terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Artigo publicado na Revista LEVS



Aproveito a oportunidade para comunicar que meu artigo intitulado “VIOLÊNCIA, PUNIÇÃO E OS DILEMAS DA RESSOCIALIZAÇÃO: UMA ANÁLISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO (2000-2010)” foi publicado no novo número da Revista do Laboratório de Estudos da Violência e Segurança, LEVS No.  8 (2011), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Marília.

Para quem tiver maior interesse, acesse o link da revista LEVS com livre acesso ao download do artigo completo: http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/levs/issue/current


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VIOLÊNCIA, PUNIÇÃO E OS DILEMAS DA RESSOCIALIZAÇÃO: UMA ANÁLISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO ESTADO DE SÃO PAULO (2000-2010)

Wellington Fontes MENEZES



Resumo

A questão das formas de punição para aqueles que cometem delitos é ainda um grande desafio para uma sociedade que busca impor seu conjunto de regras sociais aos seus indivíduos. Violência e pobreza são fenômenos sociais complexos e não-excludentes, mas não são dependentes. A construção uma gigantesca e perdulária maquinaria carcerária vêm se mostrando limitada e se observa apenas uma preocupação com a arquitetura do cumprimento da punição ao invés de uma ênfase substancial na difícil promoção da ressocialização do encarcerado. A partir do entendimento que a violência vem se transformando ao longo da história e observando os dilemas do mundo da prisão, o presente trabalho tem como objetivo apresentar um breve panorama da situação do sistema penitenciário do Estado de São Paulo (2000-2010) e como o Poder Público vem tratando a temática da questão prisional. A importância com a comparação da realidade do cenário prisional nacional se fez necessária para contribuir no estudo do sistema penitenciário de São Paulo.

Acesso: http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/levs/article/view/1654

terça-feira, 15 de novembro de 2011

USP e Polícia Militar: Entre a histeria e o populismo acadêmico







1.    Ares do populismo acadêmico.

O fenômeno do “populismo", em linhas bem gerais, consistiu num termo utilizado para o movimento político que surgiu com a urbanização e industrialização no Brasil a partir dos anos 1930, e teve a figura de Getúlio Vargas como o maior expoente desta natureza no país. O populismo é calcado em promessas de um líder carismático, desvencilhado do partidarismo ou corporações e que procurou criar um vínculo emocional e empatia com as classes médias, e também as classes famélicas e carentes em troca de apoio político e legitimidade para assumir um dado governo ou garantir plenos poderes. O termo está longe de ter um consenso, e ademais, o populismo também se alastrou pela América Latina com variados espectros do posicionamento ideológico que vai da direita até a esquerda, dependendo do momento particularmente histórico.

No clamor dos fatos e do deserto que se transformou o olhar crítico da realidade, o populismo ainda resiste ao tempo e opera de diversas formas. Ultimamente reacendeu sua vulgata menos explícita: o populismo acadêmico. De um ponto de vista da constituição da Esquerda e das possibilidades de ser reinventada como real alternativa ao neoliberalismo, atualmente, praticar o populismo acadêmico parece ser mais fácil e, paradoxalmente, permite dar margem ao rolo compressor aos donos do poder do momento. Difícil realmente é propor saídas factíveis que possam renovar o pensamento de Esquerda como projeto viável para as graves complexidades do mundo sem recair nos bolores de um esquerdismo de boutique infantilizado e fossilizado. Entre o discurso histérico, birrento e midiático, assistimos ultimamente a uma enxurrada de chavões e bobagens desconexas.

 


2.    A soberba de Pilatos

Voltemos ao caso da polêmica uspiana do momento. A cidade universitária da Universidade de São Paulo (USP), situada no campus do Butantã, zona oeste de São Paulo, é um caso singular pela sua grande dimensão territorial e dinâmica interna com seus institutos e faculdades e milhares de alunos, professores e funcionários. A USP tem um orçamento anual em torno de R$ 2,8 bilhões de reais, parcela de 5,02% do ICMS de São Paulo, maior do que a soma das outras duas universidades estaduais UNESP e UNICAMP e mais que o dobro do que muitas cidades que são capitais de Estado, por exemplo, a cidade de Aracaju, capital do Estado de Sergipe, que tem um orçamento anual em torno de R$ 1 bilhão de reais. Com o tempo, devido as suas grandes dimensões, a cidade universitária tem tido problemas como qualquer outro aglomerado urbano, como é o caso da violência banal e cotidiana dentro do campus. E por meio de um estatuto que vigora deste o tempo da ditadura militar (1964-1985), não é permitido que a polícia atue dentro do seu campus. Entre discutir se ainda é um avanço ou retrocesso a manutenção desta regulamentação, é importante refletir a realidade do mundo atual. Fazer a crítica sobre a atuação da polícia militar no episódio da invasão de alguns alunos à reitoria se faz necessário. Apesar de gozar de um orçamento gigantesco, parece que o mais difícil para a universidade, propor políticas efetivas de segurança pública para seu interior. A crítica que se faz não é pelo tamanho do orçamento, sempre necessário para sua importância, mas o estranhamento de suas várias omissões perante muitos fatos. A falta de transparência e democracia interna na USP é tão verdadeira que reflete na escolha indireta dos diretores de institutos e faculdades e da própria figura do reitor. As demais universidades públicas seguem a mesma ladeira da burocracia e do engessamento universitário.

