segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Obama Hamletiano


Cenas enfadonhas da história do imperialismo. Buscando reconquistar sua popularidade em queda, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama planeja aumentar suas tropas na ocupação do Afeganistão.


Da euforia do narcisismo cívico estadunidense à descrença da mesquinhez conservadora. Um dos grandes motivos que vem ofuscado a queda de popularidade de Obama nos enquetes dos institutos de pesquisas de opinião pública é o seu projeto de um novo sistema de saúde considerado muito “abrangente” por boa parte do conservadorismo estadunidense (e principalmente dos interesses e mercado de grandes grupos empresariais do ramo). Todavia, em sua vitoriosa campanha, Obama prometeu um novo modelo de saúde pública para seus compatriotas. Porém, quando se fala em repartir custos e abranger o número maior de pessoas que não podem pagar seus tratamentos de saúde, urge a insensível prepotência de setores do conservadorismo estadunidense. Daí, as críticas são inevitáveis contra o presidente da “mudança”.


Acuado, Obama quer ir para a ofensiva. Agora se vê na obrigação de servir a dois amos. Obama planeja continuar com sua imagem de um bom mocismo pacificador com o ar robusto de um imperador de guerra. Notadamente, é impossível tal conciliação.


O Partido Republicano, ainda abalado com a avassaladora derrota nas urnas e perdido politicamente, acusa Obama de fazer culto à personalidade tal o seu ímpeto de “pop star” da política mundial. Como era possível de esperar, os republicanos atacam dentro do Congresso todos os projetos da Casa Branca e criam celeuma e terrorismo panfletário no jogo de cena da mídia. Sempre com a mesmice fórmula mágica da retórica conservadora dos “interesses pátrios”. Com uma política de retorno às práticas keynesianas de intervenção estatal e apesar do sucesso inicial ter conseguido freado a queda para o abismo da economia estadunidense, a situação se encontra estagnada e Obama descolando-se para fora do pedestal. Logo, a atenção se volta para o carcomido teatro da salvação de popularidade através da guerra, aliás, desta vez, estampado com o irônico termo de “guerra justa”.


Seu alucinado antecessor, George W. Bush queimou uma fantástica e histórica montanha de dólares na inútil invasão e ocupação do Iraque. Apesar do fracasso retumbante tal como foi no Vietnã, Bush inicialmente conquistou grande adesão de carisma e popularidade a favor do belicismo “patriótico” estadunidense. Importante sempre ressaltar a índole imperialista dos Estados Unidos como forma de manter sua hegemonia bélico-político-econômica sobre as demais nações do planeta. Seguindo este saturado cominho, Se aliando as alas belicistas do vampirismo ultraconservador, Obama mergulhará seu país num novo Vietnã em terras afegãs tal como esta sendo no poço sem fundo iraquiano. Aliás, no momento que Obama vem anunciando sistematicamente a diminuição de soldados na ocupação do Iraque, tudo indica que seu desejo é ampliar o contingente de combatentes no Afeganistão, ampliando os combates contra rebeldes que resistem a ocupação estadunidense, tais como o Talebans. Será que Obama deixará se levar pelo imediatismo do afago popular e pressão dos tecnocratas conservadores e sequiosos generais de plantão?


Vietnã, Iraque e agora Afeganistão. A lição parece nunca ser aprendida. Usa-se de quaisquer meios na política para garimpar apoio e popularidade, mesmo sendo à custa de sangue e suor inocente. Obama foi eleito como a esperança de “mudança” para o povo estadunidense. Um momento ímpar na história recente do seu país se levar em conta a cor emblemática de sua tez. Distinguiu-se de Hilary Clinton, sua oponente democrata nas prévias de seu partido, por conseguir personificar num “novo jeito de fazer política” para seus eleitores. Como um trator nas urnas, Obama com seu discurso de renovação do stablishment estadunidense passou pelo republicano “prisioneiro e herói de guerra” John McCain.


Agora, poucos meses após se sentar no trono da Casa Branca, Obama se vê acuado entre suas promessas de campanha e a máquina de fazer guerra implantada pelos generais do seu país. Deverá estar sendo bombardeado com muitos assessores azucrinando seus ouvidos para que deixe o idealismo de lado e que o presidente da “mudança” passe a optar pelo ancião conservadorismo pragmático. Sempre a mão com pilhas de estatísticas, seus assessores empurrão Obama para a vala-comum dos presidentes com mãos sujas de sangue na sintética equação: mais guerra, mais popularidade. Para alento de muitos economistas que apenas pensam com a calculadora entre as sinapses cerebrais, se Obama aplicar a conhecida a fórmula do keynesianismo militar, do ponto de vista estritamente econômico, tal operação a princípio poderá aquecer a economia estadunidense gerando novos postos de trabalho no colossal complexo industrial de guerra e a elevação dos índices de aplausos para a sua administração. Simples e rápido. Sucesso garantido?


Os dilemas para a própria sobrevivência política do presidente são muitos e com nuvens bastante turvas. O mais importante para Obama, seu país e o restante do mundo (Yes, existe mundo além dos Estados Unidos!), será o desafio para o seu governo em buscar realizar a pretendida e necessária “mudança” que possibilite a real construção que é socializar as riquezas produzidas (e também pilhadas) pelo seu país com seus milhões de cidadãos excluídos. Sim, é na base do sistema capitalismo a essência da miséria e exclusão. Hoje, assim como antes, os Estados Unidos estão longe de ser algum idílico Paraíso que tanto os neoliberais tupiniquins adoram mimetizar a exaustão.


Se quiser fazer uma nova história e uma biografia que realmente seja de um estadista, Obama terá que realizar uma redefinição de políticas que reconstrua um novo Estado de bem-estar social para os Estados Unidos e enterra de vez as irresponsáveis aventuras neoliberais de administração passadas. Para isto, será fundamental o resgate as funções do Estado como gerenciador, regulador e promovedor do desenvolvimento e redistribuição de riquezas sociais. Restaurar uma nova parceria com os demais atores globais de cooperação e, o mais importante, entender de uma vez por todas que os Estados Unidos não são os donos do planeta. O unilateralismo político é impossível num mundo cada vez mais multipolar, conflituoso, sem centro de massa definido e carente de cooperação mútua. Obama sabe disto, e o seu problema fundamental é convencer seus assessores e generais sedentos para virarem “heróis de guerra” para se cacifarem em futuras eleições.


Como uma nova redefinição do papel de Estado, os Estados Unidos passará longe de torrar bilhões de dólares ceifando desnecessariamente a vida de milhares de homens, mulheres, crianças e idosos em longínquas terras sem significado algum. A prática é conhecida e desastrosa: aplicar o terror para satisfazer do ego de alguns generais e criar artificialmente apoio interno. Será preciso ultrapassar velhas táticas de mediocridade política. Para Obama tal como foi para Hamlet, será fundamental e invocação shakespeariana em ser ou não ser tão medíocre como os demais presidentes que o antecedeu: eis o dilema em jogo nos próximos meses que marcará a sua biografia e a história do mundo. Vale um retrato na história ou estampar como fortuita estrela na capa de Time?

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