sábado, 19 de outubro de 2013

O fantástico mundo do autismo universitário.





Cá fico pensando com meus botões. Quando será que meus os colegas uspianos que desfrutam o privilégio de estudarem numa bela universidade como a USP, o qual sou grato eternamente, acordarão para o mundo real? Quem sabe, eles, por mais fetichista que possa parecer, perceberão que o mundo não gira em torno do umbigo uspiano e, por incrível que pareça (para eles) que também existe vida para além dos portões da entrada principal e os muros que separam a universidade da favela São Remo.

Há um esgotamento deste discurso esquizofrênico infanto-apocalíptico de se achar que a democracia universitária somente será possível pela via da truculência de atos midiáticos, ancoradas por depredações e sucessivas invasões de prédios da universidade. Aliás, é mote do autoritarismo agressivo típico da “direita” que vem paulatinamente parasitando as ações de muitos atos que se consideram da “esquerda”. Sintoma claro da perda das referencias básicas de modelos alternativos do pós-muro de Berlim e aprofundamento da onda de clivagem neoliberal. É muita ingenuidade ou arrogância achar que a água se tornará vinho apenas quando se entronar, via "voto popular", algum reitor populista que faça vistas grossas com as traquinices de alguns minguados e oportunistas alunos. Feito isso: Pronto! Eis a “universidade popular dos trópicos” consolidada a base de marretadas, talvez a única da Via Láctea!

A eleição para reitor é o suprassumo da "democracia aristocrática" uspiana? Claro que não! Primeiro é uma ilusão achar que a cereja é mais importante que o bolo. Ademais, as unidades administrativas que integram a universidade são autônomas, com direções e gestões independentes dos centros de decisão da reitoria. Aliás, curiosamente, o DCE-USP vir pedir transparência democrática para a reitoria é no mínimo demagógico. Sem querer entrar no mérito deste grande vespeiro, nada mais obscuras são as eleições de muitos centros acadêmicos (incluso o DCE-USP), sempre loteados com as mesmas figurinhas carimbadas e os mesmos discursos decorados de alguma cartilha de partidos de um esquerdismo jurássico e messiânico. Se levarmos para um viés mais radical poderia ser indagado por que as contas financeiras dos centros acadêmicos são tão pouco transparentes? Parece uma bobagem, mas não é. Aliás, esta uma das questões fundantes da gestão a qual participei do período que estava na diretoria do CEFISMA-IF-USP, no inicio dos anos 2000. Lembro-me o quanto era difícil conversar com os alunos a respeito da transparência das contas públicas do “CA”, que por sua vez, também era fundamental para a credibilidade de uma gestão de qualquer centro acadêmico. Creio que não possível abusar de um velho ditado popular, “em casa de ferreiro, espeto é de pau”.  Claro que, na época, não me sobraram críticas dizendo que nossa diretoria era da “direita” (como se a “direita” fosse tão preocupada com a lisura do patrimônio público! Inclusive, dentro da diretoria, não havia um consenso sobre tal posicionamento entre todos os diretores). Mas destes males, e comparações perversas do malufismo é uma meu coração já foi purificado! Os anos passam e as velhas práticas permanecem, tanto do lado das administrações universitárias, quanto dos centros acadêmicos. 

Vale lembrar também que se encontra embolorada e manjada a tática de “endemonizar o Estado repressor” contra os pobres alunos uspianos. Se o Estado reprimou algum setor social, certamente nunca foram os queridos alunos uspianos. Definitivamente, isto somente “cola” na cabeça daqueles que não conseguem conviver com um Estado mais democrático e vivem torcendo para algum um retorno retardado da ditatura, paradoxalmente, desejo esse nutrido por pessoas que sequer nasceram durante o período militar. Eis ainda uma mentalidade autoritária recalcada destes grupos extremistas que loteiam a universidade por pura farra revolucionária de araque.

Sabidamente, a USP serve como um grande refletor para diversas universidades públicas brasileiras, por sua importância acadêmica, por sua importância em seus números absolutos. É quase consenso que ela precisa ser mais aberta, manter seus sites mais atualizados, não fazer traquinagens em editais de processos seletivos que “aparecem e desaparecem” no seu site, divulgar mais seus eventos públicos e, sem quer aqui citar outros casos obscuros que mereceriam destaques nas páginas policiais. A impressão é irrefutável que a USP mostra-se “fechada” em si mesma, como uma criança autista em seu mundo. Portanto, a USP está longe de ser esta maravilha democrática que muitos acreditam que instantaneamente irá se atingir meramente votando em algum reitor. Todavia, é importante ainda entender que a lógica de reprodução umbilical uspiana se reproduz nestas sequencias teatrais onde o mundo é apenas a representação que a visão de alguns deseja da USP. 
Definitivamente, a sociedade paulista não esta nenhuma pouco interessada se o reitor da USP irá ou não ser decidido por algum voto de aluno, ou se algum “reitor-boa-gente” liberará cachaça e marijuana a todos os interessados no campus. A sociedade paulista quer uma universidade, que possa contribuir para a dinâmica do conhecimento social e que ajude a proporcionar as mudanças necessárias em prol do conhecimento e de retornos para a sociedade por parte dos seus alunos, professores e pesquisadores. 

A sociedade banca esta grande universidade, a qual ela permite disponibilizar de um orçamento bilionário (como é o caso da USP), assim como outras grandes universidades públicas, mas não é apenas para fazer a cada dois ou três meses birrinhas de um grupo de alunos na dança do ocupa-desocupa-ocupa-desocupa prédios administrativos e diretores administrativos que batem o pezinho no chão e fazem biquinho para não negociar nenhuma reivindicação legítima. No final, tudo termina em uma generosa pizza até a próxima ocupação. Tudo bacana e nada resolvido! Já se tornou obrigatório no calendário anual da universidade: Fuvest, semana de recepção dos calouros e ocupações de prédios administrativos.  

Que é preciso novas relações institucionais na administração universitária é flagrante e imperativo, mas sem recair nas mesmas bravatas costumeiras que não levam a lugar algum e imobiliza a universidade. Nesta batalha de foice de cegos, entre gestores, alguns apocalípticos alunos e professores omissos ou desinteressados, quem perde é a própria universidade que parece não avançar perante o tempo histórico. Na janela, a sociedade que apenas assiste perplexa e sem nunca entender as razões que tantos choramingam de barriga cheia. Por incrível que possa parecer para alguns elementos autoritários, a democracia universitária jamais se dará na forma da marretada e tampouco do fanatismo da arrogância catártica, mas apenas com amplo dialogo de todos os setores que compõem as esferas da universidade. 

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