quarta-feira, 9 de maio de 2018

A ilusão eleitoral do pós-golpe: Boulos é o “cara legal”, mas não é alternativa real para a “lulodependência”



Nesta segunda-feira, 07/05, Guilherme Boulos, candidato à presidente pelo PSOL, foi o entrevistado no programa "Roda Viva" da TV Cultura, estatal do governo do Estado de São Paulo e controlada pelos tucanos do PSDB, partido-fundador do golpe de 2016. Foi bem, como um bom samaritano, proferiu palavras de esperança e afeto, lançou sua candidatura de então "ilustre desconhecido" para o público de São Paulo e teve que aguentar os grotescos dispartes neoliberais dos papagaios de pirata de alguns “entrevistadores” que a todo o momento dispararam galhofas e perguntas. Ressalta-se que Boulos, o nome protagonista do MTST, se mostrou com um discurso comprometido no campo das esquerdas e, fato esse, é muito louvável diante da perversão protofascista da onda conservadora que assola o país desde 2013!

Mas há problemas sérios na construção de uma possível “alternativa Boulos” para o campo das esquerdas. Questões em aberto que merece reflexão para pensar saídas factíveis para o impasse das esquerdas diante de uma tétrica conjuntura política pós-golpe. Uma questão introdutória seria: quem é Boulos e o que ele fez para merecer ser lançado como candidato à presidência? Marcelo Freixo, o deputado estadual carioca e sua prepotência "higienista" foi uma espécie de "inventor" da candidatura Boulos. Nitidamente para criar uma espécie de "Lula psolista" com a trajetória “atualizada” de Boulos, mas sem levar em consideração as conjunturas do pós-golpe em pleno estado de exceção e ataques protofascitas contras as esquerdas.  Neste cenário caótico após a queda de Dilma e desestruturação das esquerdas, Paula Lavigne, uma espécie de “empresária-socialite” da “esquerda festiva” tem seu dedo na “invenção Boulos”. Claro, a cúpula do PSOL vai jurar de pés juntos que “jamais pensou algo assim”, mas em tempos eleitorais, a sinceridade é um dos primeiros atributos a sucumbir. Para Lavigne, a esposa de Caetano Veloso, tanto faz apoiar Marina Silva ou Guilherme Boulos, o importante é “causar” em nome do fetichismo de uma pequena burguesia ilustrada do eixo Rio-São Paulo que julga ser “esquerda” com vivência em lugares “descolados” como o bairro paulistano da Vila Madalena ou o Leblon carioca.

É preciso fazer justiça: Boulos é uma grata e ótima promessa no campo das esquerdas, mas precisa passar pela vida pública minimamente e não ser catapultado logo para o Planalto. Em Política, toda fora de “ligação direta” soa como oportunismo descarado! Lembrando ainda o fato de Boulos simplesmente ter se filiado ao PSOL poucas semanas antes do anúncio de seu lançamento na aventura do Planalto. Até dias antes da sua filiação em 05 de março deste ano, Boulos articulava um esboço de partido o “Vamos”, possivelmente uma tentativa de mimetizar as conjunturas do “Podemos”, partido à esquerda espanhol, criado em 2014 que se popularizou rapidamente. O “Vamos”, com uma plataforma inicial altamente culturalista, não conseguiu ainda se transformar um partido político, que poderia ingressar alguns descontentes do PT, alguns outros nomes de setores progressistas e, possivelmente, o soterramento do PSOL. O mais incrível é que no dia 10 de março, ou seja, apenas cinco dias depois de sua filiação, Boulos era oficializado como candidato à presidência do país pelo partido!

Algumas questões que mereceriam maior reflexão, mas que agora se perdeu com o tsunami dos acontecimentos. Houve um real debate interno para encabeçar o nome de Boulos?  Certamente impossível dentro do prazo de filiação e escolha do candidato! Seria então Boulos uma “unanimidade” na política interna do partido? Pouco provável! E se sim, qual relevância tem Boulos para representar um nome para a presidência no campo das esquerdas? A possível justificativa cheira o odor do oportunismo. Não é prudente uma atitude desta natureza e soaria que o PSOL se transformou em um partido de aluguel para interesses particulares! Deixaremos a palavra aos então pré-candidatos a presidência pela sigla psolista, Plínio de Arruda Sampaio Jr. e Nildo Oriques.

Para um partido que sempre critica o PT por “não fazer crítica interna”, o PSOL está perdendo a oportunidade de seguir seu próprio conselho. Tais atos de "invencionismos" não são da natureza das esquerdas (ao menos, não deveriam ser!), mas sim da Direita que fabrica nomes oportunistas para criar um "fato novo" e ludibriar o eleitorado. Não estamos em momento laboratorial para brincar com tubos de ensaio com nomes se nenhuma "musculatura" diante de terríveis acontecimentos que estão fazendo o país retornar às condições surreais e lastimáveis. Pior ainda é o nome da vice da chapa de Buolos, Sonia Guajajara, uma ilustre desconhecida para a imensa população brasileira, cujo único fator de relevância política é a “identidade indígena”. Sintoma exemplar dos delírios pós-modernos do culturalismo identitário que intoxicou o campo das esquerdas, em particular, o PSOL. Tudo tão lindo, angelical e romântico, se não fosse uma questão torrencial que precisa sempre ser ressaltada: estamos sob um golpe de estado via estado de exceção e não um campo idílico da edificante democracia nórdica dos bons, brancos e puros de coração!

