Nesta segunda-feira, 07/05, Guilherme
Boulos, candidato à presidente pelo PSOL, foi o entrevistado no programa
"Roda Viva" da TV Cultura, estatal do governo do Estado de São Paulo
e controlada pelos tucanos do PSDB, partido-fundador do golpe de 2016. Foi bem,
como um bom samaritano, proferiu palavras de esperança e afeto, lançou sua
candidatura de então "ilustre desconhecido" para o público de São
Paulo e teve que aguentar os grotescos dispartes neoliberais dos papagaios de
pirata de alguns “entrevistadores” que a todo o momento dispararam galhofas e
perguntas. Ressalta-se que Boulos, o nome protagonista do MTST, se mostrou com
um discurso comprometido no campo das esquerdas e, fato esse, é muito louvável diante
da perversão protofascista da onda conservadora que assola o país desde 2013!
Mas há problemas sérios na
construção de uma possível “alternativa Boulos” para o campo das esquerdas. Questões
em aberto que merece reflexão para pensar saídas factíveis para o impasse das
esquerdas diante de uma tétrica conjuntura política pós-golpe. Uma questão
introdutória seria: quem é Boulos e o que ele fez para merecer ser lançado como
candidato à presidência? Marcelo Freixo, o deputado estadual carioca e sua
prepotência "higienista" foi uma espécie de "inventor" da
candidatura Boulos. Nitidamente para criar uma espécie de "Lula
psolista" com a trajetória “atualizada” de Boulos, mas sem levar em
consideração as conjunturas do pós-golpe em pleno estado de exceção e ataques
protofascitas contras as esquerdas. Neste cenário caótico após a queda de Dilma e
desestruturação das esquerdas, Paula Lavigne, uma espécie de “empresária-socialite”
da “esquerda festiva” tem seu dedo na “invenção Boulos”. Claro, a cúpula do PSOL
vai jurar de pés juntos que “jamais pensou algo assim”, mas em tempos
eleitorais, a sinceridade é um dos primeiros atributos a sucumbir. Para Lavigne,
a esposa de Caetano Veloso, tanto faz apoiar Marina Silva ou Guilherme Boulos,
o importante é “causar” em nome do fetichismo de uma pequena burguesia
ilustrada do eixo Rio-São Paulo que julga ser “esquerda” com vivência em
lugares “descolados” como o bairro paulistano da Vila Madalena ou o Leblon
carioca.
É preciso fazer justiça: Boulos
é uma grata e ótima promessa no campo das esquerdas, mas precisa passar pela
vida pública minimamente e não ser catapultado logo para o Planalto. Em Política,
toda fora de “ligação direta” soa como oportunismo descarado! Lembrando ainda o
fato de Boulos simplesmente ter se filiado ao PSOL poucas semanas antes do
anúncio de seu lançamento na aventura do Planalto. Até dias antes da sua
filiação em 05 de março deste ano, Boulos articulava um esboço de partido o “Vamos”,
possivelmente uma tentativa de mimetizar as conjunturas do “Podemos”, partido à
esquerda espanhol, criado em 2014 que se popularizou rapidamente. O “Vamos”,
com uma plataforma inicial altamente culturalista, não conseguiu ainda se
transformar um partido político, que poderia ingressar alguns descontentes do
PT, alguns outros nomes de setores progressistas e, possivelmente, o soterramento
do PSOL. O mais incrível é que no dia 10 de março, ou seja, apenas cinco dias
depois de sua filiação, Boulos era oficializado como candidato à presidência do
país pelo partido!
Algumas questões que mereceriam
maior reflexão, mas que agora se perdeu com o tsunami dos acontecimentos. Houve
um real debate interno para encabeçar o nome de Boulos? Certamente impossível dentro do prazo de filiação
e escolha do candidato! Seria então Boulos uma “unanimidade” na política
interna do partido? Pouco provável! E se sim, qual relevância tem Boulos para
representar um nome para a presidência no campo das esquerdas? A possível
justificativa cheira o odor do oportunismo. Não é prudente uma atitude desta
natureza e soaria que o PSOL se transformou em um partido de aluguel para
interesses particulares! Deixaremos a palavra aos então pré-candidatos a
presidência pela sigla psolista, Plínio de Arruda Sampaio Jr. e Nildo Oriques.
Para um partido que sempre
critica o PT por “não fazer crítica interna”, o PSOL está perdendo a
oportunidade de seguir seu próprio conselho. Tais atos de "invencionismos"
não são da natureza das esquerdas (ao menos, não deveriam ser!), mas sim da
Direita que fabrica nomes oportunistas para criar um "fato novo" e
ludibriar o eleitorado. Não estamos em momento laboratorial para brincar com
tubos de ensaio com nomes se nenhuma "musculatura" diante de
terríveis acontecimentos que estão fazendo o país retornar às condições
surreais e lastimáveis. Pior ainda é o nome da vice da chapa de Buolos, Sonia
Guajajara, uma ilustre desconhecida para a imensa população brasileira, cujo
único fator de relevância política é a “identidade indígena”. Sintoma exemplar
dos delírios pós-modernos do culturalismo identitário que intoxicou o campo das
esquerdas, em particular, o PSOL. Tudo tão lindo, angelical e romântico, se não
fosse uma questão torrencial que precisa sempre ser ressaltada: estamos sob um
golpe de estado via estado de exceção e não um campo idílico da edificante
democracia nórdica dos bons, brancos e puros de coração!
