sábado, 26 de setembro de 2009
VEJA que Bobagem!: A crise hondurenha pelas tintas da esquizofrenia neoliberal
A revista VEJA do Grupo Abril não cansa de ser ridícula. A edição 2132 (30 de setembro) desta semana, estampada na capa o título “Imperialismo Megalonanico”, conseguiu novas absurdas proezas como é típico de sua fascistóide linha editorial.
Numa “salada jornalística” de análise totalmente preconceituosa, taxa impiedosamente Honduras como sendo uma mera “republiqueta de bananas”, apóia descaradamente o golpe de Estado naquele país e sobram mentiras sobre a atuação de Brasil e Venezuela na região. Nada é inferido sobre o histórico de crise e dependência de Honduras. É como se o povo hondurenho adorasse ser dependente de monoculturas e acendesse velas para louvar o subdesenvolvimento!
Imergindo numa leitura esquizofrênica e caricatural, VEJA acusa o Brasil de “intervir” em Honduras e ser “subalterno” à política de Hugo Chávez. Assim como tinge Chávez como um fanático religioso “que não se conforma em perder o investimento feito na conversão dele [Zelaya] ao seu credo”, as cores para Lula é de um “imperador megalonanico”. No mundo de VEJA, a diferença é que Chávez é o “patrão” do continente latinoamericano e Lula o seu braço direito abobalhado, ou melhor, “esquerdo”! Para a figura do presidente deposto, Manuel Zelaya, sobrou o papel de um bonachão e bigodudo marionete. A revista também descarrega nas tintas descrevendo Zelaya como sendo “o incrível latifundiário que virou ícone esquerdista” além de achincalhá-lo como sendo dono de uma “aparência bizarra e com sinais evidentes de distúrbios mentais”. VEJA que bela “imparcialidade” jornalística!
Diz ao longo da “reportagem” da “democrática” VEJA: “Zelaya é um problema dos hondurenhos que encurtaram seu mandato antes que ele o espichasse indefinidamente”. Na leitura da revista, Zelaya é o homem-mau que tomou de assalto a embaixada brasileira para fazer “palanque eleitoral”. Tanto a revista simplesmente não diz a respeito do apoio popular do presidente deposto e como também busca pateticamente legitimar o golpe de Estado! A má-fé de VEJA além de desqualificar os fatos, ridicularizar todo o drama que está vivendo o povo hondurenho e ainda faz de suas páginas um palanque para golpistas. Este é o serviço que VEJA presta aos seus leitores. De forma leviana, assim a revista trata de forma simplória e estúpida a situação hondurenha: “A situação em Honduras só tinha importância para Zelaya. Se as eleições fossem realizadas, um novo presidente assumiria e o deposto cairia no anonimato”. Isto é simplificação dos fatos pela lente de VEJA: um mundo plano erguido por duas gigantes tartarugas!
Culturalmente subserviente, VEJA acha que o mundo deve ser curvar perante o imperialismo estadunidense até a exposição explicita do cóccix. A revista reduz a América Latina como sendo um mero “subcontinente americano”. Segundo a revista, a questão de Honduras: “É um problema dos Estados Unidos pela proximidade geográfica e por estar na sua esfera de influência histórica”. Para a revista, sequer algum país do globo poderá ter seus problemas internos sem auxílio da sapiência do “Big Brother”! Logo, como lição de submissão, para VEJA, tudo deverá ser entregue de mãos beijadas para os Estados Unidos. Para VEJA não existe diplomacia, mas tão somente “cada um por si” no perfeito mundo do “liberalismo econômico” sob a voraz batuta estadunidense. O unilateralismo na esfera das relações internacionais não há mais espaço, porém no mundo encantado de VEJA, ainda a mentalidade é amparada no escore da Guerra Fria: vermelhos “demoníacos” que engolem neófitos contra os heróis azulzinhos “bonzinhos”!
A revista semanal com a maior tiragem absoluta do Brasil, VEJA destila sem pudor sua visão míope, a linguagem cínica e egocêntrica. Sobressalta tudo isto com a torpe mesquinhez sob o rótulo de “reportagens”. VEJA escancara nas tintas a deturpação dos fatos, o maniqueísmo e o preconceito explícitos e se mantém como a bastilha do ranço neoliberal. Fiel cabo eleitoral de qualquer partido ou político de cores bem à direita do espectro político, a intolerante VEJA que tanto se orgulha do seu imenso umbigo neoliberal esquece que o mundo é muito maior do que suas páginas amareladas.
Apesar do império econômico do Grupo Abril (dona também do monopólio de distribuição de jornais e revistas em bancas no país), cedo ou tarde, a Verdade tende a ser erguer com mais força, apesar das toneladas de entulho que caminhões de mentiras trabalham para sepultá-la. Como o “belíssimo” papel de VEJA que presta para a sociedade, tem aqueles que se vangloriam com o ilibado papel da imprensa no país. Alguns confundem o torniquete do poder econômico com a surrada “liberdade de expressão”.
VEJA é o semanário de maior produção de notícias no país. Seus números são impressionantes. E mais impressionante ainda é a pouca circulação de novos títulos de revistas e jornais do segmento jornalístico no país. Com meia dúzia de grandes grupos empresariais que controlam a divulgação da informação no Brasil, pode-se dizer que a circulação de informações é refém de num “latifúndio da mídia”. Por sinal, fere frontalmente a liberdade de expressão e meios de livre circulação da informação. Diante do gozo do imenso poder econômico VEJA diz o que bem quer e como quer construir e amplificar sua cadeia de falácias.
