quinta-feira, 1 de julho de 2010

Alô FUNAI, tem muito cacique pra pouco índio! (ou Pra que serve um Papagaio de Pirata?)



Enquanto as atenções da Big Mídia correm nos gramados sul-africanos e o torcedor brasileiro assiste aflito figuras como Michel Bastos, Felipe Melo e Julio Batista destilando um relacionamento sofrível e burocrático com a Jabulani, os bastidores da política tupiniquim seguem de vento em popa. Ao estilo de Nelson Rodrigues, a “pátria de chuteiras” com os carnês em aberto das Casas Bahia permanece ganhando dribles desconsertantes da classe política.


Para a modorrenta campanha presidencial deste ano, cada dia que se passa é um festival de alianças espúrias e personalidades de laboratório. Nos sussurrantes corredores do Palácio do Planalto, os bastidores da política não levam em consideração os interesses do país, exceto os famigerados comezinhos pessoais e os olhares vultosos dos grandes interesses do capital. Depois de encarnar o espírito de Dr. Frankenstein no seu laboratório presidencial e com sua maestria exemplar, Lula impôs goela abaixo dos petistas mais resistentes a figura biônica de Dilma Rousseff para percorrer o mandato-tampão até o filme “Lula-2014: o retorno dos que não foram”.


Com tantas benesses distribuídas em quase oitos anos do governo Lula, o sempre oportunista PMDB se aliou ao PT e emplacou o seu insosso Michel Temer na chapa da companheira Dilma. Com uma multicolorida tenda circense de alianças que vai do ex-comunista PC do B ao evangélico PSC (agora monopolizado pelo evangelho oportunista do eterno latifundiário da política de Brasília, Joaquim Roriz), o PT segue firme para mais uma trajetória de poder sem o menor escrúpulo com sua história e seus antigos ideais. Há quem diga que os “ideais” são para os loucos, românticos ou recém-casados... O PT é a versão Bolsa-Família do “Labour Party”, o Partido Trabalhista do Reino Unido, cujos expoentes são a ex-promessa Tony Blair e o desengonçado Gordon Brown.


“A oportunidade faz o ladrão”, diz um surrado ditado popular. No Brasil, a eleição faz a oportuna ocasião. Depois de quase sete anos de mandato à frente do Ministério do Meio-Ambiente, Marina Silva saltou do barco e repentinamente se tornou uma opositora do governo Lula. Uma opositora “light”, melhor dizendo... De olho nas eleições, pediu divórcio do PT e foi amparada pelos braços do PV que a lançou sua candidata a sucessão do seu ex-chefe. Buscando encarnar na figura do lendário Chico Mendes e reivindicando para si o discurso ecológico do “desenvolvimento sustentável” (ou ecobusiness), Marina Silva posa como a novidade para a “mudança ecológica”, uma espécie de “Lula da Amazônia”. Para ostentar a bandeira verde do ecobusiness, seu vice, Guilherme Leal, é proprietário da Natura e dono de uma das maiores fortunas do país (situando no patamar da 13º posição no ranking dos bilionários brasileiros segundo a “Revista Forbes”).


E agora, José? Faltou o nome do ninho tucano para vice na chapa de Serra... Aliados de longa data no plano nacional, as esporas entre PSDB e DEM andavam afiadas. O nome de consenso que unia se neuroses as duas siglas era Aécio Neves. Mas como bom mineiro e pensando no próprio umbigo político, o governador tucano preferiu se "incluir fora dessa" e bateu asas deixando o desnorteado timoneiro Serra na mão.... Coisas da política sem "amabilidade! Com a vaga de vice em aberto, a disputada corrida para um novo consenso não se encerrava e os prazos que da Lei Eleitoral estavam se esgotando. Os bicos tucanos não aprovaram alguns nomes de figurinhas carimbadas sugeridas pelo DEM para o cargo. Motivo? Com as penas de molho, o PSDB receava malfadados espectros políticos que poderiam trazer problemas no futuro para campanha de Serra. Ética? Não, precaução eleitoral... Meramente eleitoral!


