1.
O Porrete de Trump e as loucuras de um
império em decadência
Após quedas sucessivas de
popularidade e um mandato muito abaixo do esperado, o presidente Lula ganhou um
presente irrecusável na semana passada. O presidente dos Estados Unidos, Donald
Trump, o único ser humano que tem o poder de detonar o maior número de ogivas
nucleares ao redor do planeta, anunciou uma grosseira e surreal carta ao Brasil
decretando a taxação em 50% sobre os impostos de produtos brasileiros, a partir
do mês de agosto. O que pensar sobre todo este surrealista picadeiro da loucura
que se transformou as relações diplomáticas internacionais?
Pensando o caso brasileiro: como a
imposição de uma medida imperialista draconiana ao Brasil poderia favorecer o
governo do Lula? A chave está na defesa da soberania! A partir daí, o destino
de Lula, do seu esquálido governo e da moribunda Esquerda brasileira ganhou um
inesperado e renovado fôlego político e eleitoral.
A motivação de Trump para tal
empreitada contra o Brasil é, no mínimo, em duas frentes: (a) em primeiro
lugar, a econômica, como retaliação, diretamente, ao fortalecimento do bloco
dos BRICS e a tentativa de não mais utilizar o dólar estadunidense como moeda
principal nas negociações comerciais do bloco; (b) em segundo lugar, a
política, como retaliação contra o governo brasileiro diante do caso Bolsonaro.
Diante da insaciável sede de
loucura megalomaníaca de Trump, a questão impositiva das tarifas não é uma
exclusividade para o Brasil. Outros países e blocos econômicos, tais como,
México, Canadá, África do Sul, Indonésia, Japão, Coréia do Sul, China e União Europeia
sofreram as mesmas sanções tarifárias, exceto pelo uso de percentuais menores
ao aplicado ao Brasil. Curiosamente, a Rússia de Vladimir Putin, até o momento,
passa incólume da sanha desloucada de Trump.
Entretanto, no caso brasileiro, para
além do que seria uma imperialista sanção ao país, Trump impõe algo, no mínimo,
inédito, ultrajante e inacreditável ao Estado brasileiro: a exigência de que a
Justiça do Brasil deixasse de perseguir “imediatamente” o ex-presidente, Jair
Bolsonaro! De forma patética, unilateral e megalomaníaca, Trump impôs punição
agregada à uma ordem típica de senhor da guerra com a diplomacia na ponta da
baioneta e tratou o Brasil como uma república das bananas!
Seguramente, em um dos episódios
mais vergonhosos da história recente brasileira com enredo tragicômico do
vira-latismo nacional, os filhos de Bolsonaro, viajam para os Estados Unidos
(em particular o então vira-lata deputado federal, Eduardo, o chamado “Bananinha”) e
imploram apoio de Trump para livrar o pai de uma possível condenação na Justiça
por tentativa de golpe de Estado no Brasil orquestrado no alucinado 08 de
janeiro de 2023.
A narrativa teatral que está
sendo armada pela família Bolsonaro é que o chefe da máfia bolsonarista
(Bolsonaro, o pai), é a “vítima” e o Estado brasileiro é o vilão “predador”. Na
artimanha organizada para não ser condenado, a “patriótica” família Bolsonaro
faz qualquer coisa, inclusive se apresentar como ponta da lança para atingir o
próprio estado brasileiro.
Vale recordar o episódio inédito
da tentativa de golpismo orquestrada pela família Bolsonaro, tendo o próprio
Bolsonaro com líder do movimento, após a derrota eleitoral, em 2022, que contou
com uma vasta colaboração de grupos de Extrema Direita, simpatizantes de Bolsonaro,
militares, empresários e políticos. O golpe foi frustrado e quase toda a
quadrilha golpista foi desarticulada. Diante disso, começarão, em breve, os
julgamentos cruciais se parte nuclear dos envolvidos diretamente com os
atentados na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
2.
A chance de renascimento do Governo Lula
Como em um roteiro de quinta
categoria para algum filme “patriótico” estadunidense, Trump impôs ao Brasil algo
inédito na história recente a relação entre os dois país: uma declaração pública
de uma guerra, no caso, até o momento, de natureza comercial. Diante deste
cenário beligerante e inóspito, Lula agiu rápido e respondeu que não aceitaria
esta condição de subalternidade perante o mandatário estadunidense.
Diante dos abusos de Trump,
algumas medidas de reciprocidade poderão ser empregadas pelo governo brasileiro
em resposta ao tarifaço de Trump. É um
momento, neste instante, que o governo brasileiro precisa ter calma, sanidade,
estratégia e astúcia. A partir daí, uma nova fase do seu governo cambaleante
começa a ser construída com o incremento motivacional da “defesa da soberania”.
A chantagem tarifária de Trump
repercutiu de diferentes maneiras no Brasil, mas com a tendência daqueles que
entenderam que não se tratava apenas de um ataque ao governo brasileiro, mas a
própria soberania nacional. A questão tarifária deixou o campo político
polarizado entre os que defendiam esta soberania ameaçada e os que consideravam
natural um presidente de outro país declarar guerra tarifária, repentinamente,
de acordo com o humor do mandatário!
