Na atual situação de tensão
dos últimos dias, tudo que a direita quer é acirrar os ânimos e colocar a
população contra todas as esquerdas (população essa que faz a leitura rasa do
que é partido político e da própria idéia de política). Enquanto a direita se
esconde, ela faz jogar toda a ira da população contra as esquerdas (e, neste
processo, balizado pelo apoio da grande mídia). Buscar lutar na linha de frente,
neste momento, é fazer o jogo que a direita espera da acuada esquerda. É
preciso reflexão e prudência como táticas em momentos mais delicados.
A lógica capitalista é esvaziar
qualquer discurso contrário as suas práticas de replicação do mundo material e
de precarização do mundo do trabalho. Logo, na atual crise de conjuntura da
representatividade política, não há nenhuma empatia por parte da sociedade
pelos partidos políticos e, principalmente, pelos partidos do espectro da esquerda.
Aliás, nunca houve simpatia pela Esquerda, por parte da maioria da população,
apenas ela nutre empatia por algumas personagens nacionalistas-populistas, como
foi o caso de Lula.
A canibalização do Partido dos
Trabalhadores (PT) pelo fenômeno Lula trouxe consequências deletérias ao próprio partido e a acomodação das esquerdas mais progressistas. O PT, em tese, o principal
partido de esquerda no país, se afastou dos movimentos sociais, das suas bases,
dos seus ideais, se "endireitou" seduzido pelo Canto da Sereia do
discurso neoliberal e o resultado é o que estamos assistindo bem diante da
televisão, um refluxo das forças mais progressista e uma horda de indivíduos
caminhando órfãs, desnorteadas e hipnotizadas pela falsa premissa de que bastaria
caminhar na Avenida Paulista ou em qualquer rua do país falando alguma frase desconexa de pedido de alguma demanda para se atingir o Éden
dos Trópicos. Cada vez fica mais nítida a tentativa de dar uma cara aos
inimigos da sociedade por parte da Grande Mídia: partidos políticos (leia-se esquerda, em especial o PT), ódio pela política instrumental
e o governo Dilma. Quem assistiu a propaganda terrorista do PPS de Roberto
Freire contra o governo Dilma, nesta quinta-feira, 20/06, em horário nobre verificará
perfeitamente o que aqui está sendo comentando.
O jogo agora é de produzir
inimigos para ganhar terreno para as possibilidades da tentação golpista. Os
jovens da “nova era informacional”, com seus dedos articulados pelos movimentos
repetitivos do joystick e prosopopeias de internet, acreditam, em sua maioria,
que a política é aquilo que aqueles “chatos” fazem para torrar o “nosso saco”.
Foi sintomático o esforço realizado para que as primeiras manifestações insistissem
nos bordões sem nexo do “apartidarismo” e do “apolítico”, como se as
manifestações fossem apenas embutidas de um discurso meramente tecnocrático (no
caso, as tarifas de transportes públicos), cuja participação estaria contida
numa redoma fechado e usufruídas por um seleto “amigos do Facebook”. Podem-se
mudar as táticas, mas não deve perder a essência das idéias referentes à política.
O distanciamento da política partidária da vida pública cotidiana em tempos
neoliberais foi o maior erro das esquerdas forças sindicais e que abriu espaço
para outra formas de organizações tão oníricas quanto altamente flexíveis e
capazes de serem moldadas para qualquer propósito de grupos de interesse,
inclusive inclinações fascistas e golpistas.
Quanto mais fragmentada e
passional as esquerdas, maior a capacidade de articulação da direita contras as
forças mais progressistas. A tônica de acirrar os ânimos entre as próprias
esquerdas é um grave retrocesso que faz tão somente a direita avançar com
energia e intensidade. Nesta quinta-feira, os anti-democráticos e
fascistas episódios relativo a alguns manifestantes proibirem bandeiras de
partidos e entidades nas passeatas por todo país apenas demonstram uma
atmosfera muito turbulenta que está se processando.
Nesta névoa escura que encobre
o país e deixa desconcertada as
avaliações mais sérias sobre a evolução catártica das mobilizações, talvez estes
serão os vinte centavos mais caros dos últimos anos para o país.
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