sábado, 5 de outubro de 2013

O tabu da segurança dentro dos campi universitários






Mais um tema tabu que as alas mais radicais da esquerda não ousam tocar: o corporativismo da classe. Diante disto, ou você é obrigado a aplaudir mecanicamente alguns "iluminados" alunos ou é taxado de reacionário e outros verbetes do gênero. Mas tudo bem, vamos aos fatos. 

Na sociedade brasileira contemporânea, ninguém esta imune à patologia (e suas neuroses atávicas) que se transformou a questão da segurança pública (não cabe aqui espaço para discorrer sobre algumas de suas causas). Um exemplo disso é a questão do policiamento nos campi universitários, que por sinal, rege uma curiosa dialética. Se algum belo carro sofre algum dano dentro do campus (avaria, roubo ou furto), logo, o belíssimo universitário proprietário do veículo reclamará da ineficiência da polícia (segue o bordão padronizado: “cadê a polícia quando se precisa dela? E os impostos que pago?”). Se por outro lado, se a esquadrilha da fumaça esta em operação e o talco faz a festa de muitas narinas, aí a polícia imediatamente é vista como truculenta e inconveniente. Afinal de contas, muitos querem usar seus baseados sem serem incomodados. É a que equação que comodamente nunca se quer fechar: a liberdade que não segue um mínimo senso de responsabilidade. Porém o debate vai muito além do que um cigarrinho de cannabis queimando e deixando aquele aroma fétido no ar. 

No caso de dentro da UNICAMP, dias atrás, infelizmente, houve de fato um crime lamentável, o assassinato de um aluno em uma festa local. Se os procedimentos policiais foram insuficientes ou inadequados é outra história, que deverá ser muito bem apurada. Sintomaticamente soa estranha a "invasão" de alunos na reitoria desta instituição para acobertar os organizadores da festa onde ocorreu o crime, interromper sindicância para apurar os fatos e, de repente, a polícia levar toda a culpa de um crime cometido em uma festa que supostamente não tinha conhecimento da reitoria. Logo, alguma coisa está fora da ordem!

Quem já organizou festas universitárias (eu, por exemplo, na época que era diretor do centro acadêmico do CEFISMA-IF-USP), sabe da responsabilidade que é necessário em termos de infraestrutura, logística e segurança das pessoas. Claro que estes pré-requisitos são pouco utilizados ou esquecidos no cotidiano universitário e, muitas vezes, alguns alunos pressupõem que estão acima do Bem e do Mal e toda a sua conduta de responsabilidade pelas vidas em jogo é minimizada pulverizada. Nesta lógica “descolada”, a festa se transforma num evento que é gerida por si mesma e ao sabor dos ventos.

É desejável certa dose de pragmatismo diante da necessidade de execução de políticas públicas concretas. Não concordo que a Polícia Militar patrulhe campus universitário de localidade alguma e nem tal força pública teria esta função. Ações de resposta policial truculenta já fizeram parte de muito enredo trágico envolvendo pancadaria estatal e estudantes. Particularmente defendo um corpo de segurança institucionalizado e treinado para dar suporte de segurança especializado em cada campus universitário. Mas tenho minhas dúvidas se algum dos lados quer realmente discutir a questão da segurança interna de forma mais realista: nem as reitorias se interessam pelo tema, pois preferem terceirizar os sistemas de segurança (e imitar Pôncio Pilatos para eventuais externalidades), pela via da lógica liberal; e, tampouco, uma particular parte dos alunos, em particular, os que dominam, de forma muitas vezes truculenta e duvidosa transparência, os centros acadêmicos (neste ínterim, alguém pode já dizer, “há eles são jovens e jovens se entendem”, tudo bem, amém e ponto final!), pois temem serem incomodados pela presença de alguma força de segurança em seus paraísos herbáceos, falta de responsabilidade perante as regras mínimas de convivência mútua e o senso que tudo vai ser impune (ou seja, na lógica do Éden universitário, o que vale para todos na sociedade, não valeria para dentro dos muros universitários). 

