quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Washington D.C. e as Ilusões da Obamania: Contradições do Capitalismo no Coração do Império
Quem poderia imaginar que dentro do coração do maior império da história da humanidade convive um “outro país” mais similarmente parecido com as mais pobres regiões africanas do que a exuberância sedutora do Primeiro Mundo? Para os arautos de plantão do capitalismo tal disparidade é apenas uma “excrescência” dentro do sistema. Para quem não cai na sedução do dogma da beatitude do “livre mercado”, a questão é exemplarmente contundente. Vale a pena destacar a matéria do jornalista Sérgio Dávila para o UOL Notícias sobre as visíveis contrições do sistema capitalista no berço político do império estadunidense (Assista ao vídeo abaixo).
Dávila relata os números da cidade de Washington D.C. (abreviatura de Distrito de Colúmbia), capital dos Estados Unidos. A matéria tem como mérito trazer a tona um sombrio recorte dentro de Washington, a qual o jornalista denomina simplesmente de um "país sem nome" com uma grande quantidade de população negra imersa em índices africanos de HIV e alarmante criminalidade.
América subsaariana
Na capital do império do primeiro presidente negro da história, dos 590 mil habitantes de Washington, 56% são negros. Os índices de infectados com o vírus da AIDS na população adulta de Washington é de inacreditáveis 7% e contrasta com a média de 0,6% do restante do país. Em termos de comparação, segundo o Ministério da Saúde (2007), no Brasil o índice é o mesmo da média da população estadunidense: 0,6%. Os números alarmantes de infectados por HIV na população de Washington acompanham os índices de países africanos mais pobres, tais como Serra Leoa e Costa do Marfim. Até mesmo o falido Estado do Haiti na América Central que está sob ocupação de militares da Força de Paz da ONU possui índices semelhantes a Washington.
Capital mundial do império político e dona de decisões que podem devastar belicamente o planeta, paradoxalmente a cidade Washington goza de índices de criminalidade comparáveis aos das grandes cidades brasileiras. Para conter a onde de violência, a polícia da capital estadunidense recorreu aos bloqueios policiais em bairros mais violentos e passou a realizar triagem de moradores. Semelhante à situação de guerra, como Afeganistão ou Iraque, a polícia local somente liberava a entrada das pessoas que moravam nos bairros. Sob protestos de moradores locais, tais práticas locais de segurança pública foram suspensas. Em Washington, o índice de crimes violentos é de quase 1500 por cem mil habitantes enquanto que no restante do país são três vezes menores: 454 por cem mil habitantes. O apartheid social em Washington se evidencia com mais força na apresentação das estatísticas sociais. Segundo Dávila, em média, há mais negros em situação de pobreza em Washington do que outras regiões do país. Também em Washington desponta com inglórios índices de maiores números médios de população de analfabetos, doentes, mães solteiras e jovens mortos. As contradições entre os ocupantes da Casa Branca e seus vizinhos depauperados mais próximos são sensíveis.
Crise, promessas e encruzilhada obamista
No olho do furacão da crise financeira mundial eclodida em 2008, os Estados Unidos estão longe de uma recuperação da antiga solidez de sua economia, mesmo ainda gozando de prestígio internacional e a manutenção de um mercado atrativo. Após um ano da posse de Barack Obama, a expectativa de uma mudança na estrutura social da população negra nos Estados Unidos vem paulatinamente caindo perante os duros números da realidade.
Herança de sucessivas adminstrações conservadoras e cujo clímax se processou na Era George W. Bush, a tragédia do neoliberalismo para os estadunidenses mais pobres é incalculável. Projetado como a esperança da população negra, Obama prometeu ser a “mudança que a América precisa”. Fortalecido com um sedutor movimento apelidado de “obamania”, eleito com um entusiasmo sem paralelo histórico e grande expectativa nas últimas décadas, Obama esta sendo consumido pelo seu próprio prestígio e promessas de campanha. O tempo continua impiedosamente a girar os ponteiros do relógio e a “mudança” não surge no horizonte das famílias negras estadunidenses imersas na pobreza. Logo, a esperança declina com a magnitude inversa que demora as prometidas e propaladas reformas da administração Obama. Como era esperado, sem a materialização da mudança prometido na campanha eleitoral, o apoio popular à administração Obama vem sofrendo queda vertiginosa. Para exemplificar o desgaste obamista, a aprovação no Congresso estadunidense do controvertido projeto de reforma do sistema de saúde de Obama (algo similar à implantação do programa brasileiro do Sistema Único de Saúde – SUS) foi um calvário político que deixou riscos políticos e a sensação para os seus adversários que o presidente não é “intocável”. No início deste mês, as eleições para membros do Congresso estadunidense também sofreram impacto com o declínio da popularidade de Obama resultado em derrota do seu partido, o Democrata. Naturalmente, a Casa Branca negou qualquer vínculo com a imagem do presidente. Mais uma vez, torna-se patente que não se mudam arcaicas estruturas sociais dentro dos prazos prometidos em campanhas eleitorais mesmo utilizando a maior de toda “boa-fé” dos sistemas eleitorais de uma democracia de livre mercado. Mesmo agraciado precocemente com o Nobel da Paz, a natural projeção do semblante de Obama como líder mundial não minimiza o fardo de ser a mudança que até agora não vingou para boa parte dos eleitores estadunidenses mais carentes e desamparados.
Darwinismo social e a ilusão da democracia neoliberal
Trocando em miúdos e deixando de lado os comezinhos acadêmicos, o capitalismo é um sistema desequilibrado entre “espertos” e “otários”. Cinicamente alguns adoram rotular tal regime como a “terra das oportunidades”, ou seja, a ficção da mobilidade social no meio da guerra da sobrevivência. Fazendo uso de uma alegoria poética, podemos comparar o sistema capitalista com um restaurante. Para uns “espertalhões” do capital, o almoço é sempre grátis. A burocracia dos bem letrados arruma e serve a mesa, e, se fizer um bom serviço, até ganha a gorjeta. Aos munidos de criatividade artística, tocam algum instrumento e fazem shows para animar o ambiente. Os proletários de várias cores e etnias fazem a comida, lavam os pratos e levam o lixo para fora do recinto. Do lado de fora, próximo da porta do restaurante, pares de muitas mãos estendidas e com alguma sorte receberão alguma esmola e restos de comida para que não criem a ousadia de atacar a despensa do restaurante.
A realidade mostra que no capitalismo, as ações políticas são apenas forjadas para a administração do grande capital e das forças produtivas. Nitidamente é possível perceber o discurso falacioso (em geral, bem arquitetado) entre democracia, liberdade e igualdade no sistema capitalista como se fosse possível misturar tais ingredientes e num passe de mágica chegaríamos ao Paraíso prometido em livros sagrados. A economia de mercado com ranço neoliberal suprime a idéia de liberdade e igualdade para uma expressão dona de uma estrelada magnitude sedutora: “oportunidade de mercado”. Impulsionada pelo capital, a democracia é uma mera abstração do “desejo das urnas” com o livre exercício do consumo dos cidadãos.
As contradições socioeconômicas no coração político do império estadunidense são mais uma face evidente das contradições intrínsecas do engenhoso tear capitalista. Mesmo com todo um furor midiático ao estilo da obamania, é impossível um sistema social mais equilibrado ou ambientalmente mais sustentável dentro de um modelo econômico que privilegie apenas a voraz sanha pelo lucro do capital e exploração permanente da mais-valia. Os poderes da tríade do regime democrático neoliberal (executivo, legislativo e judiciário) situam na primeira e na última instâncias como os grandes gerenciadores do sistema de continuidade das forças produtivas capitalistas. Qualquer alteração na estrutura da democracia neoliberal somente será possível sua materialização a partir de fortes pressões de grupos coesos e articulados dentro da sociedade. Como a luta pela sobrevivência da massa trabalhadora, desempregados e refugos humanos contra o poder econômico do capital não é possível escolher regras ou etiquetas, o emprego da força e da violência não poderão ser descartados ou desvalidados. Ressaltando que o monopólio da violência, ou seja, o emprego das forças públicas de polícia e repressão, é exercitado livremente e impunemente pelo Estado a serviço das forças do capital.
São Paulo, Pequim, Berlim, Bombaim, Tóquio, Moscou, Nova Iorque ou Washington. Cada um ao seu modo, mas todos com o mesmo retrato. Seja qual for o pólo de representação simbólica do capital (uma vez que o capital flui pelos dutos econômicos do planeta), é possível encontrar nos seus interstícios a permanente contradição entre os números da geração de bens materiais e financeiros e os números das discrepâncias sociais da pobreza. A cidade de Washington é um relevante exemplo que a democracia neoliberal é um exuberante espetáculo de magnetismo tácito e intrínseca desigualdade. Portanto, sem criar falsas esperanças, na democracia neoliberal políticos como Obama são eleitos não para fazerem a propalada justiça social, mas somente salvaguardar as forças produtivas e a organização do hiperespaço capitalista.
Fonte do Vídeo: Blog do Sérgio Dávila. Disponível em: http://sergiodavila.blog.uol.com.br/
Acesso em 11 de dezembro de 2009.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Um Elogio ao Autismo: Narcisismo, Misanscene e peripécias da Godiva da Uniban na cínica moralidade à brasileira
É uma louraça belzebu, provocante
Uma louraça Lúcifer, gostosona
Uma louraça Satanás, gostosona e provocante
Que só usa calcinhas comestíveis e calcinhas bélicas
Dessas com armamentos bordados
Calcinha framboesa, calcinha antiaérea, calcinha de morango, calcinha Exocet
[...]
