1. A onda do momento o “protestismo golpista”
A
nova moda alardeada pela Grande Mídia é o “protestismo” cujo mote é achincalhar
o governo Dilma e o PT fazendo ventilar o engodo que o desperjar de soluções
mágicas reacionárias e golpistas resolveria qualquer crise a qualquer momento. A
questão posta em pauta não é protestar (fato este legítimo dentro de qualquer
estrutura social), mas é pertinente saber os motivos (com mínimo de senso de
realidade) pelo qual se está se protestando sob o risco de ser mais um títere
nas mãos de manipuladores de plantão! Todavia, o conhecimento mais pausando da
realidade em tempos de muita conexão de (des)informação deslumbrada parece se
tornar nula a construção sináptica reflexiva. Um velho filme acinzentado começa
a se repetir, cujo enredo a história recente brasileira mostrou-se como termina
de forma lastimável!
Imaginemos
se, por hipótese, em pleno horário nobre, a Rede Globo mandasse todos seus telespectadores
pularem da bela Ponte Rio-Niterói em nome da “pátria”? Seria a marcha para o
grande rio de zumbis! Faltaria espaço para tantos suicidas voluntários diante
daquela quilométrica estrutura fluminense. Em nome do Brasil, a pátria onde figuras que a classe média e boa parte deste pessoal
neo-indigada adora achincalhar com a ideologia do colonizado, agora dizem que
vão lutar pela nossa "pátria" (leia-se contra os pobres, contra Dilma
e o PT e, também, contra tudo que é feio e bobo!).
O surto repentino de “brasileiros
patrióticos” parece ser tão verdadeiro quanto uma nota de três reais. A onda do
panelaço “gourmet” dos bairros nobres paulistanos diante do pronunciamento da
presidenta Dilma em 08 de março foi um exemplo do quanto de reacionarismo patético
ronda as alas mais reacionárias e burguesas da sociedade. Temos assim, a sapiência escorrendo
pelo nariz e pela extremidade do intestino grosso dos neo-indignados da Grande
Mídia. Tal como a onda catártica de meados de 2013, o “protestismo” volta a se
ensaiar mais uma vez como farsa diante de uma grande fogueira de desinformação
e ilusões infantilizadas.
2.
A História como
parâmetro
Em
1964, na fervura pré-golpe, tivemos manifestações em praça pública ditas “populares”
com o rótulo "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", fato este
que serviu de catapulta para a tomada do poder pela estupidez dos militares
derrubando o governo do presidente João Goulart. O mote da “corrupção” e da
suposta “ameaça comunista” eram frequentes na boca de seus participantes. Tais
palavras de ordem desencadeadas por uma turba foi marcada por devaneios
políticos alicerçados pelo poder da Grande Mídia da época. Ademais é falso
dizer que tivemos um golpe “somente” militar no páisl, mas sim tivemos um golpe
civil-militar no Brasil, cuja amálgama foi a adesão considerável de parcelas
das classes médias e burguesia atrelada com a força opressiva e bélica dos
militares.
A
influência golpista dos Estados Unidos em fomentar diversos golpes não deve ser
esquecida dentro na América Latina e, particularmente, no Brasil daquele
período (casos emblemáticos aconteceram na Argentina e no Chile). Nunca nenhum
grupo isolado em ondas golpistas conseguiu algum êxito sozinho. É preciso uma
pré-estrutura para que, de fato, consiga ter “sucesso” a proposta de alteração
radical da ordem vigente, ou seja, um golpe, propriamente dito o termo.
Recuando
no tempo, dez anos antes, em 1954, onde a União Democrática Nacional, a UDN, e
partidos da centro-direita forçaram um movimento golpista de tomada do poder
fabricando uma onda de descontentamento midiática-popular contra o governo do
presidente Getúlio Vargas. O resultado desta contenda contra a persistente
fragilidade democrática nacional foi o suicido de Vargas e o país mergulhado em
nova crise institucional. O coroamento das estruturas golpistas contra Vargas e
a débil democracia brasileira ecoaram no golpe civil-militar de 1964.
Hoje
temos muitas diferenças entre 1954 e 1964, e a onda dos “neo-indignados” se
apresenta mais restrita, pulverizada e setorizada. Dilma não é nenhum Vargas ou
Goulart (muito longe destas duas figuras centrais na política nacional), e
também o PT não é uma estrutura tão frágil tal como foram seus partidos da época.
