terça-feira, 8 de julho de 2025

A ILUSÃO DO BORDÃO "TAXAR OS RICOS" COMO ESGOTAMENTO POLÍTICO: OS RISCOS ENTRE INTERESSES DE ESTADO E A DEMAGOGIA ELEITOREIRA

 


Quando assumiu seu terceiro mandato como presidente, em janeiro de 2025, Lula teve com uma das primeiras tarefas, a articulação das candidaturas das presidências do Senado e da Câmara dos Deputados. É bastante ingênuo acreditar que a as escolhas das lideranças das casas legislativas são "independentes" e não passam pelo crivo do Executivo.

Diante disto, Lula e seus arautos palacianos, liderados por Rui Costa, na pasta da Casa Civil, empregaram a rasteira aposta nos apadrinhados do bolsonarista e o presidente da Câmara dos Deputados daquele momento, Arthur Lira. Eles eram Hugo Motta, o medíocre deputado do Baixo Clero pelo partido do "bispo" Edir Macedo (Republicanos) para a Câmara dos Deputados e o retorno à presidência do Senado de Davi Alcolumbre do União Brasil (fusão entre o partido Democratas e o PSL), um bolsonarista do latifúndio do Amapá de primeira ocasião.

Motta e Alcolumbre são duas figuras das mais desprezíveis representantes de clãs corruptos das predatórias oligarquias regionalistas brasileiras. A pergunta que deveria ser feita à Lula: por que renunciar a construção de um arco de alianças mais "progressista" no Congresso e, destrutivamente, apoiar os dejetos oferecidos pelos piores inimigos?

Entretanto, nada é estranho para Lula quando a tarefa é unir o inconciliável para faturar (questionáveis) dividendos. Eis a eterna política de conciliação de classes, ou seja, na prática, a total rendição aos interesses da burguesia em detrimento dos anseios dos trabalhadores. Uma "obra-prima" de Lula que jamais abriu mão desta premissa. Eis a lógica delimitada de ascensão ao poder do "sindicalismo de resultados" de Lula: em troca do estar, nominalmente, no poder, os dedos e alianças são entregues, sem nenhum constrangimento. Mesmo com todas as turbulências oceânicas, Lula serviu fiel ao pacto conciliatório.

Da rendição ao neoliberalismo com a "Carta ao Povo Brasileiro", em 2002, à demagógica campanha publicitária da "taxação dos ricos", em 2025, utilizando inteligência artificial, típica do submundo da "deepweb", o que se observa são as metamorfoses camaleônicas e o esgotamento político-eleitoral do Partido do Trabalhadores (PT).

Não é nenhuma surpresa quando o PT é visto, hoje, como uma espécie de PMDB, ou seja, um agregado amorfo de políticos e algumas oligarquias sem nenhuma ideologia consistente e calcado na demagogia discursiva. De agremiação sindicalista ao bonde de identitários oportunistas, o PT pouco comove os trabalhadores da mesma forma dos tempos áureos com programas políticos efetivos e lúcidos. Uma vez que até o próprio Lula só se preocupou em minimizar e reduzir seus direitos trabalhistas e transformá-los em zumbis do rebotalho capitalista, os "empreendedores". Lembrada no palanque eleitoral, mas sequer as reformas neoliberais do golpista Temer foram revogadas pelo atual governo Lula, como outrora foi prometido!

 Voltando à Motta, o alvo da fúria teatral e seletiva petista. Nada mais rasteira e demagógica a atual "guerra publicitária" promovida por Lula e seus arautos palacianos de juízo infanto-juvenil contra o Congresso. Lula sempre fez questão de elogiar as suas "maravilhosas" relações institucionais com o Congresso, inclusive com elogios explícitos à Motta e Alcolumbre. No entanto, azedou o humor de Lula ao perder a votação de ampliação de alíquota do imposto de IOF na Câmara. Por sinal, imposto que seria usado para financiar a famigerada continuidade da política econômica de austeridade fiscal, introduzida por governos anteriores, de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