Pelo rádio da polícia ela manda o seu recado
Alô, polícia!
Eu tô usando
Um Exocet - Calcinha!
("Kátia Flávia", Fausto Fawcett)
Que o Brasil é um país da farsa e retórica hipócrita não é de causar estranheza a ninguém. Gabamo-nos por construir uma Suíça diplomática do Terceiro Mundo, mas geralmente esquecemos-nos dos números da barbárie explícita da nossa própria Faixa de Gaza escondida nas periferias e rincões pelo país afora. Nos holofotes umbilicais de São Paulo, a Avenida Paulista não espelha o Brasil e tampouco devemos acreditar que tal horizonte pictográfico será palco nos próximos anos da “realidade nacional” apesar das promessas do neoliberalismo-keynesiano. Para os ares da política a partir do eixo tucano-petista, uma nova elite dirigente eclodiu no cenário nacional e mais performático do que as anteriores com misto de sindicalistas emergentes de centrais sindicais e neocapitalistas criaram uma amálgama que podemos identificar como sendo um desenvolvimento “retro-modernista” de uma refundação capitalista à brasileira com maior desenvoltura hipertrofiada da construção capital-trabalho.
Ares políticos, ares sociais. Novos tempos não substituíram velhas e atormentadas práticas. Um celeiro internacional da prostituição e exploração infantil cujas mulheres continuam são exportadas com rótulo de qualidade “made in brazil” como gado para os prostíbulos do mundo inteiro (ironias do agrobusiness!). Adolescentes pobres se prostituem dançando nuas em troca de pedras de crack e alguns tostões em bailes da “cultura funkeira”. Apresentamos peitos siliconados e nádegas avantajadas sacolejantes ao mundo em troca dos dólares do turismo sexual disfarçado da maior “festa popular” do planeta. Ainda patrocinamos concursos machistas de “misses” para todos os gostos e pecuária de corte: “miss Brasil”, “miss penitenciária”, “miss universitária”, “miss garota da laje”, “miss dos maiores glúteos”, “miss mirim” (!) e corre a fértil imaginação à bel prazer. Aplaudimos entusiasticamente e adoramos ostentar a beleza do açougue de “nossas mulheres”. Nas listas imbecilizadas da “sedução internacional” os brasileiros sempre despontam nas primeiras colocações nos diversos “ranking”: mais sedutores, maiores números de orgasmos por metro quadrado, maior número de parceiros. Haja virilidade e libido! Agora como uma nação-olímpica, somos uma mistura da carne violenta com o gozo desmedido salpicado com o espetáculo da barbárie silenciosa. Eis uma caricatura do Brasil retro-moderno: carnaval, futebol, traficantes paramilitares, verde-cinza amazônico e, claro, a apoteose do glúteo empinado. E agora na Era Lula, gozamos da exuberância do capital fictício financeiro polvilhado de miragens miraculosas do pré-sal e bolsas de perpetuação da miséria.
Para retratar nossa Babilônia, reportemos à lenda de Lady Godiva, a mítica aristocrática anglo-saxã que viveu na Inglaterra no inicio dos anos mil. Para cumprir uma aposta feita com seu marido Leofric, o Duque de Mercia, para que o mesmo diminuísse os altos impostos do povo local se por caridade ela desfilasse despida montada sobre um cavalo branco nas ruas inglesas de Coventry. Mesmo duvidando da palavra de sua esposa, o Leofric ordenou que os moradores locais trancassem em suas casas para que ninguém pudesse ter a ousadia de admirá-la. Feito o desfile de Godiva e aposta cumprida, reza a lenda que seu marido retirou os impostos mais altos. A nossa genérica nacional de Godiva do momento é a estudante da Universidade Bandeirantes (Uniban) que ganhou espaço gratuito nos holofotes da mídia e do misanscene de defensores da liberdade.
Recapitulando a novela. Há duas semanas uma aluna enrolada num pedaço de pano denominado “microssaia” (ou vernáculo similar) desfilou seus dotes naturais nos corredores universidade onde está matriculada na região paulista do ABC. Até aí, não é nenhuma novidade o semi-nudismo narcíseo no país da tropicália e das genitálias desnudas. Um apelo ao primitivismo instintivo: provavelmente após incitar à ira feminina do recinto e supostamente “excitar a libido” masculina (sempre uma ótima desculpa!) foi se avolumando uma voluntária horda estudantil de achincalhamento da garota dentro do ambiente “acadêmico”. Um espetáculo de surrealismo fantástico para uma geração que é sempre ovacionada pela mídia por ser “descolada de moralismos”. Quantas ilusões da hipermodernidade! Dentro do galpão estudantil da Uniban construiu-se um legado importante da iniciativa privada da Educação “Superior” para a sociedade: o misanscene do autismo estudantil hipermoderno. Após conquistar histridentemente à apoteose com sua vestimenta em compasso com os instintos primitivos da horda acadêmica local, a situação perdeu-se o controle e temendo pela segurança, a Godiva da Uniban precisou ser escoltada pela polícia para fora da faculdade. Os inusitados minutos de fama se estenderam para o neófito estrelato da Godiva, a ficção se consolidou esquizofrenicamente e, para variar, a mídia ganhou motivos para lucrar pontos preciosos no IBOPE.
Os fatos que se sucederam foram mais bizarros e patéticos do que o show da pós-adolescente e a catarse hormonal de seus colegas “acadêmicos”. Sem pestanejar, do pátio da faculdade, a garota foi para as telas dos shows baratos de exploração da miséria humana na televisão. Para capitalizar o momento, se expôs no vídeo com o mesmo “vestido” para os lares da “pudica” sociedade, portou-se como a vítima dos hormônios de “abutres universitários”, ganhou seu cachê (dificilmente irá ter comprovação tal fato) e não será surpresa se conseguir contrato para exibir seus dotes em alguma revista masculina de “ensaios fotográficos” ou estrelar alguma produção do mercado pornográfico (o “roteiro” é demasiadamente propício!). Certamente a Godiva da Uniban irá conquistar mais fãs e dinheiro do que toda a sua vida batendo cartão como os demais “trabalhadores comuns” a serviço do capital. Para as dores no cotovelo dos seus detratores pseudo-puritanos, méritos da garota e “sorte” do país que irá ganhar mais uma candidata a “modelo-atriz-apresentadora-universitária-e-sangue-bom”. Talvez se ela for mais emotiva, deixar milimetricamente cair uma gota de lágrima (um bom colírio sempre ajuda!) em suas declarações midiáticas poderá até mesmo estrelar numa novela do “baixo clero” da televisão ou participar de algum Big Brothers da vida. Com alguma sorte e solicitação de grupos de ONGs, a Godiva da Uniban ainda poderá ser canonizada na pós-vida pela excelência de seus pares de pernas em prol da excitação libidinal dos onanistas de plantão, além de valorosa contribuição para “intelligetsia” universitária do capital. Em suma, mais uma provável candidata criada para o incipiente time dos personagens sacros brasileiros. A mídia adora o show da barbárie apimentada com sexo, intrigas e comezinhos autistas! Como diria o folclórico apresentador das futilidades burguesas da nossa pátria mãe gentil, Athayde Patreze: “Simplesmente um luxo!”.
Do outro lado, deslanchou o espetáculo institucional da estupidez. É notório que os únicos objetivos de um galpão universitário que explora mensalidades dos seus alunos são três e vale destacar: lucrar, lucrar e lucrar. A Meca do neopetismo visando o “voto da juventude”, o PROUNI, foi o grande espetáculo de desvio de recursos públicos para os bolsos dos empresários da educação. Com polpudos empréstimos do BNDES, para estas empresas o único compromisso é com o lucro fácil, rápido e garantido. Os galpões universitários tratam a Educação como um açougue ou uma mera quitanda. Portanto, não foi estranho que aos autistas gestores da Uniban não sabendo como agir diante da repercussão da Godiva (e inusitada garota-propaganda da faculdade) preferiam utilizar o recurso óbvio da “moralidade”. Como resultado de tamanha sapiência intelectual dos gestores da Uniban, a entidade expulsou a garota com direito a uma inverossímil justificativa com matéria paga estampada nos principais jornalões paulistas. Pelo olhar do capital, a bizarra expulsão da garota poderá ser melhor ainda para a poupança da nossa Godiva que poderá pedir uma rechonchuda indenização movendo um processo contra as lambanças de sua querida universidade. Ademais, fale deixar claro que soa patético o subterfúgio da moralidade para capitalistas imorais! Para ampliar a misanscene e morder um naco de espaço na mídia, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), a provinciana União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Ministério da Educação (MEC) entraram em campo, além de outras entidades de classes e ONGs ligadas à “defesa da mulher”. Em nome do espetáculo da hipocrisia, o circo somente aumentou e perdeu-se o foco do que realmente estava em pauta. Quanto vale o show?
Por mais patético que foi o teatro adolescente entre o enlace da exibicionista Godiva e sua hormonal turma, tudo não passou de um acontecimento pontual que deveria estar dentro do recinto da faculdade. Porém, graças ao poder das filmadoras dos celulares de seus colegas de turma da garota e a exposição na internet via site do YOUTUBE, as cenas midiáticas atravessaram as cascas de lona da faculdade. Paradoxalmente, uma faculdade academicamente insignificante ganhou status nacional e pela lógica da mídia, o espetáculo foi benéfico para todas as partes: notoriedade da sigla universitária, a consagração da Godiva, os “levantes estudantis da juventude” (como soa romântico!) e o uso da exploração da barbárie como “validade” de participação da cidadania. É importante lembrar que estamos na era da superexibição narcísea que tanto faz sucesso entre adolescentes, pós-adolescentes, agências de publicidade e propaganda entre tantos outros nichos. Todos os atores ganharam, exceto para a Educação e para o arcabouço de uma sociedade mais saudável.