Hoje os movimentos sindicais e os sindicatos, apesar dos pesares e com todas as
contradições internas destas agremiações, se encontram mais fortes do que estava
há mais de cinquenta anos atrás. A democracia brasileira se encontra mais consolidada,
apesar de continuarmos a viver com enormes disparidades econômicas e sociais. Contra
Dilma, os grupos do ódio apenas regurgitam a acusação, diga-se bem claro, sem
provas, de que ela seja “corrupta, feia e boba”. Uma consistência tão firme tal
como geleia de miolos moles! É na aposta da fraseologia infantil e da pouca
aderência da memória histórica que a Grande Mídia e setores mais reacionários
apostam suas fichas golpistas.
3.
A verdadeira crise sem
retoques
A
atual crise econômica é o resultado de um modelo que sofre duplo impacto: o
desgaste em apostar na famigerada opção quase que estritamente neoliberal com
algum viés social e a difícil conjuntura externa (ainda arregimentada pelo lastro
da grande crise internacional de 2008). O Brasil conseguiu se “blindar” como
pode da crise que grassou por todos os Estados Unidos e Europa, só que nenhum
país da periferia capitalista consegue resistir por muito tempo, apesar dos
avanços da economia brasileira dos últimos dez anos. A demanda reprimida deu fôlego
ao consumismo do mercado interno com ajuda de diversos incentivos por parte do
Governo Federal nas gestões dos dois mandatos de Lula e o primeiro mandato de
Dilma. O resultado do esgarçamento da fórmula adotada de um modelo econômico
abalado por crises internas e externas é a opção de Dilma foi apostar numa
equipe do Ministério da Fazenda neoliberal e adoção de medidas impopulares,
queixas generalizadas e de curto fôlego diante do quadro presente. Na falta de
horizontes, optou-se pelo caminho requentado mais simples e o resultado é o que
já se esperava: insatisfação popular e baixo crescimento econômico.
O
golpista mote de Grande Mídia foi se apegar no caso da Petrobras. Os interesses
por detrás de empresa estatal são tão enormes quanto profundamente obscuro. A
pressão para que ela seja vendida não é de agora e muito já se tentou fazer a
sua entrega para a tal “iniciativa privada”, principalmente nos dois governos
do ex-presidente tucano, Fernando Henrique Cardoso. Sintomático que o mesmo
partido, o PSDB, que mais queria entregar à estatal a preços de banana para a
iniciativa privada se diz hoje tão preocupada com sua defesa da empresa. Curiosamente,
a questão da novela mexicana em torno da corrupção envolvendo a Petrobras é
apenas a cereja do bolo do mote de destruição política das estruturas de
governo de Dilma atrelada a uma matilha eleita pelos próprios brasileiros dos
piores congressistas dos últimos tempos. Dilma, na prática se encontra em
dificuldades nas duas casas legislativas presididas por figuras do esgoto da
política nacional.
Os
recentes ataques especulativos através da alta crescente do dólar é um
sintomático mecanismo de entender que o cafetão capitalismo financeiro do
vampirismo rentista aposta da desestabilização do governo Dilma. A virtualidade
do mundo financeiro contra a materialização do mundo dos que trabalham e
sustentam este ciclo de operações de extorsões econômicas.
Ao
invés de taxar grandes fortunas, o atual modelo econômico defendido pelo
ministro Joaquim Levy é de preferir fazer o autista modelo de sobrecarregar com
impostos os trabalhadores, cortar gastos sociais e recuar trabalhistas e,
depois, redistribuir com serviços incipientes (para isto, dão o nome de “austeridade
fiscal”). Paradoxalmente, quem mais deveria estar indignado com as políticas
neoliberais de Dilma seriam setores à esquerda do espectro político, e não como
acontece hoje, à direita e seus extremos insanos que sempre apoiou medidas de
austeridade econômica que prejudicam sempre os trabalhadores em detrimento do
desenvolvimento nacional. Daí a certeza que o movimento não é contra a economia
do país, mas contra a figura política do grupo que atualmente está ocupando o
poder (mesmo que não consegue governar sozinho).
4.
