É uma desmoralização a entrega do Nobel da Paz para os discursos de bom-mocismo do presidente estadunidense, Barack Obama. No mínimo, um disparate de péssimo gosto! Com apenas alguns meses sentado na cadeira principal da Casa Branca, Obama é mais conhecido por ser um pop-star na política internacional do que seus atos no cargo como presidente. De bom orador e conquistador de simpatias pelo mundo, Obama ainda é uma promessa e cada vez mais distante de materializar seu discurso.
Entretanto, poucas horas após ser notificado do Nobel, Obama já se reunia com seus assessores de guerra estudando a ampliação de tropas no Afeganistão. A prometida retirada das tropas no Iraque está muito longe de ser concretizada. De concreto mesmo pode ser contabilizado apenas alguns avanços como foi o caso do fechamento da prisão da barbárie de Guantánamo,
É possível inferir que seria o agraciamento do Nobel da Paz como sendo um mimoso prêmio de consolação apenas uma semana depois que Obama não ter obtido êxito em trazer os Jogos Olímpicos de 2016 para a cidade de Chicago, onde iniciou sua carreira política? Internamente, Obama sofreu várias críticas por ter viajado a Copenhagen e voltado de mãos vazias. Para a grande maioria dos policy makers estadunidenses, tal como a mítica aparição da Virgem Maria, apenas bastaria o vulto de Obama para angariar a concessão olímpica. A concessão dos Jogos Olímpicos é acima de tudo um gesto político. Em época de queda de popularidade na novata administração Obama, qualquer fato novo é importante para construir uma reação perante a opinião pública estadunidense. Especulação à parte, soa no mínimo estranho e prematuro a premiação de Obama.
Vale lembrar que o Nobel da Paz é sempre uma premiação política de afeto e simpatia de seu Comitê. Segundo o Comitê do Nobel norueguês, a justificativa para a escolha é o apoio que o presidente estadunidense “vem tentado estimular precisamente esta política internacional e estas atitudes das quais Obama é atualmente o principal porta-voz mundial” (Agência France Presse/Folha). Um bom-mocismo esvaziado agrada o Conselho do Nobel que há dois anos, concedeu o mesmo prêmio para o ex-vice-presidente estadunidense, Al Gore, em 2007. Na ocasião, o bom-moço Gore compilou um livro-catástrofe sobre mudanças climáticas e posteriormente transformado em filme-documentário e, para variar, ganhou o Oscar de melhor documentário em 2007. Um curioso cinismo neste discurso de bem-aventurado ativismo ecológico é como se Gore nunca tivesse ocupado um cargo tão importante como foi a vice-presidência da potência estadunidense! Em sua gestão de dois mandatos ao lado do ex-presidente Bill Clinton, a “verdade inconveniente” é que os Estados Unidos se esquivaram de assinar quaisquer tratados de diminuição de emissão de poluentes na atmosfera. Para variar, os discursos de heroísmos hollywoodianos soam cínicos, ridículos e patéticos. Tal como insanidade tirânica de Nero na Roma Antiga relatada pelo romano Plínio (23 d.C.- 79 d.C.), aos olhos do mundo, tais estadunidenses adoram os holofotes onde posam como robustos e astutos heróis do planeta o qual eles mesmos incendeiam indiscriminadamente.
Sem novidade! É indefensável que o Comitê do Nobel concede sua premiação prioritariamente para figuras estadunidenses e européias por osmose. Assim como grande parte dos próprios estadunidenses, aparentemente o Comitê considera plenamente que há mais massa encefálica no interior dos crânios dos vizinhos da América do Norte e Europa Ocidental do que os demais seres humanos no planeta! Paradoxalmente, o Comitê do Nobel da Paz dá um fantástico aval moral para que Obama fique com seus idílicos discursos de bom-mocismo, mas na alcova das permissivas práticas de beligerância estadunidense continue dando carta branca para seus generais fascistas da guerra.
Laureando Obama, o Comitê do Nobel não teve a coragem de sair da pequenez política que tanto poderia contribuir na construção efetiva de um mundo melhor e sem o fantasma permanente de conflitos promovidos pela volúpia imperialista.
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