Conseqüentemente, precisou do desfile exibicionista da Godiva e os uivos de seus colegas da faculdade para os enormes traseiros acomodados de entidades de classes saírem das cadeiras confortáveis com ar aclimatado. Com a exposição na mídia, todos querem parecer como “guardiões das liberdades civis”. Se tais pessoas realmente tivessem preocupadas com as “liberdades civis” jamais teríamos um hecatombe nuclear no sistema educacional público. Ambientes degradados, violência gratuita, fracassado projeto pedagógico e circulação constante da barbárie que vicejam nas unidades escolares públicas. Em nenhum momento a OAB-SP, UNE ou o MEC tomou medidas efetivas para intervir decisivamente na Educação Pública ou sequer levantaram questionamentos mais incisivos. Ao contrário, tais entidades fingem-se de cegas, surdas e mudas na amplitude cínica da complacência com a barbárie real e não apenas despertar a sanha protetora para brandir no teatrinho ficcional. Criações estéreis do Estado Neoliberal com o mote de abstração da “sociedade civil”, muitas ONGs que adoram enrijecer suas musculaturas financeiras com verbas públicas, aparecem justamente nestes momentos para ocupar espaço na mídia. O importante é fingir que está se fazendo “alguma coisa” para tudo se manter exatamente no mesmo lugar. Alguns incautos bradaram aos quatro ventos olhando cinematograficamente para o cinegrafista: “Liberdade para a calcinha! Abaixo a burka do preconceito!”. Pela lógica da pseudo-libertinagem, se não é possível “estabelecer critérios” para vestimentas para determinados lugares, então tudo é possível e plausível. Se o pano foi inventado para cobrir nossas “vergonhas”, por que então não abolir as vestimentas? Logo chegamos a um beco sem saída. Falsos moralismos à parte, se ficarmos reféns destas falsas retóricas simplistas da estética da indumentária humana, o debate não levará a nenhum lugar plausível. Apenas criar musculatura de um debate vazio.
De volta à barbárie real, na sociedade brasileira o “errado” é o “certo” (o inverso também é possível). Não existem limites para os impulsos destrutivos humanos e apenas minimizamos seus efeitos. Com trauma totalitário dos “anos de chumbo”, dádiva da herança de nossa classe militar, vivemos nos anos da complacência e liberdade assimétrica. Pais que não educam filhos são apenas confortáveis e assépticos “amigos”. Famílias multimídia das relações humanas e uma miríade de abstrações dos teares afetivos. As causas são colocadas em panos quentes e fingimos a complacência. O aluno que ofende ou agride gratuitamente um professor é um desamparado social em “situação de risco”. Alguém assalta e seqüestra um ônibus, posteriormente vira herói de cinema. Traficantes e assassinos são heróis “marginalizados”. Policiais viram clones mais-que-perfeito de Charles Bronsons. Latifundiários multimilionários são vítimas indefesas de “favelados do campo”. Sindicalistas que se enriquecem gerindo sindicatos de fachada é a esperança do mundo proletariado. Garotas materialistas e seminuas são mártires da nova “liberdade feminina” e do novo mundo acadêmico do capital e da mídia da barbárie.
Reentrâncias para a reflexão. Diga-se de passagem, os gritos de protestos e a queima de sutiãs em praça pública em prol da construção libertária da sexualidade ao estilo de Simone de Beauvoir do passado recente, hoje cedeu espaço para estampar de pigmentos coloridos para encobrir o corpo (as libertárias “tatoos”), ampliação da degradação silenciosa do trabalho feminino, aumento dos índices de problemas cardiovasculares (antes era uma “conquista feminina”) e o direito ao vômito feminino alcoolizado nas calçadas (para não dizer o direito feminino de literalmente urinar na rua! E por que não?). O progresso da ilusão material movido pela riqueza narcísea do espetáculo misanscene da mídia. Adentramos nos subterrâneos da barbárie: caras e bocas, desapego humano e futilidade intelectual de uma voraz sociedade de consumo movido ao descarte material, descomprometimento ideológico-afetivo, angústia avassaladora e altas doses de um magnetismo canalizado pelo binômio Prozac e “free love”. A transgressão gratuita passou do “afrontamento” para a obrigatoriedade hipermoderna. Aos poucos o reacionário se torna “cult”, a vanguarda se torna “obrigação” e as liturgias entre sagrado e o profano são apenas meretrizes menores do grande espetáculo do consumo imediato de adjetivos e condutas sociais. Logo, uma bobagem adolescente qualquer toma vulto de acontecimento tão significativo como à queda do Império Romano. Até a mídia entronar outra bobagem adolescente para ocupar o vácuo da mediocridade e a incipiência de valores. Sintoma da hipermodernidade, até mesmo a heterossexualidade se encontra desnorteada na necessidade de um midiático mundo de necessidades psicanalíticas de midiático pansexualismo universal. Lembrando o intelectual francês Guy Debord, a sociedade de mercado, alienada pela sedução da reificação da mercadoria, é movida pela arte do espetáculo e não pelas vitais necessidades humanas. Uma sociedade protagonizada por valores líquidos se forma e deforma sob qualquer circunstancia ao sabor da luzes de qualquer espetáculo. Ao sabor dos ventos midiáticos, um punhado de “conceitos” de qualquer coisa vira histriônicos “preconceitos”. É proibido proibir (mas depende de qual referencial será adotado)!
Como hipócritas “guardiões da liberdade”, saímos em defesa do direito de exposição gratuita das genitálias de pós-adolescentes, mas recuamos no apoio de muitos trabalhadores que calejam na luta inglória para construir uma sociedade mais justa. Claro, é mais “fashion” acolher o zunir das birras narcíseas de Barbies de outdoors do que erguer qualquer bandeira de protesto a favor daqueles que penam em condições desumanas de trabalho e educação. Sempre tem aqueles que irão refutar dizendo que as “liberdades civis” são mais importantes que as “outras” liberdades. Geralmente se faz um emaranhado de confusão entre liberdade e excrescência. Aliás, um dos argumentos banais mais freqüentes do baluarte capitalista contra o ideal Socialista é que “todos terão direito às mesmas coisas” (porém o narcíseo ego foge desta premissa como o diabo se afasta da cruz!). Portanto, os conceitos de “liberdade” e “igualdade” são sempre relativizados quando se referem ao confronto da mídia (imaginário) e da realidade. Mostrar a genitália gratuita pode; a igualdade econômica não pode. Manifestar ruidosamente contra pseudo-moralismo pode; fingir a pseudo-libertinagem pode. A oportunista rapinagem do sistema jurídico em apoiar molecagens de pós-adolescentes pode; dar assistência jurídica gratuita à milhões de pessoas sem condições econômicas na semidemocracia brasileira não pode. Deixar o livre mercado dos galpões educacionais privados engolirem dinheiro público pode; resgatar da barbárie o sistema público de Educação não pode. Exibicionismo gratuito pode; sinapse neural não pode. Alienação pode; emancipação não pode.
Elogio ao “jeitinho” nacional. Naturalmente é mais fácil ficar do lado do “senso comum” do que a sua contraparte. Na retórica da cínica moralidade à brasileira, relativamos tudo a “custo zero”. Invertemos virtudes e elogiamos a esperteza. Queremos ter as virtudes sociais de uma Suíça, mas queremos somente pagar os impostos raquíticos do Zimbábue. Queremos o trono de Economia do “Primeiro Mundo”, mas não queremos as indigestas obrigações internacionais de uma potência madura de grande porte. Somos sedutores e espertos; astutos e sexuais. Somos herdeiros egocêntricos de uma terra abençoada por Deus e ornamentada por natureza (Salve Jorge Ben Jor!)... O Diabo “pros outros”! Portanto, nada melhor do que a excentricidade mordaz dos pelos pubianos e a excitação da libido pansexual de uma Godiva tipicamente nacional. Para desvelar os caminhos da moralidade à brasileira, é preciso eliminar a inconveniência da microssaia e visualizar o tamanho homérico do complacente cinismo pseudo-libertário do autismo social.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Crime, império e impunidade: As quadrilhas de exploração da Fé e a crise na crença em Deus
Fé: Rubrica: filosofia. Na escolástica, crença religiosa sem fundamento em argumentos racionais, embora eventualmente alcançando verdades compatíveis com aquelas obtidas por meio da razão (Dicionário Houaiss Eletrônico)
Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. (Mateus, 24.11)
Segunda-feira, 02 de novembro: Dia de Finados. Os principais portais da internet de notícias de São Paulo estampam a “Marcha para Jesus” que segundo estimativas da Polícia Militar embarcaram um milhão de pessoas no show religioso na capital paulistana. O mesmo destaque da “marcha” sairá nas capas impressas de todos os jornais paulistanos nesta quarta-feira. A fé que movimenta mercados, ganha votos, constrói impérios e fortalece quadrilhas.