Outra questão que é “cara” dentro dos pilares universitários é a omissão sobre circulação de drogas. Sempre tratadas com vistas grossas ou simplesmente um assunto insignificante, tolerante ou “temática reacionária”. Dentro de tantas retóricas que pairam dos debates universitários, muitas vezes tão estéreis quanto esperar germinar sementes no deserto do Saara, uma delas é deixar o narcotráfico adentrar em suas estruturas e tudo ser tratada como “uma coisa menor”. Além do sorvedouro de drogas ilícitas, é muito usual (praticamente obrigatório!) que as festas sejam regadas com muito álcool e nas várias “baladas” pueris patrocinadas pelos alunos dentro do campus. Tudo dentro da mais cândida normalidade! Claro, que quem se aventura a adentrar na crítica deste submundo acadêmico corre o risco de ser literalmente apedrejado pelos “heróis da resistência” com coloração infanto-esquerdóide. Longe de fazer um discurso moralista, a questão é que tipo de “socialização” se faz dentro do espaço público universitário: “beber, cair e levantar”? Novamente, a universidade finge que nada ocorre e sequer uma campanha de conscientização mais efetiva para os mais jovens sobre álcool e drogas é realizado em seu campus, ou seja, se “naturalizou” a embriaguez social.

Na estética da violência, politicamente foi um desgaste desnecessário o deslocamento da Tropa de Choque da Polícia Militar para o campus, independente de se apoiar ou não a invasão atabalhoada de alguns alunos na reitoria da universidade. Sendo assim, apesar do tom oficial de que a polícia estivesse “cumprindo o seu dever”, notou-se num exagero policialesco que apenas alimentou o lado tragicômico do “revolucionarismo de boutique”. Por outro lado, somente a cegueira infanto-esquerdóide não percebeu o desgaste que deu para universidade perante a opinião pública com cenas bisonhas e surreais de alunos encapuzados praticando vandalismo explícito no patrimônio público da universidade e, não-raro, com mensagens sugestivas e irresponsáveis sobre propaganda de drogas. É bom salientar, que para muitos que adentram na festa do “oba-oba”, é bem mais importante a preocupação com uma “messiânica revolução” do que com o resto da sociedade. Pouco adianta dizer que foi “culpa das imagens feitas pela imprensa”, mesmo porque quem conhece os intestinos do tal “movimento estudantil” sabe que infelizmente muitas de suas ações são movidas a politicagem parasitária. Aliás, como qualquer outra organização refém da lobotomia política e sujeitas a erros e acertos, desentendimentos e fracionamentos. É fundamental a defesa da universidade pública, gratuita e incorporada de qualidade. Todavia os excessos e desvirtuamento desta proposta se tornam de difícil sustentação.

No episódio da invasão da reitoria da USP, a crítica não se manifestou claramente pela defesa da liberdade de expressão e do ensino público, mas de uma suposta “liberdade” que alguns acreditam ter diante do gozo de privilégios. É importante salientar, que diante das cenas patéticas do teatro da invasão da reitoria, se houve excessos da polícia contra os "infanto-revolucionários", ou seja, os mais novos “presos políticos” do país, tem que ser apurado com rigor como qualquer excesso da força pública. Por outro lado torna quase risível é inverossímil o discurso acalorado e populista do “retorno da ditadura" e o "viva os presos políticos!" cujas argumentações beiram a infantilidade, oportunismo político ou a simples má-fé. Na comédia dos erros uspianos, o saldo é negativo para todos os lados e igualmente toda a sociedade perde com cenas deprimentes, midiáticas e desnecessárias.

