Na onda do identitarismo, temos a política da representação de si mesmo. Basta ter uma
história triste, alardear a estigmatização fetichista da cor ou gênero e um
discurso sobre o empoderamento do ego. Pronto! Todas as mazelas sociais se
reduzem ao patrocínio de uma "vítima da sociedade", sem nenhuma
crítica substancial contra o capital ou dominação burguesa.
O discurso do
ego, embalado no estratagema neoliberal, parece sempre empolgar mais do que o
discurso das classes sociais, em um mundo domesticado pelo desempenho da
personificação dos sujeitos. Parece pouco importar o posicionamento ideológico
na política que, diante desta performance da egolatria, adquire adeptos, votos
e admiração. Nesta lógica, o racismo e demais desigualdades sociais se
travestem em uma "mercadoria" positivada e atuam como bandeira
política de autopromoção: quanto maior o nível da desigualdade, maior a
polarização social e a sedução de guetos eleitorais.
No ativismo
das identidades, não há nenhuma preocupação em apontar as razões das
desigualdades sociais, para o sujeito se apresentar como um "não
incluído" no sistema de consumismo capitalista. Para uma maior
tranquilidade da burguesia, o sentido das lutas sociais é deixado de lado em
prol do individualismo narcisíco da representação do sujeito. Para os adeptos
do discurso da representatividade, basta entronar um representante
"étnico" ou de gênero, e tudo se transforma pela magia que produz a
transmutação dos fetiches. O discurso da representatividade é reverberado com a
performance de um moralismo autoritário
e do clichê caricatural do inimigo comum da representatividade culturalista
neoliberal: o vilanesco "homem branco hétero".
Os partidos
políticos, cada vez mais fragilizados e perdidos ideologicamente, são usados
como catapultas de autopromoção de sujeitos que olham para a política como a
galinha dos ovos dourados. Pouco importa o partido, se há espaço para a
projeção pessoal, o sujeito se atrela como craca em parede de navio.
Para quem sabe
lidar com um contexto de percepção da opressão estrutural brasileira, gritar
aos quatro cantos que toda a sociedade é culpada da sua condição de uma
determinada desigualdade nominal, por exemplo, o racismo, poderá ser um
excelente estratagema, sem precisar se comprometer com nenhuma plataforma
política e tampouco com a realidade, exceto com o próprio ego.
O discurso da
vitimização seduz e auxilia a burguesia em um momento histórico no qual ela
aposta as suas fichas em novos gerentes dos seus interesses. Diante da
fascistização do discurso social, a representação performática das identidades
neoliberais e o neofascismo ultraliberal, aparentemente são grupos antagônicos,
mas operam com os mesmos estratagemas na defesa do discurso neoliberal e a uma
projeção de falsos moralismos. No espetáculo da miséria da política, um Brasil
afunda sem encontrar o solo para ser
amparado.