O que fez Lula? Resolver bater no seu "companheiro" Motta utilizando seu braço político, o partido-fantoche do PT e sua militância robotizada. O PT, na condição de partido político, se reduziu a ser um comitê nacional de reeleição permanente de Lula. O mote do atual instante é a angelical prosopopeia da batalha dos "ricos contra os pobres" e usando a galhofa do IOF como o "imposto para taxar ricos". Deste modo, assiste-se ao esgotamento político-ideológico do PT que aderiu ao populismo mais simplista para se escorar em um mote farsesco e antecipando a campanha eleitoral do próximo ano. É claro que, na prática, Lula não quer "taxar ricos" e tão pouco o PT quer levar tal mote à sério. Criador e criatura nunca o fizeram em momentos mais à Esquerda e com cinco governos petistas, desde 2003. Naturalmente, não será agora, rendidos, completamente, ao neoliberalismo que Lula e o PT vestirão para valer à fantasia de Robin Hood.

No entanto, diante da oportunista fantasia demagógica, Lula e o PT entregam de bandeja para a Extrema Direita a estratégia de como erodir as relações institucionais e criar uma instabilidade democrática da pior forma possível. Lula não é apenas o presidente de honra do PT, mas o presidente da república! Imagine se Bolsonaro, na época de seu mandato, utilizasse diretamente o seu partido para fazer campanha contra o Congresso, tal como Lula e o PT estão orquestrando no atual momento? Certamente, diriam que Bolsonaro estaria criando um caldo putrefato para dar um golpe político no país. Tudo que Bolsonaro, sua malta de aloprados fascistas, sua horda de “bolsomínions” e os velhacos generais golpistas tentaram fazer foi golpear o país, diretamente, tal como visto das dantescas cenas do 08 de janeiro de 2023. É muito cedo para outro empreendimento desta natureza para uma democracia cambaleante como a nossa!

Lula e o PT, de forma irresponsável e oportunista, busca criar um similar caldo de cultura do velho mote “nós contra eles”, cujas implicações poderão deflagrar um grande tiro no pé. Alguém tem alguma dúvida que tal estratégia "kamikaze" de Lula e do PT não poderá ser apontado como "golpista" pela Direita? O risco de o feitiço virar o feiticeiro é grande e real. Ademais, segue o processo contínuo de despolitização do PT que migrou para se posicionar à Direita do espectro político. 

Assim como, por exemplo, o PT fez ao propagandear que a demagogia neoliberal cotista ou programa de austeridade fiscal são "programas de Esquerda", a cúpula petista, que tem Lula como mártir, quer imprimir que uma ilusória e questionável possibilidade de "taxação de ricos" se transforme em uma "bandeira de Esquerda". Vale ressaltar que uma Esquerda que se dignifica sua ideologia, não coaduna com uma falácia sobre "taxar os ricos", mas impulsionaria uma política de expropriação de propriedade privada que explora os trabalhadores e com dívidas "impagáveis" de qualquer natureza perante o Estado.

Ao se atirar, antecipadamente e sem paraquedas, na turva corrida eleitoral de 2026, Lula e o PT acreditam que criar falácias sobre as quais nunca, de fato, quiseram agir ou defenderam, gerará votos tão imediatos quanto verdadeiros! Este episódio traduz no desespero pela falta de um programa real que mobilize a população e se avoluma o esgotamento político do PT como partido que pudesse representar os trabalhadores.

Apesar da euforia inicial da campanha do PT em pressionar o Congresso, o risco é oposto: poderá esvaziar todo um possível programa de enfrentamento da Extrema Direita. O IOF não é um imposto para "taxar os ricos" e, tampouco, o PT não tem a menor idéia real de como fazer tal tarefa na prática se, por hipótese, tentasse, realmente, impor uma política de "taxação dos ricos". Pior ainda, é a possibilidade crível do PT despencar do alçapão do descrédito popular, como foi observado de forma avassaladora com durante o contexto do golpe contra Dilma, em 2016, e que culminou na esmagadora e tragicômica vitória de Bolsonaro, em 2018. Mais uma vez, o PT teima em não aprender nada ou, simplesmente, negar a sua própria história!

 (Wellington Fontes Menezes)

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