A campanha midiática de
excitação ao ódio
Sobre
as tais passeatas e os ódios expurgados nas redes sociais pedindo “impeachment”
da presidenta é a prova da demência política que vem ecoando em setores mais
extremos, antidemocráticos e estúpidos da sociedade. O PT deixou de ser um
partido de esquerda do início dos anos 1980 para ser o maior partido ideológico
dos anos 2000 de todo o continente americano. A vitória nas urnas e a ocupação
de ciclo de poder no Planalto o tornaram vulnerável às intempéries inatas do
poder e o natural desgaste da imagem do partido, levando em consideração a
incessante campanha de destruição da imagem partidária perante um avançado
monopólio de informações da grande elite econômica que forma o que chamamos de
Grande Mídia. Em nome da tal “liberdade de expressão”, a permissão para expelir
mentiras, falsas acusações e produzir toda uma campanha de excitação histérica
de apelo ao ódio primitivo.
A
arte de “ser governo” empurrou o PT para o minado campo de alianças com setores
mais atrasados e reacionários do país. A aliança com o PMDB, o maior partido do
país deriva de um emaranhado de interesses da elite dominante, foi o maior
exemplo do retro-desenvolvimentismo petista e a opção por um governo cada vez
mais dócil, conservador e passivo com os interesses que não estavam em suas
bases históricas.
Sim,
o PT tem culpa da crise que se atolou e deve refletir a respeito dos seus erros
crassos. Mas não é exclusivamente culpado por todos os fracassos, fato este
seria de uma extrema falta de senso político! O messianismo político é uma
patologia dentro do imaginário popular o qual apenas resulta em ressentimentos,
ódios e niilismos inúteis.
Se
formos apontar erros do PT enquanto governo, certamente a opção pela “revolução
cosmética” sem mexer nas estruturas fundamentais da sociedade brasileira foi um
dos maiores erros do partido ao acreditar que fazer alianças com setores da
direita e de grandes especuladores vampirescos, por si somente, seria garantia
de estabilidade, lealdade e governabilidade. O preço da ilusão da
“governabilidade indolor” foi a da fragmentação da legenda e a erosão do
patrimônio ético e político do partido. As consequências são notórias e o
desânimo de sua militância se tornou visível na dispersão de legendas de
elementos que saíram de suas fileiras.
É
fundamental ainda lembrarmos que no Brasil vive sob a égide do “presidencialismo
de coalizão”, ou seja, nenhum partido governa sozinho e não consegue impor sua
vontade se não angariar forças políticas (leia-se, aderência ao clientelismo
fisiológico imediatista). Daí a dificuldade concreta entre o sonho idílico do “Lula lá” e a realidade do mote conservador
do “Lulinha, Paz e Amor” (em alusão à
flexibilidade de Lula para compor alianças políticas).
Diante
de mais um horizonte com ares golpista no Brasil, é claro, que somente com o
apelo à um carnaval da demência histórica promovido pela Grande Mídia para reviver
um clima de 1954 e 1964 visando quebrar a norma democrática e jorrar ódios
histéricos contra Dilma e o PT. É importante ressaltar que nenhum erro de
Dilma, a figura da presidenta, até agora, justifica qualquer pedido de
“impeachment” de um governo recém-reeleito pela maioria dos brasileiros. O
campo das elites dominantes que nunca se conformaram com o PT no poder (a
intolerância pelo seu significado simbólico), mesmo que o partido tenha feito
concessões ao limite do inimaginável e os ganhos desta flexibilidade petista. Sendo
assim, é mais fácil canalizar o ódio para uma pessoa um dado segmento social
bem específico, ou seja, no caso, a presidenta e seu partido.
Todavia,
é sintomático o ridículo de todo o teatro da burguesia que quer empurrar
ideologicamente para a adoção de um pensamento reacionário sectário uma classe
média desnorteada e abalada psicologicamente. Muito sintomático é o fato
explícito dos veículos da Grande Mídia poupar todos os demais partidos
políticos de direita e políticos mais reacionários do poder (como é o caso do
mineiro ex-presidenciável Aécio Neves e o “queridinho” da Grande Mídia
paulista, o governador Geraldo Alckmin), em particular, é visível a canonização
política do PSDB como sendo a nova UDN golpista do momento.