Com direito a trios elétricos, fáceis discursos de louvores a Jesus e óbvias invocações aos pseudo-moralismos, o movimento foi muito mais que uma “ação religiosa”. Com a adesão de outras seitas que utilizam a religião para seus obscuros interesses, a “Marcha para Jesus” é promovida pela seita religiosa denominada “Renascer em Cristo” de propriedade do casal Estevam e Sônia Hernandes. O destaque este ano da “marcha” vai para o uso como palanque de políticos como o senador Marcello Crivella (PRB-RJ) principal braço político da maior seita religiosa do país, a Igreja Universal de Edir Macedo e de outros políticos menores ligados às seitas de diversas denominações, como o “homem de fé”, Bispo Gê (DEM-SP) ligado à própria Renascer. O evento também marcou a primeira exibição pública do casal Hernandes que retornaram ao Brasil após cumprirem pena nos Estados Unidos por crimes de contrabando de dinheiro e conspiração para contrabando de dinheiro. Comprovada pelas autoridades estadunidenses, o casal da Renascer são pessoas de idoneidade ilibada! Vale a pena uma nota do surrealismo deste gênero de “show da fé”, além da mescla de artistas e papagaios de palanque de olhos esbugalhados para as eleições do próximo ano, foram montadas duas piscinas para realizar “batismos”. Que show, “my God”!
A “marcha” deste ano foi batizada com um pomposo título que merece menção: “Marchando para derrubar gigantes”. Certamente o casal Hernandes deveria estar se referindo a Justiça dos Estados Unidos os quais ainda possuem pendências, pois a Justiça brasileira é totalmente míope, omissa e leniente com as quadrinhas que utilizam do mote religioso para formarem impérios do crime. Previsivelmente estúpida é a retórica esfarrapada do discurso dos chefes destas máfias organizadas, denominadas “igrejas” ao reportar à balela da “discriminação” ou “perseguição religiosa” de suas organizações. Deixando o PCC e o Comando Vermelho no chinelo, muito melhor do que o negócio do narcotráfico e contrabando de armas, a exploração da fé religiosa é muito mais simples, fácil e exponencialmente lucrativa; principalmente num mundo mercantilizado e desnorteado de valores básicos de conduta e dignidade humana. A era do excesso também é a era do atrofiamento da crença e da vertigem existencial.
Que o mercado da fé é tão velho quanto Adão e Eva ninguém deve pairar alguma significativa dúvida. O que distingue as antigas das atuais seitas é o seu potencial canalizador de recursos numa rapidez impressionante para construir impérios econômicos. Guerras, crimes, pilhagens, torturas, banhos de sangue e tantas outras atrocidades foram cometidos pelos homens em nome de Deus. O mercado das crenças sempre foi o mais lucrativo de todos os negócios bem antes da construção do capitalismo como sistema econômico como um auspicioso avassalador e acumulador de riquezas e bens materiais. O temor a Deus ou a força de coerção divina foi um grande modelador de atitudes e comportamento imposto por um grupo de comando aos seus subordinados. A ideologia religiosa sempre foi um poderoso estratagema na construção de impérios políticos e econômicos, privados ou públicos. Na ausência absoluta de respostas para simples (porém, não triviais) questões existenciais, o nome de Deus ventilou ao longo dos séculos para servir como um cobertor existencial que amenize o sofrimento e um alimento existencial para a esperança e dor. Aliás, nada mais humano que a necessidade de continuar “vivo” perante a total desesperança do seu meio circundante. A fé é a projeção do inconsciente para a construção de um imaginário simbólico a ser delimitado com “real”. Um dos principais estudiosos mundiais sobre mitos, o estadunidense Joseph Campbell, trás em suas análises uma provocativa e instigante construção teórica pela observação de grande similaridade de ritos e mitos que constituíram diversas crenças e religiões ao longo de diferentes sociedades possibilitando o nascimento de tais manifestações religiosas a partir de raízes ou geratrizes comuns. A religiosidade é, em muitos aspectos, uma necessidade tão humana quanto às necessidades fisiológicas, afetivas ou sexuais. A partir de tais premissas que se apoderam as diversas quadrilhas de exploração da fé ou da boa-fé alheia.
O império criminoso constituído pela seita da “Igreja Universal do Reino de Deus” (IURD) de Edir Macedo é um marco referencial do quão é lucrativa a exploração da fé. Dona de um império incalculável, a pujança econômica da IURD se enraizou por diversos setores da sociedade, fomenta financeiramente partidos políticos de quase todos os espectros ideológicos, além de ter seu partido próprio (com o irônico nome de Partido Republicano Brasileiro, PRB, aliás, sigla partidária do vice-presidente, José de Alencar) e constituir uma sólida base no Congresso Nacional. Ressalta-se o exponencial império midiático de Edir Macedo e sua IURD, dona de um sólido aparelhamento dos meios de comunicação (aquisição de rádios, jornais e televisões) e possui bases (os templos ou “igrejas”) em quase todas as regiões do planeta Terra (talvez a exceção ficasse sendo a ausência da “Universal” nos pólos gelados na Terra e no deserto do Saara!). A Renascer do casal Hernandes é outro império econômico que segue os mesmo passos da “co-irmã” Universal, com a aquisição de templos, canais de comunicação e enraizamento dentro de partidos políticos. Demais seitas com mote religioso seguem a mesma linha empresarial do crime organizado baseando no “pioneirismo” da IURD, tais como a “Igreja da Graça” de R.R. Soares, “Deus é Amor” de David Miranda, além de outras seitas mais exóticas como a “Sara Nossa Terra” e a bizarra e surreal “Bola de Neve”.
Que tais quadrilhas motorizadas pela fé sofisticam cada vez mais seu poder de atuação dentro da sociedade não é de causar estranheza. A retórica falaciosa do casal Hernandes sobre o “preconceito contra os evangélicos” é totalmente previsível na medida em que esta é a única “salvação moral” para ocultar seus crimes e salvar seus próprios pescoços atolados na lama do crime organizado. Como no exemplo bíblico da via-crúcis de Jesus Cristo, Edir Macedo e o casal Hernandes se equiparam na santidade de seus atos. Eles se projetam como a encarnação do próprio Jesus Cristo em sua jornada bíblica na Terra. Previsível e nenhum pouco sofisticado o patético discurso de “perseguidos”: tudo tão simples quanto dois e dois resultarem muito além de cinco.
Todavia, há poucos dias, causa espanto uma declaração completamente equivocada e desorientada do Presidente da República, Lula da Silva, em mais um evento eleitoreiro pró-Dilma. Na sanha por apoios esdrúxulos e coleta de votos, Lula desta vez pousou na inauguração de novo empreendimento da Rede Record de propriedade da Edir Macedo e sua Universal. Em mais uma das falas improvisadas de Lula, o presidente disse que a emissora de Edir Macedo é “vítima de preconceito” por parte de alguns setores da sociedade. Porém Lula “esqueceu” dos processos a respeito de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro contra a quadrilha de Edir Macedo que estão empacados na morosidade criminosa da Justiça. Bem, para quem há pouco tempo dizia que no Brasil Jesus se aliaria à Judas na política doméstica, talvez a fala de Lula soasse para uma pá de cal para alguns resquícios da moralidade na política. Neste ínterim, cabe uma reflexão: se Deus alia-se com o Diabo, estaria Ele menos “puro” ou Satã mais “divino”?
A impunidade da Justiça beatifica a construção de impérios do crime com a mesma facilidade que se constrói fáceis e ingênuos louvores à Jesus. Quanto aos partidos políticos toda a discussão é ignorada e os mesmos adotam o “discurso de avestruz”, inclusive os partidos que se auto-intitulam mais esquerda do leque político. Em troca de votos, qualquer fé é bem-vinda. Uma cara banalização ideológica na triste rotina de desorientação e omissão!
Nem o Diabo faria melhor e mais folclórico. A “Marcha para Jesus” é um grande espetáculo de liturgias midiáticas do vazio da fé imediatista. Um ótimo cartão de visitas para as quadrilhas que utilizam a exploração desta mesma fé, com promessas envoltas de um bizarro espetáculo que entre outras histerias coletivas. Como numa instantânea liquidação de fim-de-feira, os “bispos” destas seitas prometem aos seus desesperados fiéis “alcançar Jesus” pela via material aquisição de riquezas, emprego, casamento e “descarrego” (isto é, após cada fiel estar quite com o dízimo da fé!). O palco bizarro destas seitas é atacar os preconceitos sociais, culturais e sexuais e seus semi-divinos “bispos” prometem a cura miraculosa de enfermos, portadores de necessidades especiais, alcoólatras e usuários de drogas, “tirar mulheres da prostituição”, “extração de encosto provenientes de rituais afrorreligiosos”, “curar homossexuais” entre outras “benesses da cura divina”. Os espetáculos de insanidades são imensos e macabros provenientes dos discursos irresponsáveis e preconceituosos destas quadrilhas que operam como seitas religiosas. Cabe ressaltar também na raiz básica destas retóricas pseudo-religiosas é o esvaziamento existencial da grande massa de indivíduos que buscam a qualquer custo uma “iluminação” para suas vãs existências num mundo cada vez mais fugaz, efêmero, embrutecido e alienado.
Não é raro encontrar “fiéis” que depositam até o último níquel de suas famélicas economias nas mãos destes “bispos” acreditando que estará contribuindo para a construção do “Reino dos Céus”. Inconscientemente, é possível inferir no imaginário destes “fiéis” é o pragmatismo materialista e imediatista desta “modalidade de fé”. Uma vez que cada níquel depositado é a certeza que haverá um lote no Céu esperando por sua futura alma a migrar “desta vida para outra”.
