Que lindo é o carnaval! Você é um dos sete milhões de
desempregados no Brasil das estatísticas oficiais. Na realidade, um potencial
para treze milhões de almas boiando à céu aberto no sol de Mefisto sem carteira
de trabalho.
Seja sobrevivendo de bicos, seja respirando com ajuda parental ou bolsa-qualquer-coisa governamental, o tempo passa sem vida. Pressionado pelas circunstâncias, o sujeito é esmagado até a raiz do cabelo e da alma, sem perspectiva alguma na inútil e sôfrega vida. De antemão, o futuro é uma palavra desconhecida no vocabulário.
Todavia, se acalme e deixe tudo para lá! Agora, é carnaval! Você poderá soltar a franga, sambar, rebolar, chacoalhar, gritar, cacarejar até cair nas ruas e praças públicas. Não dizem que é a alegria que move o mundo?
Quem sabe até um Oscar para um filme que você não assistiu e tampouco entenderá, talvez poderá mudar a sua vida? A ignorância é um balsamo para querubins, pecadores e espoliados! Alegria, alegria, já dizia Caetano em uma das suas mais famosas canções. Será verdade esta premissa alegórica de carnaval?
Viva o colírio alucinógeno que transforma trabalhadores e desesperados em cordiais cordeiros de um imenso sanatório naturalizado!
Viva a boçalidade da modinha da "ancestralidade", onde um punhado de ratazanas fantasiadas de baianas do acarajé de posam como farsantes intelectuais da miséria de uma África Subsaariana saqueada, empobrecida, abandonada e padece com infinitas guerras locais fratricidas!
Viva o reino da perversão de um mundo onde bilionários, sem a intermediação de vassalos fascistas e neoliberais obedientes ao dispor deles, tomam o poder com as próprias mãos e destroçam a vida do oceano de atordoados úteis e inúteis diante o moinho satânico do capitalismo!
Viva a dispersão de vermes mutantes do fascismo que escoam para fora do esgoto! Uma malta de sociopatas sedentos por ódio cego e sangue inocente se apresentando na esfera pública, fartamente bancada pelo Grande Capital, fingindo estar à serviço da honra estrupada dos trabalhadores desalentados!
Viva uma apodrecida Esquerda partidária, inútil e eleitoreira que perdeu o bonde descarrilhado da História e foi sequestrada por parasitas narcisistas e rastejantes jagunços oportunistas de plantão.
Trabalhar, trabalhar, trabalhar e, depois, virá o inevitável descarte! No frio do inverno ou derreter como banha de porco na frigideira dos tormentos climáticos. Tudo por um salário de miséria e, ainda, tem uma malta fascista das falsas identidades que azucrina o otário trabalhador para fazê-lo acreditar que tudo se reduz a um problema de preconceito sexual, gênero, racial ou xenófobo!
Alegria só é válida com vida correndo nas veias daqueles que trabalham, lutam pela sobrevivência e dignificam o sentido humanidade. Basta de alegria tola e gratuita!
Quem não bebe da fonte desértica de esperança deverá se embriagar de indignação! Toda mobilização por mudança pressupõe como matéria-prima a indignação.
Não há outra alternativa! Só uma indignação combativa, coletiva, organizada, solitária e estratégica poderá canalizar alguns lampejos de mudanças sociais diante de um mundo que impõe a miséria da alegria conformista como obrigação.
Na história processual das civilizações, jamais a alegria alienada se convergiu em mudança concreta! Pior ainda, para qualquer mobilização, é na frustrante alegria melancólica da quarta-feira de cinzas se encontra o pior dos inimigos subjetivos.
Aceitar as injustiças é compactuar com suas perversões. Em um sistema onde o acúmulo de riquezas é para satisfazer excentricidades de um punhado de perversos espertalhões, tudo se destina à cômoda mesmice.
Padecemos de um conformismo naturalizado que corrói nossas vísceras e a nossa capacidade de enxergar a realidade. Uma orgia da ignorância sistêmica que faz acreditar que tudo é aceitável, inevitável e adaptável: do nascer ao sepultamento. Entre os dois extremos, é aprendido à fórceps, que todos que sustentam uma lucidez alegre e comedida devem se equilibrar diante do sofrimento, suor, sangue e migalhas sazonais de alegria.
Assim, entre a alegria do delírio e a alegria da lobotomia, aceitaremos passivamente uma vida sem sentido e de vil sofrimento para dar todo o conforto possível para a classe capitalista usurpadora e parasitas que sempre explorou da força de trabalho sem uma gota de piedade.
Enfim, é inevitável para todos que desejam uma vida saudável com justiça socioeconômica e consciente: sem indignação não poderá existir liberdade!
(Wellington Fontes Menezes)
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