A revista se aufere como sendo um colosso crítico do poder político (aliás, ela se promove como uma sendo uma virgem e ingênua garota “apolítica”), mas esquece de mencionar que boa parte de sua receita é oriunda da publicidade das empresas que estampam suas logomarcas em suas páginas e as quais VEJA tanto defende em supostas “reportagens”. Basta ver a lista de seus jornalistas sem o menor apreço pela ética, desdenham da construção e investigação em prol da elucidação dos fatos e escrevem sem o menor compromisso público que um jornalismo “mínimo” carece. E ainda tem gente que acredita que existem Coelhinho da Páscoa, Papai Noel, neoliberalismo “bonzinho” e “jornalismo imparcial”!
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
América Latina e a “Má-Vontade” da Mídia: O Brasil e o Golpe de Estado em Honduras
A crise hondurenha chegou a um novo impasse. Com o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya refugiando-se na embaixada brasileira foi criado um sério e delicado impasse diplomático. A crise hondurenha se alastra há quase três meses desde a junta de generais do exército de Honduras, comandado por Roberto Micheletti, destituiu Zelaya do poder pela clássica via do golpe de Estado.
Desde então Zelaya vem peregrinando pelos principais países da América Latina em busca de apoio político para restituir seu poder. Com seu senso de oportunidade, o presidente Hugo Chávez foi o primeiro a estender a mão abertamente para Zelaya e oferecer “toda a ajuda possível” para a dissolução do impasse. O Brasil condenou a ação golpista dos generais hondurenhos e, assim ocorreu sucessivamente como todos os países do continente americano, além da União Européia. O presidente estadunidense, o democrata Barack Obama, mais preocupado (e atolado militarmente) com suas guerras particulares entre Iraque e Afeganistão, apenas deu um aceno discreto contra o golpe.
Desde esta segunda-feira, 21/09, o presidente Zelaya se refugiou na embaixada brasileira em Tegucigalpa, capital de Honduras. O exército de Micheletti sitiou a embaixada brasileira que se encontra cercada de soldados o que contraria todas as normas internacionais de violação de espaço diplomático. As informações que chegaram de Tegucigalpa relatam que o fornecimento de luz, água e telefone foram cortados da casa onde se localiza a embaixada brasileira. O governo de Micheletti ordena que o governo brasileiro entregue Zelaya para a “justiça hondurenha”, porém diz que “não invadirá” a embaixada. Em declaração do presidente Lula em Nova Iorque (onde se encontrar para o discurso anula da Assembléia Geral da ONU), afirma que o país não entregará Zelaya por considerá-lo como um “refugiado político” no interior da embaixada. A crise hondurenha entra no seu clímax na medida em que as horas passam e a possibilidade de invasão à embaixada é um perigo real. Caso haja a invasão da embaixada brasileira pelo exército hondurenho, o Brasil poderá oficialmente entrar em guerra com o governo de Honduras. Até o momento que é redigido o presente texto, eis o palco na mais recente e delicada crise diplomática que o Brasil está enfrentando nos últimos tempos.
Não se pode menosprezar a crise hondurenha como um fato isolado. A instável América Latina não pode dar o luxo de um retrocesso ditatorial como marcou sua história política, em especial ao longo do século XX. Caso deseja ser um “global player” no palco instável das relações internacionais, cabe ao Brasil apoiar decisivamente o presidente Zelaya e participar ativamente como mediador para uma solução pacífica que possa restabelecer a norma democrática em Honduras. O povo hondurenho carece de resolver este impasse e não ser subjugado via violência explícita pelas forças golpistas.
Entretanto é importante destacar a má-vontade que a imprensa brasileira vem tratando o Golpe de Estado em Honduras. Aliás, é sempre a mesma história na grande mídia brasileira que revela o preconceito endógeno e “americanizado” contra os países da América Latina. Venezuela, Equador, Bolívia, Cuba, Paraguai e Argentina geralmente são tratados como personagens teatralizados e sendo tratados pela grande mídia como republiquetas fanfarronas sem fazer a devida e necessária análise dos fatos. O maior exemplo é a caricatural desenho que a grande mídia brasileira faz do presidente Venezuela, Hugo Chávez, com se este chefe de Estado eleito democraticamente pelo seu povo não merecesse um mínimo de respeito. O mesmo da análise preconceituosa do presidente boliviano, Evo Morales, tratando-o nas entrelinhas com sendo um mero “índio comunista”. Bem diferente é o “afetuoso” tratamento que a grande mídia oferece ao presidente colombiano Álvaro Uribe, cujo histórico político está ligado ao narcotráfico e, por sua vez, mantém “laços carnais” com o governo de Washington. Se maiores constrangimentos, a mídia brasileira destila suas tintas douradas e seus louros de apoio entusiasmado ao “Plano Colômbia” e o suposto combate ao narcotráfico. Para os mais desavisados, quem não conhece a história é “abduzido” pela grande mídia, mesmo porque é mais fácil ser “simpático” aos heroísmos estadunidenses do que algum nicho boliviano ou venezuelano: eis a pobreza cultural colonizadora! Bombardeado pela grande mídia, o poder de “livre interpretação” ou o usufruto da castigada expressão bíblica do “livre arbítrio” por parte do “consumidor de notícias” é mera retórica.
