sábado, 1 de março de 2025

A VEZ DO LUMPEN-INTELECTUALISMO NO CULTO AO "PERIFERISMO"


 

A mediocridade e a irrelevância social e política na qual a universidade se revelam quando deixa de cumprir o seu central papel humanitário, civilizatório e técnico-científico para se preocupar com as ondas voláteis e demagógicas do populismo em busca de autoafirmação e seletivas claques instantâneas.

Somente em tempos de refluxo cognitivo identitário, patrocinado pelo neoliberalismo, que os arautos da playboyzada periférica se transformam em virtuosos "intelectuais públicos", cujo grande mérito é falar sobre o próprio umbigo narcísico, projetar uma idealização de ostentação do consumismo, fazer careta de "homem mau" e destilar a inveja ressentida pela playboyzada rica "de fato".

Tal estratégia não é aleatória e carrega consigo a fantasia reacionária, rasteira e demagógica a qual a universidade se "aproximaria do povo" premiando o rebotalho da cultura do gueto. Segundo esta lógica, ao produzir uma imagem de "popularesca servidora", a universidade se tornaria "útil à sociedade". Seria este papel de animador de velório o fulcral destino manifesto da universidade, em particular, a universidade pública?

A mesma lógica se integra na demagogia da política neoliberal do cotismo que auxiliou na fragmentação da cidadania e contribuiu para fabricar toscos ressentimentos, alienação sobre a história nacional, alimentar a onda fascista de supremacismos raciais e impulsionar os oportunistas do alpinismo social.

O "fetiche da periferia" é um sintoma do declínio político-cultural do pensamento progressista no Ocidente que ficou órfão, após a queda do Muro de Berlim, cujas ideologias de mudança social em macro-escala se transformaram em errantes distopias reacionárias, narcísicas e culturalistas.

Com a globalização do neoliberalismo, o Ocidente mergulhou em uma viagem sem volta e sem um novo horizonte que não seja a própria decadência de um tempo histórico.

Diante deste paradigma civilizatório, os mentecaptos da Escola Austríaca foram reabilitados e revigorados (em destaque, Mises e Hayek) e plasmados naquilo que se transformou na macroestrutura ideológica  ultra-capitalista do neoliberalismo.

No Brasil, o processo é muito similar: uma sedução pela bricolagem estética culturalizante e pela aclamação dos desvios daqueles que usam os interesses pessoais como projeção do mote do "vítimismo da sociedade".

Ao premiar arautos do neoliberalismo com a centelha do "periferismo", a universidade faz um duplo jogo perdido: se rende à um retorno da estética Kitsch, ou seja, da cafonice fantasiada de modernidade e acena para alimentar a ideologia neoliberal que cria seus falsos "heróis" (ou seja, os ditos "heróis silenciados" que os arautos identitários adoram alardear aos quatro ventos).

Tais heróis paridos a partir da fantasia de uma suposta e idílica "história esquecida", mas, conforme a cartilha neoliberal com viés da "ideologia woke", são personas pró-ativas, oriundas de uma ancestralidade perdida e, sob a cena principal, são imagéticos empreendedores do próprio Ego.

A premiação de "representantes culturalistas" diz mais sobre a penumbra do tempo histórico o qual sobrevivemos com olhos cerrados e menos sobre a questionável qualidade dos premiados.

(Wellington Fontes Menezes)

 

PARA SABER MAIS: https://www.metropoles.com/sao-paulo/racionais-mcs-doutor-honoris-causa-unicamp

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