Vivemos um momento histórico onde
já não cabe mais o papel da servidão voluntária atrelada ao gozo da
mediocridade coletiva. Chegamos ao fundo do poço em relação à nossa ignorante
estupidez perante os fatos presentes e um sentimento indescritível de
desconforto perante o futuro imediato para quem tem um mínimo de lucidez
intuitiva. Chegou a hora de cessarmos a cômoda e irresponsável caçada aos “vilões”
escolhidos seletiva e sorrateiramente por um aparelhamento midiático desde os
protestos juvenis de passagens de ônibus de São Paulo que datam de 2013. De lá
para cá, a onda conservadora se avolumou, perdeu o controle da Direita
conservadora e se transformou em um perverso mar de alucinação da
extrema-direita. A Caixa de Pandora se estraçalhou de vez e os monstros
transbordaram para a sociedade.
O discurso de satanizar um
único partido ou uma única pessoa por todos os sortilégios de desgraças deste
país alimentou uma tragédia. O resultado disso foi à histórica alienação social
que colocou a rapinagem dos abutres corruptos da extrema-direita ao poder. O
país envenenado por uma grande mídia seletiva e antidemocrática ajudou a
alimentar um tipo grotesco e particular de fascismo à brasileira, o “fascismo
jagunço”, a saber: ignorante na forma e conteúdo, desprovido de qualquer
projeto político, violento, psicótico, e grotesco em suas práticas, um culto ao
irracionalismo selvagem, aliada a eclosão de um fanatismo religioso, um jorro
de ódio ao conhecimento e a qualquer manifestação de atitude racional.
Com o fracasso do
neoliberalismo sedimentado no projeto tucano de governar o país nos anos de
Fernando Henrique Cardoso e as limitações do modelo social-democrático dos anos
petistas de Lula e Dilma Rousseff (projeto esse sabotado pelo golpe de estado
de 2016 contra a presidenta Dilma), os setores econômicos mais exploradores da
mão-de-obra do país abraçaram o ultraliberalismo jagunço da extrema-direita. É
fundamental salientar que não existe historicamente uma extrema-direita exitosa
na ocupação do poder, em qualquer país do mundo, sem estar apoiada por grandes
grupos econômicos para financiar seu circo de aberrações. Para aqueles que
ainda estão em sono profundo, passou da hora de acordarem para a vida real que
está impregnada de fantasia suicida e desejos mórbidos de eliminação do outro.
É inadmissível aceitar o discurso da autodestruição social propagada
incessantemente nos últimos seis meses de uma campanha inescrupulosa, mentirosa
e desonesta do arauto da destruição jagunça, o ex-capitão fracassado do
exército que passou para a reserva, Jair Bolsonaro, vulgo o “bunda suja”
conforme atribuiu a “Revista Veja” aos militares que não evoluíram na
meritocracia da carreira militar. Bolsonaro, segundo Veja, teria recebido tal
designação pelo sua inaptidão aos ditames do exército e, somado a isto, devido
sua polêmica participação em traquinagens circenses em quartel. Até o início do
presente ano de 2018, o então ilustre “bunda suja” não passava de um
desconhecido da esmagadora maioria da população brasileira.
A terrível noite de 28 de
outubro de 2018, após o anúncio da vitória de Bolsonaro contra o petista
Fernando Haddad, será lembrada por uma tragédia anunciada e sinalizada para
todos aqueles que queriam e estavam dispostos a observarem com percepção e
paciência. A eleição de Bolsonaro para a presidência do Brasil representou um
desastre histórico para nossa democracia e para a sociabilidade inerente ao
país.
Quem era afinal o presidente
que virou “mito” sem ter feito absolutamente nada que possa de alguma forma
merecer tal alcunha? Bolsonaro é uma farsa fraudulenta e não passa de uma velha
raposa parasita da apodrecida política clientelista nacional que foi vendida
por astutos assessores de marketing, como Steve Bannon (o polêmico ex-assessor
do presidente Donald Trump que venceu via fraudes na campanha eleitoral nos
Estados Unidos) aos desavisados como algo “novo” contra as velhas estruturas da política.
Após ser sucessivamente eleito como deputado federal pelo Rio de Janeiro
(1991-2018), Bolsonaro surfou por uma sopa de letras por diversos partidos da Direita
como o PDC, PPR, PPB, PTB, PFL, PP e estava no PSC quando, ainda neste ano de
2018, Bolsonaro foi catapultado como candidato a presidência por um obscuro e
inexpressível partido, o Partido Social Liberal (PSL), cuja estrutura mais se
apresenta como uma organização miliciana do que um partido político por suas
prestação de contas serem nebulosas e práticas questionáveis.