Grande parte deste “desinteresse” latinoamericano de grande parte da mídia pode se explicado pelo excessivo desejo psicanalítico e tupiniquim de ser espelho estadunidense. Por exemplo, criar falsas-verdades e questionamentos banais sobre atuação da diplomacia brasileira com relação à Zelaya é desinformar aos leitores, ouvintes e telespectadores brasileiros. É particularmente notável a quantidade de bobagens que são transmitidas em canais de televisão e rádio que beira a má-vontade ou total falta de informações coerentes. Quando o preconceito é a aculturação fala mais alto, o resultado não poderia ser outro senão a desinformação e a cultura de ranço colonizadora. Aliás, são essas as bases que sustentaram o intelecto da elite que sitiou o poder na sociedade brasileira.
O campo das Relações Internacionais não pode ser visto como lúdica disputa de partida de futebol onde vários times nacionais jogam entre si para a conquista de um troféu. As questões são sempre delicadas, instáveis e multilaterais. Eventualmente, com o manejo incoerente ou incompetente dos vários níveis de interesses existentes, uma decisão tomada poderá desestabilizar toda uma região. O diálogo é a única maneira de encontrar soluções mais confortadoras e pacíficas que visem o bem-estar comum de toda uma região. No caso específico da América Latina, é fundamental a união dos países deste bloco para que seja possível ser construindo uma nova era de evolução e cooperação política, socioeconômica e cultural. O sangue jamais poderá ser moeda de troca nas conversações internacionais e toda guerra deverá ser descartada para o bem da razoabilidade humana.
Ao contrário que a má-fé de setores da grande mídia brasileira prega em seu sacerdócio noticioso, o fortalecimento de uma América Latina compacta permitirá que muitos países que encontrem hoje em situação de crise socioeconômica possam dar um salto qualitativo em suas nações. Países de grande pujança econômica como Brasil, México, Argentina e Venezuela somente terão a ganhar com uma fortalecida unidade latinoamericana. A UNASUL (União de Nações Sul-Americanas) é uma grande realidade e deverá ser fortalecida, enaltecida e ampliada.
O retrocesso político das ditaduras movidas a golpes de Estado devem ser veemente combatidas por todos os membros da OEA (Organização dos Estados Americanos). A questão hondurenha é emblemática. Somente a recondução de Manuel Zelaya à presidência daquele país trará um pouco mais de calmaria política e também intimidadora de desejos golpistas ao redor da América Latina. Por sinal, o continente americano precisa de uma cultura de paz, equidade e cooperação mútua com uma radical amplitude de democracia política, econômica e social.
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Para quem deseja conhecer mais sobre política externa latinoamericana apresentarei um trabalho:
II Simpósio de Pós-Graduação em Relações Internacionais do Programa “San Tiago Dantas” (UNESP – UNICAMP – PUC/SP)
16 de novembro de 2009 – Memorial da América Latina - 16h30min
“Pragmatismo, neopopulismo ou governança popular: novos ares na política externa latino-americana?” – Wellington Fontes Menezes
Veja a programação completa com bons e interessantes trabalhos aqui ou acesse:
http://www.santiagodantassp.locaweb.com.br/br/simp/programacao.html
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Café da Manhã ou Jantar?: A cruel opção em cenas da barbárie cotidiana da Educação Básica de São Paulo
Pense rápido e escolha somente uma única opção em duas alternativas possíveis: Você deixaria seu filho sem café da manhã ou sem jantar?
Por mais patética ou cretina que seja a pergunta, este foi o dilema que muitos pais que tem filhos nas creches da Prefeitura de São Paulo tiveram que enfrentar na semana passada. Segundo a Agência Folha, tais pais “receberam um formulário com duas opções: escolher se o filho ficará sem café da manhã ou sem jantar. O papel não podia ser levado para casa e tinha de ser respondido no local”. Motivo? Um corte em 20% da verba municipal destinada à merenda escolar de 120 mil crianças atendidas em creches paulistanas. Segundo ainda a Agência Folha, a estimativa é de que 60 mil crianças, ou seja, metade dos alunos matriculados das creches terá uma refeição a menos nas creches!
Falta compromisso social e sobram “planilhas técnicas”. A prefeitura da cidade que tem o maior orçamento municipal do país alega que por “razões técnicas” com a mudança dos turnos dos alunos com redução de jornada (ou seja, diminuindo o tempo de 12 horas para 10 horas de permanência da criança na creche), haveria um remanejamento de refeições que possibilitaria a “economia” para os cofres públicos. Segundo o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, apurado pela Agência Folha, o gasto médio mensal da prefeitura com alimentação nas creches será 20% menor, caindo de R$ 2,85 milhões para R$ 2,28 milhões.
Para variar, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) como se nada tivesse acontecido (a moda pegou!), disse que não sabia e que “se foi uma decisão equivocada é evidente que sim [podemos reavaliar]. Com a maior humildade”. A explicação do secretário de Kassab é mais inusitada. Segundo Schneider, a decisão não seria economizar, mas o fato apenas decorrência das “razões técnicas”: "O gasto mensal com merenda é de R$ 36 milhões, incluindo todas as escolas. A mudança no cardápio das creches vai representar menos de R$ 600 mil de economia”. A pergunta que cabe é pertinente: tirar alimentação básica de crianças em idade de crescimento é pura incompetência ou inteira má-fé?
