sexta-feira, 3 de julho de 2015

Por que uma mulher incomoda tanta gente?


São da natureza humana a agressividade e o ódio canalizados para as ações mais primitivas e grotescas. Séculos de uma busca de consolidação da civilidade ainda não permitiu que as histerias grotescas, as perversões e o desejo pulsional do ódio possam evaporar dos grupos sociais e do próprio indivíduo.

Dois exemplos que chamaram a atenção nos últimos dias nas redes sociais, o espaço de ódios pulsionais por excelência na pós-modernidade digitalizada. O primeiro foi o adesivo para carros que trazia como estampa a presidenta Dilma Rousseff numa posição de coito cuja região genital coincidia com o orifício para a abertura do tanque de gasolina. O segundo caso é o linchamento público nas redes sociais da nova jornalista, Maria Júlia, que apresenta as condições climáticas do global Jornal Nacional. Qual o crime dela e que despertou tanta revolta entre homens e mulheres? Ser negra e, além disto, utilizar-se o par do ódio: mulher e negra.

É mais do que necessário compreender a "política do ódio" que vem se aplicando por parte dos setores mais conservadores, fascistas e reacionários da sociedade brasileira, em especial, que utilizam dos meios de comunicação para induzir o que mais de primitivo tem na sociedade: a intolerância agressiva e odiosa.

Quanto gozo é exalado por alguém que enche a boca em público para xingar uma mulher como "vagabunda", "prostituta", "safada", "imunda", "macaca"...? O gozo libidinal do sujeito serve como descarga emocional para suas frustrações e revela o que tem de pior em seus medos: o pavor do outro e, mais ainda, o pavor de ser também o seu objeto de gozo fazer semblante para seus temores.

Para um exemplo prático e tragicamente ilustrativo. Os soldados de Hitler adoravam fazer sexo com "judias vadias" ao mesmo tempo em que mandavam outras judias serem incineradas vivas em campos de concentração. O gozo de destruir o objeto de prazer é também o gozo de se fundir a ele, em busca da totalidade do prazer do sujeito perverso e destrutivo. Assim também funcionam os mecanismos de gozo de soldados que invadiam aldeias, vilarejos, cidades e estupravam todas aquelas que faziam semblante de mulher. O inimigo com vagina potencializa todos os ideais fantasiosos dos soldados e que autorizaria a eles utilizar do sexo e da humilhação atos de bravura e descarga de poder fálico.


É mais do que necessário que a sociedade que não compactue com a barbárie imponha limites drásticos contra o jogo perverso dos perversos, de todos aqueles que flertam com atos e atitudes fascistas e daqueles que gozam na destruição do seu objeto de gozo. Não é ético ser tolerante aos intolerantes sob pena de agir como eles, ou seja, ser conivente com os perversos não tornam os não-perversos menos perversos. Do conforto da passividade nasce a a autorização para a barbárie. 

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