A bacia de Pôncio Pilatos não cabe dentro de uma universidade que se vangloria de ser a vanguarda do conhecimento. Reiterando, ninguém em sã consciência quer uma polícia fascistóide, agressiva, despreparada e truculenta, mas não basta fechar os olhos para as questões gritantes da sociedade. Dito de outra maneira, é muito cômodo posar de “pobre coitado” pequeno-burguês, uma “vítima do sistema” desfilando com roupas de grife. Difícil é passar mais de duas horas de translado em transporte público superlotado com exíguos recursos econômicos nos bolsos. Pior ainda é gerar uma antipatia generalizada perante a opinião pública com reivindicações que não refletem o momento histórico e não primam pelo bom senso. Nem tudo que reluz é realmente o que parece ser...

 


3.    O dúbio discurso.

A questão que se torna pertinente é se a sociedade quer realmente uma polícia honesta e eficiente. O país do jeitinho brasileiro, da “carteirada” (bem ao estilo: “Você sabe com quem está falando?”), jovens que se aproveitam da condição de “universitários” para burlar regras e permanecerem impunes, as típicas rodinhas entre amigos que puxam sorridentes um “inocente baseadinho” ou perfilam uma “carreirinha social”, sem falar das mazelas da classe política e do banditismo dos alcoólatras ao volante que ajudaram a matar quase 40 mil brasileiros no asfalto somente no ano de 2010. A lista é extensa e igualmente bárbara. A democracia brasileira parece estar mais fadada a ser um amontoado de favorecimentos que apenas nutrem privilégios setoriais e classistas de distinta natureza. Enquanto corre o discurso da falácia democrática, surge a pergunta inevitável: quem quer perder privilégios oportunistas? Enquanto a retórica da “volta da ditadura” vigora na cabeça de alguns saudosistas, é importante lembrar que um novo modelo de segurança pública é tão importante quanto novos modelos para as demais áreas da vida social. É fácil tecer criticas do alto do Olimpo, o difícil mesmo é propor soluções para a vida terrena. Infelizmente, o que se vê é um deserto de retóricas rocambolescas que pouco colabora em subsídios para construir minimamente modelos alternativos.

A patológica crise na Educação,em particular na Educação Básica, assim como em todos os setores sociais, é severamente preocupante e vem sendo tratada como uma "coisa menor" pelas políticas mercantis neoliberais. Todavia, tratar segurança pública como apenas "coisa da ditadura" é ficar preso ao retrovisor do tempo sem buscar alternativas para a violência cotidiana que muito em parte é gerada pelo tráfico de drogas (tão amplamente defendido pelos seus adeptos com grande número de consumidores e simpatizantes universitários que o faz em espaço público).

Falar em autonomia universitária é fácil, difícil é fazer com que algumas universidades desçam do cômodo pedestal com seus debates estéreis e se misturarem com a realidade. Se a USP é exemplar com seus centros de excelência, também é exemplar com seus muros, sua burocracia e ares de Olimpo. Fácil é desfilar pelo campus com seus carros e carrões. E se alguma coisa acontecer ao patrimônio material, os mesmos que não querem nenhum tipo de segurança pública no campus vão querer imediatamente a intervenção da Presidência da República! (E ai se a polícia não solucionar o problema!...)

Quem disse que alguns iluminados do “movimento estudantil” são os detentores do monopólio da vanguarda e da razão suprema por serem simplesmente “jovens universitários”? E quem disse que temos uma polícia totalmente preparada para atender a população sem excessos, sem agressividade gratuita e com dignidade? É preciso avançar em busca de soluções e a autocrítica merece sempre ser motivo de consideração. Ademais, preocupante ainda é a própria universidade recorrer a velhos hábitos e não buscar propor modelos alternativos para problemas que estão debaixo do seu nariz. Nunca é demais dizer que se alguns sectários do movimento estudantil com suas prosopopéias iluminadas querem mimetizar alguma coisa mais substancial, que se inspirem nas reivindicações dos estudantes chilenos e ingleses que há semanas vem brigando por melhores condições na Educação nos seus respectivos países. A oxigenação é sempre muito importante para o corpo e a mente. As lutas sociais não podem ser banalizadas e merecem ser respeitadas com causas mais dignas, nobres e sem ficar choramingando privilégios irreais. Cabe ainda à universidade desvencilhar-se da política do avestruz, destronar Pilatos e o populismo imediatista e refletir seu papel e sua contribuição perante a sociedade.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Muita fumaça e pouca realidade

