É assustador como a epidemia identitária vem se alastrando dentro das universidades, transformando as tais "pesquisas culturalistas acadêmicas" em um simulacro anêmico fetichizado: a invenção de um Brasil como um medíocre espelho racial estadunidense.
Para invejar qualquer revisionista da Extrema Direita, estamos com o suadouro da febre do revisionismo das imaginações identitárias tão patéticas que seus arautos, embriagados de falsa preocupação social, esquecem que o velho motor da História são suas determinações econômicas e não, simplesmente, um ingênuo e farsante "binarismo racial".
Em mais um folhetim que sai das editoras de olho na lucrativa "onda identitária", acusam a "burguesia paulista" de "alimentar a branquitude" na sociedade. Como assim?
Nada mais patético reduzir os interesses dos capitalistas da nascente São Paulo industrializada, do início do século XX, meramente, ao fator racial. Uma burguesia paulista que tinha, até mesmo, desejos separatistas com o advento do levante frustrado da "Revolução de 1932", frente ao governo da ditadura de Getúlio Vargas.
A miséria, indistintamente, foi sempre um fator essencial para separar as classes sociais. A frágil "mobilidade social" que, por sua vez, carrega, entre outros, elementos raciais, sempre ditou os ritmos culturais e moralistas das sociedades capitalistas e, por sinal, não o seu inverso!
A mudança de patamar social insere o sujeito em uma "nova cultura" e os seus valores são moldados não apenas por determinações econômicas, mas interesses de classe. O revisionismo culturalista identitário opera, mecanicamente, por um simulacro caricatural, levando suas conclusões inverossímeis a invocar, sempre, genéricas determinações de uma ficcional identidade.
O sedutor revisionismo da fabricação de identidades visa apagar as determinações da dinâmica do capitalismo tardio brasileiro. Portanto, se trata de uma rasteira tentativa de obscurecer o conhecimento da História e ludibriar seus desavisados leitores que estão, atualmente, consumindo um paiol de entulho identitário na esteira da onda culturalista neoliberal.
Todavia, a falta de materialidade que sustente os delírios revisionistas inviabiliza qualquer robustez argumentativa. Logo, mais um livro que se reduz a uma bricolagem desnecessária que talvez sirva, ao menos, como um prosaico e burlesco roteiro de novela televisiva.
(Wellington Fontes Menezes)
👆 Para saber mais: https://jornal.usp.br/cultura/livro-revela-historias-que-sao-paulo-deixou-de-contar/
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