Sem ter efetivamente sequer um “plano
de governo”, exceto a divulgação de um arquivo de “PowerPoint” recheado de
bobagens senis que ronda o imaginário ignorante dos usuários de redes sociais, Bolsonaro
é uma fraude ambulante que foi vendida por parte significativa da imprensa
nacional como um “fenômeno de sucesso”. O que nos remete tal ao então
governador do Estado de Alagoas, ao arrogante e impetuoso Fernando Collor de Mello
que surgiu para o Brasil como o folclórico “caçador de marajás” em 1989 do
nanico partido, o PRN. O resultado da “aventura Collor” que foi apoiado pela
grande mídia brasileira, em particular, a Rede Globo, foi o aprofundamento da devastação
da economia brasileira que tinha como herança a situação dilacerada pelos anos
Sarney com a alta inflacionária, explicitada com o sequestro do “confisco das
poupanças” de milhões de contribuintes, início das privatizações de empresas
públicas como forma de “modernidade”, recorde de desemprego e um mar de
corrupção que levou ao “impeachment” do seu mandato em 1992.
Parte significativa do eleitorado
brasileiro não aprendeu a lição dos anos Collor e apostou novamente no erro
grosseiro e muito bem conhecido! Contudo, como toda tragédia na segunda
ocorrência é um desfile farsesco, Bolsonaro é uma espécie ambulante de “Collor
piorado”, como demonstrou em inúmeras oportunidades tal quesito como foi
registrado em todas as mídias conhecidas. O presidente eleito é um
descontrolado sistemático que não consegue sequer responder uma meia dúzia de
perguntas que não sejam fanfarronices e, para variar, é incapaz de fazer um
discurso sem gaguejar, cometer gafes ou falar mal de alguém. Somada a tudo
isto, Bolsonaro tem o explosivo agravante de trazer a toda a nefasta
aparelhagem de militares ao poder, por sinal, situação inédita desde que os
militares voltaram para a caserna com o fim da trágica aventura ditatorial dos
generais em 1985. A eleição de Bolsonaro representou o retorno inacreditável e
irresponsável do entronamento sistemático dos militares ao poder por via das
urnas!
Bolsonaro despontou em sua insignificante
vida política como um contumaz falastrão grosseiro que mostrou sua jocosa ignorância
em toda oportunidade que teve para fazer seu podre teatro repugnante: pedir a
volta da ditadura militar, fazer apologia à violência e ao estupro, fazer
honrarias aos covardes torturadores do nefasto regime militar, ofender
mulheres, gays, negros, indígenas, nordestinos, “esquerdistas” e, claro, sua maior
especialidade, utilizar-se ao máximo do aparelhamento e das verbas públicas da
Câmara dos Deputados. Na lógica de rapina de Bolsonaro, usar verbas públicas
para enriquecer seus próprios bolsos e de seus filhos, não é corrupção, apenas
o “PT que é corrupto”. E diante da sua “lógica
de espertalhão”, milhares de eleitores fecharam os olhos nas urnas e entronou
um sujeito que somente pensou a vida inteira no próprio bolso enquanto foi
político no próprio sistema que ele acusou ser “podre” diante do seu “bunker”
escondido do eleitorado durante sua campanha eleitoral de enfermo oportunista.
O episódio circense da “facada” em Bolsonaro, durante o primeiro turno das
eleições, até hoje não foi esclarecido e gerou dois ganhos imediatos e valorosos
à Bolsonaro: hiperexposição na mídia como uma espécie de “santo salvador” que
resistiu ao “atentando” e a fuga de qualquer debate o qual ele saberia que
seria um completo fracasso com sua total incapacidade de orientar-se por
palavras minimamente sensatas ou cognitivamente compreensíveis ao público.
Bolsonaro é mundialmente visto
como um perigoso e inaceitável retrocesso político, econômico, trabalhista,
social, cultural, soberania nacional e humanitário. Uma campanha eleitoral
baseada em grotescas mentiras, as alardeadas “fake news” jorradas em redes
sociais, em particular, no aplicativo WhatsApp denunciado pelo jornal paulistano
“Folha de S. Paulo”, deu o tom da completa ausência de ética de um grupo que
não mostrou nenhum projeto real para o país, exceto a promoção da barbárie
promovida por asseclas de Bolsonaro em nome da violência e da promoção do ódio
e de mentiras grotescas. É inacreditável que o tanto o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) quanto o Supremo Tribunal Federal (STF) ficaram omissos, se
fizeram de mortos, com a avalanche de crimes eleitorais promovidos pela equipe
política de Bolsonaro e seus empresários que turbinaram com verbas ilícitas o
seu generoso “Caixa 2”.