(Cena surreal: Na foto, alunos encapuzados montando barricadas nas aproximidades do prédio da FFLCH. Tudo em nome da maconha?. - 27.out.2011. Fonte: Folha)

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Notícias da imprensa destacam que nesta última noite, 27 de outubro, ao menos cem estudantes ocuparam o prédio da administração da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP (Universidade de São Paulo), após confronto com a polícia. Interessante notar que nossos “bravos” colegas uspianos, alguns estranhamente encapuzados, que participaram do protesto e quebradeira do patrimônio público tinham como objetivo defender três colegas que foram pegos pela Polícia Militar no campus da USP fumando maconha. Coisas típicas da adolescência tardia com carteirinha universitária e livre acesso a drogas em nome de uma suposta auto-afirmação existencial. Ademais, a solidariedade estudantil expandiu o ato para  um “repúdio” da presença da Polícia Militar dentro do campus. Algo bem surreal para a sociologia da vitimização que tomou conta de muito dos atuais debates a respeito da sociedade contemporânea.



O que vale lá, nao vale cá.

Para quem conhecem bem o paraíso livre do consumo de entorpecentes da USP, isto não causa menor surpresa. Curiosamente, muitos alunos que pregam a “igualdade democrática”, não aceitam que as leis da sociedade se apliquem ao paraíso do campus. Alunos consumindo maconha livremente e o bendito cheiro do mato queimado ecoando livremente pelos prédios, corredores e áreas arborizadas. Tudo de forma permissivamente impune numa suposta "vanguarda da modernidade” constituinte de um religioso uso de drogas com tatuagens adornando o corpo com metais anexos. O modelito perfeito para o kit-acadêmico pós-moderno!


Longe da estética "fashion", fato pertinente são os centros acadêmicos (CA) que em tese deveriam zelar para defender os direitos dos alunos e da universidade. Porém suas áreas são impregnadas pelo cheiro e a livre circulação de drogas. No início dos anos 2000, período de minha gestão como diretor do Centro Acadêmico do Instituto de Física da USP (CEFISMA) era muito comum encontrar os alunos deitados nos sofás e fumando idilicamente no recinto fechado do CA. Na época, então diretores do CEFISMA, tentamos proibir (ou melhor, "minimizar") o fumo herbáceo dentro do espaço do nosso centro acadêmico, porém foi muito difícil “educar” um espaço onde um número significativo de alunos acham que suas vaidades pessoais eram mais importantes que os interesses coletivos. Vale ressaltar sobre a estranha dialética dos defensores de drogas. Qualquer coercitiva medida desta natureza era considerada “totalitária”, principalmente para os saudosistas de algum golpe militar latino-americano. De lá para cá, naturalmente, as coisas evoluíram tanto quanto o deslocamento da Lua sobre a Terra.


É importante destacar que não se trata de fazer policiamento dos atos privados de alunos. Mas ao utilizar o espaço público com um fumódromo de drogas à revelia ocorre numa imposição e constrangimento da vontade juvenil de uma minoria sobre o restante e maioritário número de não-usuários. Infelizmente, muitos dos que fazem um ácido discurso contra as “tiranias da direita” são os mesmos que impõem suas vontades de consumirem drogas e, por conseqüência, contribuirem diretamente para alimentar os tentáculos do narcotráfico.



Fora de contexto.

Se utilizar drogas nos anos 1960 e 1970 tinha um significado simbólico e mistificador de “transgressor” e “libertário”, hoje é importante destacar que não faz mais eco e algum sentido tal simbologia. Sem cair no debate do juízo de valor, independente de muitas vontades pessoais, o mundo muda padrões, ideologias e culturas ao longo do tempo. A questão das drogas se tornou parâmetro de duas esferas correlacionadas à saúde pública e também à questão de segurança pública. A suposta ingenuidade de um simples cigarrinho de maconha esconde toda uma indústria do crime globalizada onde impera a criminalidade, assassinatos e corrupção político-policial. O discursinho simplório da liberação de drogas é muito bonitinho e conveniente para os moradores da fina-flor da burguesia que podem pagar perdulários tratamentos de desintoxicação para seus mimados filhotes consumidores. Para o restante da população, em especial nas periferias dos grandes centros urbanos e cidades do interior, uma horda de usuários vivem perambulando pelas ruas como zumbis e que fazem qualquer coisa em troca de alguma pedra de crack ou um cigarrinho de marijuana. Pequenos assaltos, delitos e prostituição são também tentáculos de uma mesma cadeia da indústria das drogas (ilícitas ou não).


