sexta-feira, 4 de abril de 2014

Extremismos e nacionalismos: o eterno desejo do "Pai da horda"




A construção de grupos humanos é, grosso modo, um agregado de idealizações, paixões, necessidade de sobrevivência e espírito de coletividade. Todavia, não elementos pouco triviais e que dependem de uma série de pressupostos de difícil execução real. O desejo por organização se dá sempre quando crises batem a porta e há a interdição de privilégios ou mitigação de propriedades que são vitais para a sobrevivência.

Os nacionalismos nascem no ideal de encontrar elementos que “fecham” um dado grupo, que reivindicam para si o direito de serem “melhores que os outros” e assim poderem atuar e justificar suas ações, muitas vezes, de forma truculenta e genocida. O final do século XIX e o longo de todo o século XX tivemos mostras de como grupos humanos podem conduzir a catástrofes humanas em nome de supostos ideários nacionalistas. 

Teorias nacionalistas e extremistas dão falsos suportes tecnocientíficos para governantes e governados se justificarem perante suas consciências e suas religiões. A eugenia, pseudociência criada no final do século XIX deu bases “científica” para teóricos do fascismo e nazismo fomentarem suas teses sobre raças superiores e inferiores. O fascismo é a condução do velho ideal mítico do “Pai da horda” lembrado por Sigmund Freud em “Totem e Tabu” (1912/13), o Estado como provedor absoluto das necessidades humanas cujo emblema foi enfatizado por Bendito Mussolini, seu executor-mor na Itália fascista: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”. Sendo assim, temos que fazer referência da difícil tarefa de distinguir o que é natural do ser humano e o que é cultura.

 A questão da escalada nazista na Alemanha, onde o país se via mergulhado em profunda crise durante a República de Weimar (1919-1933), em parte, devido aos pesados saldos de indenizações da Primeira Guerra, mostrou o quanto uma nação humilhada, com classes ociosas e famintas, com orgulho ferido e sedento de vingança pode produzir figuras emblemáticas, oportunistas e autoritárias que conduzem um grupo social a um dado ideal. 

A queda de república alemã foi um sintoma de crise aguda do parlamentarismo da época. Não seria possível a ascensão do Partido Nacional-Socialista de Adolf Hitler ao poder, em 1933, sem o maciço apoio do povo alemão, desejosos de mudanças radicais para a ordem, progresso e a disciplina da “nação ariana” (a tese da ação positivista de linearidade da História fomentado por Auguste Comte). Os nacionalismos também são estruturas de auto-reconhecimento e que dá uma maior significação e valorização de um grupo social. 

Mesmo com ventos mais democráticos e de bonança, há grupos que são sempre simpáticos as ditaduras, seja ela de qualquer espécie e corrente política, por fazer um cálculo econômico muito simples, no que tange o trade-off “liberdade e segurança”: abrir mão da liberdade, por um quinhão de segurança (leia-se: ordem, progresso e comida). Naturalmente, em épocas de crise econômica, tais grupos são mais histridentes e buscam ser mais persuasivos com suas retóricas que atingem dois “órgãos vitais” dos seres humanos: a boca e o bolso. 

Neste sentido, podemos entender as leituras de Maquiavel e Hobbes, como elementos fundantes para uma ordem dentro de uma “desordem”, ou seja, um estabelecimento de um contrato social draconiano e com o monopólio da violência (lembrando aqui, Max Weber). Rousseau, Locke e Marx, são pensadores que buscaram apaziguar tal modelo introduzindo maior liberdade para os cidadãos e abrandando os extremismos reacionários, sendo que o próprio Karl Marx acreditava numa “ditadura do operariado”, mais descentralizada de poder e com autogestão da produção. Suas teses marxistas foram retomadas com outro olhar que permitiram várias experiências que recaíram em sangrentas ditaduras esquerdistas.  

Apesar de duas guerras mundiais destroçarem o Ocidente mais “culto e educado” (a aura do “esclarecimento europeu”), ainda temos na própria Europa os locais de maior efervescia étnico-político-cultural.  A própria ex-União Soviética comunista saiu de um nacionalismo estalinista para cair numa Rússia liberal guiada por um controle centralizado do ultranacionalista Vladimir Putin, em sua “democracia à russa”. 

Possivelmente, o mito do “Pai da horda” freudiano vai para além da cultura e poderá se manifestar de forma atemporal “naturalizável” na construção societária dos grupos humanos.      

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