domingo, 4 de maio de 2014

A crise das UPPs e o perigoso lastro da violência estrutural



As UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) foram uma iniciava do governo estadual do Rio de Janeiro de minimizar o poder das facções criminosas dentro dos morros fluminenses (logo, o termo "pacificadora" faz jus ao seu sentido estratégico). Todavia, como seria possível de prever, uma "guerra ao tráfico" somente com chumbo e privações de liberdade, em um verdadeiro "estado de sítio não-declarado" conduziu a um sistema de estrangulamento da percepção da violência perante os moradores destas comunidades, além do conhecido desgaste na imagem e um facilitador da corrupção dentro dos agentes policiais envolvimentos.

É preciso deixar claro que é necessário, sim, um combate firme ao narcotráfico, mas deverá ser feito de forma mais racional e menos truculenta. Temos que entender que o mercado consumidor está no asfalto, é da letrada classe média que se alimenta de todos os sortilégios possíveis de drogas e outros derivados. A droga flui com mais facilidade pelas vielas de onde se encontra o poder economico. Logo, este é publico-alvo dos traficantes, ficando as camadas populares, as sobras deste mercado gigantesco e milionário. A legalização de todas as drogas não deu certo em nenhum país do globo, e não dará certo em comunidades superpopulosas, que é o caso do Rio de Janeiro. A questão é mais simples de se supor, aos legalistas polianas esquecem que sempre haverá um mercado negro oferendo drogas mais potentes e mais baratas que as supostamente “oficiais” e, ademais, é uma questão que jamais será equacionada e assim teremos que conviver com níveis de violência existencial enquanto houver um modelo de sociedade que prima pela possessão individualista.

Estamos diante de uma violência estrutural, onde as bases da sociedade são violentas e cujas raízes são autoritárias e agressivas. Décadas de descaso governamental desenvolveu um mundo à parte, onde a miséria é a violência são elementos que se fortalecem dentro de uma ética violenta das favelas fluminenses.

É mais do que necessário uma revisão das políticas de ocupação sem dar assistência sistêmica às famílias que moram nestas regiões.  O crime organizado manipula as suas vítimas e promovem uma série de pseudo-revoltas populares com o claro intuito de jogar a sociedade contra as forças policiais. Tal política criminosa vem ganhando fôlego diante da própria incompetência das forças policiais de se constituírem em forças mais coesas e menos violentas.

A guerra civil do Rio de Janeiro é aberta e não está sendo sequer velada. O Governo do Estado precisa ter consciência que é necessário um olhar mais humanitário e menos agressivo, além de combater com mais rigor a corrupção policial e os excessos dos seus agentes.  É fundamental que o Governo Federal interfira neste campo e entender que a questão da violência brasileira é estrutural, não se reduz a um único governo ou região específica.

É preciso combater a pobreza, mas não pode ser feita com fuzis e metralhadoras. O máximo desta política sanguinária é contar corpos diários no abismal fosso da barbárie. A crise das UPPs é a crise de um modelo que não trouxe segurança e tampouco conseguiu coibir o banditismo derivado do narcotráfico. O país precisa acordar para não se transformar em mais uma Colômbia ou México, cujas raízes não se têm uma distinção clara do que é legal ou ilegal. O país brinca com fogo onde todos poderão sair chamuscados de forma violenta, cruel e covarde. Certamente, com é bem visível, são os elos sociais mais frágeis que a violência se mostra com maior intensidade.

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