destroçou, corrompeu qualquer coisa que fosse obstáculo aos seus negócios ilícitos. Agora, Pablo Escobar, novamente será um "herói" em série televisiva (ele mesmo rendeu alguns filmes e também um seriado colombiano exibido em 2012, “Pablo Escobar: El Patrón del Mal”), ao estilo eloquente de outros personagens televisivos que o cinema e a TV colocaram, em tons dramáticos, lugares de privilégios e onde o telespectador, em muitas situações, sentiu, até mesmo, “pena” de cândidas figuras controversas, mesmo que um dado personagem seja um arauto do terror e responsável pela morte de milhares de pessoas. 

Neste intervim, com a hipertrofia do desejo imediatista e o cabedal de projeções a respeito das veleidades narcíseas na Pós-Modernidade, cabe sempre uma pergunta: vale a pena ser honesto, no sentido mais fundante do termo, em tempos de democracia difusa, valores desnorteados e violência banalizada?  





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