Quanto
mais se estuda a história natural da COVID-19, mais são observadas as
dificuldades de se conter o seu avanço e de se avaliar as suas implicações
biológicas nos seres humanos. Conforme estudos relatados, tudo indica que o
novo coronavírus veio, de fato, para ficar, ou seja, será endêmico nas áreas
globais correspondentes aos grandes grupos populacionais, com respingos nas
áreas de menor concentração de pessoas. Assim como as variantes do vírus da
"gripe comum", o voraz coronavírus Sars-Cov-2, causador da COVID-19,
ficará circundando o nosso cotidiano, sem desaparecer!
A
esperança da humanidade de se livrar do novo coronavírus se restringirá à uma
vindoura vacina eficaz que imunizará, por tempo prolongado, o contingente
populacional humano do globo. No momento, várias vacinas estão em fases de testes
em estágios variados de desenvolvimento. Apesar do esforço para abreviar o
tempo de preparo de uma vacina, ainda é incerto dizer se realmente terá sido
elaborada uma com a desejada eficácia imunizadora e, importante ressaltar, de
forma mais duradoura.
As
aberturas comerciais prematuras e irresponsáveis vêm se mostrando catastróficas
nas grandes economias. O exemplo mais notório são as principais cidades
europeias que receiam uma “segunda onda” de contaminação pelo novo coronavírus,
assim como ocorre em regiões da China e de alguns países asiáticos. Vice-campeão
mundial em número de mortos derivados da contaminação pelo novo coronavírus, o
Brasil é o vergonhoso exemplo genocida mundial de uma abertura completamente
irresponsável das áreas comerciais e convive com uma média diária acima de mil
mortes em decorrência da COVID-19.
Não
há segredo quanto à forma padrão de contaminação pelo Sar-Cov-2: a circulação
de pessoas leva proporcionalmente à enorme circulação do vírus. O desejo de
lucro imediato do capital insaciável ignora a pilha de mortos já contabilizada
e está levando a novos casos de contaminação pelo vírus e, consequentemente,
elevando o número de vítimas fatais e criando um ciclo vicioso, difícil de ser
interrompido sem medidas de isolamento e distanciamento sociais mais drásticas.
Não
há solução mágica diante da maior crise sanitária global de todos os tempos.
Apesar dos protestos de impaciência de patrões ávidos por lucros, ignorantes
performáticos e negacionistas sociopatas de plantão, ainda as medidas de
isolamento social (confinamento residencial), combinadas com o distanciamento
social (distância segura entre duas ou mais pessoas) são os melhores meios de
prevenção da doença devido à rapidez incessante do contagioso vírus.
O
falso dilema que se instalou durante a pandemia foi de um sadismo feroz: doença
ou emprego? Patrões buscaram, a todo o momento, sabotar o isolamento social
para colocar uma faca no pescoço dos trabalhadores para que eles retornem aos
seus empregos sob a ameaça explícita de demissões em massa. A desculpa básica
foi que a paralisação das atividades econômicas, ou seja, o emprego de
“lockdown” (fechamento por completo) e as medidas parciais de restrição de
circulação afetaria toda a sociedade. Empresas gigantescas diziam ao mundo que
uma parada temporária de alguns dias colocaria em risco a sobrevivência delas.
Parece inverossímil que empresas bilionárias não conseguissem resistir à
algumas semanas de paralisação de suas atividades e, desta forma, colocavam tal
poderio econômico como se fossem meros botecos ou padarias de esquina!
Todavia,
justamente são os pequenos comerciantes e os trabalhadores que vivem do setor
de serviços os mais afetados economicamente com a pandemia. Para eles os
governos deveriam dar subsídios para que possam atravessar o período de
inatividade produzida pelas restrições de circulação devido à pandemia. As ações
de apoio econômico emergencial para os trabalhadores e a população socialmente
vulnerável são fundamentais para o êxito da prevenção da doença e para dar
adesão social às medidas restritivas de circulação. Ademais, a higienização com
álcool e derivados do cloro ajuda na limpeza e desinfecção, além do uso massivo
e obrigatório de máscaras e protetores faciais.