O que realmente causa repúdio é a cínica dialética entre querer que uma Polícia Militar paga com o erário público defenda os belos carrões que desfilam cotidianamente na USP, mas sem que isto interfira no tráfico de entorpecentes instalados no campus. No vazio psicanalítico das utopias presentes na Pós-Modernidade, qualquer transgressão se torna motivo atávico de produzir uma falsa guerrilha. O que se vê são as pérolas de alguns alunos que acham contribuir para a sociedade em nome da sua mais plena e arrogante causa narcisíca. Neste ínterim, ultimamente assistimos a privatização dos protestos narcísicos com um leque de supostas reivindicações que beiram o surrealismo. No caso dos protestos em favor das drogas, as redes de criminosos como o PCC e suas divisões agradecem aos fiéis e “esclarecidos” consumidores por lutarem pela resistência do impressionante e bilionário mercado de entorpecentes.



O blablablá de um falso debate.

Do outro lado do pseudo-debate, curiosamente quando a Política Militar arrebenta jovens pobres da periferia, a classe média paulistana com um sorriso fascistóide aplaude com fervor e pede mais punição severa aos “bandidos”. Todavia, quando jovens bem nutridos e muito bem vestidos com verniz universitária e uma grife da USP ou de alguma das co-irmãs estaduais são incomodados do deleite herbáceo, o caso toma uma dimensão para além dos muros universitários. Aliás, os muros da hipócrita conveniência que protegem justamente esta minoria de consumidores.


Na prática, temos de fato muita fumaça para pouca realidade. A retórica do debate das drogas se reduz ao sensacionalista do que uma discussão mais sincera. Naturalmente, é mais fácil fazer belos e eruditos discursos acadêmicos com verniz pseudo-esquerdista em favor dos vitimados usuários do que discutir seriamente e sem falsas retóricas sobre causas e conseqüências da questão das drogas no Brasil. Se por um lado, o usuário de entorpecentes é supostamente uma vitima, de outro lado, igualmentemente vítima é o não-usuário. A sociedade brasileira, em particular, o povo de São Paulo, merece muito mais respeito com o dinheiro público que investe na educação superior e onde uma minoria acredita que o espaço da coisa pública é extensão da bancada do quarto para puxar uma fileirinha ou acender uma erva danada. 


Tantas são as questões a serem trabalhadas e refletidas para uma sociedade mais digna, justa e igualitária. Precisamos debater e contribuir com outros paradigmas para o mundo e não ficar puxando fumo em questões viciadas, irrelevantes e estéreis para a sociedade. A universidade pública historicamente deverá seguir com seu compromisso com a sociedade no que se refere a produção e socialização do conhecimento, a formação e o desenvolvimento do país.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

“Roubado é mais gostoso”: Itaquera e a Copa dos Bons Amigos










(Passageiros na plataforma da Estação Corinthians-Itaquera aguardando embarque no metrô e ao fundo as instalações do futuro estádio da Odebrecht. Foto do autor.)



1.    A farra com o erário

O espetáculo perdulário da promoção da Copa do Mundo no Brasil beira a completa barbárie. Na última quinta-feira, 20 de outubro, uma verdadeira carreata do oportunismo político ocupou o terreno baldio ao lado da Estação Itaquera do metrô. Como se fosse para bater uma “pelada” a “rapaziada” se animou tanto que inclusive estava presente o ex-craque do futebol nacional, o neocorintiano Ronaldo Nazário, que é o atual fenômeno dos bastidores da publicidade esportiva e contratos obscuros. Talvez faltasse um colorido mais popular a confraternização tais umas cervejinhas, além da carne de felino para queimar no carvão. Sem uma batucada mais estridente, o principal motivo da Copa em São Paulo já tinha sido acertado bem antecipadamente: se não deu pagode, dará muito lucro aos seus organizadores.

A várzea é aqui. A caravana foi politiqueiramente grande: a cúpula dirigente do clube do Corinthians acompanhada do tucano governador Alckmin, “apartidário” o prefeito Gilberto Kassab, representantes do Ministério dos Esportes, órgão mergulhado em denúncias de corrupção, além das mãos da parceria siamesa, Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Fédération Internationale de Football Association (FIFA). Muitos “companheiros” vieram ao bairro de Itaquera para representar a oficialização do teatro a respeito da “abertura” da Copa em São Paulo. Sem maiores cerimônias, o circo do terreno baldio se fez presente: gargalhadas de rapina, abraços, afagos, elogios acéfalos, ufanismo patético e cerca de um bilhão de reais do dinheiro público em jogo nas mãos da tal “iniciativa privada”.

