A maior potência bélica do
planeta escolherá seu novo gerente majoritário. De um lado, o canastrão
bilionário Donald Trump tentará sua reeleição, cuja administração está marcada
na história, como a causadora do maior desastre sanitário, devido à negligência
governamental com relação aos riscos oriundos da pandemia do novo coronavírus.
Do outro lado, quase octogenário Joseph "Joe" Biden,
ex-vice-presidente de Barack Obama, que tentará ser o novo presidente de uma
potência em franca decadência.
Tanto o republicano Trump, quanto
o democrata Biden, tem em comum serem velhos ricaços que falam para o seu
público, o velho dito da "América para os americanos". Nos debates
televisivos, a senadora afro-americana Kamala Harris, vice de Biden pareceu ser
mais proeminente do que Mike Pence, vice de Trump. Tal qual no Brasil e no protagonismo
dos vice-presidentes na história, em casos de presidentes anciãos, o vice se
projetará ao poder. Um fato que não pode ser descartado nesta tumultuada
disputa eleitoral.
Os interesses estadunidenses no
globo se ampliaram com o seu crescimento econômico consistente e colossal.
Lembrar que, até o final do século XIX era provinciana política estadunidense,
a qual passou a operar em uma lógica que a tornou maniqueísta, durante o
ingresso do país na Primeira Guerra Mundial: o mundo, então, se divide em dois,
os americanos e seus interesses globais e os outros. É importante ressaltar a
guinada colonialista dos Estados Unidos no século XX e sua supremacia como
potência militar após a Segunda Guerra Mundial.
A guerra fria travada com a
antiga União Soviética aperfeiçoou substancialmente o seu parque industrial
bélico e ampliou a demanda por domínios coloniais, seja do ponto de vista
econômico, seja do ponto de vista ideológico. Isto inclui também interesses
geoespaciais com investimentos pesados no ramo astronáutico.
Para os entusiastas do modelo
democrático estadunidense colocando-o como um totem da história, ao estilo de
Francis Fukuyama, é importante estar atento. A arquitetura do regime
estadunidense é para consumo próprio, ou seja, para os interesses das
burguesias locais. Para quem está situado ao lado dos "outros", logo,
o resto do planeta não-estadunidense e que não faz parte dos interesses de
Washington, não adianta ter delírios sobre a "democracia americana":
ela é bem clara, ela serve somente aos estadunidenses!
Em meio às eleições, a pandemia
do novo coronavírus se aproxima dos 240 mil mortos e 10 milhões de contaminados,
em números acumulados com COVID-19 em solo estadunidense. Em um clima eleitoral
dos mais disputados e confusos da história recente dos Estados Unidos, Trump já
se antecipou e fez declarações sobre sua indisposição em deixar o poder, caso
seja derrotado em sua escalada na busca de novo mandato. Fato inédito na
história institucional da orgulhosa "grande democracia da América". Alguns
de seus apoiadores com perfis psicopatas estão armados, os chamados
"supremacistas nacionalistas", ou seja, milicianos fascistas
integrantes de grupos de extrema direita estadunidense, estão dispostos a
entrar em combate em nome de Trump. Nunca a democracia estadunidense esteve tão
ameaçada ao ponto de se assemelhar a um esboço cinematográfico de guerra civil
em tempos recentes!
Na onda identitária do cínico
"politicamente correto" estadunidense, tem-se as contendas raciais
entre brancos, afro-americanos, mestiços, amarelos... Os nascidos na América,
ou convertidos pelo "green card", podem se matar no plano interno,
porém se o assunto é o patrocínio de golpes de estado e destruição de países
alheios, suas lideranças estão juntas! Se "vidas negras importam",
leia-se, "vidas americanas importam", o que vem, além disso, é mera
demagogia produzida por Hollywood, para criar a imagética de uma "potência
cordial e cidadã do mundo".
Para o Brasil, embriagado com a
insensatez genocida de Bolsonaro, o cenário pouco se alterará com a eleição de
qualquer um dos dois postulantes. O país entrou em uma política suicida de
subserviência nunca observada na sua história. Os interesses de Washington se
tornaram os próprios interesses automáticos da turma de Bolsonaro, com o seu
vira-latismo ensandecido e irresponsável. Na gestão de Bolsonaro, a matriz das
relações exteriores brasileira, o Itamaraty, se tornou uma espécie de embaixada
dos interesses da Casa Branca. É inacreditável o nível de promiscuidade
presente nas bolorentas políticas de relações exteriores brasileira na gestão
catastrófica de Bolsonaro.
Nos próximos dias que se
estenderão por meses, haverá um processo de ampliação da tensão política nos
Estados Unidos. Ao contrário das principais democracias mundiais, o processo
eleitoral estadunidense é uma roleta russa, cujo resultado nem as principais
pesquisas eleitorais conseguem captar com certeza mediana. O processo eleitoral
é lento, caótico, ultrapassado e poderá até distorcer a vontade popular,
resultando em confusões gritantes, tal como ocorreu na primeira eleição de
George, o controverso filho do ex-presidente Bush, que, mesmo perdendo na
votação da população, diante de um cenário conturbado nas eleições de 2000,
ganhou no Colégio Eleitoral.
Outro exemplo catastrófico da
distorção proporcionada pelo sistema eleitoral dos Estados Unidos deu margem ao
triunfo de Trump. As pesquisas eleitorais mostraram um cenário o qual daria
vantagem à então democrata Hilary Clinton, em disputa com Trump, em 2016. Após
os votos apurados, se confirmou a vantagem popular para Hillary que ficou com
48,18% dos votos válidos contra 46,09% de Trump. Contudo, no Colégio Eleitoral,
a situação se inverteu, Trump foi consagrado vencedor com 304 votos, contra 227
de Hillary. Isto se dá pela representação dos estados na federação que compõe o
intrincado sistema político dos Estados Unidos onde alguns estados tem mais
representatividade política do que outros. A composição do Colégio Eleitoral
representa este mosaico distorcido entre o voto da população e a sua
representatividade.
Brigas internas, escândalos sobre
fraudes eleitorais, contendas políticas buscando ser resolvidas no braço pelas
ruas, judicialização das disputas eleitorais, negação dos resultados da eleição
pela parte vencida e clima de golpe de estado, são exemplos que contribuem para
um "caldo de cultura" destrutivo que os Estados Unidos fomentam e
ofertam ao mundo, ao longo de sangrentos anos, em especial, aos países
latino-americanos.
Agora, como se vê, "o
feitiço está se voltando contra o feiticeiro", tudo no formato de uma
dantesca tragédia ao estilo hollywoodiano e sem direito ao Oscar.
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