Fundo do poço. São gestos desta natureza que percebemos a total desorientação das políticas públicas de educação básica do país. Adentrando ao inferno, já no falido sistema público de educação básica do Estado de São Paulo, a situação é o retrato sem Photoshop da terra-arrasada. Além da total falta de segurança nos prédios escolares, é sabido que falta de tudo (a expressão já virou uma trágica desgastada redundância!): de merenda básica para os alunos à falta de número mínimo de funcionários como, por exemplo, inspetores de alunos e cozinheiros na esmagadora maioria das unidades de ensino da rede pública estadual.
A situação da grande maioria das unidades escolares públicas é digna da podridão dos ranços dos campos de concentração de Auschwitz. Com a barbárie instalada, pergunta-se o motivo da resistência ou leniência que o Ministério Público tem em agir para poder simplesmente fechar estes prédios públicos e forçar o governo e reconstruir todo o seu sistema educacional. A gestão tucana conseguiu o feito de destroçar o que já estava ruim no sistema básico de educação. Nas mãos das irresponsáveis e nefastas políticas neoliberais, o futuro da educação básica pública é tão obscuro e desanimador quanto o presente.
Letargia e aneurisma social. Semana passada em matéria da Agência Folha, uma tecnocrata do Ministério da Educação disse que seria “mito” dos que alegam que a educação básica agora esteja “pior” do que no passado. Segundo a tecnocrata, a explicação seria que antes eram poucas as opções de educação pública e agora se atingiu a universalização do acesso, apesar da precariedade. Tal belíssima análise até poderia ganhar um retumbante Oscar pela dramaturgia dantesca se a situação fosse ficção. Todavia, a realidade é outra e alarmante, principalmente que tais declarações é oriunda de uma “policy maker” que em tese deveriam pensar na Educação como uma construção vital para qualquer país e não como meros números de uma bolorenta cesta de estatísticas.
A questão da Educação não deve ser tratada do ponto vista da simplificação estéril do “caráter técnico”. Tampouco com o nariz torto dos que acham se tratar de “entulho” estatal como é fixado no inconsciente da grande maioria dos burocratas e políticos. Pensar em Educação é atuar na estratégia de construção e consolidação dos pilares fundadores de qualquer país alicerçado na idéia de estado-nação. Relegar o plano educacional às cabeças ocas da acefalia burocrática é assassinar qualquer projeto de viabilidade institucional em longo prazo de qualquer nação. Quem ganha com um país estúpido povoado de analfabetos completos ou analfabetos funcionais? Numa democracia do planeta se consolidará com um exército de seres marginalizados e atirados ao relento atados miseravelmente somente com a sorte e o crucifixo.
É inacreditável que passado praticamente toda a primeira década do século XXI e ainda encontramos escolas públicas de educação básica dignas dos lugares mais nefastos da pobreza subsaariana do continente africano. Escolas sitiadas pela marginalidade e a precariedade reinante em todas as dimensões. Corpo técnico e quadro de professores amplamente acuados e desmotivados e com salários estupidamente ridículos.
É importante frisar (sem sinais de cansaço!) aos que não entenderam ainda sobre a realidade, em especial aos “policy makes” de plantão: a Educação é feita de seres humanos para a construção humanitária de outros seres humanos. A política educacional não é linha de produção em série de insumos como aço, petróleo, concreto ou plástico. É impossível definir “critérios técnicos” como o desumano e assassino corte de verbas para alimentação de crianças. Sim, senhores “policy makes”, crianças e também adolescentes são seres humanos e quem sabe poderiam até ser um filho dos senhores. Aliás, não seriam... Na maioria dos casos, a reprodução da mediocridade é clonada: os filhos destes “policy makes” estudariam em suntuosas e estéreis escolas privadas de linha de produção mercantil para se tornarem no futuro outros “policy makes” imbecilizados ocupando as tarefas dos seus próprios pais.
Outra pergunta que cabe urgir se trata da questão “tempo”: até quando a sociedade e o Ministério Público permitirão o silencioso esfacelamento da educação básica nas escolas públicas de São Paulo? O drama é aprofundado se levar em conta que São Paulo é o estado mais rico economicamente da federação e proporciona um destroçado sistema público de educação básica. Portanto, indaga-se em qual vala-comum se encontra a educação básica das escolas públicas nos demais estados do país, em especial nas regiões centro-norte e nordeste?
Depois de feita a escolha alimentar, aos que possuam alguma lanterna nas profundezas oceânicas, acionem a luz!
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Bingo! (Game Over?)
Parecia que já estava enterrada a idéia da abertura da farra das casas de jogos de azar, popularmente conhecido no Brasil como “bingos”. Ledo engano! Os fantasmas da jogatina e dos caça-níqueis ressuscitam mais uma vez no Congresso brasileiro. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados votará nesta quinta-feira, 16/09, o possível reinício da legalização do bingo no Brasil. Mais uma vez com a surrada premissa da “promoção do emprego”, políticos com seus longos rabos presos com esquemas de máfias de jogos querem liberar a jogatina.