Na prática, tanto Buolos do
PSOL quanto a outra “invencionice” do PC do B, a candidata que se comporta mais
com uma garota-propaganda de si mesma, Manuela D´Ávila, tudo indica, não
conseguirão juntos 2% das intenções de voto do eleitorado. Ambos são muito fracos e é muito preocupante
ao ver que todo o campo das esquerdas “não-petista” se reduziu a um rapaz desconhecido
com uma trajetória um tanto obscura via MTST e uma garota narcisista cuja
beleza estética sempre lhe renderam mais simpatia do idéias críveis para a
realidade mundana!
Existe ainda uma “esquerda” sem o PT no campo eleitoral? A realidade
mostra que não, apesar do massacre sistemático e midiático imposto ao PT e aos
seus principais membros desde as jornadas de inverno em 2013 que fizeram
levantar todo um circo de horrores autistas na política, entre zumbis e protofascistas da direita que
culminou no golpe de 2016. Todavia, a candidatura de Buolos poderá ganhar maior
envergadura se Lula for impedido por definitivo de se candidatar por via da manobra
golpista de um Judiciário que age com às rédeas do estado de exceção e, claro,
se o PT apoiá-lo! Medida que na prática será pouco provável diante de uma
eleição marcada pela farsa jurídica da prisão de Lula para impedi-lo de
concorrer ao Planalto e o caos político pós-golpe. Caso o Lula for definitivamente impedido, que
é o cenário mais provável, o PT deverá então lançar candidato próprio conforme
indica sua cúpula. Um nome forte que possivelmente poderá surgir é do
ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Todavia, será um jogo suicida apresentar um
candidato às vésperas de uma eleição, em outubro. Uma composição com Ciro Gomes
é a alternativa cada vez mais distante, pois o próprio consegue inviabilizar qualquer
aliança entre as esquerdas com seu temperamento explosivo, arrogância autoritária,
posicionamento neoliberal e “surfista” de partidos políticos com mais de sete
siglas a começar pelo PDS (Partido Democrático Social), partido que sucedeu a
Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à ditadura civil-militar
no brasileira (1964-1984), passando pelo PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS até chegar
o atual PDT. Entretanto, é importante compreender que diante da atual circunstância
conjuntural, uma candidatura “puro sangue” de esquerda será praticamente impossível
de ser eleita. Entre o “ideal” e o “real” existe um fosso chamado “estado de
exceção” no país.
É importante salientar que o
golpe de 2016 jogou o país um profundo fosso político. Nem mesmo, no campo dos
golpistas, no momento, não há um consenso de um nome para levar o projeto de
poder golpista até o Planalto pela via da ilusão eleitoral. Diante do fosso do
pós-golpe, as esquerdas só tem um nome possível, com chances reais de vitória
que é de Lula. Gostemos ou não! Levando em consideração que as esquerdas, ou
seja, os principais partidos dentro deste espectro, querem realmente algo
importante diante do cenário político turbulento, é preciso mais pragmatismo e
menos alucinações inócuas e irrealistas.
Com todo o respeito que vem
merecendo, Buolos, o neófito em pleitos e seria muito melhor como um futuro
parlamentar, é aquele cara muito bacana que todos gostam para bater um papo e
tomar um café, mas não para liderar o país em um dos momentos mais críticos de
história recente. Um erro crasso que o fragmentado campo das esquerdas não fez
e evitou ao máximo fazer: construir uma alternativa real, dentro dos limites
impostos pelo golpe de 2016, ao poder sem cair na “lulodependência”.
O cenário político brasileiro
seguirá confuso, turbulento e nenhuma hipótese poderá ser descartada, inclusive
ações mais dantescas possíveis, como um novo golpe militar. Sequer as eleições
de outubro estão declaradamente seguras diante do banditismo jurídico com total
insegurança jurídica que “escolhe” quem pode ou não participar do pleito. O
fosso político capitaneado pela grande mídia golpista no processo de “negação
da política” e parindo figuras nefastas como Jair Bolsonaro que ainda goza de
grande “intenção de votos” em pesquisas eleitorais, segue trágico imperando sem
cessar na sociedade brasileira. Apesar de tudo que foi relatado, parece que as
esquerdas ainda não se deram completamente convencidas desta realidade. A possível
eleição de outubro não será a tábua de salvação do Brasil, mas um fracasso
retumbante das esquerdas amarradas à ancora dos erros estratégicos jogará o
país para um cenário mais dantesco do que já estamos sobrevivendo. A Caixa de
Pandora dos pós-golpe se abriu e não há mais margem para os amadorismos e a
falta de senso de realidade da macropolítica no campo das esquerdas.
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