A crise na crença em Deus. Quando a mercantilização da sociedade transborda para todas as esferas sociais e imaginárias, não é difícil de entender o quanto é impossível combater ou dizimar por completo as quadrilhas que exploram a ingenuidade, a ganância e o desespero existencial de uma miríade de fiéis com “descrédito” em Deus. Em outras palavras, a “Marcha para Jesus” é mais um exemplo de mobilização de um pragmatismo materialista e descrente de um idealizado poder divino do que meras obviedades de uma “exibição de fé”. Neste caminho, Deus e o Diabo são meros acessórios descartáveis do imaginário de uma complexa sociedade alicerçada pelo aprofundamento de um arraigar materialista e vazio existencial. O fosso existencial está muito mais abaixo do que aparenta as águas da discórdia e do desespero humano.
sábado, 10 de outubro de 2009
O Nobel da Retórica e da Pequenez
É uma desmoralização a entrega do Nobel da Paz para os discursos de bom-mocismo do presidente estadunidense, Barack Obama. No mínimo, um disparate de péssimo gosto! Com apenas alguns meses sentado na cadeira principal da Casa Branca, Obama é mais conhecido por ser um pop-star na política internacional do que seus atos no cargo como presidente. De bom orador e conquistador de simpatias pelo mundo, Obama ainda é uma promessa e cada vez mais distante de materializar seu discurso.
Entretanto, poucas horas após ser notificado do Nobel, Obama já se reunia com seus assessores de guerra estudando a ampliação de tropas no Afeganistão. A prometida retirada das tropas no Iraque está muito longe de ser concretizada. De concreto mesmo pode ser contabilizado apenas alguns avanços como foi o caso do fechamento da prisão da barbárie de Guantánamo,
É possível inferir que seria o agraciamento do Nobel da Paz como sendo um mimoso prêmio de consolação apenas uma semana depois que Obama não ter obtido êxito em trazer os Jogos Olímpicos de 2016 para a cidade de Chicago, onde iniciou sua carreira política? Internamente, Obama sofreu várias críticas por ter viajado a Copenhagen e voltado de mãos vazias. Para a grande maioria dos policy makers estadunidenses, tal como a mítica aparição da Virgem Maria, apenas bastaria o vulto de Obama para angariar a concessão olímpica. A concessão dos Jogos Olímpicos é acima de tudo um gesto político. Em época de queda de popularidade na novata administração Obama, qualquer fato novo é importante para construir uma reação perante a opinião pública estadunidense. Especulação à parte, soa no mínimo estranho e prematuro a premiação de Obama.
Vale lembrar que o Nobel da Paz é sempre uma premiação política de afeto e simpatia de seu Comitê. Segundo o Comitê do Nobel norueguês, a justificativa para a escolha é o apoio que o presidente estadunidense “vem tentado estimular precisamente esta política internacional e estas atitudes das quais Obama é atualmente o principal porta-voz mundial” (Agência France Presse/Folha). Um bom-mocismo esvaziado agrada o Conselho do Nobel que há dois anos, concedeu o mesmo prêmio para o ex-vice-presidente estadunidense, Al Gore, em 2007. Na ocasião, o bom-moço Gore compilou um livro-catástrofe sobre mudanças climáticas e posteriormente transformado em filme-documentário e, para variar, ganhou o Oscar de melhor documentário em 2007. Um curioso cinismo neste discurso de bem-aventurado ativismo ecológico é como se Gore nunca tivesse ocupado um cargo tão importante como foi a vice-presidência da potência estadunidense! Em sua gestão de dois mandatos ao lado do ex-presidente Bill Clinton, a “verdade inconveniente” é que os Estados Unidos se esquivaram de assinar quaisquer tratados de diminuição de emissão de poluentes na atmosfera. Para variar, os discursos de heroísmos hollywoodianos soam cínicos, ridículos e patéticos. Tal como insanidade tirânica de Nero na Roma Antiga relatada pelo romano Plínio (23 d.C.- 79 d.C.), aos olhos do mundo, tais estadunidenses adoram os holofotes onde posam como robustos e astutos heróis do planeta o qual eles mesmos incendeiam indiscriminadamente.
Sem novidade! É indefensável que o Comitê do Nobel concede sua premiação prioritariamente para figuras estadunidenses e européias por osmose. Assim como grande parte dos próprios estadunidenses, aparentemente o Comitê considera plenamente que há mais massa encefálica no interior dos crânios dos vizinhos da América do Norte e Europa Ocidental do que os demais seres humanos no planeta! Paradoxalmente, o Comitê do Nobel da Paz dá um fantástico aval moral para que Obama fique com seus idílicos discursos de bom-mocismo, mas na alcova das permissivas práticas de beligerância estadunidense continue dando carta branca para seus generais fascistas da guerra.
Laureando Obama, o Comitê do Nobel não teve a coragem de sair da pequenez política que tanto poderia contribuir na construção efetiva de um mundo melhor e sem o fantasma permanente de conflitos promovidos pela volúpia imperialista.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
A Democracia do Aterro Sanitário: O bizarro mundo das siglas partidárias e os nutrientes da barbárie
O que teria em comum o presidente da FIESP, um jogador campeão do mundo de futebol, uma socialite e a Mulher Melão? Não considerando piadas jocosas com o seleto grupo, eles possuem em comum o desejo de ser aventurarem na política brigando por uma parcela dos votos nas eleições do próximo ano.
Candidatos bizarros não é novidade nas disputas eleitorais. A cada eleição, uma enxurrada de candidatos disputa a atenção do leitor das mais estapafúrdias formas. E a cada nova eleição, eclodem os pára-quedistas de plantão, figurinhas carimbadas da mídia ou salvadores da pátria escondendo “capivaras” quilométricas. Nesta fauna de seres eleitoreiros, o discurso político e a construção ideológica dos partidos são apenas souvenires descartáveis, risíveis e inúteis. A política é tratada com uma garota que comercializa o corpo mediante pagamento para posteriormente ser jogada fora. Mediante a barganha, o gozo se torna flácido e o amor impossível. Para discutir um pouco mais sobre os meandros políticos do processo eleitoral, vejamos umas espécies da fauna que habitará o cenário brasileiro de 2010.
“Alugam-se siglas”. Soa risível e patético a filiação do presidente da Federação das Indútrias do Estado de São Paulo (FIESP), Paulo Scaf, em um partido que se traz o termo “socialista” em seu nome, PSB. Por um palanque e um partido, Scaf topa qualquer coisa, até mesmo a sigla de um suposto partido socialista. Jogando o anacronismo ideológico pela janela, seu projeto é sair da torre de marfim da FIESP situada na empinada Avenida Paulista para deslanchar sua carreira política se postulando como o “empresário-educador”. Com a marolinha do discurso que preside o sistema de educação SESI-SENAI, Scaf tentará convencer os paulistas que ele será um bom governador. A propaganda pessoal do “empresário-educador” poderá ser vista ao longo de todo o site da FIESP, em anúncios da televisão de sinal aberto e também nos spots da TV Minuto do Metro de SP. Campanha eleitoral? Não, informe publicitário... Eufemismos, eufemismos!
Lamentável e inoportuna foi à filiação do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim ao PT. Estando à frente do processo na maior crise diplomática da história recente do país, é uma ação totalmente desnecessária além de partidarizar inutilmente o debate das relações internacionais. No camaleônico Partido dos Trabalhadores, nas últimas horas, ocorreu mais filiação do patronato na legenda. Agora o casal Ivo e Eleonora Rosset, donos da Valisère, engrossam a fileira do partido. Já o banqueiro e presidente do Banco Central, Henrique Meirelles é o novo filiado do PMDB para o governo de Goiás. A lisura dos processos de trâmites entre cargos-chave na estrutura da administração pública e interesses partidários é tão cristalina quanto às águas do paulistano rio Tietê.
Aliás, os três grandes motes que corrói as péssimas gestões públicas brasileiras, saúde, educação e segurança, sempre estão no palanque de qualquer candidato a qualquer coisa. Até o tucano e o candidato a filósofo do mercado de livros de auto-ajuda, Gabriel Chalita, que foi outro desastre como secretário da Educação do companheiro tucano, o ex-governador Geraldo Alckmin
No bote do Partido Verde que desce o Rio Madeira onde desembarcou Marina Silva com sua proposta do messianismo ecológico, também uma fauna começa a inchar a sigla. Para dentro do rótulo verde, entraram o empresário da Natura, Guilherme Leal, o presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, o presidente do Instituto Sócio-Ambiental Henrique Svirsky, o presidente do Moinho Brasil, Fernando Simões, a empresária e socialite Ana Paula Junqueira, o jurista José Afonso da Silva e Fernando Monteiro de Carvalho Garnero, do grupo Garnero. Ainda na balsa do PV, embarcou a fundadora da grife Daspu e diretora da ONG da Vida, Gabriela Leite, para uma vaga na Câmara dos Deputados. Para Leite, "Sempre tive uma vontadinha [de entrar na política]. Mas quem se filia tem que se dedicar". Realmente, uma mulher de visão estratégica para a política! Muitos capitalistas que faturam no bem lucrativo ecobusiness estão de olho na esteira eleitoral do discurso politicamente ecológico de Marina, candidata do PV a plantar árvores sentada na cadeira principal do Palácio do Planalto.