Ainda
que incipientes, as significativas conquistas sociais e o acesso a uma parcela
que saiu da pobreza extrema para o consumo é, por si mesma, motor de um tipo de
ódio narcísico e perverso da Casa Grande. Ademais, é sintomático que em parcela
de emergentes narcíseos, a memória histórica do ambiente o que o sujeito surgiu
é apagada por uma sanha de “novos tempos de bonança”. Em tempos de crise
econômica, o medo de voltar ao estágio inicial de sua escalada diante da pobreza
repercute de forma histérica e reproduz tons de brutalidade e ódio. Portanto, diante
da crise, todos os gatos uivam como lobos. As queixas são desnorteadas e
escorrem para o ralo de um autismo político que não geram demanda política com
consistência: ao sabor dos ventos da manipulação midiática, o sujeito grita o
que não entende e balança a cabeça pelo que menos entende ainda. É um ciclo do
analfabetismo político explícito e patológico.
5.
Um turvo horizonte e saídas
para a crise
Relembrando
o grande pensador alemão da Escola de Frankfurt, Theodor Adorno, e a educação
para evitarmos a barbárie. A falência da educação é a construção exponencial de
"homens de bens" (a farsa conservadora do bom-mocismo) em
ejaculadores de ódios, anteparos de fobias e carniceiros de sua própria
existência. Neste fosso do autismo político, toda uma Alemanha bem esclarecida
caiu no desejo de reconstruir sua estrutura narcísica e a canalização por parte
um exímio orador, como Adolf Hitler e o seu grupo desfraldando uma bandeira pintada
com uma suástica nos anos 1920 até final de 1940 (e ainda continua vivíssimo no
imaginário e ações políticas do Velho Continente)! A crise alemã que desencadeou
após a Primeira Guerra (1914-1918) foi fundamental para a histeria nazista
tomasse corações e mentes de um povo que era considerado um dos mais cultos de
toda a Europa.
As
lições da história estão aí para serem aprendidas e, principalmente, refletidas.
O autismo político às replicam no ápice da histeria e da demência do fanatismo
social sempre em nome de uma elite que quase nunca sai dos alicerces reais do
poder. A aposta de uma sociedade consumista sem lastro de cidadania construiu
uma horda de brasileiros com concepções niilistas, uma passividade acrítica e
de fácil mimetização aos discursos perversos de golpismos sem maiores reflexões
jorrados pelas elites através dos seus mecanismos de comunicação.
Um
exemplo da falência da Educação e da ação crítica de um povo, entre outras
várias opções do estilhaçamento da cultura poderá ser visto nas estéreis e estúpidas
programações televisivas, a cultura do hiperconsumo descartável e a histeria
sintomática de pessoas e grupos alienados e motivados por informações
deturpadas nas redes sociais. Ao contrário do que imaginava os mais eufóricos,
a internet e as redes sociais não são “a revolução da informação”, mas sim, a
extensão das mentiras, limitações e debilidades coexistentes nas caducas
programações televisivas midiáticas nas mãos dos grandes grupos de ideologia
dominante.
A
manipulação de desejos e ódios continua tão viva e catastrófica tal como foi
arregimentada no passado. Do ponto de vista político, Sem um acordo que busque
uma coalização dos grupos mais progressistas e uma guinada para atender os
anseios dos mais precisam do Pode Público, a crise poderá se estender com
resultados mais desastrosos. O chamado “pacto social” dentro de uma democracia
como a brasileira ainda é um dos mecanismos a serem operados em momentos de
crise. Todavia é necessário, mais uma vez, que o Governo Dilma busque um novo
pacto social levando em consideração as reais demandas dos brasileiros e as
necessidades vitais daqueles que mais precisam ser cuidados e amparados e,
fundamentalmente, buscando setores à esquerda, sindicais, movimentos sociais e setores mais
progressistas da sociedade.
A
selvageria em jogar grupos frágeis na esteira da crise econômica é o pior dos
caminhos e o que repercutirá inevitavelmente em sintomas sociais de extrema
gravidade de violência e marginalidade. A este respeito, temos na América do
Sul, oriundo dos sinais visíveis dos nossos vizinhos, que tanto a Venezuela
quanto a Argentina começam a sofrer diante das suas respectivas crises dentro
de suas limitações de poder, forte insatisfação das elites econômicas locais
com ares golpistas e problemas da produção interna e circulação da riqueza na
economia.
É
preciso que haja a calma necessária e a ação política mais enfática do Governo
Federal, que busque se aproximar das esquerdas e dos movimentos sociais mais
democráticos e legítimos, para que a profundidade do fosso não se torne um
túmulo. As medidas necessárias ainda passam também pela democratização da mídia
e a quebra do monopólio destas verdadeiras cadeias de comunicações reacionárias
que expelem ódios primitivos e desinformação para toda a sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário