A celeuma por detrás das
modificações dos limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros é mais
um retrato da indiferença e o egoísmo patológico que adoece o paulistano. Além
disso, toda uma sórdida campanha da mídia local contra o prefeito Fernando
Haddad por ele ser simplesmente do PT. Qualquer criatura com dois neurônios
operacionais entende (ou deveria entender) que quanto maior a velocidade
desenvolvida num automóvel, maior a propensão técnica à acidades,
principalmente numa cidade complexa e sitiada de carros por todos os lados. Mas
o tal “cidadão de bem”, sempre preocupadíssimo com o próprio rabo egóico, pára
um segundo para refletir sua conduta de vida?
Hoje mesmo, pela manhã,
ouvindo passivamente o programa do Jose Paulo de Andrade na Rádio Bandeirante
de São Paulo, cuja programação tem como especialidade absoluta falar mal dos
governos do PT e enaltecer o governador tucano, Geraldo Alckmin. A pérola do
dia foi dizer, em seu programa matinal, que ao reduzir a velocidade das
marginais iria causar maiores congestionamentos e poderia provocar mais mortes!
Ademais, para dar maior "cientificidade" à esculhambação do prefeito
Haddad, o programa duvidou da capacidade intelectual dos operadores da
Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), e questionou a formação dos técnicos,
fazendo uma ilação preconceituosa, que eles não seriam formados em São Paulo,
logo, não conheceriam a realidade paulistana. Possivelmente, para os
comentaristas da reacionária e bairrista Rádio Bandeirantes, somente e tão
somente, existe tráfego e congestionamentos exclusivamente na cidade de São
Paulo. É desnecessário dizer que se a medida fosse aplicada pela gestão de
Alckmin, a rádio faria questão de ressaltar a preocupação "humanitária" do coração de
titânio do governador tucano. É sempre assim, na “imparcial” cobertura Band de
notícias!
Do ponto de vista da realidade
prática e trágica, o Brasil é um dos campeões mundiais de mortes no trânsito.
Somente em 2013, 42.266 pessoas morrem vítimas das irresponsabilidades e
acidentes automobilísticos. O Poder Público, no que tange a regulação do
trânsito para proteger vidas, tem que agir de forma incisiva, técnica,
educativa e também punitiva. Não vamos esperar que somente o “bom senso” (este
bordão tão subjetivo) opere de forma cândida, espontânea e ordeira com os
paulistanos, isto não irá ocorre na selva das rodas das insanidades
psicológicas traduzidas na irracionalidade das ruas.
Ademais, qual o sentido de
produzir tantos carros cuja velocidade irracional é como uma arma tanto para o
motorista, quanto para os pedestres? Tecnicamente, por exemplo, um acidente com
uma velocidade de 60 km/h em um tráfego intenso já impossibilitaria um tempo de
reação do motorista o qual fosse possível evitar uma colisão. Num país onde a
indústria automobilística dita as normas da circulação viária, a vida humana e
o deslocamento coletivo é relegado à ultimo plano em nome exclusivo dos lucros.
Na patologia de uma
pós-modernidade artificial e voltada para o lucro egóico, a pressa da sociedade
para o vazio é o reflexo de um mundo onde a indiferença é o produto maior de
uma modernidade cada vez mais excludente, ignorante e, sobretudo, alheia ao
sentido de coletividade e segurança em comunidade. Neste contexto, a política
do ódio, vai de vento em popa, procurando sempre um pretexto para exalar as
frustrações cotidianas e escolher um "inimigo" material e bem
calculado para gozar as insatisfações. No rol da estrada do absurdo, a Grande
Mídia faz o papel de um pequeno demônio na orelha do "cidadão de bem"
e vive a assoprar os motes do momento para faz jus ao ódio represado.