sexta-feira, 26 de junho de 2015

Cristiano... Quem?: O fosso cultural como sintoma do nosso tempo de histeria consumista.


O poço parece ser sempre mais fundo para quem olha de cima do que quem está em baixo. Assim, na horta da pós-modernidade brasileira, estamos cultivando o que foi plantado em anos de massificação de consumo, esterilidade educacional e numa sociedade voltada para o materialismo e as relações efêmeras. A cultura é sempre o reflexo de uma sociedade com suas vicissitudes, progressos e patologias.

Pior que o sertanejo universitário é o funk de apologia ao crime organizado e o consumismo histérico e, para a sorte da sanidade auditiva, são modismos do momento que irão passar como outros fenômenos siderais de pertinências similares. Dois ritmos sonoros tão toscos e irritantes que faz Satanás perder as estribeiras e achar que o melhor lugar é se chafurdar no seu Inferno e jamais pisar nesta Terra de insanos e profundo mau gosto.

Tragédias são tragédias, o que muda é o grau de impacto delas ou o nível de sensacionalismo impregnado daqueles que buscam venderem notícias. Logo, todo o noticiário midiático pipocou em comoção com a divulgação da morte de acidente automobilístico de um tal Cristiano... Quem? Até a apresentadora global, Fátima Bernardes, em programação ao vivo, confundiu o defunto com o jogador português, Cristiano Ronaldo. Recuperada da gafe, depois ela e os demais 99% dos brasileiros descobriram que o sobrenome do morto é Araújo, um assoprador de microfone do sertanejo universitário. Assim funciona a Grande Mídia e a comoções das tragédias humanas pontuais, transformando uma prisão de ventre numa epidemia diarreica. 

O sucesso nacional pós-morte poderia soar como sátira se não fosse literalmente uma tragédia em dois aspectos: a perda humana e a construção de um drama ficcional para atender o gozo do público. A morte de uma figura de um ilustre desconhecido e que fez mais sucesso na tragédia no que em vida é mais um registro do ápice do lixo cultural da massificação de mídias sociais. Assim, podermos retornar os conceitos de "industria cultural" empregado pelos frankfurtianos que alertava a coisificação da cultura como bens comercializáveis, ou seja, a cultura como objeto de mera mercadoria atrelada à uma sociedade do espetáculo.

Os supostos fãs ou que adoram se posarem de moscas de padarias, fizeram todo o teatro da comoção histérica diante dos holofotes de abutres da Grande Mídia. Certamente, não é o caso de não se lamentar a tragédia ocorrida afinal, foram vidas humanas perdidas. Porém é factível buscar compreender os motivos pelos quais uma sociedade se comporta por espasmos de indução histérica, ou seja, é do tipo daquele sujeito que segura a alça do caixão e sequer sabem quem está dentro dele. Vale lembrar que a mesma sociedade que subitamente tem comoção na catarse da morte de um desconhecido é a mesma que num passe de mágica midiática começa a odiar figuras políticas  e partidos. Basta lembrarmos os episódios da histeria convulsiva das manifestações mais agressivas de 2013, ainda com sinais em 2014, para bem além de vinte centavos e o comportamento manipulatório da Grande Mídia em detrimento da fabricação do ódio e a corrosão da popularidade da figura da presidenta Dilma e do seu partido, o PT. Sinais que até hoje são visto no posicionamento diário da Grande Mídia e sua relação obscura com a deformação de informações contra a figura da presidenta e o PT. Episódios como de Cristiano, o neo-famoso, é mais um exemplo do poder deflagrador das mídias em sensibilizar e criar emoções postiças nos sujeitos. 

A falência da cultura se torna evidente quando a pobreza estética e melódica se torna um movimento de "frisson" entre as pessoas. Para um publico que pede pouco, muito pouco, se contenta com o descartável, finge que gosta de algo que nem sabe o que é e não tem paciência sequer para ouvir. Não importa a música ou quem abre a boca para berrar e machucar os instrumentos. No caso do sertanejo universitário, o que importa é sonorizar a sofrência daquilo que se dá como musica em três temas grandiloquentes: balada, bebida e pegação! Lembrando que a indústria da música é movida com toneladas de jabás sofríveis, muita grana para divulgar o péssimo produto e insistir que vale a pena engolir a cachaça com rótulo de whisky mesmo que seja feito de vinagre.

O mérito dos anos Lula-Dilma foi tirar milhares dos brasileiros da miséria econômica para um patamar menos subnutrido. Todavia, as demais outras misérias, a cultural, cidadã e política, perpetuam-se até os dias de hoje. Apostaram-se todas as fichas numa sociedade consumista que pouco se importa para a Educação como elemento estrutural (aqui, a referência para a educação publica, das massas pobres, que vem sendo relegada à um sua própria sorte). A mediocridade também abate as camadas mais escolarizadas, logo o gosto de mimetizar o mau-gosto faz sintonia do nível da pobreza chinfrim dos debates políticos que vem ocorrendo na sociedade brasileira. 

Naturalmente, com a aposta na barbárie, a cultura virou sinônimo de bricolagem-pastelão, ou seja, uma mercadoria de consumo imediato e descartado na mesma rapidez. Sintomas de quanto anda o nível da cultura das classes médias e mais pobres brasileiras e o quanto estamos até o pescoço atolado dentro do poço num tempo que a mediocridade é a sinfonia de nossa história presente. Mas o que esperar de uma sociedade cujo ódio e a histeria parecem ser os produtos derivados de um momento de vazio substancial e horizonte narcísico sem fronteira?

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