domingo, 27 de maio de 2018

Rumo ao precipício no pós-golpe: boleias de diesel para o caos




Diante da analise de conjuntura e dos retrocessos impregnados nela, é preciso cautela diante dos acontecimentos. Em 2013 vimos uma onda de "protestismos" afoitos de "indignados" e que foram usurpados pela burguesia e seus gerentes da direita. Resultou no golpe institucional de 2016 e o atual processo de degeneração de todas as recentes conquistas para os trabalhadores dentro de um conjunto social mais amplo. Por mais que foram insuficientes, é preciso reconhecer avanços significativos e que hoje rapidamente se encontra em um avassalador retrocesso.  Como foi previsto, a situação do país so piorou desde o golpe e com carga de dramaticidade agonizante.



1. O locaute dos caminhoneiros, oportunismos imediatos e o preço dos combustíveis


A greve de trabalhadores é um direito assegurado constitucionalmente, mas o locaute, isto é, a “greve dos patrões” (o locaute, derivado do inglês “lockout”) é proibido por lei por ser considerada prática abusiva. Das trevas, seguem os arautos da perversão buscando justificativa para "empoderar a greve" dos patrões e seus caminhoneiros: dizer que o locaute não é locaute e a greve é “legítima”. Porém, uma análise minimamente séria dos fatos, que mais irá se beneficiar com as chantagens do movimento é o patronato. Em nenhum momento se falou em questões trabalhistas e tampouco se questionou as condições de trabalho dos caminhoneiros. Em todo o momento o interesse de praticar um capitalismo sem nenhum custo: isenção de pedágios, isenção de impostos e, o principal, a bolsa-diesel, custo praticamente zero para os patrões com combustíveis. Sim, é absolutamente verdade a questão nevrálgica e que gerou toda uma insatisfação por parte dos patrões do setor de transportes e na sociedade devido a uma política de preços completamente absurda por parte da Petrobrás nas mãos do PSDB, principal partido articulador do golpe de estado de 2016, dentro do loteamento de pastas e estatais do governo de Temer.


A entrega da Petrobrás para o "livre mercado" mudou radicalmente a política de tarifas de combustíveis praticados pelos governos Lula e Dilma as quais eram controladas pela estatal brasileira. Do controle estratégicos de preços, a subida do governo Temer levou consigo os interesses de multinacionais estrangeiras no pós-golpe e a mudança estratosférica das tarifas. Obra direta do golpismo alavancado pela burguesia nacional, temos hoje a política surreal de reajustes diários de preços de combustíveis atrelada diretamente pelo mercado internacional de petróleo e, por sua vez, dando maior retorno aos acionistas da estatal. Por sinal, o atual presidente da Petrobrás, Pedro Parente e responsável direito pela política de reajustes diários de preços de combustíveis, já se mostrou em diversas ocasiões a preocupação por rentabilizar acionistas em detrimento dos serviços estratégicos prestado pela empresa.


A centralidade do petróleo é tema que interessa as grandes corporações estrangeiras, em particular os Estados Unidos, tanto no Brasil como na Venezuela. Colocar mais diesel na fervura e adesismos sem reflexão, diante de um chantagista locaute de donos de transportes de cargas e submissão da estratégia de “greve e caos” por parte de seus empregados terceirizados, demonstra mais uma vez que setores das esquerdas não aprendem lições históricas, não se utilizam de estratégias e mergulham de cabeça dentro do tanque de posto de combustível sem gasolina. Lembrando que a partir de um locaute reacionário com forte presença da extrema-direita (os caminhoneiros é um setor altamente precarizado, atípico de mobilização sindical e se posiciona de forma mais global e ideologicamente no campo reacionário). O mote de guerra visível é a "intervenção militar". A partir de um coletivo completamente difuso como são os trabalhadores do sistema de transportes de cargas, sem um sindicato trabalhista forte e agregador, sem nenhuma liderança significativa e sendo conduzido por surreais trocas de mensagens de aplicativo de celular, o "Whatsapp", o que temos é a insanidade coletiva de um amontado de caminhões que fazem chantagem contra a sociedade e com uma retórica reacionária em prol dos lucros imediatos. O amadorismo desta categoria de trabalhadores, baseada na truculência e no reacionarismo infantilizado é o reflexo da total desorganização e perversão de uma greve autofágica a qual ninguém irá ganhar absolutamente nada com sua dimensão. A inércia para resolver a situação é proporcional à sede de barganha deste setor “grevista” sabendo da fragilidade de um governo inepto e apodrecido.


