Após hollywoodiana ansiedade
do desconexo processo de apuração de votos, a noite deste sábado, 07 de
novembro, registrou o primeiro discurso do democrata Joe Biden como presidente eleito nas urnas. Conquistando os votos dos chamados
"estados-pêndulos" (sem uma direção sistemática para qual seus
eleitores votam, seja democrata ou republicano), Biden assegurou os votos
necessários para a conquista do Colégio Eleitoral. Por sinal, desde o dia
oficial do início da votação em 03 de novembro, diante de um sistema eleitoral
confuso e ultrapassado, ainda não foram contabilizados os votos integralmente
devido aos votos provenientes do correio. Nos Estados Unidos, há uma tradição
singular que o eleitor pode fazer uso do mecanismo do voto pelo correio!
Com mais de 75 milhões de votos assegurados, um recorde histórico, em tom conciliador, centrado e conservador, Biden fez seu primeiro pronunciamento com otimismo e agradeceu aos familiares, seus apoiadores de campanha e exaltou a sua vice-presidente, companheira de chapa, Kamala Harris. Foi mais protocolar do que a situação exigiria, mas Biden sempre foi da cepa conservadora do Partido Democrata.
Ciente que o processo eleitoral acirrado aprofundou as rachaduras imanentes na sociedade estadunidense, Biden afirmou que irá trabalhar para unir o país e será o presidente de todos os estadunidenses, independente de quem votou nele. Um recado explícito para tentar acalmar os ânimos dos eleitores mais afoitos e agressivos do derrotado extremista, Donald Trump. Por falar do atual presidente que fracassou nas urnas na sua tentativa de reeleição, Trump ainda não reconheceu sua derrota e afirmou que irá entrar na justiça contra a contagem dos votos. Além de um chauvinista canastrão, Trump é incapaz de reconhecer seus erros e derrotas, expondo o seu país aos vexatórios abalos institucionais!
Buscando pela prudência, a razão científica e humanitária, Biden lembrou dos mortos pela COVID-19 (o país é o atual campeão mundial de contaminados e com 240 mil mortos) e prometeu ação enérgica para conter a pandemia, assim que assumir o seu mandato, em 20 de janeiro de 2021.
Biden sabe que herdará um império em franca decadência e, drasticamente, piorou com herança da desastrosa administração Donald Trump. A perda de liderança ficou exposta na crise da pandemia do novo coronavírus a qual Trump se limitou ao papel obscurantista e irresponsável de negar a gravidade dos fatos, ter ações atabalhoadas para enfrentar a situação catastrófica, espalhou mentiras até mesmo por via do seu Twitter pessoal, comprou briga com governos locais que buscavam conter a doença e se confrontou sistematicamente com a direção e os cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O tom do discurso de Biden foi de um retorno ao "orgulho americano" e de um futuro presidente que fará de tudo para reconstruir o protagonismo derretido internacionalmente do seu país. O mundo está bem diferente de quando os Estados Unidos se mostraram como astutos "grandes vencedores" da Guerra Fria com a diluição da antiga potência-rival, a União Soviética, no início dos anos 1990. Em um planeta multipolar com a China, a Rússia e a União Européia como consolidados líderes regionais e globais, o planeta está cada vez menos dependente da influência política e econômica dos Estados Unidos.
O mandato de Biden será decisivo para o futuro do império estadunidense e quais as relações efetivas que os Estados Unidos farão com o planeta. Não adianta nutrir grandes ilusões: Biden foi eleito para governar em prol dos estadunidenses e será para o seu país que os interesses se voltarão no complexo tabuleiro da política internacional. Traduzindo em linguagem usual: o que será bom aos Estados Unidos não significará, necessariamente, que será bom para o mundo.
Nada é tão simples neste lamaçal que se transformou explicitamente a democracia estadunidense. Lembrar ainda que a extrema direita, com seus grupos milicianos armados, segue ainda bem articulada e Trump, mesmo perdendo a eleição, conquistou o fantástico eleitorado de 71 milhões de votos! A sua legião de admiradores extremistas segue com uma fé inabalável nas escrotices oriundas da boca inescrupulosa de Trump. Nada é tão trivial e não será uma eleição confusa, como a que foi registrada, que irá apaziguar a situação tão repentinamente. O fascismo e suas variantes autoritárias são como uma erva daninha, ao se destruir algum nicho reaparecerá novamente com mais vigor.
Contudo, uma nova era se abrirá nos Estados Unidos do futuro presidente Biden. Deverá ser inaugurado um momento de sutura política e institucional interna com um recuo da escalada autoritária da extrema direita liderada por Trump e, quem sabe, a possibilidade de ares um pouco mais democráticos para inspirarem as cambaleantes democracias a resistirem à tentação fascista ao redor do globo. O futuro está sempre em aberto e a História, inevitavelmente, precisará ser escrita. A esperança é sempre uma boa companheira, porém a prudência permanece como a melhor conselheira.
(Wellington Fontes Menezes)
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