Ironicamente, bem do lado da estação Itaquera, num terreno mais abaixo, estão alojadas temporariamente as instalações de um circo. Sim, literalmente um circo, o “Circo Moscou”, mas sem as invejáveis atrações governamentais presentes acima, no terreno baldio da prefeitura doado para a construtora Odebrecht fabricar o tal estádio. No capitalismo parasitário dos bons amigos, doação de dinheiro público tem o singelo rótulo de “investimento”. E quem paga a conta de tanta rapina amizade?

Futebol é apenas um esporte, independente das paixões envolvendo sua cultura. Todavia, os interesses coletivos básicos da população não deveriam estar acima dos interesses político-econômicos privados? Redondo e cristalino engano! Importante salientar e pontuar a disparidade dos projetos de megaeventos de verniz turístico-eleitoreiro. Há poucos metros do futuro estádio da Odebrecht onde foi feito a celebração da farra com o erário, há uma ocupação localizadas nas terras que margeiam um córrego localizado na saída do Metrô Itaquera. Um pontual exemplo da carência estrutural que vive o bairro e esta observação merece maior desdobramento.



2.    Itaquera sem mistificação

Com uma população de cerca de 530 mil habitantes, formada por classes C e D, dados da subprefeitura de Itaquera, que compreende Cidade Líder, Itaquera, José Bonifácio e Parque do Carmo. Itaquera não tem a “gente diferenciada” da esterilizada Higienópolis e este bairro da Zona Leste e se limita apenas a ser mais um bairro-dormitório de classe trabalhadora como muitos outros da periferia paulistana. Entre os aeroportos de Cumbica, em Guarulhos, e Afonso Penna, em Curitiba, não leva mais do que quarenta e cinco minutos de vôo, comparativamente a distância entre Itaquera até a região central da cidade de São Paulo é realizada em tediosas e exaustivas viagens que levam no mínimo uma hora de relógio (isto é, sem chuvas torrenciais), seja no trânsito engarrafado, seja no metrô superlotado. E quando chove, áreas de alagamento e bolsões de pobreza endêmica expõem a condição de carência crônica do bairro.

O terminal de ônibus localizado nas imediações do metro batizado oficialmente de “Estação Corinthians-Itaquera”, na verdade um complexo de transporte contendo metrôs, trens e ônibus e taxis. Após banir uma onda de camelôs que ocupava a estação, a administração do metro loteou a área em pequenas lojas de alvenaria e que aprofundou a canibalização comercial por pontos de vendas e degenerando qualquer suporte para ter uma boa logística de transporte para todos aqueles que chegam de metrô e precisam pegar ônibus e vans, ou vice-versa. Trocando em miúdos, com a concorrência do comércio local, o terminal de ônibus é uma preocupação secundária e os usuários são espremidos de forma humilhante e constrangedora entre as tendas comerciais e os ônibus e vans da SPTRANS, companhia da prefeitura que finge regular e fiscalizar o transporte público em São Paulo. Salvo os usuários que tem que utilizar pontos de ônibus que não tem cobertura sendo um transtorno adicional em períodos de chuva. O sofrimento do usuário é garantido com passagens a três reais para girar a catraca do ônibus e dois reais e noventa centavos para girar a catraca do metrô. Quem tiver o “bilhete único” consegue algum descontinho na empreitada. Os horários de pico é o verdadeiro Inferno de Dante para os usuários. Os gigantescos deslocamentos diários da população itaquerense até os locais de trabalho localizados nas regiões centrais da cidade forma um quadro macroscópico do descompasso pendular entre o mundo da vida privada e o mundo do trabalho.

Para completar a paisagem das imediações do futurístico estádio que representará São Paulo na Copa do Mundo, após anos de indiferença do Poder Público, muitas famílias em situação de precariedade vêm se aglomerando e inflando uma favela nas imediações do terreno presente nas saídas do metro de Itaquera, na direção centro-bairro. Aliás, como se diz no jargão eufemístico do cínico politicamente correto neoliberal, entre um córrego transformado em esgoto a céu aberto, ratos, insetos e misérias infindáveis, muitas famílias em situação de precariedade vem se consolidando numa “comunidade”. 