Na prática, tanto Buolos do PSOL quanto a outra “invencionice” do PC do B, a candidata que se comporta mais com uma garota-propaganda de si mesma, Manuela D´Ávila, tudo indica, não conseguirão juntos 2% das intenções de voto do eleitorado.  Ambos são muito fracos e é muito preocupante ao ver que todo o campo das esquerdas “não-petista” se reduziu a um rapaz desconhecido com uma trajetória um tanto obscura via MTST e uma garota narcisista cuja beleza estética sempre lhe renderam mais simpatia do idéias críveis para a realidade mundana! 

Existe ainda uma “esquerda” sem o PT no campo eleitoral? A realidade mostra que não, apesar do massacre sistemático e midiático imposto ao PT e aos seus principais membros desde as jornadas de inverno em 2013 que fizeram levantar todo um circo de horrores autistas na política, entre  zumbis e protofascistas da direita que culminou no golpe de 2016. Todavia, a candidatura de Buolos poderá ganhar maior envergadura se Lula for impedido por definitivo de se candidatar por via da manobra golpista de um Judiciário que age com às rédeas do estado de exceção e, claro, se o PT apoiá-lo! Medida que na prática será pouco provável diante de uma eleição marcada pela farsa jurídica da prisão de Lula para impedi-lo de concorrer ao Planalto e o caos político pós-golpe.  Caso o Lula for definitivamente impedido, que é o cenário mais provável, o PT deverá então lançar candidato próprio conforme indica sua cúpula. Um nome forte que possivelmente poderá surgir é do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.  Todavia, será um jogo suicida apresentar um candidato às vésperas de uma eleição, em outubro. Uma composição com Ciro Gomes é a alternativa cada vez mais distante, pois o próprio consegue inviabilizar qualquer aliança entre as esquerdas com seu temperamento explosivo, arrogância autoritária, posicionamento neoliberal e “surfista” de partidos políticos com mais de sete siglas a começar pelo PDS (Partido Democrático Social), partido que sucedeu a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à ditadura civil-militar no brasileira (1964-1984), passando pelo PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS até chegar o atual PDT. Entretanto, é importante compreender que diante da atual circunstância conjuntural, uma candidatura “puro sangue” de esquerda será praticamente impossível de ser eleita. Entre o “ideal” e o “real” existe um fosso chamado “estado de exceção” no país.

É importante salientar que o golpe de 2016 jogou o país um profundo fosso político. Nem mesmo, no campo dos golpistas, no momento, não há um consenso de um nome para levar o projeto de poder golpista até o Planalto pela via da ilusão eleitoral. Diante do fosso do pós-golpe, as esquerdas só tem um nome possível, com chances reais de vitória que é de Lula. Gostemos ou não! Levando em consideração que as esquerdas, ou seja, os principais partidos dentro deste espectro, querem realmente algo importante diante do cenário político turbulento, é preciso mais pragmatismo e menos alucinações inócuas e irrealistas.

Com todo o respeito que vem merecendo, Buolos, o neófito em pleitos e seria muito melhor como um futuro parlamentar, é aquele cara muito bacana que todos gostam para bater um papo e tomar um café, mas não para liderar o país em um dos momentos mais críticos de história recente. Um erro crasso que o fragmentado campo das esquerdas não fez e evitou ao máximo fazer: construir uma alternativa real, dentro dos limites impostos pelo golpe de 2016, ao poder sem cair na “lulodependência”.

O cenário político brasileiro seguirá confuso, turbulento e nenhuma hipótese poderá ser descartada, inclusive ações mais dantescas possíveis, como um novo golpe militar. Sequer as eleições de outubro estão declaradamente seguras diante do banditismo jurídico com total insegurança jurídica que “escolhe” quem pode ou não participar do pleito. O fosso político capitaneado pela grande mídia golpista no processo de “negação da política” e parindo figuras nefastas como Jair Bolsonaro que ainda goza de grande “intenção de votos” em pesquisas eleitorais, segue trágico imperando sem cessar na sociedade brasileira. Apesar de tudo que foi relatado, parece que as esquerdas ainda não se deram completamente convencidas desta realidade. A possível eleição de outubro não será a tábua de salvação do Brasil, mas um fracasso retumbante das esquerdas amarradas à ancora dos erros estratégicos jogará o país para um cenário mais dantesco do que já estamos sobrevivendo. A Caixa de Pandora dos pós-golpe se abriu e não há mais margem para os amadorismos e a falta de senso de realidade da macropolítica no campo das esquerdas.

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