domingo, 11 de janeiro de 2015

O fim do “walfare state” e o terror: Um show de hipocrisia em meio aos atentados em solo francês.



Em meio à comoção do atentado à redação da revista francesa Charlie Hebdo, uma manifestação histórica estimada, com números mais otimista, de quase quatro milhões de pessoas contra o fantasma criado pelas próprias elites européias e estadunidense, a "islamofobia", ocorreu neste domingo, 11 de janeiro, em Paris e arredores.

É bom recordarmos que partidos de centro-direita com ares fascistas, sob a forma de uma onda conservadora reacionária, vem inflamando ódio nas ruas, no submundo do pseudo-jornalismo e nas redes sociais, nos últimos anos, contra tudo que seja não-europeu, hostilizaram povos, religiões e nações em meio a uma gravíssima crise econômica engendrada a partir do final da primeira década de 2000. Não existe mistério quando há dilemas entre a fabricação de pão ou canhões e, por sua vez, a escassez de recursos para ambos. A prática política vem de mãos dadas com a economia imediata, portanto, com a rarefação da pujança econômica, os governos europeus deixaram de lado os constrangimentos eleitorais e partiram para adoções de políticas neoliberais diluindo o "walfare state" europeu, a política de bem-estar social tocada pelo modelo da social-democracia (levando em conta as pressões dos partidos de esquerda e sindicatos organizados de diferentes categorias de trabalhadores).

O coro dos abutres ecoou, vicejando o pragmatismo e o sentido umbilical do auto-interesse que tomou conta do imaginário popular europeu após a desconstrução dos tempos de sonho do “walfare state”. O momento foi capitaneado pelos partidos mais extremos do espectro político, canalizando a insatisfação popular e, do outro lado, as esquerdas progressistas cada vez mais imóveis e fragmentadas (muitas vezes, chafurdadas em antros de corrupção e descrédito eleitoral). Neste sentido, os próprios eleitores franceses conduziram ao poder o partido de extrema-direita, o famigerado fascista “Frente Nacional”, de Jean-Marie Le Pen e sua filha Marine, igualmente fascista, com considerável número de cadeiras no Parlamento Francês. Como uma espécie de catalizador visceral de insatisfação imediatista e narcísica, a cada eleição a Frente Nacional vem se consolidado como grupo político de forte adesão dentro da sociedade francesa.

Soluções mágicas e imediatistas são especialidades natas de grupos de extrema-direita e fascistas para ludibriar partes de uma multidão desconcertada e pontualmente sedenta para achar “culpados” pela própria derrocada material. Na crise, nada melhor que culpar o “outro”, ou seja, nada tão simplório e catastrófico. Nada é tão inocente ao ponto de fazer crer que tudo é obra do acaso e do “Grande Mal” que tais grupos de irracionalidade fascista tentam personificar na religião do Islamismo em meio a mais uma crise sistêmica da maquinaria capitalista mundial.

Hoje, mesmas elites que fomentaram guerras, xenofobias e insanidades que redundaram na capitalização de jovens nativos europeus com tendências perversas e destrutivas por parte de facções terroristas tem a cara-de-pau de ficarem abraçadinhos em praça pública em meio a desgraça acometida com a morte dos jornalistas e cartunistas da revista Charlie Hebdo. Vale ressaltar que os ataques partiram de dentro do seio social francês, cujos membros executores do atentado a revista foram cooptados na liturgia insana do terror niilista e a falta de horizonte perceptível dentro da própria sociedade francesa.

Diante da crise, a Europa ficou “pequena” para sustentar todo o custo social do lamaçal que se meteu adotando, cada vez mais, medidas desestruturantes neoliberais. A hipocrisia é a rainha da mentira e da falsidade. O grupo político que sustenta a União Européia goza de uma avassaladora hipocrisia que apenas tenderá a aumentar a dispersão dos ódios e recalques racistas e xenófobos na França, e por extensão, toda a Europa. Se existem grupos e células terroristas espalhadas pelo mundo, é necessário ressaltar a responsabilidade das Grandes Potências que foram (e continua sendo) direta ou indiretamente responsáveis por suas criações, manutenções e dispersões pelo globo. De forma circense, hoje em Paris, estas mesmas lideranças se abraçam perante os holofotes midiáticos e fingem que não sabem de nada e que nada é de suas responsabilidades.  

A tática do "quanto pior" e a "judeufobia" foi praticado pelo grupo liderado por Adolf Hitler e seu Partido Nazista, entre os anos 1920 e 1930, quando em 1933, o próprio assumiu poder democraticamente na Alemanha e, posteriormente, deflagrou a continuação mais sanguinária da Primeira Grande Guerra. Apostar no medo e na irracionalidade social é o passaporte assegurado para a barbárie que tanto a Europa provou seu trágico odor. Histórias macabras como o atentado a Charlie Hebdo estará longe de terminar e apenas colocam mais pólvora no barril armado pela crise estrutural no coração do histórico capitalismo mundial, o Velho Continente, e cujo mote, atualmente, é a falsa armadilha do apocalipse hollywoodiano entre Ocidente e Oriente. 

Neste jogo idealista senil entre Ocidente contra Orienta, é mais uma arma que reacionários da extrema-direita e fascistas querem usar e estão ansiosos para recolocarem  o mundo em mais uma insana corrida armamentista e banho de sangue gratuito contra as populações mais frágeis. A História não é cíclica, mas é recheada de fatos e circunstâncias similares com resultados catastróficos.

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