Diante
da pressão dos patrões, diversos governos tiveram a dura missão de tentar fazer
um ajuste entre medidas sanitárias restritivas e abertura econômica. No geral,
o que aconteceu foi uma política de controle seletivo que pouco foi ajustada à
realidade, perante o combate ao novo coronavírus. No caso brasileiro, o governo
de Jair Bolsonaro nunca levou a sério a pandemia e o resultado tem sido
catastrófico. A resposta à crise de Bolsonaro foi debochar diariamente da
pandemia e ignorar a pilha de mortos que se avolumou tão velozmente, chegando
aos dias atuais ao genocídio de 100 mil vidas desperdiçadas! Os poucos êxitos
perante a crise da pandemia foram operacionalizados por governadores de olho
nas próximas eleições e prefeituras locais. O “lockdown”, na prática, quase não
existiu na esmagadora maioria das cidades brasileiras mais afetadas pelo
contágio. Sem uma política conjunta e clara a respeito do combate ao vírus, o
cenário foi alarmante: praticamente todas as cidades brasileiras tiveram algum
nível de contágio, chegando ao patamar de três milhões de contaminados na
primeira semana de agosto, em números oficiais.
Dentro
de todo o cenário descrito, mais uma crise do capital se instala no meio da
pandemia. Possivelmente tão mais letal que a última, no final da década de
2000. Quem pagará a nova conta da catástrofe intrínseca nas estruturas do
capital? Certamente não deverá ficar no lombo dos trabalhadores. Entre outras
medidas, é urgente a taxação dos intocáveis bilionários que ficam cada vez mais
ricos, diante da miséria alheia. Não será uma única medida que saneará todo o
contingente de necessidades estruturais que minimizarão as inacreditáveis
disparidades sociais globalizadas, mas é inaceitável que milhões morram para
dar sustentação a um minúsculo punhado de parasitas do capital, nutrindo-se da
desgraça social. A marca da macroestrutura do capitalismo é sua metamorfose e,
em meio a uma pandemia, seu estratagema é se alicerçar em sua fase genocida,
onde corpos não significam nada diante dos lucros que não podem parar com sua
sangria ávida, através da ação avassaladora do capital.
A
devassidão do capital é maior do que qualquer pandemia. A unidade se faz pelo
conjunto e não pelos filetes da fragmentação social. Mais do que atiçar
questões sobre a subjetividade de flutuantes identidades e operacionalidades de
um narcisismo do gueto, com ressonâncias de inúteis polêmicas midiáticas, a
agenda que precisa ser retomada, pelos setores progressistas, contra o avanço
da devastação capitalista na pandemia, é o retorno da luta de classes e o
sentido de batalha incessante pela sobrevivência frente à voracidade do capital.
Passamos por um momento histórico que demonstrará a nossa capacidade de resistência racionalizada e responsável diante da pandemia, ou o escancaramento da pulsão de morte que levará milhões de vítimas diretos ao cemitério. Neste cenário perturbador, as urgentes respostas governamentais levarão a salvar vidas, ou ceifá-las, diante de uma tragédia amplamente anunciada. Não haverá alternativa e será imprescindível lutar por ela: a escolha pela preservação da vida deverá ser eternamente a meta prioritária da humanidade.
(Wellington Fontes Menezes)
Excelente texto....esse falso dilema entre a doença e o emprego tem 90% de responsabilidade daquele fascista que foi eleito por outros fascistas e/ou ignorantes. Apesar das atitudes de prefeitos e governadores terem como pano de fundo as eleições, foi o que ainda deu uma segurada no escancaramento da liberação geral de comércio e serviços desde o início da pandemia. Agora a responsabilidade ficou por conta de nós, cidadãos comuns que ainda podem fazer o isolamento social para poder preservar a própria vida. Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirTexto Muito bem elaborado Wellington. Infelizmente Jair Bolsonaro prefere fechar os olhos diante dessa situcacao catastrofica,o que deixa o Brasil com esse é numero alarmante de mortos e infectados.
ResponderExcluirMuito bom Welington, parabéns
ResponderExcluirParabéns pela brilhante argumentação
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