Ademais, a região de Itaquera, entre outras carências, sofre com o déficit de hospitais públicos. O hospital de referência da região é o superlotado “Santa Marcelina” e sempre envolto com crises sucessivas no atendimento da imensa população que carece passar pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Refletindo a retórica governamental sobre meio ambiente, vale à pena comentar mais um pequeno episódico detalhe de como o bairro de Itaquera é tratado pelo Poder Público. Após a desativação da antiga estação ferroviária de Itaquera, localizada no eixo centro do bairro, no início do ano, uma praça foi instalada em seu lugar. Cabe ressaltar que neste caso, o termo “praça” ou “parque” não passa de um sórdido termo eufemístico. Na realidade, se trata de uma área bisonhamente concretada, sem nenhuma preocupação paisagística, mal iluminada e com algumas pontuais e decorativas árvores solitárias. A tal “praça” ou “parque” é um lugar bizarro, precário e desalentador que mais se parece um cemitério de concreto para sedimentar lixo nuclear no coração de Itaquera. Naturalmente, é perceptível o tratamento diferenciado pelo Poder Público paulista nas diversos bairros de distintas economias locais da cidade de São Paulo. A administração do prefeito Kassab, vem se notabilizando em criar precários parques na cidade como os tais “parques lineares” que vem se espalhando pela zona leste da cidade. Em suma, uma verdadeira orquestração regida pela estupidez e o menosprezo com a população.




3.    Futebol como retórica e o preço da Copa

A cidade de São Paulo não precisa de mais estádios de futebol. De fato, carece de investimentos em infra-estrutura e organização para comportar eventos desta natureza. A questão da moradia popular é gritante e urge uma real política urbanística de ocupação do espaço público numa metrópole como São Paulo. Antes da vã euforia dos bajuladores do imediatismo irresponsável, não existe nenhuma correlação entre criar um estádio e desenvolvimento local sustentado. Aliás, o que vem se sustentando por todo o país é uma série de estádios de futebol com orçamentos superfaturados em nome da “Copa do Mundo”. Quase todos sem a menor coesão com a realidade local e que receberão seus respectivos  estádios. Tal como os novos que nasceram como velhos estádios, verdadeiros “elefantes brancos”, erguidos pela África do Sul que sediou o a Copa do Mundo de 2010, o estádio itaquerense da Odebrecht é um grande celeiro de desperdício bilionário de dinheiro público. Um exemplo de como o Poder Público relega os cidadãos a último plano e onde o poder econômico é a moeda de troca dos sórdidos interesses imediatistas, de várias estirpes: pessoais, políticos e econômicos.

Antes que um iludido torcedor do time do Parque São Jorge se exalte e reverbere toda sua artilharia psicanalítica típica de que todos estão contra o seu "Timão”, é fundamental entender que o estádio oficialmente será da construtora e com administração compartilhada com o Sport Club Corinthians Paulista. De concreto mesmo é a doação de verbas públicas na construção de um estádio numa área sem infra-estrutura para um evento deste porte, exceto pela miragem publicitária do sucateado metrô. Somente com muito ufanismo e ilusão que o Poder Público poderá transformar o carente bairro de Itaquera com uma propagandeada logística de “Primeiro Mundo” num tempo hábil que possa abrigar razoavelmente os jogos em meados de 2014.

Para os que vivem no bairro, os sinais são claros que absolutamente nada de concreto é (ou será) feito na região. Como o capitalismo age como abutres na carne deteriorada, o que se tem observado na prática é uma absurda corrida especulativa para construção de imóveis domiciliares. Prédios de apartamentos com áreas diminutas e com preços exorbitantes para o padrão de renda da população, além de um acentuado aumento dos aluguéis, o que possivelmente empurrarão mais pessoas para o bairro e afastarão outras de menor poder aquisitivo para regiões anexa a Itaquera. Resultado previsível: o que estava complicado tenderá a se agravar com maior inchaço populacional e na exígua infra-estrutura do bairro de Itaquera.