Cada leitor deve ter em mente algum nome bizarro que apareceu com o pires na mão sequioso por votos, sejam bem conhecidos ou completos anônimos. A fama pode atrair votos, mas não ajuda a agregar neurônios ou sensibilidade política. No páreo por um lugar ao sol nas eleições de 2010, estarão tetracampeões mundiais como Romário e Vampeta, além de dirigentes de clube. Os ex-jogadores Romário (PSB) e Edmundo (PP) buscarão ter mais sucesso nas urnas e não repetir o fracassado “ataque dos sonhos” que a dupla fez no Flamengo. Para o meio de campo, o PTB escalará o ex-jogador Vampeta e Marcelinho Carioca, o pé-de-anjo, que se filiou ao PSB. No campo da cartolagem, Andrés Sanches, presidente do Corinthians sairá dos bastidores pelo PT e o vice-presidente do Santo André, Romualdo Magro Júnior pelo PSB.
Para melhorar a sonoridade da política, a exemplo do cantor Frank Aguiar que se elegeu vice-prefeito numa vergonhosa e bizarra aliança feito com o PT para ganhar a prefeitura de São Bernardo do Campo (SP), estarão para animar a festa nas urnas pelo país no próximo ano, o cantores Elymar Santos (PP), Sérgio Reis (PR) e Simoni (PSB). Para dar um rebolado que tanto a política carece, a política nacional descobrirá os dotes da funkeira Renata Frossin, conhecida com o apetitoso nome de Mulher Melão, provavelmente desfilará seus atributos intelectuais na legenda do PMDB para alegria de muitos adolescentes e marmanjos que serão seus fieis cabos eleitorais em recinto fechado. E certamente para dar maior consistência de massa muscular na Câmara Federal, ninguém melhor que um gancho de direita do ex-boxeador baiano Acelino Freitas, o Popó, que entrou no ringue do PRB de sua cidade, além da sapiência intelectual do seu antigo colega de ofício, Maguila (PTB).
Da Política Federal ao inusitado estrelato, as urnas de São Paulo poderão receber os votos do delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que depois de zanzar por tantas siglas partidárias, pousou seu bom-mocismo no PC do B. Para finalizar este pequeno relato dos horrores das candidaturas a pleitearem o voto popular, PTB que um dia pertenceu a Getúlio Vargas, parece ter descoberto um brilhante sucessor getulista, a figura de suma sapiência política e ejaculador de pérolas acéfalas, o ex-BBB da Rede Globo, Kléber Bam Bam. Getúlio revira-se ininterruptamente em seu túmulo com tamanha insanidade!
Como as siglas não seguem ideologias e tampouco possuem compromisso com alguma a ética e a engajamento político, a situação tende a se tornar completamente anacrônica. Por exemplo, é possível perceber que no PSB, o “S” é de socializar interesses e salvaguardar nacos do poder no meio da feijoada de botequim que são as siglas políticas. A esmagadora maioria dos partidos políticos brasileiros se transformaram em siglas partidárias. Meros rótulos de um rentável balcão de negócios para atender uma clientela ávida por poder, dinheiro e interesses escusos. Política? Não, apenas negócios. E quanto à prometida “reforma política” votada pelo Congresso Nacional se transformou num ridículo arremedo de regras cuja mudança será deixar tudo como exatamente está. Quem em sã consciência quer largar as tetas encharcadas do leite de benesses do poder?
Muitas vezes confunde-se democracia com aterro sanitário e certamente tal equívoco acarreta conseqüências muito grave para a gestão da “coisa publica”. No zoológico da política, segmentos da população menos consciente do seu papel perante a sociedade tenderá a não fazer qualquer separação entre joio e trigo. Os meios de comunicação tende a reforçar que a construção política é como um jogo entre “espertos” e “otários” o qual a única lei é a da hostil selva. A corrupção se tornou uma função menor do inconsciente social de grande parte da população que não mais se indigna com a brutalidade das práticas de desvio do erário ou barbárie estampada na violência cotidiana. A indiferença é a pior doença que uma sociedade pode se acometida e ficar enferma até sua convalescia. Entretanto, o discurso da moral anti-corrupção não é transformador e tampouco visa ser instrumento de mudança social. De forma inusitada, recentemente os setores que ainda estão diametralmente opostos do espectro político verbalizam um discurso de combate à corrupção como totem da canonização política!
São importantes algumas ressalvas sobre tais figuras exóticas na política. Uma vez que algum destes pára-quedistas eleitoreiros consegue se eleito para uma representação popular, o mesmo se torna inócuo no meio político. Em geral, o eleitor que deposita seu voto em figuras caricaturais são pessoas alienadas, descomprometidas, ingênuas ou descrentes do processo político (sinais do prosaico “voto cacareco”). O exotismo do candidato chama atenção pela plumagem seja por fatores bizarros, seja por fatores sensacionalistas. Lembramos o exemplo do falecido e polêmico estilista Clodovil Hernandes que conseguiu ser eleito deputado pelas urnas paulistas para a atual legislatura da Câmara Federal com grande votação com um suvenir sigla partidária. O exotismo de sua personalidade e o surrealismo de sua campanha eleitoral numa sigla nanica se contrastava com a responsabilidade perante o cargo que ocuparia. Quando trocou de sigla partidária e a legenda o qual foi eleito ameaçou-lhe tirar a cadeira de deputado, na ocasião Clodovil esbravejou que ele seria “maior” do que qualquer partido! Mudou de sigla e manteve-se como deputado até seu falecimento. Sintomático: como deputado, Clodovil não apresentou nada de relevante para a sociedade brasileira, exceto polêmicas querelas banais e uma reforma suntuosa e exótica em seu gabinete na Câmara. Aliás, campanha eleitoral em geral é uma amálgama bizarra entre o espetáculo circense e a tragédia dos palcos.
A “macropolítica” brasileira se faz pautada nos interesses de uma burguesia nacional atrelada ao grande capital internacional. Engana-se escancaradamente que seja possível separar por algum processo químico política e economia. A economia real (Realpolitik) somente existe na esfera da Economia Política. Logo, a Realpolitik é feita pelos detentores do poder econômico que buscam pautar seus interesses arquitetados e atrelados a um núcleo de colaboradores comprometidos com um ideário de manutenção da vigência do status quo. O exotismo dos candidatos pouco ou nada influi na dinâmica de acumulação de renda e administração política. A democracia representativa é a ilusão política mais bem estruturada já feita pelo homem moderno. Todavia, a democracia política não representa a democracia econômica, ou seja, são mundos eqüidistantes e, em alguns casos, chega até mesmo serem imiscíveis. O que mais preocupa na consolidação democrática é a fragilidade dos seus órgãos representativos que podem por em risco toda a estrutura orgânica que modela um Estado-nação cujas premissas se baseiam no respeito dos teares democráticos.
Quando a cultura da bizarrice política avança no cenário político, se torna sintomático que as ideologias estão se fragilizando com o lastro da indiferença. Quando se aponta corriqueiramente na mídia as diversas “mortes” da ideologia, o objetivo é esterilizar qualquer fio condutor de esperança, pois segundo esta linha de raciocínio: a realidade é aquilo mesmo e ponto final. A não-ideologia é a ideologia do pragmatismo estéril com profundos traços de recalque. Em contrapartida, a acéfala barbárie ganha fôlego ao ser nutrir da apatia e inércia de uma sociedade.
A mercantilização de valores, crenças e sentimentos substituem no inconsciente coletivo quaisquer projetos de autonomia, confraternização e respeito humano. A banalização do sujeito como ator social fundamental recai na exortação da bizarrice política. Neste sentido, o conceito de sociedade se fragmenta e se dilui de forma muito perigosa para sua própria existência como construção social. Nas velas do hiperconsumo, indiferença, desesperança e angústia, a sociedade veleja por um anacrônico modelo constituído de um mero agregado de pessoas e dispersadas em nichos cujos indivíduos lutarão entre si numa guerra fratricida. Eis uma das faces mais característica da barbárie: a famigerada batalha de todos contra todos sem nenhum vencedor onde a razão, o amor e solidariedade são elementos obsoletos.
sábado, 26 de setembro de 2009
VEJA que Bobagem!: A crise hondurenha pelas tintas da esquizofrenia neoliberal
A revista VEJA do Grupo Abril não cansa de ser ridícula. A edição 2132 (30 de setembro) desta semana, estampada na capa o título “Imperialismo Megalonanico”, conseguiu novas absurdas proezas como é típico de sua fascistóide linha editorial.
Numa “salada jornalística” de análise totalmente preconceituosa, taxa impiedosamente Honduras como sendo uma mera “republiqueta de bananas”, apóia descaradamente o golpe de Estado naquele país e sobram mentiras sobre a atuação de Brasil e Venezuela na região. Nada é inferido sobre o histórico de crise e dependência de Honduras. É como se o povo hondurenho adorasse ser dependente de monoculturas e acendesse velas para louvar o subdesenvolvimento!
Imergindo numa leitura esquizofrênica e caricatural, VEJA acusa o Brasil de “intervir” em Honduras e ser “subalterno” à política de Hugo Chávez. Assim como tinge Chávez como um fanático religioso “que não se conforma em perder o investimento feito na conversão dele [Zelaya] ao seu credo”, as cores para Lula é de um “imperador megalonanico”. No mundo de VEJA, a diferença é que Chávez é o “patrão” do continente latinoamericano e Lula o seu braço direito abobalhado, ou melhor, “esquerdo”! Para a figura do presidente deposto, Manuel Zelaya, sobrou o papel de um bonachão e bigodudo marionete. A revista também descarrega nas tintas descrevendo Zelaya como sendo “o incrível latifundiário que virou ícone esquerdista” além de achincalhá-lo como sendo dono de uma “aparência bizarra e com sinais evidentes de distúrbios mentais”. VEJA que bela “imparcialidade” jornalística!