Nem lá, nem cá... A novela se arrastava durante semanas sem os dois lados entrarem num “civilizado” acordo partidário. Há poucos dias, a opção tucana era a chapa “puro-sangue” tucana, com o nome do senador paranaense, Álvaro Dias, com vice, o que deixou o DEM com as tamancas balançando. A estratégia tucana era clara: DEM apoia, mas sem vice! Daí veio a tal convenção partidária do DEM desta quarta-feira, 30 de junho. (Ademais, para os desavisados, “convenção partidária” é aquela bobagem protocolar que apenas serve para o que seus signatários balançarem a cabeça e dizer amém para oficializar ações previamente já delimitadas pelos caciques de plantão.)


Avidamente impondo ao PSDB o posto de vice na chama de Serra, o DEM de forma surrealista tirou da cartola (ou da oca) o nome do “ilustríssimo” deputado federal do Rio de Janeiro, Índio da Costa! Quem? Algum herdeiro do imortal ex-deputado federal, o cacique xavante Mário Juruna que transitou pelo Congresso Nacional nos anos 1980? Obra da família Maia, pai e filho, que loteia o DEM fluminense, o tal Índio da Costa foi uma forma mesquinha de dar o troco aos tucanos pela forma “deselegante” que o partido de Serra estava conduzindo a aliança com a legenda do ex-PFL. Afinal de contas, os herdeiros da famigerada ARENA não poderiam ser tratados como aliados de segunda categoria, como um PC do B qualquer.


Lambendo o limão que seu estratosférico ego plantou, Serra teve que engolir à seco um nome que provavelmente numa ouviu na vida... Aliás, "Índio" sim, mas "da Costa"?... E de onde? Se Serra não sabia de que Costa brotou ou tal Índio, muito menos a esmagadora maioria do eleitorado brasileiro! O que torna ainda mais emblemático é fato peculiar da história política brasileira que reserva ao vice-presidente ser quase um sinônimo de titularidade. Pensando de forma catastrófica, num eventual governo com Serra no poder, e pensando de forma mais catastrófica ainda o presidente tucano "parte deste plano para o além" (três batidas na madeira?), teríamos um ilustre desconhecido como presidente da República eleito como papagaio de pirata dos tucanos... Melhor ainda, "índio de pirata"! Adianto que tanto os outros “vices” das duas presidenciáveis, Michel Temer quanto Guilherme Leal são outros nomes que hipoteticamente poderiam assumir a presidência numa externalidade lamentável. Nomes absolutamente sem significado algum para a vida política nacional, sem representatividade e à tiracolo dos conchavos políticos mais rasteiros e subterrâneos. Trocando em miúdos, verdadeiros papagaios de pirata!


É a política brasileira ventilada pelas suas velhas raposas do latifúndio do poder não é apenas sórdida e canalha, mas acima de tudo é profundamente indiferente aos anseios da população que mais necessita de apoio do Poder Público. É um lugar-comum tal assertiva, mas vale sempre lembrar que a política tem com o objetivo primordial o trato ético, humanitário e responsável da coisa pública. O mais salutar seria o fim da vaga de vice para cargos executivos nas três esferas de poder. Logo, eleições para prefeitos, governadores e presidente teriam apenas um único eleito nome cada esfera de poder executivo, sem os papagaios de pirata. No caso das casas legislativas, o fim dos suplentes e na vacância do titular, seria conduzido o candidato que recebeu mais votos mas que não conseguiu um número suficiente para se eleger. Logo, teria uma numa "lista de espera" nas casas legislativas ou simplesmente fizessem uma nova eleição (que seria mais justa ou menos distorcida). Democracia eleitoral é derivada da representação indireta que ocorre inevitavelmente distorções. O grande problema deste mecanismo de representatividade indireta é a distância dos eleitores e o eleito. Todavia, sem o menor comprometimento dos eleitos com seu eleitorado (e, por extensão, com todo o povo que em tese deveria ser representado), todo o processo democrático se reduz a uma mera ficção cosmética.


Como é notório, o tal “vice” nada contribui para o processo da democracia política. Neste sentido, apenas serve para emaranhar conchavos e acomodar interesses de meandros partidários. Mas isto seria conversa para uma profunda reforma política no Brasil, bem como tantas outras reformas que poderiam dar maior transparência, legitimidade e igualdade aos cidadãos brasileiros (prioritariamente as urgentes reformas de conjunturas sociais). Afinal, do jeito que está o pantanoso sistema de representação do poder, nenhum político de plantão quer tocar no "vespeiro". Quem quer perder seu latifúndio de poder?... Enquanto isso, os caciques reinam em terra de poucos índios e muita resignação social via deslumbramento consumista. E a FUNAI vai tendo trabalho...

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