segunda-feira, 14 de julho de 2025

DA CHANTAGEM DE TRUMP À UM PORTAL DE INESPERADA OPORTUNIDADE

 


1.      O Porrete de Trump e as loucuras de um império em decadência

Após quedas sucessivas de popularidade e um mandato muito abaixo do esperado, o presidente Lula ganhou um presente irrecusável na semana passada. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o único ser humano que tem o poder de detonar o maior número de ogivas nucleares ao redor do planeta, anunciou uma grosseira e surreal carta ao Brasil decretando a taxação em 50% sobre os impostos de produtos brasileiros, a partir do mês de agosto. O que pensar sobre todo este surrealista picadeiro da loucura que se transformou as relações diplomáticas internacionais?

Pensando o caso brasileiro: como a imposição de uma medida imperialista draconiana ao Brasil poderia favorecer o governo do Lula? A chave está na defesa da soberania! A partir daí, o destino de Lula, do seu esquálido governo e da moribunda Esquerda brasileira ganhou um inesperado e renovado fôlego político e eleitoral.

A motivação de Trump para tal empreitada contra o Brasil é, no mínimo, em duas frentes: (a) em primeiro lugar, a econômica, como retaliação, diretamente, ao fortalecimento do bloco dos BRICS e a tentativa de não mais utilizar o dólar estadunidense como moeda principal nas negociações comerciais do bloco; (b) em segundo lugar, a política, como retaliação contra o governo brasileiro diante do caso Bolsonaro.

Diante da insaciável sede de loucura megalomaníaca de Trump, a questão impositiva das tarifas não é uma exclusividade para o Brasil. Outros países e blocos econômicos, tais como, México, Canadá, África do Sul, Indonésia, Japão, Coréia do Sul, China e União Europeia sofreram as mesmas sanções tarifárias, exceto pelo uso de percentuais menores ao aplicado ao Brasil. Curiosamente, a Rússia de Vladimir Putin, até o momento, passa incólume da sanha desloucada de Trump.

Entretanto, no caso brasileiro, para além do que seria uma imperialista sanção ao país, Trump impõe algo, no mínimo, inédito, ultrajante e inacreditável ao Estado brasileiro: a exigência de que a Justiça do Brasil deixasse de perseguir “imediatamente” o ex-presidente, Jair Bolsonaro! De forma patética, unilateral e megalomaníaca, Trump impôs punição agregada à uma ordem típica de senhor da guerra com a diplomacia na ponta da baioneta e tratou o Brasil como uma república das bananas!

Seguramente, em um dos episódios mais vergonhosos da história recente brasileira com enredo tragicômico do vira-latismo nacional, os filhos de Bolsonaro, viajam para os Estados Unidos (em particular o então vira-lata deputado federal, Eduardo, o chamado “Bananinha”) e imploram apoio de Trump para livrar o pai de uma possível condenação na Justiça por tentativa de golpe de Estado no Brasil orquestrado no alucinado 08 de janeiro de 2023.

A narrativa teatral que está sendo armada pela família Bolsonaro é que o chefe da máfia bolsonarista (Bolsonaro, o pai), é a “vítima” e o Estado brasileiro é o vilão “predador”. Na artimanha organizada para não ser condenado, a “patriótica” família Bolsonaro faz qualquer coisa, inclusive se apresentar como ponta da lança para atingir o próprio estado brasileiro.

Vale recordar o episódio inédito da tentativa de golpismo orquestrada pela família Bolsonaro, tendo o próprio Bolsonaro com líder do movimento, após a derrota eleitoral, em 2022, que contou com uma vasta colaboração de grupos de Extrema Direita, simpatizantes de Bolsonaro, militares, empresários e políticos. O golpe foi frustrado e quase toda a quadrilha golpista foi desarticulada. Diante disso, começarão, em breve, os julgamentos cruciais se parte nuclear dos envolvidos diretamente com os atentados na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

 

2.      A chance de renascimento do Governo Lula

Como em um roteiro de quinta categoria para algum filme “patriótico” estadunidense, Trump impôs ao Brasil algo inédito na história recente a relação entre os dois país: uma declaração pública de uma guerra, no caso, até o momento, de natureza comercial. Diante deste cenário beligerante e inóspito, Lula agiu rápido e respondeu que não aceitaria esta condição de subalternidade perante o mandatário estadunidense.

Diante dos abusos de Trump, algumas medidas de reciprocidade poderão ser empregadas pelo governo brasileiro em resposta ao tarifaço de Trump.  É um momento, neste instante, que o governo brasileiro precisa ter calma, sanidade, estratégia e astúcia. A partir daí, uma nova fase do seu governo cambaleante começa a ser construída com o incremento motivacional da “defesa da soberania”.

A chantagem tarifária de Trump repercutiu de diferentes maneiras no Brasil, mas com a tendência daqueles que entenderam que não se tratava apenas de um ataque ao governo brasileiro, mas a própria soberania nacional. A questão tarifária deixou o campo político polarizado entre os que defendiam esta soberania ameaçada e os que consideravam natural um presidente de outro país declarar guerra tarifária, repentinamente, de acordo com o humor do mandatário!

