A Pós-modernidade, como novo
marco referencial dos elementos “modernos” do mundo ocidentalizado, é a
desertificação das estruturas e a tentativa de solidificar as possibilidades,
por mais improváveis que elas possam ser ou parecer, cujo efeito mais nítido
foi à porosidade realizada no interior das ideologias. Na crise instaurada pelo
descolamento da Política perante a realidade (resgatando aqui o conceito de “realpolitik”) e o esfacelamento das ideologias,
amplamente de origem mais a esquerda do espectro, é sintomático à confusão
dentre meios e ações ao buscar se resgatar o protagonismo do indivíduo na ação política.
No meio das ações dos protestos
de inverno, o país sentiu um respiro do protagonismo do protagonismo de muitos
cidadãos, sob a forma de demandas genéricas ou pontuais, assistidas pelos
protestos de inverno. Todavia, na rabeira da onda catártica reivindicatória que
eclodiu exponencialmente no Brasil em poucas semanas, também se viu surgir elementos
obscuros e anti-democráticos que pareceram como forma de subproduto dos esgotos
ideológicos e oportunismo sociopata.
O esquerdismo mais radical,
sempre padecendo de visão mais lúcida do mundo, hoje parece ser sintomático que
para se agir contra a direita, se apela a qualquer coisa, mesmo que esta
“qualquer coisa” é uma “coisa” tipicamente de direita. Curiosamente, um
relevante mídia que se autointitulam “esquerda”, sempre tão crítica da mídia
“da direita”, aplaude posturas tipicamente da direita e as quais sempre
criticaram, tais como o vandalismo de grupos fascistóides como o tal “Black
Bloc” (até o nome é um clichê gringo para quem tenta se fingir tão
nacionalista!), ou algumas “mídias alternativas”, como a tal “Ninja”, que mais
parece algum rescaldo regurgitado do mambembe “Aqui Agora”, programa popularesco do
SBT, no início dos anos 1990, que pretendia reproduzir a “vida real” nas telas,
cujo slogan era: "um jornal vibrante, uma arma do povo, que mostra na
TV a vida como ela é!".
Na falta de idéias, apela-se a
violência fascista e irracional no atual momento “politicamente correto” e que
nada pode ser dito contra os hormônios juvenis que se escondem covardemente sob
a forma de uma sociopatia criminosa. É certo que em momentos históricos de
idéias curtas e cegueira compulsiva, qualquer coisa parece ser válida para
tentar tapar o buraco do vazio existencial, inclusive o viés fascista na
tentativa de se impregnar em uma democracia autoritária.
Assim segue o romanceiro
beneplácito da violência gratuita e banalizada: o aplauso da violência com
lastro de uma suposta “performance política”. Chega a ser risível tais
analogias grandiloquentes e altamente questionáveis na falsa formulação de quem
tenta colocar um mínimo de estofamento “idéario” para quem não tem ideal algum
(aliás, é no niilismo sociopata de intolerância e a negação da política que se
nutre a ação violenta de tais elementos). Tratar elementos fascistóides como
"heroizinhos do anti-capitalismo" é o mesmo que aplaudir as ações violentas
do crime organizado que atacaram as bases da polícia militar e prédios públicos,
em São Paulo, ou mesmo aplaudir a violência bestializada das torcidas
organizadas de futebol. Em ambos os casos, é perceptível a mesma estratégia de
promover atos de barbárie em nome de suas causas, o PCC em nome de seus “empreendimentos
comerciais nutridas pelo narcotráfico” e as torcidas em nome da pancadaria gratuita na suposta “defesa” da
hora dos seus times. Já as viúvas negras escondidas pelo anonimato de grupos
fascistóides, bem, nem eles mesmos sabem as razões do uso da testosterona em
praça pública, mas o importante é interditar a democracia via vandalismo
generalizado e posar como “heróis pátrios do apocalipse”.
As esquerdas progressistas não
pode acreditar nesta masturbação retórica que beira o cinismo dos que pregam a
violência fascistóide como “atuação política” e não será com pirotecnia no
circo que ganhará simpatia e apoio da população. O discurso da violência apenas
serve para arregimentar mais violência, tanto dos manifestantes quanto das
forças policiais. O resultado é amplamente conhecido e não tem como ser negado.
Do que se trata a tal “performance
política” alardeada pelo vandalismo gratuito
e banalizado? É muito fácil se esconder os belos rostinhos em máscaras infantojuvenis, ficar brincando no Facebook de “deuses das trevas”, atear fogo e sair correndo. Quanta “tática”
inteligente conta o grande vilão, a “polícia”! Duvida-se que se furtado o
aparelho de som do carro de qualquer um dos mesmos mascaradinhos, vão logo
correndo com toda a indignação cobrando ações enérgicas das autoridades
policiais pelo tal furto. “O que vale para os outros, não vale para mim e
vice-versa”, eis uma velha máxima da retórica do jeitinho brasileiro. O
fascismo é a arquitetura do cinismo humano em estágio mais puro e irracional. Nenhuma
democracia que pretenda ser livre e sólida deverá tolerar o fascismo como
“opção política” de grupelhos sociopatas, sob o risco de se contaminar com as
bactérias nefastas da intolerância radicalizada e estúpida.
As crises do capitalismo são
fases do mesmo processo de sua estrutura. O que é mais difícil é propor
alternativas possíveis contra o domínio do capital. O que se torna estranho e
perigoso é a vertente de apoiar grupelhos que lembram muito mais a Juventude
Hitlerista que apenas praticam a sabotagem, a manipulação e o vandalismo como “expressão”,
como se diz agora, de forma histrionicamente contagiante, a “estratégia
estética” de imposição de suas sociopatias umbilicais contra o “grande mundo
incompreensível, feio e chato”. A força da violência banalizada ganha lastro na
turba despolitizada, agressiva e niilista que acredita que qualquer mudança
ocorrerá sob o lastro da destruição irrestrita. Todavia, é justamente o
contrário, é na impossibilidade de mudança que goza lacanianamente o sociopata
político. Quanto maior o desafio da mudança, maior será o esforço que ele, o
sociopata político, fará para não mudar absolutamente nada. É na manutenção do
status quo, via violência expelida pela testosterona, que funda o desejo do
sociopata político em se nutrir no artifício do vandalismo pretensamente insurgente.
Ao negar a democracia, tais adeptos do
vandalismo banalizado e colonizado em hordas selvagens, deseja impor sua
própria ordem, ou seja, a promoção da barbárie sob o esgotamento do ser humano
como motor político da História.
Vale salientar, que depois da
invasão das tropas da União Soviética na Berlim fragmentada e nazista, em 1945,
impondo a derrota final de Adolf Hitler e o sepulcro da Segunda Guerra Mundial,
após restabelecida a democracia, o Parlamento alemão, o Reichstag, instituiu
uma inscrição emblemática em suas paredes como forma de resgatar uma
imprescindível lição: “a melhor proteção contra o fascismo é a democracia”. Desta
forma, é importante sempre estar de olhos bem abertos, pois o fascismo, sob
suas metamorfoses ambulantes, sempre estará bem debaixo do travesseiro das
democracias dorminhocas e desatentas.
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