Diz ao longo da “reportagem” da “democrática” VEJA: “Zelaya é um problema dos hondurenhos que encurtaram seu mandato antes que ele o espichasse indefinidamente”. Na leitura da revista, Zelaya é o homem-mau que tomou de assalto a embaixada brasileira para fazer “palanque eleitoral”. Tanto a revista simplesmente não diz a respeito do apoio popular do presidente deposto e como também busca pateticamente legitimar o golpe de Estado! A má-fé de VEJA além de desqualificar os fatos, ridicularizar todo o drama que está vivendo o povo hondurenho e ainda faz de suas páginas um palanque para golpistas. Este é o serviço que VEJA presta aos seus leitores. De forma leviana, assim a revista trata de forma simplória e estúpida a situação hondurenha: “A situação em Honduras só tinha importância para Zelaya. Se as eleições fossem realizadas, um novo presidente assumiria e o deposto cairia no anonimato”. Isto é simplificação dos fatos pela lente de VEJA: um mundo plano erguido por duas gigantes tartarugas!
Culturalmente subserviente, VEJA acha que o mundo deve ser curvar perante o imperialismo estadunidense até a exposição explicita do cóccix. A revista reduz a América Latina como sendo um mero “subcontinente americano”. Segundo a revista, a questão de Honduras: “É um problema dos Estados Unidos pela proximidade geográfica e por estar na sua esfera de influência histórica”. Para a revista, sequer algum país do globo poderá ter seus problemas internos sem auxílio da sapiência do “Big Brother”! Logo, como lição de submissão, para VEJA, tudo deverá ser entregue de mãos beijadas para os Estados Unidos. Para VEJA não existe diplomacia, mas tão somente “cada um por si” no perfeito mundo do “liberalismo econômico” sob a voraz batuta estadunidense. O unilateralismo na esfera das relações internacionais não há mais espaço, porém no mundo encantado de VEJA, ainda a mentalidade é amparada no escore da Guerra Fria: vermelhos “demoníacos” que engolem neófitos contra os heróis azulzinhos “bonzinhos”!
A revista semanal com a maior tiragem absoluta do Brasil, VEJA destila sem pudor sua visão míope, a linguagem cínica e egocêntrica. Sobressalta tudo isto com a torpe mesquinhez sob o rótulo de “reportagens”. VEJA escancara nas tintas a deturpação dos fatos, o maniqueísmo e o preconceito explícitos e se mantém como a bastilha do ranço neoliberal. Fiel cabo eleitoral de qualquer partido ou político de cores bem à direita do espectro político, a intolerante VEJA que tanto se orgulha do seu imenso umbigo neoliberal esquece que o mundo é muito maior do que suas páginas amareladas.
Apesar do império econômico do Grupo Abril (dona também do monopólio de distribuição de jornais e revistas em bancas no país), cedo ou tarde, a Verdade tende a ser erguer com mais força, apesar das toneladas de entulho que caminhões de mentiras trabalham para sepultá-la. Como o “belíssimo” papel de VEJA que presta para a sociedade, tem aqueles que se vangloriam com o ilibado papel da imprensa no país. Alguns confundem o torniquete do poder econômico com a surrada “liberdade de expressão”.
VEJA é o semanário de maior produção de notícias no país. Seus números são impressionantes. E mais impressionante ainda é a pouca circulação de novos títulos de revistas e jornais do segmento jornalístico no país. Com meia dúzia de grandes grupos empresariais que controlam a divulgação da informação no Brasil, pode-se dizer que a circulação de informações é refém de num “latifúndio da mídia”. Por sinal, fere frontalmente a liberdade de expressão e meios de livre circulação da informação. Diante do gozo do imenso poder econômico VEJA diz o que bem quer e como quer construir e amplificar sua cadeia de falácias.
A revista se aufere como sendo um colosso crítico do poder político (aliás, ela se promove como uma sendo uma virgem e ingênua garota “apolítica”), mas esquece de mencionar que boa parte de sua receita é oriunda da publicidade das empresas que estampam suas logomarcas em suas páginas e as quais VEJA tanto defende em supostas “reportagens”. Basta ver a lista de seus jornalistas sem o menor apreço pela ética, desdenham da construção e investigação em prol da elucidação dos fatos e escrevem sem o menor compromisso público que um jornalismo “mínimo” carece. E ainda tem gente que acredita que existem Coelhinho da Páscoa, Papai Noel, neoliberalismo “bonzinho” e “jornalismo imparcial”!
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
América Latina e a “Má-Vontade” da Mídia: O Brasil e o Golpe de Estado em Honduras
A crise hondurenha chegou a um novo impasse. Com o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya refugiando-se na embaixada brasileira foi criado um sério e delicado impasse diplomático. A crise hondurenha se alastra há quase três meses desde a junta de generais do exército de Honduras, comandado por Roberto Micheletti, destituiu Zelaya do poder pela clássica via do golpe de Estado.
Desde então Zelaya vem peregrinando pelos principais países da América Latina em busca de apoio político para restituir seu poder. Com seu senso de oportunidade, o presidente Hugo Chávez foi o primeiro a estender a mão abertamente para Zelaya e oferecer “toda a ajuda possível” para a dissolução do impasse. O Brasil condenou a ação golpista dos generais hondurenhos e, assim ocorreu sucessivamente como todos os países do continente americano, além da União Européia. O presidente estadunidense, o democrata Barack Obama, mais preocupado (e atolado militarmente) com suas guerras particulares entre Iraque e Afeganistão, apenas deu um aceno discreto contra o golpe.
Desde esta segunda-feira, 21/09, o presidente Zelaya se refugiou na embaixada brasileira em Tegucigalpa, capital de Honduras. O exército de Micheletti sitiou a embaixada brasileira que se encontra cercada de soldados o que contraria todas as normas internacionais de violação de espaço diplomático. As informações que chegaram de Tegucigalpa relatam que o fornecimento de luz, água e telefone foram cortados da casa onde se localiza a embaixada brasileira. O governo de Micheletti ordena que o governo brasileiro entregue Zelaya para a “justiça hondurenha”, porém diz que “não invadirá” a embaixada. Em declaração do presidente Lula em Nova Iorque (onde se encontrar para o discurso anula da Assembléia Geral da ONU), afirma que o país não entregará Zelaya por considerá-lo como um “refugiado político” no interior da embaixada. A crise hondurenha entra no seu clímax na medida em que as horas passam e a possibilidade de invasão à embaixada é um perigo real. Caso haja a invasão da embaixada brasileira pelo exército hondurenho, o Brasil poderá oficialmente entrar em guerra com o governo de Honduras. Até o momento que é redigido o presente texto, eis o palco na mais recente e delicada crise diplomática que o Brasil está enfrentando nos últimos tempos.
Não se pode menosprezar a crise hondurenha como um fato isolado. A instável América Latina não pode dar o luxo de um retrocesso ditatorial como marcou sua história política, em especial ao longo do século XX. Caso deseja ser um “global player” no palco instável das relações internacionais, cabe ao Brasil apoiar decisivamente o presidente Zelaya e participar ativamente como mediador para uma solução pacífica que possa restabelecer a norma democrática em Honduras. O povo hondurenho carece de resolver este impasse e não ser subjugado via violência explícita pelas forças golpistas.
Entretanto é importante destacar a má-vontade que a imprensa brasileira vem tratando o Golpe de Estado em Honduras. Aliás, é sempre a mesma história na grande mídia brasileira que revela o preconceito endógeno e “americanizado” contra os países da América Latina. Venezuela, Equador, Bolívia, Cuba, Paraguai e Argentina geralmente são tratados como personagens teatralizados e sendo tratados pela grande mídia como republiquetas fanfarronas sem fazer a devida e necessária análise dos fatos. O maior exemplo é a caricatural desenho que a grande mídia brasileira faz do presidente Venezuela, Hugo Chávez, com se este chefe de Estado eleito democraticamente pelo seu povo não merecesse um mínimo de respeito. O mesmo da análise preconceituosa do presidente boliviano, Evo Morales, tratando-o nas entrelinhas com sendo um mero “índio comunista”. Bem diferente é o “afetuoso” tratamento que a grande mídia oferece ao presidente colombiano Álvaro Uribe, cujo histórico político está ligado ao narcotráfico e, por sua vez, mantém “laços carnais” com o governo de Washington. Se maiores constrangimentos, a mídia brasileira destila suas tintas douradas e seus louros de apoio entusiasmado ao “Plano Colômbia” e o suposto combate ao narcotráfico. Para os mais desavisados, quem não conhece a história é “abduzido” pela grande mídia, mesmo porque é mais fácil ser “simpático” aos heroísmos estadunidenses do que algum nicho boliviano ou venezuelano: eis a pobreza cultural colonizadora! Bombardeado pela grande mídia, o poder de “livre interpretação” ou o usufruto da castigada expressão bíblica do “livre arbítrio” por parte do “consumidor de notícias” é mera retórica.
