Ao contrário do que
governos reféns do ímpeto dos perversos capitalistas querem impor, a pandemia
não acabou em nenhum lugar do mundo. No Brasil, o relaxamento ou, simplesmente,
o fim da quarentena, apenas reforçou a irresponsabilidade governamental, gerando
nefastas consequências da maior crise sanitária de todos os tempos. Muito
diferente de celeumas na boca de papagaios de redes sociais e negacionistas das
catacumbas da irracionalidade, a pandemia não é o pior dos pesadelos que a
humanidade enfrenta no momento.
De fato, o novo
coronavírus representa mais uma desgraça para a humanidade, mas é um desafio
que somente a consciente e solidária construção coletiva de prevenção poderá
mitigar os efeitos da contaminação em massa e as mortes tão, lamentavelmente,
desnecessárias. Todavia, sem compreender as interações da complexa
sociabilidade humana, toda a retórica entoada fica entre o catastrofismo inútil
e o cinismo genocida.
Apesar do desejo da
tal "volta à normalidade" com a promessa de uma vacina eficaz, nenhum
dos estudos mostraram claramente que teremos um antídoto tão miraculoso
globalmente em curto espaço de tempo (se é que o teremos exatamente desta
forma!). Uma pergunta que suscita muitas
dúvidas: Será possível uma saída evocando alguma panaceia para esta crise sem
efeitos colaterais? O tempo ainda será um elemento a ser elaborado para que se possa
construir estratégias que busquem salvar vidas e a própria estrutura social.
Afinal, o que é "normalidade" em tempos de capitalismo em crises
sistêmicas?
Os impactos
econômicos da pandemia já demonstraram que o capital tem seu limite que é a
própria fragilidade da natureza humana. A destruição em série para obter lucros
esbarra na limitação do elemento humano. Por sinal, mostrou, novamente, que
nada é mais importante para os capitalistas do que os seus lucros. Sem escrúpulos,
o patronato submeteu grande parte dos trabalhadores de todo o mundo aos riscos
do contágio, em nome da manutenção dos famigerados lucros. Essa impiedosa busca atravessa qualquer
súplica de proteção racional da vida!
Vidas foram
confinadas, mas nenhuma delas se compara às perdas humanas pela COVID-19.
Contudo, nada parece ser capaz de sensibilizar a grande massa da população
trabalhadora, condenada àquilo que se assemelha a uma "vida de gado",
ou seja, alienada da sua subjetividade e sem nenhum valor para os donos do
capital. Na lógica do capitalismo sem freios, o trabalhador somente será útil enquanto
produtor de lucros, ou será descartado para a vala-comum do ostracismo de uma
sociedade fadada ao consumismo em massa.
O mundo dos grandes
avanços tecnológicos voltados para o lucro, sem sequer uma preocupação com o
sentido para a vida humana, é o mesmo mundo da esterilidade de vidas que não
encontram significado para a própria existência. Para aqueles que conseguem, ou
conseguiram, fazer sua proteção por via da quarentena, a pandemia desvelou um
vazio muito além do que se imaginava na solidão dos sujeitos confinados em seus
domicílios. A selvageria do capital vem transformando o mundo em um grande
pasto de seres reféns do medo, do vírus e, acima de tudo, do irracionalismo em
acreditar que é destruir ou ficar alheio a tudo, a forma de conseguir o seu
salvação. A pandemia mais feroz se encontra na barbárie promovida pelo capital
e aplicada, por seus abutres, aos lacaios de um sistema de opressão e alienação
em massa, o qual ressalta e escancara todo o autoritarismo de governos
inescrupulosos e potencializam a cultura da miséria humana.
A globalização de uma
pandemia retrata a interdependência cada vez maior entre os países e as
pessoas. Em poucos meses, o vírus se alastrou tão rapidamente em todos os
continentes e o planeta se transformou em uma "grande aldeia" (usando
aqui um bordão que registra o cinismo dos neoliberais!). A fragilidade da vida
ficou ostensivamente exposta e o medo do contágio se tornou referência primária
em quase todas as preocupações diárias. Apesar de ser uma obviedade, mas em
tempos de obscura militância negacionista, é importante ressaltar que somos
seres biológicos e não máquinas para servir ininterruptamente a um punhado de seres
gananciosos e perversos sem escrúpulos!
Sintomaticamente,
surgiu uma onda de histeria das identidades neo-eugenistas, incentivada pelo
capital em plena pandemia. Para quem tem as rédeas do poder, a alucinação
coletiva sempre foi um ótimo estratagema para dividir e dominar. É importante
esclarecer que nenhuma vida é mais importante do que a outra e, tampouco, as
cores decorativas sobre a pele merecem significar algum nível de relevância. A
humanidade é única e, guardadas das devidas diferenças circunstanciais, os
desafios globais são importantes para todos.
A pontual pandemia
mostrou a necessidade de outro modelo de sociabilidade, uma nova ética humana
para um novo patamar civilizacional. A secular endemia causada pelo capital
fragilizou os laços sociais, dividiu olhares de mundo, sodomizou valores
humanitários e mercantilizou o próprio sentido da vida. A socialização dos
recursos de todas as matrizes é vital para que os desequilíbrios se tornem mais
amenos e a miséria social seja minimizada no planeta, assim como os níveis de
contaminação da pandemia.
Na lógica fratricida
do capital, quando todos acharem que devemos matar uns aos outros e exaurir
todos os recursos da Terra, ao ponto de deixá-la inóspita à vida humana, perguntar-se-á
aos protagonistas da barbárie: Para qual planeta do universo os vencedores do genocídio
global, isto é, se houver algum, irão partir e se estabelecer confortavelmente?
Por fim, vale lembrar que toda a opulenta ganância desmedida é um futuro
atestado de óbito.
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