Eleito presidente dias atrás, as
primeiras movimentações da cúpula de Bolsonaro formada por patrões predadores,
velhos políticos corruptos, nepotismo psicopata, mafiosos que se utilizam da
religião para formar impérios econômicos criminosos, economista vigarista em
superministério da destruição, fantoche de astronauta, juiz fascista
inescrupulosamente oportunista, financiador de campanha eleitoral e um mar de
trogloditas militares jagunços dão o tom dos horrores bizarros que o país
atravessará para servir apenas ao banditismo inconsequente da endinheirada e
atrasada elite nacional e servir aos interesses econômicos e geoestratégicos
dos Estados Unidos.
A agenda bolsonarista em pauta
é a destruição dos direitos previdenciários dos trabalhadores, novo ataque aos
direitos trabalhistas, a privatização das empresas públicas que ainda restou
após o desastre do nefasto biênio de Michel Temer do pós-golpe de 2016, a
diluição de cerca de 380 bilhões de dólares de reservas externas (conquistadas
nos anos Lula e Dilma), a entrega da Petrobrás e dos suculentos campos de
pré-sal para as petrolíferas estrangeiras e o discurso fascista da perseguição
política contra os “inimigos indesejáveis”. A perseguição aos movimentos
sociais, professores, jornalistas, grupos identitários e os tais “esquerdistas”
(ou seja, todos aqueles que ousarem a se opor as insanidades de Bolsonaro)
estarão na agenda do terror e coação para desviar atenção da opinião pública
contra o futuro fracasso das medidas econômicas e políticas de Bolsonaro.
No plano externo, já começaram
os estragos com a China, Palestina, Egito que alertaram sobre as falas toscas
de Bolsonaro e prometeram retaliações a respeito. A tentação para a invasão
militar contra nosso país vizinho, a Venezuela, como resposta a vassalagem que
país se sujeitou ao presidente estadunidense, Donald Trump, ainda está na
agenda do desequilibrado presidente eleito e seus asseclas irresponsáveis.
Bolsonaro é a devastação ambulante, uma espécie de Rei Midas ao contrário do
“toque de ouro” da mitologia grega clássica: onde Bolsonaro toca vira
destruição.
Bolsonaro é a casamento maldito
entre o ultraliberalismo tosco e selvagem, o escravismo colonial da elite
econômica do atraso, a violência e a coerção covarde dos militares e o
neopentecostalismo das máfias da Bíblia. Aos trabalhadores, a massa que
Bolsonaro sempre teve repugnância e desprezo, pois sempre votou contra eles na
sua vida de parlamentar em prol dos ricos, restará o arrocho salarial, jornadas
análogas à escravidão, o fim da aposentadoria real e a precarização dos empregos.
É preciso deixar bem claro a seguinte lição para todos: cada dia a mais de
Bolsonaro no poder será um dia a mais de devastação e mortes no Brasil.
Com Bolsonaro no poder, teremos
a certeza de cortes sem limites em áreas sociais e, no maior ódio de Bolsonaro,
à área de Educação. Afinal, alguém que sempre desprezou a Educação não poderia
deixar impune seu ódio pelo conhecimento, pela lucidez, pela sensatez.
Bolsonaro representa à apologia à ignorância primitiva que muitos cidadãos
brasileiros guardam dentro de si sua completa incapacidade de compreensão de
mundo: abriu-se então a era da “guerra contra o conhecimento, o
anti-intelectualismo” no Brasil. No lastro da insanidade persecutória do grupo
irracional denominado “Escola sem Partido” (ESP) cujo objetivo é perseguir e atacar
professores em nome de crendices irracionais e religiosas, não foi a toa que um
dos seus primeiros e toscos pronunciamentos de Bolsonaro, recém-eleito, foi se
dirigir às redes sociais e pedir aos alunos “denunciarem” professores que fazem
suposta “doutrinação” e tais que professores irão receber um “presentinho” do
presidente eleito. Que presentinho é esse, Bolsonaro?
A política de “naturalização do
jaguncismo” de Bolsonaro começou na grande mídia antes mesmo de ser
oficializado presidente. É completamente surreal que as vigarices insanas que
Bolsonaro excreta serem tratadas como meras “gafes”, “mal-entendidos”, ou pior
ainda, “adaptações ao poder”, como se um sujeito de 63 anos fosse ainda uma
criança que recebeu brinquedo novo e não sabe ainda brincar com ele! A
alucinação mediada por uma enxurrada de mentiras canalizadas captura a
subjetividade coletiva e constrói-se uma espécie de “realidade paralela” de
distorção desta realidade, onde a mentira se torna a verdade e vice-versa e a
truculência se “normaliza” como uma “ética do grande pai opressor”, mas que os
filhos devem obedecer!