Acreditando que fosse uma medida para atacar Lula, se forjou uma típica cena do vira-latismo tupiniquim: ao correrem, imediatamente, para apoiar o tarifaço de Trump contra o Brasil, os principais políticos de Direita, entre eles os governadores ligados ao bolsonarismo (agindo como futuros candidatos ao Planalto nas próximas eleições), em particular, Tarcísio de Freitas, o carioca que ocupa a cadeira de governador de São Paulo, se viu em uma encruzilhada tão alucinada quanto constrangedora.

São Paulo é um dos estados da federação que mais sofrerão os impactos diretos do petardo tarifário de Trump, prejudicando as exportações para os Estados Unidos. Portanto, ao mesmo tempo que Tarcísio apoiou a sanha tarifária de Trump, tal ação intempestiva prejudica, diretamente, a economia exportadora do estado mais rico da federação. O tiro no pé da Direita foi dado, agora, em bando ou isoladamente, políticos da Direita que apoiaram Trump buscam colar a culpa em Lula ou se desgarrar da polêmica tarifária.

 

3.      Um último trem para recuperar a sanidade e a vida

Ao longo de anos de marasmo político, pela primeira vez e de forma factível, é possível criar uma renovada agenda para as Esquerdas, observando o cenário de defesa da soberania e com farto material para contra-atacar a nefasta agenda da Extrema-Direita. Se existir um mínimo de sensatez e equilíbrio, Lula e a própria Esquerda poderão surfar com grande potencial político e eleitoral na onda escaldante das bravatas insana de Trump.

Ao aderir cegamente ao tarifário de Trump, a pose de “patriótica” da Extrema Direita cai por terra. Lembrando que a ideologia política dos patrões termina quando a ideologia econômica sofre perdas consideráveis em sua lucratividade bate à porta. Portanto, setores como o do agronegócio e o industrial, afetados diretamente pelo tarifaço trompista, poderão dar apoio veemente à Lula.

Neste caso, o presidente procura, abertamente, fazer uma política de defesa, justamente, dos interesses nacionais destes dois setores. Diante desta postura, parece muito plausível um ganho político considerável para sua campanha de reeleição para o próximo ano.

Quanto às Esquerdas, isto implica diretamente o PT, é imperativo abandonar as neoliberais, moralistas e imbecilizantes pautas do catecismo e patrulhamento identitário da “cultura woke” estadunidense para retomar o seu caminho natural de defesa dos trabalhadores.

Os fetiches neuróticos de uma classe média descolada e sem nenhum compromisso com as grandes questões da humanidade, jamais foram os horizontes de uma Esquerda que urge cultivar a luta de classes como norte em prol de uma sociedade que privilegie os valores do coletivo em detrimento das perversões do Grande Capital.

Já se esgotaram politicamente as bobagens irrelevantes das identidades narcísicas nas Esquerdas. Esse identitarismo se forjou como um cavalo de Tróia que serviu para impor um transe que beira o total ridículo que, até agora, somente serviu para a desmoralização das Esquerdas e de trampolim do alpinismo social para alguns espertalhões que surfam na onda identitária.

A abdução das Esquerdas pelo transe identitário que carrega a exclusiva e reacionária preocupação com as supostas “minorias” em detrimento da ampla classe trabalhadora, implicou em sucessivas derrotas e vexatórias eleitorais e descrédito da maioria população.

Diante deste vácuo político deixado pelas Esquerdas, a Extrema Direita cresceu vertiginosamente no país no último decênio. Agora, se desejar não tomar mais uma sova de humilhação eleitoral, as Esquerdas precisarão retomar o caminho inquestionável da defesa dos trabalhadores, da soberania nacional e dos interesses inerentes ao Brasil.

Os ataques históricos à soberania brasileira dão margem à uma defesa do país, ao espírito de integridade nacional e a percepção fundamental da cidadania universal. Caso não desejar aproveitar esta inesperada oportunidade que as insanidades de Trump está oferecendo, as Esquerdas deverão seguir o curso incontornável da morte anunciada.

Se uma Esquerda não defende os trabalhadores, o universalismo da cidadania e os direitos políticos econômicos igualitários, não serve, absolutamente, para nada! Portanto, é hora de acordar para agir, senão, nada escapará de um cataclisma ideológico onde a Direta e a Extrema Direita reinarão sem nenhuma outra contraparte factível e realista no turvo horizonte da política brasileira.

Por fim, é preciso fazer justiça: o tresloucado Trump fez mais para a Esquerda brasileira em um semestre do que todo o período catatonia programática e ideológica, desde a queda do Muro de Berlim até a atualidade.

Agora, basta saber o que o governo Lula e as Esquerdas brasileiras, em particular, terão juízo o suficiente para capturar a janela de oportunidade histórica e, o mais importante, fazer grandes mudanças estruturais em seus projetos e programas políticos e que repercuta em toda a sociedade e, consequentemente, que recupere a credibilidade junto à classe trabalhadora.

(Wellington Fontes Menezes)

 

 

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