O jogo oportunista de fazer demagogia imediatista do "combustível barato" ganha apoio instantâneo numa sociedade que faz apologia ao auto-interesse e cada vez mais refém ao medo e o ódio. A legitimidade de uma greve se desfaz quando interesses meramente egoístas corporativistas ou pessoais são os únicos alicerces em detrimento de todo um conjunto social. Para isto utiliza-se a tática perversa e criminosa de estrangulamento de bens e serviços que nem em países com conflito bélico costuma praticar, ou seja, cortar toda e qualquer forma de circulação de mercadorias numa dada região população de forma a buscar praticar uma eutanásia social prejudicando todas as classes sociais, particularmente os mais frágeis. É como colocar um arsenal na cabeça de um único sujeito e pedir para que ele abra a carteira! É repudiável a condução sociopata de movimentos chantagistas diante de um governo golpista e o qual os próprios “grevistas” apoiaram efusivamente para a deposição da presidenta Dilma.


A paralisação que completou uma semana afetou diretamente o setor produtivo e profundamente a circulação de mercadorias e abastecimento de praticamente todas as regiões do país. Mostra-se também o nível fantástico de fragilidade do processo desenvolvimentista brasileiro das últimas décadas centralizada e dependente em sua grande maioria no fluxo de mercadorias do transporte modal rodoviário que trás alto custo em toda a cadeia produtiva até o setor final, o consumidor.




 2.     Os trogloditas e os desavisados pegam carona na boleia


Neste cenário de inédito surrealismo diante da repercussão, dentro do estado de exceção de um governo golpista, tosco, incompetente e apodrecido, tais caminhoneiros servem como uma excelente massa de manobra para os movimentos mais reacionários e dantescos dentro da sociedade. Tornou-se comum militares se posarem como "heróis da pátria, seja em manifestação de grupos da extrema-direita, seja no desfile de soldados e blindados da fracassada “intervenção federal” no Rio de Janeiro, assim como os ensaios para “observar” o locaute dos caminhoneiros são exemplos da rotina que tropas federais do exército estão presentes no cotidiano. Desde 2013, apoiadores de "intervenção militar" perderam a vergonha e expõe suas taras em público, inclusive gritam efusivamente o nome do candidato à presidência da extrema-direita, Jair Bolsonaro. Bem posicionado em todas as pesquisas eleitorais e deputado há mais de três décadas, Bolsonaro ocupa vaga na Câmara dos Deputados e muito conhecido pelo nepotismo ao colocar seus filhos para igualmente parasitar a política. Abaixo da tenda do circo de terror, maculando obrigações constitucionais, militares oportunistas não tem mais vergonha em aparecerem abertamente propagandeando uma ideologia protofascista. Generais demagogos usam as redes sociais para pregar sem o menor pudor uma "intervenção" contra os tais "políticos corruptos" para "salvar o Brasil". Esperando com muito ardor o caos social e sem nenhuma punição por ferimento constitucional, é crescente a arrogância prepotente de setores militares por aventuras autoritárias para se posarem de "heróis da pátria"!