Teatro. Para fazer mídia, sensibilizar a “opinião pública” e usando a defesa de trabalho como mote, a Força Sindical (este sindicato por sinal, sempre ao lado dos interesses de empresários e cafajestagens contra os trabalhadores) se encarregará de fazer a devida “pressão” no Congresso em nome dos trabalhadores que ficaram desempregados com o fechamento dos bingos. Esquema de manipulação semelhante ocorre com chefes do tráfico em zonas de guerra civil à brasileira (seja no Rio de Janeiro, seja
Para o relator do projeto e antigo aliado do ex-prefeito Paulo Maluf, o deputado Regis de Oliveira e membro do Partido Social Cristão (PSC) de São Paulo (por sinal, esta é uma sigla partidária que se autodefine como sendo “cristã”!) a liberação dos bingos é benéfico para o país. Segundo Oliveira, “o fechamento de bingos, cassinos e casas de jogos de azar provocou prejuízos à sociedade e ao Estado brasileiro”. Ainda seguindo a linha “evangelizadora” do deputado onde afirma que os angelicais “estabelecimentos foram obrigados a fechar”, o que "gerou a demissão de um número enorme de empregados". Como se fosse lícito gerar “empregos” sob qualquer situação. Partindo desta lógica do imediatismo eleitoreiro, até mesmo o trabalho escravo seria “louvável”!
Seguindo a linha de “raciocínio” do assecla de Maluf, Regis de Oliveira deveria propor a oficialização de todas as bocas de fumo das esquinas e guetos de todo o país. Sendo assim oficializaria o nobre emprego de milhares de “aviõezinhos”, outros milhares de “atividades”, centenas de gerentes e tantos outros nobres sentinelas do narcotráfico. Aliás, são mulheres, adolescentes e crianças neste fantástico e macabro exército de mão-de-obra ociosa servindo ao narcotráfico das mais ordinárias e distintas formas. Seguindo adiante, talvez em nome da “promoção do emprego” já oficializariam o tráfico de animais, órgãos e mulheres cuja movimentação anual pelo planeta alcança cifras bilionárias. Quanto de impostos poderia ser recolhido para o Estado através da mesma contravenção que sua força policial combate? Isto é, na surreal hipótese que eles seriam pagos pelos mafiosos donos de casas de jogatinas! É claro, como sempre nestas horas, invoca-se a necessidade de fomento do erário via criação de impostos para os três pilares desagregados e esquecidos das políticas públicas: educação, saúde e segurança pública. Que linda é a “consciência social” de nossos ilustres parlamentares!
Com a proibição das casas de bingos, como é de esperar, os deputados que devem favores eleitoreiros e financeiros aos gigolôs do jogo se esforçaram em demasia para novamente liberar a contravenção. Tanto esforço que em surdina acelerou o regime de votação do projeto do relator Oliveira. Claro, para uma parte da nobreza parlamentar, os bingos e a lavanderia de dinheiro sujo provenientes de negócios escusos são vitais para o desenvolvimento econômico na nação!
Agora, novamente o circo estará armado para aprovação do relatório e posterior oficialização da lavagem de dinheiro por via das jogatinas dos bingos, cassinos e caça-níqueis de todas as espécies de maracutaias. Parabéns, parlamentares! O crime organizado agradece.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Obama Hamletiano
Cenas enfadonhas da história do imperialismo. Buscando reconquistar sua popularidade em queda, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama planeja aumentar suas tropas na ocupação do Afeganistão.
Da euforia do narcisismo cívico estadunidense à descrença da mesquinhez conservadora. Um dos grandes motivos que vem ofuscado a queda de popularidade de Obama nos enquetes dos institutos de pesquisas de opinião pública é o seu projeto de um novo sistema de saúde considerado muito “abrangente” por boa parte do conservadorismo estadunidense (e principalmente dos interesses e mercado de grandes grupos empresariais do ramo). Todavia, em sua vitoriosa campanha, Obama prometeu um novo modelo de saúde pública para seus compatriotas. Porém, quando se fala em repartir custos e abranger o número maior de pessoas que não podem pagar seus tratamentos de saúde, urge a insensível prepotência de setores do conservadorismo estadunidense. Daí, as críticas são inevitáveis contra o presidente da “mudança”.
Acuado, Obama quer ir para a ofensiva. Agora se vê na obrigação de servir a dois amos. Obama planeja continuar com sua imagem de um bom mocismo pacificador com o ar robusto de um imperador de guerra. Notadamente, é impossível tal conciliação.
O Partido Republicano, ainda abalado com a avassaladora derrota nas urnas e perdido politicamente, acusa Obama de fazer culto à personalidade tal o seu ímpeto de “pop star” da política mundial. Como era possível de esperar, os republicanos atacam dentro do Congresso todos os projetos da Casa Branca e criam celeuma e terrorismo panfletário no jogo de cena da mídia. Sempre com a mesmice fórmula mágica da retórica conservadora dos “interesses pátrios”. Com uma política de retorno às práticas keynesianas de intervenção estatal e apesar do sucesso inicial ter conseguido freado a queda para o abismo da economia estadunidense, a situação se encontra estagnada e Obama descolando-se para fora do pedestal. Logo, a atenção se volta para o carcomido teatro da salvação de popularidade através da guerra, aliás, desta vez, estampado com o irônico termo de “guerra justa”.