Grande parte deste “desinteresse” latinoamericano de grande parte da mídia pode se explicado pelo excessivo desejo psicanalítico e tupiniquim de ser espelho estadunidense. Por exemplo, criar falsas-verdades e questionamentos banais sobre atuação da diplomacia brasileira com relação à Zelaya é desinformar aos leitores, ouvintes e telespectadores brasileiros. É particularmente notável a quantidade de bobagens que são transmitidas em canais de televisão e rádio que beira a má-vontade ou total falta de informações coerentes. Quando o preconceito é a aculturação fala mais alto, o resultado não poderia ser outro senão a desinformação e a cultura de ranço colonizadora. Aliás, são essas as bases que sustentaram o intelecto da elite que sitiou o poder na sociedade brasileira.
O campo das Relações Internacionais não pode ser visto como lúdica disputa de partida de futebol onde vários times nacionais jogam entre si para a conquista de um troféu. As questões são sempre delicadas, instáveis e multilaterais. Eventualmente, com o manejo incoerente ou incompetente dos vários níveis de interesses existentes, uma decisão tomada poderá desestabilizar toda uma região. O diálogo é a única maneira de encontrar soluções mais confortadoras e pacíficas que visem o bem-estar comum de toda uma região. No caso específico da América Latina, é fundamental a união dos países deste bloco para que seja possível ser construindo uma nova era de evolução e cooperação política, socioeconômica e cultural. O sangue jamais poderá ser moeda de troca nas conversações internacionais e toda guerra deverá ser descartada para o bem da razoabilidade humana.
Ao contrário que a má-fé de setores da grande mídia brasileira prega em seu sacerdócio noticioso, o fortalecimento de uma América Latina compacta permitirá que muitos países que encontrem hoje em situação de crise socioeconômica possam dar um salto qualitativo em suas nações. Países de grande pujança econômica como Brasil, México, Argentina e Venezuela somente terão a ganhar com uma fortalecida unidade latinoamericana. A UNASUL (União de Nações Sul-Americanas) é uma grande realidade e deverá ser fortalecida, enaltecida e ampliada.
O retrocesso político das ditaduras movidas a golpes de Estado devem ser veemente combatidas por todos os membros da OEA (Organização dos Estados Americanos). A questão hondurenha é emblemática. Somente a recondução de Manuel Zelaya à presidência daquele país trará um pouco mais de calmaria política e também intimidadora de desejos golpistas ao redor da América Latina. Por sinal, o continente americano precisa de uma cultura de paz, equidade e cooperação mútua com uma radical amplitude de democracia política, econômica e social.
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Para quem deseja conhecer mais sobre política externa latinoamericana apresentarei um trabalho:
II Simpósio de Pós-Graduação em Relações Internacionais do Programa “San Tiago Dantas” (UNESP – UNICAMP – PUC/SP)
16 de novembro de 2009 – Memorial da América Latina - 16h30min
“Pragmatismo, neopopulismo ou governança popular: novos ares na política externa latino-americana?” – Wellington Fontes Menezes
Veja a programação completa com bons e interessantes trabalhos aqui ou acesse:
http://www.santiagodantassp.locaweb.com.br/br/simp/programacao.html
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Café da Manhã ou Jantar?: A cruel opção em cenas da barbárie cotidiana da Educação Básica de São Paulo
Pense rápido e escolha somente uma única opção em duas alternativas possíveis: Você deixaria seu filho sem café da manhã ou sem jantar?
Por mais patética ou cretina que seja a pergunta, este foi o dilema que muitos pais que tem filhos nas creches da Prefeitura de São Paulo tiveram que enfrentar na semana passada. Segundo a Agência Folha, tais pais “receberam um formulário com duas opções: escolher se o filho ficará sem café da manhã ou sem jantar. O papel não podia ser levado para casa e tinha de ser respondido no local”. Motivo? Um corte em 20% da verba municipal destinada à merenda escolar de 120 mil crianças atendidas em creches paulistanas. Segundo ainda a Agência Folha, a estimativa é de que 60 mil crianças, ou seja, metade dos alunos matriculados das creches terá uma refeição a menos nas creches!
Falta compromisso social e sobram “planilhas técnicas”. A prefeitura da cidade que tem o maior orçamento municipal do país alega que por “razões técnicas” com a mudança dos turnos dos alunos com redução de jornada (ou seja, diminuindo o tempo de 12 horas para 10 horas de permanência da criança na creche), haveria um remanejamento de refeições que possibilitaria a “economia” para os cofres públicos. Segundo o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, apurado pela Agência Folha, o gasto médio mensal da prefeitura com alimentação nas creches será 20% menor, caindo de R$ 2,85 milhões para R$ 2,28 milhões.
Para variar, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) como se nada tivesse acontecido (a moda pegou!), disse que não sabia e que “se foi uma decisão equivocada é evidente que sim [podemos reavaliar]. Com a maior humildade”. A explicação do secretário de Kassab é mais inusitada. Segundo Schneider, a decisão não seria economizar, mas o fato apenas decorrência das “razões técnicas”: "O gasto mensal com merenda é de R$ 36 milhões, incluindo todas as escolas. A mudança no cardápio das creches vai representar menos de R$ 600 mil de economia”. A pergunta que cabe é pertinente: tirar alimentação básica de crianças em idade de crescimento é pura incompetência ou inteira má-fé?
Fundo do poço. São gestos desta natureza que percebemos a total desorientação das políticas públicas de educação básica do país. Adentrando ao inferno, já no falido sistema público de educação básica do Estado de São Paulo, a situação é o retrato sem Photoshop da terra-arrasada. Além da total falta de segurança nos prédios escolares, é sabido que falta de tudo (a expressão já virou uma trágica desgastada redundância!): de merenda básica para os alunos à falta de número mínimo de funcionários como, por exemplo, inspetores de alunos e cozinheiros na esmagadora maioria das unidades de ensino da rede pública estadual.
A situação da grande maioria das unidades escolares públicas é digna da podridão dos ranços dos campos de concentração de Auschwitz. Com a barbárie instalada, pergunta-se o motivo da resistência ou leniência que o Ministério Público tem em agir para poder simplesmente fechar estes prédios públicos e forçar o governo e reconstruir todo o seu sistema educacional. A gestão tucana conseguiu o feito de destroçar o que já estava ruim no sistema básico de educação. Nas mãos das irresponsáveis e nefastas políticas neoliberais, o futuro da educação básica pública é tão obscuro e desanimador quanto o presente.
Letargia e aneurisma social. Semana passada em matéria da Agência Folha, uma tecnocrata do Ministério da Educação disse que seria “mito” dos que alegam que a educação básica agora esteja “pior” do que no passado. Segundo a tecnocrata, a explicação seria que antes eram poucas as opções de educação pública e agora se atingiu a universalização do acesso, apesar da precariedade. Tal belíssima análise até poderia ganhar um retumbante Oscar pela dramaturgia dantesca se a situação fosse ficção. Todavia, a realidade é outra e alarmante, principalmente que tais declarações é oriunda de uma “policy maker” que em tese deveriam pensar na Educação como uma construção vital para qualquer país e não como meros números de uma bolorenta cesta de estatísticas.
A questão da Educação não deve ser tratada do ponto vista da simplificação estéril do “caráter técnico”. Tampouco com o nariz torto dos que acham se tratar de “entulho” estatal como é fixado no inconsciente da grande maioria dos burocratas e políticos. Pensar em Educação é atuar na estratégia de construção e consolidação dos pilares fundadores de qualquer país alicerçado na idéia de estado-nação. Relegar o plano educacional às cabeças ocas da acefalia burocrática é assassinar qualquer projeto de viabilidade institucional em longo prazo de qualquer nação. Quem ganha com um país estúpido povoado de analfabetos completos ou analfabetos funcionais? Numa democracia do planeta se consolidará com um exército de seres marginalizados e atirados ao relento atados miseravelmente somente com a sorte e o crucifixo.
É inacreditável que passado praticamente toda a primeira década do século XXI e ainda encontramos escolas públicas de educação básica dignas dos lugares mais nefastos da pobreza subsaariana do continente africano. Escolas sitiadas pela marginalidade e a precariedade reinante em todas as dimensões. Corpo técnico e quadro de professores amplamente acuados e desmotivados e com salários estupidamente ridículos.
É importante frisar (sem sinais de cansaço!) aos que não entenderam ainda sobre a realidade, em especial aos “policy makes” de plantão: a Educação é feita de seres humanos para a construção humanitária de outros seres humanos. A política educacional não é linha de produção em série de insumos como aço, petróleo, concreto ou plástico. É impossível definir “critérios técnicos” como o desumano e assassino corte de verbas para alimentação de crianças. Sim, senhores “policy makes”, crianças e também adolescentes são seres humanos e quem sabe poderiam até ser um filho dos senhores. Aliás, não seriam... Na maioria dos casos, a reprodução da mediocridade é clonada: os filhos destes “policy makes” estudariam em suntuosas e estéreis escolas privadas de linha de produção mercantil para se tornarem no futuro outros “policy makes” imbecilizados ocupando as tarefas dos seus próprios pais.
Outra pergunta que cabe urgir se trata da questão “tempo”: até quando a sociedade e o Ministério Público permitirão o silencioso esfacelamento da educação básica nas escolas públicas de São Paulo? O drama é aprofundado se levar em conta que São Paulo é o estado mais rico economicamente da federação e proporciona um destroçado sistema público de educação básica. Portanto, indaga-se em qual vala-comum se encontra a educação básica das escolas públicas nos demais estados do país, em especial nas regiões centro-norte e nordeste?
Depois de feita a escolha alimentar, aos que possuam alguma lanterna nas profundezas oceânicas, acionem a luz!
TRUMP NÃO FOI UM (NOVO) ACIDENTE DA HISTÓRIA. FOI UMA ESCOLHA!
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