A política do ódio tem como objetivo primordial ampliar a sensação de perda, orfandade e insegurança e avidamente construir uma aderência ao autoritarismo da segurança e controle social. Neste campo, a grande mídia, em particular a Rede Globo são responsáveis diretas pela efervecencia de um reacionarismo alucinógeno, agressivo e que fomenta sistematicamente desde 2013 ataques diretos ao PT, o ex-presidente Lula, a classe política e a idéia da “generalização da corrupção”. A democracia brasileira, a impregnação subliminar (muitas vezes, escrachado!) de um discurso autoritário, seria o mal que gera “políticos corruptos” e somente poderia se livrar desta moléstia com “autoridade”. Não é a toa a mudança de narrativa: quando interessava derrubar Dilma, o discurso era manifesto com a idéia do “PT ladrão”. Agora, com um país em crise de governabilidade e caos econômico, o discurso foi substituído por “político é tudo igual”. Portanto, com uma classe política em franca decadência de legitimidade do pós-golpe, surge os “patriotas do coturno”. O país está flertando erraticamente para soluções salvadoras e autoritárias. Sintomaticamente, observa-se efeito claro da "política do ódio" impregnada pela grande mídia na sociedade desde 2013 com a campanha anti-PT e a dispersão de elementos autoritários via apologia ao mercado como grupos organizados de extrema-direita que infestaram as redes sociais e transbordaram no liame político e social. Um outro sintoma é o movimento chamado “Escola sem Partido” que ataca majoritariamente professores em nome dos “bons modos e costumes” e grupos reacionários juvenis como o MBL e o Vemprarua, alimentados com verbas dos setores mais conservadores da sociedade, partidos da direita e ONGs estadunidenses.


O Brasil segue a deriva, às portas de um clássico golpe militar, mais uma vez, por pura ganância de facções alojada no poder econômico em busca de lucros fáceis nas costas de trabalhadores precarizados. Diante do circo com muita alucinação e irresponsabilidade (não há falta esta amalgama de combustível!), surfa na onda parte de uma esquerda, afoita para embarcar mais uma onda aventureira revolucionária da fase oral freudiana tal como foram as delirantes "jornadas de junho" de 2013. Retrato de uma série de protestos originados de protestos contra passagens de ônibus em São Paulo e espalhou-se pelo país, onde toda a horda de "patriotas" e reacionários tomou o país numa onda de "indignação seletiva" (leia-se, contra o PT) de um rastilho de autismo político promovida pela Rede Globo e seus comparsas midiáticos. Resultado: golpe institucional contra Dilma em 2016, um retrocesso reacionário histórico, prisão do ex-presidente Lula, o principal líder da oposição e líder nas pesquisas eleitorais para presidente, o país no fosso econômico e o estado de exceção abrindo as portas tétricas à um novo golpe militar.



3.     Perigo do tamanho de um caminhão sem freio


Em meio a todo este cenário, temos um Judiciário que foi um dos protagonistas fundantes do golpe de estado de 2016, impôs um estado de exceção descartando premissas constitucionais e se sentiu no “apogeu” diante da prisão ilegal e sensacionalista de Lula. O governo golpista de Temer apodreceu desde a sua usurpação da cadeira de Dilma e está em acelerado estado de decomposição. É preciso cautela com o jogo midiático e refletir para além do senso comum da política com visão de papo de botequim tão impregnado nos setores da classe média. Já cansamos de ver este filme com o golpismo de generais assassinos no golpe de 1964 e, observa-se que após mais de cinco décadas, parte significativa de setores da sociedade ainda está avida por trágica reprise.


O atual caos patrocinado pela horda de caminhões nas estradas criando um clima de medo e desabastecimento em todo o país é muito significativo e perverso. É primordial leitura de conjuntura e estratégia política para que os setores mais esclarecidos da sociedade não fomente o discurso do ódio e o país caia como um “pato” novamente na armadilha preparada pelos setores mais reacionários que desejam o aprofundamento do caos e utilização de medidas autoritárias de exceção. É preciso não correr na pista como um caminhão desgovernado em uma pista completamente esburacada! Há momentos que precisa avançar e saber também recuar diante das circunstancias que envolvem um perigo ainda muito maior dentro de um cenário de forte reacionarismo e obscurantismo psicológico. O jogo do momento é muito complexo e resultará no futuro imediato do país.

Um comentário:

  1. Profunda análise...uma tese que nao consigo dimensionar neste momento.Sob o ponto ideológico defender as ideias de que o ódio possa ser a causa de tamanho do descontentamento popular talvez, seja um equívoco...Trabalho de analise da conjuntura politica brasileira e suas causas, requer mais que análises pessoais, uma discussão ampla com os seguimentos sociais.

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