Seu alucinado antecessor, George W. Bush queimou uma fantástica e histórica montanha de dólares na inútil invasão e ocupação do Iraque. Apesar do fracasso retumbante tal como foi no Vietnã, Bush inicialmente conquistou grande adesão de carisma e popularidade a favor do belicismo “patriótico” estadunidense. Importante sempre ressaltar a índole imperialista dos Estados Unidos como forma de manter sua hegemonia bélico-político-econômica sobre as demais nações do planeta. Seguindo este saturado cominho, Se aliando as alas belicistas do vampirismo ultraconservador, Obama mergulhará seu país num novo Vietnã em terras afegãs tal como esta sendo no poço sem fundo iraquiano. Aliás, no momento que Obama vem anunciando sistematicamente a diminuição de soldados na ocupação do Iraque, tudo indica que seu desejo é ampliar o contingente de combatentes no Afeganistão, ampliando os combates contra rebeldes que resistem a ocupação estadunidense, tais como o Talebans. Será que Obama deixará se levar pelo imediatismo do afago popular e pressão dos tecnocratas conservadores e sequiosos generais de plantão?
Vietnã, Iraque e agora Afeganistão. A lição parece nunca ser aprendida. Usa-se de quaisquer meios na política para garimpar apoio e popularidade, mesmo sendo à custa de sangue e suor inocente. Obama foi eleito como a esperança de “mudança” para o povo estadunidense. Um momento ímpar na história recente do seu país se levar em conta a cor emblemática de sua tez. Distinguiu-se de Hilary Clinton, sua oponente democrata nas prévias de seu partido, por conseguir personificar num “novo jeito de fazer política” para seus eleitores. Como um trator nas urnas, Obama com seu discurso de renovação do stablishment estadunidense passou pelo republicano “prisioneiro e herói de guerra” John McCain.
Agora, poucos meses após se sentar no trono da Casa Branca, Obama se vê acuado entre suas promessas de campanha e a máquina de fazer guerra implantada pelos generais do seu país. Deverá estar sendo bombardeado com muitos assessores azucrinando seus ouvidos para que deixe o idealismo de lado e que o presidente da “mudança” passe a optar pelo ancião conservadorismo pragmático. Sempre a mão com pilhas de estatísticas, seus assessores empurrão Obama para a vala-comum dos presidentes com mãos sujas de sangue na sintética equação: mais guerra, mais popularidade. Para alento de muitos economistas que apenas pensam com a calculadora entre as sinapses cerebrais, se Obama aplicar a conhecida a fórmula do keynesianismo militar, do ponto de vista estritamente econômico, tal operação a princípio poderá aquecer a economia estadunidense gerando novos postos de trabalho no colossal complexo industrial de guerra e a elevação dos índices de aplausos para a sua administração. Simples e rápido. Sucesso garantido?
Os dilemas para a própria sobrevivência política do presidente são muitos e com nuvens bastante turvas. O mais importante para Obama, seu país e o restante do mundo (Yes, existe mundo além dos Estados Unidos!), será o desafio para o seu governo em buscar realizar a pretendida e necessária “mudança” que possibilite a real construção que é socializar as riquezas produzidas (e também pilhadas) pelo seu país com seus milhões de cidadãos excluídos. Sim, é na base do sistema capitalismo a essência da miséria e exclusão. Hoje, assim como antes, os Estados Unidos estão longe de ser algum idílico Paraíso que tanto os neoliberais tupiniquins adoram mimetizar a exaustão.
Se quiser fazer uma nova história e uma biografia que realmente seja de um estadista, Obama terá que realizar uma redefinição de políticas que reconstrua um novo Estado de bem-estar social para os Estados Unidos e enterra de vez as irresponsáveis aventuras neoliberais de administração passadas. Para isto, será fundamental o resgate as funções do Estado como gerenciador, regulador e promovedor do desenvolvimento e redistribuição de riquezas sociais. Restaurar uma nova parceria com os demais atores globais de cooperação e, o mais importante, entender de uma vez por todas que os Estados Unidos não são os donos do planeta. O unilateralismo político é impossível num mundo cada vez mais multipolar, conflituoso, sem centro de massa definido e carente de cooperação mútua. Obama sabe disto, e o seu problema fundamental é convencer seus assessores e generais sedentos para virarem “heróis de guerra” para se cacifarem em futuras eleições.
Como uma nova redefinição do papel de Estado, os Estados Unidos passará longe de torrar bilhões de dólares ceifando desnecessariamente a vida de milhares de homens, mulheres, crianças e idosos em longínquas terras sem significado algum. A prática é conhecida e desastrosa: aplicar o terror para satisfazer do ego de alguns generais e criar artificialmente apoio interno. Será preciso ultrapassar velhas táticas de mediocridade política. Para Obama tal como foi para Hamlet, será fundamental e invocação shakespeariana em ser ou não ser tão medíocre como os demais presidentes que o antecedeu: eis o dilema em jogo nos próximos meses que marcará a sua biografia e a história do mundo. Vale um retrato na história ou estampar como fortuita estrela na capa de Time?
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Serra e a Privatização da Saúde Pública em São Paulo: a institucionalização do Apartheid socioeconômico
Continuando o projeto privatizante dos tucanos e de exclusão dos direitos fundamentais à dignidade humana, o governador paulista, José Serra, defende exaustivamente a privatização dos hospitais públicos estaduais.
