quinta-feira, 13 de março de 2025

O GRANDE CAPITAL E AS FORMAS MERCADOLÓGICAS DE MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO


 

1.      UM MUNDO NUMA ESTRANHA METAMORFOSE

 

Na tarde desta terça-feira, 11 de março, coordenei de forma remota o PAINEL “Gestão da informação e comunicação em bases democráticas” do V Seminário Internacional sobre Democracia, Cidadania e Estado de Direito, uma realização conjunta de pesquisadores de três instituições: Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Universidade de Vigo, na Espanha. Por sinal, um evento que faço parte do Comitê Científico.

Ao todo, dezoito trabalhos de Pós-graduação com a participação de estudantes e pesquisadores espalhados por todo o país, os quais, em sua maioria, destacaram a questão do volume massivo de informações impregnado na sociedade sem controle por parte do Estado.

As leis de proteção aos dados ainda engatinham no país, e as grandes empresas de tecnologias, as chamadas “Big Techs”, ou seja, um braço tecnológico do Grande Capital internacional. Tais empresas possuem caminhos, praticamente, livres para fazerem o que bem querem, sem que o alcance das leis governamentais dos Estados Nacionais possa coibir seus ataques, manipulações e adulterações dentro da sociedade.

Uma outra questão relevante e altamente problemática é a chamada “Inteligência Artificial” (IA) que está sendo desenvolvida também por Big Techs. Não há nenhum tipo de controle público com o avanço de tecnologias criadas por empresas de tecnologias e que dominam todo o cenário mundial.

Na minha concepção, uma das grandes consequências do deserto jurídico que se instalou no campo do “mundo digital” está correlacionado com a própria estrutura da fragilidade democrática que sucumbe com a metástase do neoliberalismo, acarretando consequências dilacerantes dentro da sociedade.

No topo da pirâmide de lucratividade no mundo, temos os quatro primeiros lugares ocupados por empresas de tecnologia, sendo uma de comércio eletrônico exclusivamente na internet. Observando o valor de mercado em 2025 para cada empresa, segundo o site especializado Investing.com (2025), temos: Apple (3,7 trilhões de dólares); Nvidia (3,4 trilhões de dólares) Microsoft (3,2 trilhões de dólares); Amazon (2,2 trilhões de dólares) e Alphabet Inc. (empresa dona do Google, 2,1 trilhões de dólares). Em termos de comparação, o PIB do Brasil, em 2024, foi cerca de 2,2 trilhões de dólares, ou seja, é inferior aos primeiros colocados deste ranking!

As Big Techs vêm se mostrando, cada vez mais, com um caráter manipulador da ordem social ao introduzir elementos que atingem frontalmente a opinião pública, criando instabilidade entre governos em nome de lucros bilionários.

 

 

2.      NOVO TESTE DA DEMOCRACIA NA CORDA-BAMBA

 

Após a tentativa de golpe escancarado, no Brasil, no maior circo dos últimos tempos, no fatídico 08 de janeiro de 2023, foi arquitetado, em grande parte, nas redes sociais e em fóruns de debates, na internet, alimentados por grupos de Extrema Direita apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O objetivo da política de promoção do ódio foi o nutrir um estado de alienação de sujeitos que se forjaram como uma malta de imbecis, lobotomizados desde as famigerados jornadas de inverno, em 2013.

A livre circulação de todo o sortilégio de mentiras se tornou combustível para um dos processos de deterioração da mentalidade coletiva mais retrógrada das últimas décadas. Ademais, apesar de todas as atrocidades feitas pela militância da Extrema Direita, a Justiça segue a passos lentos no sentido de condenar os extremistas e, corre-se o risco, de banalizar todo este processo de ataques sistemáticas ao regime democrático.

 No próximo ano, em 2026, teremos mais um grande teste para esta nossa bombardeada democracia cambaleante. Será o processo eleitoral que escolherá o representante ao Planalto. Com o avanço da Extrema Direita no Ocidente e, no Brasil, temos o avanço da Direita em cenário nacional, as tensões serão tão preocupantes quanto as duas últimas eleições presidenciais.

Assim como em 2016, 2018 e 2022, a enxurrada de insanidades oriundas das redes sociais visando provocar um oceano de desinformações estará em pleno vapor. Principalmente, quando o bufão das “fake News”, Donald Trump, e o seu aliando bilionário fascista, Elon Musk, estão no comando do maior império do planeta.

Da mesma maneira, como houve excessivas manipulações nos processos de propaganda eleitoral dos últimos anos, não basta apenas precaver a tragédia: é preciso punir. Até agora, os responsáveis pela pornochanchada golpista de 08 de janeiro de 2023 estão soltos e com todo o vigor para cometerem os mesmos crimes e construírem um cenário de aberração social do mais cristalino projeto da carcomida operação de manipulação das massas. 

O passado se repete no presente não com tragédia, mas como aberração de uma farsa que gera novas tragédias: a constância da alienação do Grande Capital como sabotadora das democracias. Não existe as variantes fascistas sem investidores com vultosa distribuição de capital que possam promover e alimentar a grande rede de canalhices dos grupos que buscam sabotar a democracia em nome de mentiras e das distorções que espatifam algum projeto que visa ampliar a cidadania.

 

3.      AS LIÇÕES DE WEIMAR


Se, por hipótese, existisse uma máquina do tempo e trouxesse o ministro nazista da Propaganda Política do Terceiro Reich, Joseph Goebbels, para a atualidade, o braço direito de Hitler ficaria encantando! Um universo inteiro para manipular sem que nada intervenha e ninguém seja punido por mentiras, distorções, infâmias escrachadas no universo da internet. 

