terça-feira, 1 de setembro de 2009

Jogando Verde...


No último domingo, Marina Silva fez sua filiação ao Partido Verde (PV) após quase 30 anos de militância nas fileiras do Partido dos Trabalhadores (PT). Depois de ser ministra do meio-ambiente de Lula por cinco anos e gradativas desavenças com o governo (leia-se: Casa Civil de Dilma Rousseff), saiu do barco e passou para a oposição. Qual oposição?


O PT e o governo Lula tiveram a mesquinhez de ceifar as ações de Marina e deixá-la isolada no alto do seu castelo verde com pompa de ministério. O nome de Dilma subiu à cabeça de Lula e dos lulistas. Correndo por fora, Marina é vista como uma alternativa à polarização Dilma-PT/Serra-PSDB em 2010. Ligada historicamente às questões ambientais, Marina agora crê na lábia sedutora de mata nativa do PV. Muitos apostam em seu carismático semblante para uma apologética “revolução verde” com um pomposo rótulo de “desenvolvimento sustentável”. Entretanto, uma questão necessária é refletir o que é o PV?


Descendo ao inferno. O Partido Verde é mais uma destas siglas de aluguel no cenário eleitoral brasileiro cujo mote é a suposta defesa da “questão verde”. Amazônia, índios, mico-leão-dourado, liberação da maconha e blábláblá. Reducionismos à parte, o PV certamente está mais interessado no verde-dólar do que qualquer outro teatro ideológico. Basta ver as contas que não se fecharam do partido no fundo partidário (aquele jorro de dinheiro público para fazer a farra de alguns caciques da política). Seria o preço da democracia ou da falência democrática?


Jogando verde para colher o que der... A tática midiática do PV para lançar Marina à presidência aparentemente vem colhendo frutos. Colado no meigo e batalhador sorriso de Marina, o PV projetou a sigla para a vitrine nacional e assim terá maior poder de barganha antes, durante e depois das eleições de 2010. Será rifado a peso de ouro o “prestígio” do PV nas “alianças programáticas” entre os partidos de maior densidade eleitoral.


Do ponto de vista estritamente político, o PV é o que se pode chamar de “apartidário”. Sem posicionamento político definido: esquerda, direita, centro ou marcha-ré. Trocando em miúdos, o que interessa mesmo para a sigla é somente compartilhar nacos do poder. Não é de estranhar se o PV subir no mesmo palanque numa composição tanto com o PT quanto com o PSDB (ou ambos!) em um eventual segundo turno sem Marina. O PV não é contra, nem a favor, muito pelo contrário ao governo ou a oposição. Até aí, qual novidade no emaranhado brasileiro de siglas medíocres e sem verniz ideológico?


Retorno ao messianismo à brasileira. Marina é uma ótima senadora, uma bela história de vida, mulher de luta e notável ambientalista. Qualidades imprescindíveis para sua figura se agigantar no Parlamento ou no Governo do Acre, sua terra natal. Todavia, dificilmente seu vôo será uma alternativa viável ao Palácio do Planalto amparado pela mesquinhez do PV e demais abutres eleitoreiros que agora a cercam de forma sorrateira. Sejamos honestos: qual projeto político de amplitude nacional é possível e factível de ser construído faltado cerca de treze meses para as eleições? Exceto se desejarmos abraçar mais uma “heroína” dos rincões do Brasil e acreditarmos na “esperança que irá vencer o medo”. Vale a pena ver de novo?


Do outro lado, Serra e Dilma são as mesmas continuidades do projeto neoliberal do neopetismo. Por sua vez, o neopetismo que foi a mesma continuidade do projeto tucano neoliberal de Fernando Henrique. Portanto, o que fato se protagonizará nos próximos meses será o falso debate da suposta dicotomia partidária entre PSDB e PT. O teatro eleitoral se reduzirá em apenas quem conduzirá melhor (e com menos alvoroço possível para o grande capital) o projeto neoliberal. Na retórica da “eficiência”, o PSDB contará com a sua poderosa máquina privatizante, relações carnais com o capital estrangeiro e especulativo atrelado ao inconseqüente “Estado mínimo” com substancial elevação dos índices de desemprego. Já o PT, invocando a retórica da “defesa ao trabalhador”, seguirá com o destilar político do pragmatismo neopetismo liberal ancorada nos projetos ao estilo do “Bolsa Família” de perpetuação da miséria e apatia regional.


Sem ilusões. E a “revolução verde” nas entrelinhas do discurso de Marina? Como afirmou István Mézàros, filósofo húngaro, em palestra na PUC-SP semana passada, não é possível o alvorecer da “revolução verde” sem antes solidificar a revolução vermelha. Desta maneira, é impossível qualquer revolução seja lá qual for sua cor ou tonalidade, sem uma construção sólida de um projeto político factível e alternativo e que tenha como base a emancipação do ser humano numa arquitetura solidária de desenvolvimento ecosocioeconômico com profunda diluição da miséria oriunda do fosso que separam as classes sociais.


Para 2010, o que se avizinha é uma corrida presidencial cada vez mais previsível, a tônica das mesmices dos discursos vazios e um bocado de soníferas promessas eleitoreiras. Com Marina no páreo, será no máximo, um colorido adicional à conta-gotas de emoção. E quanto o poder da “proposta verde”? Diluir-se-á no cinza-funerário do recalcado conservadorismo das elites brasileiras.

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