Bolsonaro é o ícone de uma
massa de ignorantes com “lugar de fala” eleito com grotesca propaganda
fraudulenta em urna. A ascensão da extrema-direita jagunça no Brasil
representou um “grito de liberdade” e sem nenhuma vergonha para as almas
grotescas que se encontravam no armário e que vinha ensaiando seu perambular
por solo brasileiro desde 2013. Para Bolsonaro, um velhaco tosco, perverso e
irresponsável, a vida humana não significa nada, apenas o seu propósito de vida
foi perambular muito bem à custa do dinheiro público que as benesses de
deputado federal ofereceram para si e para alojar toda a sua família de
predadores do bem público. Bolsonaro é a ode ao nepotismo sem nenhuma gota de
vergonha onde colocou todos os seus filhos em cargos políticos.
Bolsonaro massacra a realidade
presente com sua metralhadora de insanidades perversas e, assim, sequestra o
futuro do Brasil. Não podemos engolir ilusões baratas na vã tentativa de achar
que um ser extraterreno irá iluminar a cabeça de um sujeito que já provou inúmeras
vezes, diante dos olhos de quem se negou a ignorar a realidade, ser um
desajustado feroz e desequilibrado.
Ninguém tem o direito de roubar
o nosso futuro, a nossa dignidade, a nossa esperança. Bolsonaro emergiu das
trevas do corrupto e parasita baixo clero da Câmara dos Deputados onde vegetou
por lá quase três longas décadas para se projetar em 2018 como o grande
fantoche de “herói nacional”. Todo grande farsante apresenta o mesmo discurso e
escondem por detrás dele os reais interesses que é impor os trabalhadores
brasileiros à servidão dos patrões, ampliar o lastro da miséria e a submissão
covarde e voluntária os interesses de Donald Trump e seus abutres de
Washington. Tudo em nome de castigados bordões vazios tão velhos quanto à era
da pedra lascada, como "família", "pátria" e
"Deus". O deus que Bolsonaro vive a balbuciar não é compatível a nenhum
outro Deus de qualquer religião que seja usada como parâmetro comparativo. O
único deus de Bolsonaro é o da morte! É para quem possui alguns preceitos
religiosos, nada é tão pecador do que fazer apologia à violência e invocar o
nome de Deus absolutamente em vão para ocultar a total incapacidade de gerir
alguma coisa ou manusear as palavras com um mínimo de sensatez.
É preciso salvar a democracia
para que possamos ser salvos! É preciso ainda compreender os valores que estão
intrínsecos na democracia que não podemos abrir mão deles por mera e grotesca
falta de conhecimento a respeito. Precisamos reorganizar a estrutura emocional,
a consciência política e a compreensão de que estamos vivendo uma escancarada
luta de classes e sem pudor algum: tudo exposto em prol da devastação do país
que será alicerçado por pilhas de corpos inocentes ao chão.
Sim, a democracia ficou
derrubada com a eleição de um fascista farsante, mas não vencida. Não podemos
admitir que uma grotesca camarilha de parasitas perversos e irresponsáveis que
tomaram de assalto o poder por via da fragilidade do aparelhamento das
instituições que se dizem “democrático” faça o que bem quiser com nossas vidas,
nossos entes queridos, a nossa sociedade, o nosso país, o nosso futuro e a
nossa esperança. Quem não tem consciência de si e de mundo é um eterno escravo
daqueles que não tem pudores para impor a escravidão.
Não podemos aceitar a lógica
dos destruidores da democracia em nome de nossa cumplicidade acomodada e
acovardada do império da destruição que representa a podridão devassa de
Bolsonaro e sua milícia de saqueadores do erário. Não podemos ceder aos
monstros (é assim que devemos encarar os perversos e impiedosos que não tem
nenhum apreço pela dignidade humana!) sob a penalidade de alimentar a sangria e
cavarmos a sepultura daquilo que conhecemos por uma sociedade civilizacional. Precisamos
começar a organizar a mobilização popular nacional por uma frente única com
estudantes, trabalhadores, partidos políticos progressistas, movimentos sociais
de toda a natureza e todos aqueles que prezam a dignidade humana e os valores
democráticos, cujo mote poderá ser VENCER O FASCISMO: RESISTIR NO PRESENTE,
RESGATAR O FUTURO.