Acreditando que fosse uma medida
para atacar Lula, se forjou uma típica cena do vira-latismo tupiniquim: ao
correrem, imediatamente, para apoiar o tarifaço de Trump contra o Brasil, os
principais políticos de Direita, entre eles os governadores ligados ao
bolsonarismo (agindo como futuros candidatos ao Planalto nas próximas eleições),
em particular, Tarcísio de Freitas, o carioca que ocupa a cadeira de governador
de São Paulo, se viu em uma encruzilhada tão alucinada quanto constrangedora.
São Paulo é um dos estados da
federação que mais sofrerão os impactos diretos do petardo tarifário de Trump, prejudicando
as exportações para os Estados Unidos. Portanto, ao mesmo tempo que Tarcísio
apoiou a sanha tarifária de Trump, tal ação intempestiva prejudica,
diretamente, a economia exportadora do estado mais rico da federação. O tiro no
pé da Direita foi dado, agora, em bando ou isoladamente, políticos da Direita
que apoiaram Trump buscam colar a culpa em Lula ou se desgarrar da polêmica
tarifária.
3.
Um último trem para recuperar a sanidade e a
vida
Ao longo de anos de marasmo
político, pela primeira vez e de forma factível, é possível criar uma renovada
agenda para as Esquerdas, observando o cenário de defesa da soberania e com
farto material para contra-atacar a nefasta agenda da Extrema-Direita. Se
existir um mínimo de sensatez e equilíbrio, Lula e a própria Esquerda poderão
surfar com grande potencial político e eleitoral na onda escaldante das
bravatas insana de Trump.
Ao aderir cegamente ao tarifário
de Trump, a pose de “patriótica” da Extrema Direita cai por terra. Lembrando
que a ideologia política dos patrões termina quando a ideologia econômica sofre
perdas consideráveis em sua lucratividade bate à porta. Portanto, setores como o do agronegócio e o industrial, afetados diretamente pelo tarifaço trompista,
poderão dar apoio veemente à Lula.
Neste caso, o presidente procura,
abertamente, fazer uma política de defesa, justamente, dos interesses nacionais
destes dois setores. Diante desta postura, parece muito plausível um ganho
político considerável para sua campanha de reeleição para o próximo ano.
Quanto às Esquerdas, isto implica
diretamente o PT, é imperativo abandonar as neoliberais, moralistas e
imbecilizantes pautas do catecismo e patrulhamento identitário da “cultura
woke” estadunidense para retomar o seu caminho natural de defesa dos
trabalhadores.
Os fetiches neuróticos de uma
classe média descolada e sem nenhum compromisso com as grandes questões da
humanidade, jamais foram os horizontes de uma Esquerda que urge cultivar a luta
de classes como norte em prol de uma sociedade que privilegie os valores do
coletivo em detrimento das perversões do Grande Capital.
Já se esgotaram politicamente as bobagens
irrelevantes das identidades narcísicas nas Esquerdas. Esse identitarismo se
forjou como um cavalo de Tróia que serviu para impor um transe que beira o
total ridículo que, até agora, somente serviu para a desmoralização das
Esquerdas e de trampolim do alpinismo social para alguns espertalhões que
surfam na onda identitária.
A abdução das Esquerdas pelo
transe identitário que carrega a exclusiva e reacionária preocupação com as
supostas “minorias” em detrimento da ampla classe trabalhadora, implicou em
sucessivas derrotas e vexatórias eleitorais e descrédito da maioria população.
Diante deste vácuo político deixado
pelas Esquerdas, a Extrema Direita cresceu vertiginosamente no país no último
decênio. Agora, se desejar não tomar mais uma sova de humilhação eleitoral, as
Esquerdas precisarão retomar o caminho inquestionável da defesa dos
trabalhadores, da soberania nacional e dos interesses inerentes ao Brasil.
Os ataques históricos à soberania
brasileira dão margem à uma defesa do país, ao espírito de integridade nacional
e a percepção fundamental da cidadania universal. Caso não desejar aproveitar
esta inesperada oportunidade que as insanidades de Trump está oferecendo, as Esquerdas
deverão seguir o curso incontornável da morte anunciada.
Se uma Esquerda não defende os
trabalhadores, o universalismo da cidadania e os direitos políticos econômicos igualitários,
não serve, absolutamente, para nada! Portanto, é hora de acordar para agir,
senão, nada escapará de um cataclisma ideológico onde a Direta e a Extrema
Direita reinarão sem nenhuma outra contraparte factível e realista no turvo
horizonte da política brasileira.
Por fim, é preciso fazer justiça:
o tresloucado Trump fez mais para a Esquerda brasileira em um semestre do que
todo o período catatonia programática e ideológica, desde a queda do Muro de
Berlim até a atualidade.
Agora, basta saber o que o
governo Lula e as Esquerdas brasileiras, em particular, terão juízo o suficiente
para capturar a janela de oportunidade histórica e, o mais importante, fazer
grandes mudanças estruturais em seus projetos e programas políticos e que
repercuta em toda a sociedade e, consequentemente, que recupere a credibilidade
junto à classe trabalhadora.
(Wellington Fontes Menezes)
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