Nesta quarta-feira, 02/09, conforme informa a Agência Folha, a ALESP (Assembléia Legislativa de São Paulo) aprovou por 55 votos a 17, o projeto de lei enviado pelo governador Serra permitindo que todos os hospitais estaduais sejam terceirizados. O projeto permite que hospitais públicos estaduais atendam a pacientes particulares e de planos de saúde. Na prática, o projeto prevê tratamento diferenciado de pacientes e cobrança por atendimento em hospitais públicos de São Paulo.
A gestão administrativa destes hospitais públicos passará para as mãos das tais OSS, no jargão tucanês se traduz com o pomposo rótulo, “Organizações Sociais de Saúde” e supostamente “sem fins lucrativos”. Este modelo de “convênio com o setor privado” já está sendo aplicado a alguns hospitais públicos do estado desde a gestão Mário Covas e que agora Serra deseja estender a toda rede pública de saúde do estado de São Paulo.
No surrealismo da desertificação dos direitos humanos praticado pelos tucanos, num mesmo hospital público terceirizado haverá duas filas de “velocidade de acesso” aos serviços públicos de saúde
Para alegria dos tucanos e desespero de todos aqueles que carecem dos serviços públicos de saúde, o projeto fere frontal o princípio da universalidade de atendimento e tratamento de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que o projeto de Serra priorizará aqueles que terão mais condições econômicas para custearem seus tratamentos de saúde.
Segundo o DIEESE, durante as gestões tucanas à frente do governo de São Paulo, apenas entre 2004 até 2009, os gastos com a terceirização no setor da saúde passou de 626 milhões de reais para 1,89 bilhões de reais, ou seja, em escala ascendente, em cinco anos triplicou o repasse de dinheiro público para entidades terceirizadas. Com um comprometimento do orçamento da saúde
Para todos aqueles que se ainda acredita em fadas madrinhas, Papai Noel e “eficiência” na gestão privada de serviços públicos básicos, é importante frisar que o projeto de Serra de repasse de dinheiro público para as mãos na iniciativa privada na gestão de hospitais públicos não prevê e sequer garante a aplicação e fiscalização dos recursos para a qualidade do atendimento dos serviços. A avaliação burocrática será apenas sobre a quantidade numérica de atendimentos. Após a “mágica”, jorrarão exaustivamente números em campanhas eleitorais sobre as peripécias dos “saltos de qualidade” na saúde promovida pela gestão tucana do seu candidatíssimo governador Serra ao Palácio do Planalto.
Mais uma vez, Serra e os tucanos neoliberais conseguem reinventar e institucionalizar a segregação social. Será indisfarçável o apartheid socioeconômico entre ricos e pobres, entre remediados e famélicos, entre os que terão direito à vida e às favas da morte. Até para os mais fanáticos utilitaristas e narcisistas de plantão poderão perceber os ritos dos abusos neoliberais que se avolumam e se evidenciam pelo desprezo sistemático da dignidade humana. Não é necessária a manipulação de muitos dados para que qualquer razoável entendedor possa sensibilizar a respeito do projeto de privatização da saúde de Serra que tão somente penalizará ainda mais a vitimada e severamente castigada população dependente exclusivamente do serviço público de saúde.
Na contramão do processo de privatização, o presidente estadunidense, Barack Obama propõe à sociedade daquele país um serviço de saúde semelhante aos princípios universais do SUS brasileiro. Nos Estados Unidos, as políticas de saúde estão majoritariamente nas mãos da iniciativa privada, ou seja, o paciente que tem dinheiro para pagar serviços médicos será atendido, senão morrerá ao relento. Um ótimo modelo para o capitalismo canibalizante praticado pela suprema inteligência do país mais amado das elites dominantes de quase todos os países. Obama precisa convencer o egocêntrico e utilitarista povo do seu país (e também seus congressistas) que o seu Projeto para a saúde beneficiará mais e melhor os seus compatriotas com menos recursos econômicos e não pensará tanto no bolso dos contribuintes mais abastados. Muitos interesses corporativos do grande capital estão em jogo no bilionário mercado da saúde em contraposição à uma grande parcela da população pobre estadunidense desprovida de qualquer acesso aos tratamentos básicos. A luta promete ser acirrada uma vez apesar do terrorismo midiático contrário ao projeto praticado pelo Partido Republicano, atual oposição à Obama no Congresso. Há também aliados do próprio partido do presidente que não vêem com bons olhos as novas idéias sobre universalização de acesso público à saúde no narcíseo “american way of life”.
É preciso compreender que Serra e seu projeto tucano neoliberal é totalmente excludente e com fundamentações inconstitucionais. Fere princípios básicos da Carta Magna e da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Deixar o mercado fazer “políticas sociais” e terceirizar funções públicas básicas do Estado. É importante mencionar que o projeto de Serra também dá sinal verde para que as instalações públicas culturais e esportivas sejam também privatizadas, tais como museus e clubes.
Cabe à população de São Paulo dizer um basta à política do apartheid socioeconômico promovido pelo estofamento irresponsável e bolorento das práticas neoliberais. Eis a nefasta política tucana neoliberal: privatizar o patrimônio público, institucionalizar a segregação social e propagandear a insossa fabulo do “Estado mínimo”. Tudo em nome de um discurso da “eficiência” cujas bases se solidificam na falsidade do discurso pragmático, cinismo da deturpação do conceito de Estado e a vulgar mesquinhez eleitoreira.
Quanto à população que mais precisa da atenção do Estado, para o sórdido neoliberalismo tucano é explícita e sintética a lição: tenham dinheiro ou danem-se todos!