Assim como na Alemanha da chamada República de Weimar (1919-1933), berço da desordem que imperou na primeira experiência democrática alemã após a hecatombe da Primeira Guerra Mundial, o extremismo político tomou de assalto as ruas e, liberalmente, quebrou ossos e tirou a vida de muitos dos entusiastas por violência em um mundo sobre os escombros de uma guerra perdida.

O limbo “democrático” de Weimar e da miséria imposta por soldados que nada mais tinham, exceto a desonra e a miséria, nasceu o nanico Partido Nazista, a agremiação política mais temida do mundo no século XX.

Inicialmente, o Partido Nazista, em suas origens, era apenas um grupo majoritário de soldados sem rumo e encontrou na figura insólita de um ressentido Adolf Hitler, a voz e a vocação de uma vertiginosa “missão” para servir o povo e, para isto, para proferir todos os impropérios contra a República em nome do “povo alemão”.

É importante frisar que a Alemanha de Weimar foi palco exemplar de todo sortilégio de loucura em nome da “democracia”. Sem nenhum constrangimento, lutas tribais foram travadas nas ruas por motivações políticas e, depois, racialistas, na epifania da loucura das massas contra os judeus.

Carregados de ódio, mentira e distorções, uma série obscuros panfletos e jornais de livre circulação provocaram uma rede de mentiras que terminaram em desorganizar ainda mais o pensamento dos cidadãos. O Partido Nazista liderava as manifestações e política de ódio contra comunistas, judeus e tudo que suas lideranças considerassem “indesejáveis”.

Sem o lastro de miséria, desamparo e desespero, tantas mentiras não encontrariam morada nas mentes e corações dilacerados do povo alemão. As crises econômicas viscerais da crise de hiperinflação de 1923 e o colapso da economia mundial em 1929, colocaram a Alemanha de joelhos, e refém dos grupos extremistas e suas soluções mágicas em nome do sepultamento da democracia e o levante do autoritarismo. Neste lastro de irracionalismos, desesperança, fome, desemprego e orgulho ferido, ascendeu o grupo político mais nefasto de todo a história do século XX e mudaria o mundo para sempre: Partido Nazista entra a República de Weimar e ergue o famigerado Terceiro Reich.

 

4.      NO DILACERANTE DESERTO DA DESESPERANÇA, EIS A MORADA IDEAL DAS IDEOLOGIAS FASCISTIZANTES


A quem interessa uma sociedade fragmentada, intoxicada de falsas informações e alienada do seu direito de pensar? A batalha da informação que está sendo travada é para quem conseguir desconectar as pessoas de suas próprias vontades e construir narrativas impostas como se fosse delas próprias.

Nada é mais manipulador do que as estruturas do capitalismo que sabe operar o inconsciente coletivo e transformar o desanimo e a desesperança em um barril de pólvora para alimentar o ódio e o ressentimento.

Não há nada novo que já não foi testado com objetivo de manipular uma sociedade de massa. O que temos agora, é uma veloz escala industrializada de mentiras jamais vista na história!

Nada que a história não deixou suas lições que não possam ser lidas e aprendidas! Até quando ousaremos repetir os piores momentos da História da civilização humana?

Como é possível que um Estado permita que empresas se expandam de tal forma que se transforma em monopólios mundiais deixando o próprio Estado refém delas? As empresas mais ricas no “top 10”, segundo o site Investing.com, representam monopólios mundiais da tecnologia.

Desta forma, estão elas que ditam as regras do mercado mundial e criam condições de operarem ao seu bel-prazer! Quebrar o monopólio destas empresas deveria ser uma obrigação urgente dos governos de todos países, inclusive das principais potências, uma vez que os próprios poderes estatais se tornaram refém dos interesses do capital privado!

O aprofundamento do avanço das tecnologias, curiosamente, muitas vezes, com aporte de capital estatal, permitiu um nível de manipulação social que é, cada vez, de maior complexidade de detecção e, pior ainda, as metamorfoses do processamento do controle das informações atingem escalas inimagináveis. Tudo isto, controlado por empresas privadas internacionais operando como verdadeiros Estados Nacionais, com orçamentos anuais maiores do que o PIB da maioria dos países do mundo, e que não são submetidas por nenhuma lei, apenas pelos desígnios de seus abutres acionistas sedento por lucros!

Não se pode apostar no lançamento de dados à espera da sorte dar números positivos na roleta do grande cassino da civilização. A ideologia neoliberal procura sempre normalizar a barbárie ao criticar e condenar sempre a ação do Estado contra os interesses do Grande Capital.

As velhas e novas formas de tirania sempre tiveram como base o controle e a manipulação das informações vigentes em uma sociedade. No caso das Big Techs, sem nenhum controle social e sem quebrar o monopólio das empresas transnacionais, o resultado é uma submissão completa, ou seja, um planeta inteiro sitiado por uma espécie de “terra de ninguém”, operadas por interesses do Grande Capital que possam manipular diretamente os núcleos dos governos estatais do mundo inteiro e entregue à barbárie do ultraliberalismo cujo força vital é moer tudo e a todos em nome dos lucros do Grande Capital.

 

Wellington Fontes Menezes

(wfmenezes@uol.com.br)

 

👉 Para saber mais: https://br.investing.com/academy/stocks/empresas-mais-valiosas-do-mundo/  





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