O tema é espinhoso e longe de ter um consenso mais equilibrado no momento. Temos uma Polícia Militar, dentro da realidade brasileira, em geral, que demanda força desproporcional e se torna acidamente agressiva para lidar com manifestações públicas, isto é fato e ponto final. Todavia, é importante salientar que mesmo sendo verdade esta premissa, não fecha a equação. A realidade que muitos campi universitários, assim como a sociedade, vêm sofrendo com as ondas de violência (assaltos, furtos e até mesmo casos de estupros dentro de campus) que atingem patrimônio público ou pessoal e, muitas vezes, vitimas em potencial. Em sociedades mais complexas, não existe uma ilha da fantasia que não reflete dilemas da própria sociedade.

É bom lembrar que o melhor sistema de segurança é aquele realizado pelos próprios agentes da comunidade, com elos de confiança, respeito e reciprocidade, sem a necessidade de elementos externos. Todavia, cada vez mais complexa e materialista a sociedade, esta premissa vem se distanciando.  Entre a canonização dos atos universitários e a truculência ao estilo “Black Blocs”, existe uma linha tênue: para muitos dos alunos, o que mais interessa a eles é fazer o jogo da “ocupação”, pichações toscas, vandalismo do patrimônio público e palavras vazias de ordem e resistência (ou seja, uma bela coreografia performática!). Se é somente performance teatral que desejam: tudo bem, ad infinito e segue a procissão sem nenhum resultado substancial.  Tudo isto, bem longe do que deveria ser um ambiente democrático, apaziguador e apreço pelo conhecimento civilizado. Neste sentido, cabe ainda uma pergunta: além das crises estruturais das universidades públicas, quem realmente se preocupa com a universidade pública, quando alguns se postulam mais interessado em tumultuar e solapar ainda mais seu espaço (que deveria ser) democrático ao ser violentado por um bando de intolerantes, seja de insensíveis tecnocratas de plantão, seja de carnavalescas máscaras na cara? 

A violência externalizada fisicamente é apenas mais um sintoma de que a universidade precisa refletir a atuação dos seus agentes no plano interno e, por extensão, o papel dentro sociedade. Por outro lado, a universidade não pode se fechar como uma inverossímil ilha paradisíaca, em todos os sentidos, distante da sociedade. Agora, diante da realidade local, se cada comunidade universitária desejar construir um projeto alternativo de segurança, isto é, de forma realística, sem ranços autoritários e sem hipocrisias vicejantes, possivelmente será este um caminho muito mais promissor e desejável. 

Enfatiza-se que a democracia deverá se o valor fundante dentro da esfera universitária e ela carece ser preservada por todos os seus agentes. Desta maneira, a democracia universitária deverá ser vigente, ampla e propositiva, desde a implementação de eleições diretas para reitor até o manejo de posturas menos truculentas e teatrais de muitos alunos que outrora se dizem preocupados com a universidade (mas que na pratica se mostra uma outra face), são passos importantes para resgatar os elos de confiança e solidariedade dentro do espaço universitário. Ademais, o resto é demagogia barata com cenas patéticas de marmanjos com caras encobertas e idéias infanto-juvenis retardo-revolucionárias. Esses são alguns elementos fantasiosos abortados de uma “esquerdinha” (ou pensa que seja algo próximo de uma “esquerda”) que flerta com a irresponsável intolerância e, como consequência, cada vez mais sucumbe aos próprios egos e a falta de ideias perante a realidade. 

Refletir a segurança dentro dos campi universitários é também compreender os motivos pelas quais uma sociedade que se diz cada mais democrática e se vê, de forma atônica, diante de tantos atos de violência corpórea, física, patrimonial e simbólica. Os nós deste paradoxo nada trivial precisam ser devidamente debatidos, refletidos e desatados. Diante de mais um tabu e impasse regido pela intolerância, irresponsabilidade e oportunismo barato, quem sai perdendo é a própria instituição universitária, refém de truculências de todos os lados.

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