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Jogando Verde...
No último domingo, Marina Silva fez sua filiação ao Partido Verde (PV) após quase 30 anos de militância nas fileiras do Partido dos Trabalhadores (PT). Depois de ser ministra do meio-ambiente de Lula por cinco anos e gradativas desavenças com o governo (leia-se: Casa Civil de Dilma Rousseff), saiu do barco e passou para a oposição. Qual oposição?
O PT e o governo Lula tiveram a mesquinhez de ceifar as ações de Marina e deixá-la isolada no alto do seu castelo verde com pompa de ministério. O nome de Dilma subiu à cabeça de Lula e dos lulistas. Correndo por fora, Marina é vista como uma alternativa à polarização Dilma-PT/Serra-PSDB em 2010. Ligada historicamente às questões ambientais, Marina agora crê na lábia sedutora de mata nativa do PV. Muitos apostam em seu carismático semblante para uma apologética “revolução verde” com um pomposo rótulo de “desenvolvimento sustentável”. Entretanto, uma questão necessária é refletir o que é o PV?
Descendo ao inferno. O Partido Verde é mais uma destas siglas de aluguel no cenário eleitoral brasileiro cujo mote é a suposta defesa da “questão verde”. Amazônia, índios, mico-leão-dourado, liberação da maconha e blábláblá. Reducionismos à parte, o PV certamente está mais interessado no verde-dólar do que qualquer outro teatro ideológico. Basta ver as contas que não se fecharam do partido no fundo partidário (aquele jorro de dinheiro público para fazer a farra de alguns caciques da política). Seria o preço da democracia ou da falência democrática?
Jogando verde para colher o que der... A tática midiática do PV para lançar Marina à presidência aparentemente vem colhendo frutos. Colado no meigo e batalhador sorriso de Marina, o PV projetou a sigla para a vitrine nacional e assim terá maior poder de barganha antes, durante e depois das eleições de 2010. Será rifado a peso de ouro o “prestígio” do PV nas “alianças programáticas” entre os partidos de maior densidade eleitoral.
Do ponto de vista estritamente político, o PV é o que se pode chamar de “apartidário”. Sem posicionamento político definido: esquerda, direita, centro ou marcha-ré. Trocando em miúdos, o que interessa mesmo para a sigla é somente compartilhar nacos do poder. Não é de estranhar se o PV subir no mesmo palanque numa composição tanto com o PT quanto com o PSDB (ou ambos!) em um eventual segundo turno sem Marina. O PV não é contra, nem a favor, muito pelo contrário ao governo ou a oposição. Até aí, qual novidade no emaranhado brasileiro de siglas medíocres e sem verniz ideológico?
Retorno ao messianismo à brasileira. Marina é uma ótima senadora, uma bela história de vida, mulher de luta e notável ambientalista. Qualidades imprescindíveis para sua figura se agigantar no Parlamento ou no Governo do Acre, sua terra natal. Todavia, dificilmente seu vôo será uma alternativa viável ao Palácio do Planalto amparado pela mesquinhez do PV e demais abutres eleitoreiros que agora a cercam de forma sorrateira. Sejamos honestos: qual projeto político de amplitude nacional é possível e factível de ser construído faltado cerca de treze meses para as eleições? Exceto se desejarmos abraçar mais uma “heroína” dos rincões do Brasil e acreditarmos na “esperança que irá vencer o medo”. Vale a pena ver de novo?
Do outro lado, Serra e Dilma são as mesmas continuidades do projeto neoliberal do neopetismo. Por sua vez, o neopetismo que foi a mesma continuidade do projeto tucano neoliberal de Fernando Henrique. Portanto, o que fato se protagonizará nos próximos meses será o falso debate da suposta dicotomia partidária entre PSDB e PT. O teatro eleitoral se reduzirá em apenas quem conduzirá melhor (e com menos alvoroço possível para o grande capital) o projeto neoliberal. Na retórica da “eficiência”, o PSDB contará com a sua poderosa máquina privatizante, relações carnais com o capital estrangeiro e especulativo atrelado ao inconseqüente “Estado mínimo” com substancial elevação dos índices de desemprego. Já o PT, invocando a retórica da “defesa ao trabalhador”, seguirá com o destilar político do pragmatismo neopetismo liberal ancorada nos projetos ao estilo do “Bolsa Família” de perpetuação da miséria e apatia regional.
Sem ilusões. E a “revolução verde” nas entrelinhas do discurso de Marina? Como afirmou István Mézàros, filósofo húngaro, em palestra na PUC-SP semana passada, não é possível o alvorecer da “revolução verde” sem antes solidificar a revolução vermelha. Desta maneira, é impossível qualquer revolução seja lá qual for sua cor ou tonalidade, sem uma construção sólida de um projeto político factível e alternativo e que tenha como base a emancipação do ser humano numa arquitetura solidária de desenvolvimento ecosocioeconômico com profunda diluição da miséria oriunda do fosso que separam as classes sociais.
Para 2010, o que se avizinha é uma corrida presidencial cada vez mais previsível, a tônica das mesmices dos discursos vazios e um bocado de soníferas promessas eleitoreiras. Com Marina no páreo, será no máximo, um colorido adicional à conta-gotas de emoção. E quanto o poder da “proposta verde”? Diluir-se-á no cinza-funerário do recalcado conservadorismo das elites brasileiras.
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