Vale como um salutar exemplo da fantástica máquina da corrupção e da demagogia política. Itaquera se transforma numa grande farsa dos bons amigos da Copa do Mundo. Na esteira da absoluta conivência das mazelas e corrupção desenfreada dos contratos, o futebol e a população são de longe as menores preocupações dos seus organizadores. O importante é aproveitar ao máximo a superboquinha que o evento trará aos irrequietos dedos e tentáculos da corrupção endêmica no Brasil e do capital externo. Como é possível que Ricardo Teixeira, o imperador perpétuo de uma entidade com a CBF, passe impune a todas as acusações de corrupção e continuar sendo intacto o principal gerente da organização brasileira da Copa de 2014? Por sua vez, até um patético “comunista” ministro dos esportes do Governo Federal é bombardeado por denuncias de corrupção é continua sendo mantido no cargo e tudo se passa como se nada tivesse acontecido. Seria mera coincidência o estreito e estranho laço entre o presidente do Corinthians, Andrés Sanches, chefe da delegação da Seleção Brasileira na Copa de 2010, e Ricardo Teixeira? Até mesmo, o técnico Mano Menezes, que saiu da direção do time do Parque São Jorge com apenas um título expressivo para clube corintiano e subitamente virou o atual técnico da Seleção Brasileira. Amizades tão frutíferas que o clube sempre lembrado por “não ter estádio”, caiu no colo do seu presidente Sanchez um estádio novinho em folha sem tirar um tostão dos cofres corintianos. Mera coincidência futebolística?

Diante do espetáculo de cinismo e corrupção, o que qualquer habitante de Itaquera realmente pressente é uma velha máxima que muitos torcedores do time do Parque São Jorge gostam de recitar provocando seus adversários quando o juiz tem um papel bem conveniente para o clube numa partida de futebol: “Roubado é mais gostoso!”.

domingo, 18 de setembro de 2011

O deserto de Itaquera


(clique na imagem para ampliar, foto do autor do blog em 17.09.2011)

Faltando menos de mil dias do início da Copa do Mundo no Brasil, o suposto estádio que abrirá o evento se encontra representado na foto acima. O marco contador soa no mínimo patético e para não dizer uma afronta ao contribuinte.

Em pleno deserto e turbinado com um bilionário investimento de dinheiro público a ser derretido no "Itaquerão" que na pratica apenas beneficia de imediato a construtora transnacional Odebrecht, sempre presente na participação ativa de doações em campanhas eleitorais no Brasil e, em segundo plano, o clube do Corinthians.

Quando futebol e política se misturam no mesmo gramado, o resultado é a face mais vil da corrupção à brasileira.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Diálogo com Zygmunt Bauman

Vale a pena assistir o ótimo e pertinente diálogo do sociólogo Zygmunt Bauman concedido em 23 de julho de 2011 para uma equipe conjunta da "CPFL Cultura" e do "Seminário Fronteiras do Pensamento". A questão da Pós-Modernidade é o tema central da conversa de Bauman realizada em sua residência, na cidade de Leeds, Inglaterra.

Veja o diálogo completo apresentado abaixo:



Entrevista exclusiva: Zygmunt Bauman from cpfl cultura on Vimeo.




Fonte: http://www.cpflcultura.com.br/site/2011/08/16/dialogos-com-zygmunt-bauman/

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Um Jogo Histórico



1. Um registro histórico.

Não foi final de campeonato, mas mereceria ser condecorado com um troféu. Independente da condição apaixonada da preferência do leitor por algum clube, a noite de 27 de julho merece ser lembrada no mundo do futebol devido a uma exibição histórica de duas grandes agremiações dos gramados brasileiros. Relembrando a nostálgica saga das eras de ouro do rubro-negro Zico e do santista Pelé, lendários em suas respectivas épocas e clubes, Flamengo e Santos deixaram mais um indelével registro.

Em plena Vila Belmiro, o invicto time da Gávea venceu numa surpreendente virada o robusto Santos com o placar memorável de 5 a 4, em partida constituinte da décima segunda rodada do Campeonato Brasileiro. No mundo do futebol, os registros jornalísticos, em geral, são correntezas de chavões e lugares-comuns, mas se as palavras que não brilham pela singularidade literária, também não refletem toda a “mágica” de uma partida que empolga e emociona os apreciadores do futebol. O estádio que acolheu a presença de Flamengo e Santos não presenciou nenhuma final de campeonato, não valeu título e tampouco alguma taça, mas foi premiado com digna e bela exibição de um bom futebol. Um esporte de tal dimensão que ultrapassa a mera prática futebolística e percorre um caminho de subjetividade inseridas numa cesta de variedades como paixão, espetáculo e tradição cultural.



2. Um jogo magistral.

Nove gols e ainda poderia render mais se fossem consideradas as chances desperdiçadas em ambos os times. Um jogo aberto de francos atiradores em prol de inflar as redes, algo que há muito não se assistia num Campeonato Brasileiro de sonolentas partidas (o mesmo acontece atualmente nos soníferos jogos da Seleção Brasileira).

Com time santista estava completo. Com Neymar, Ganso, Elano que voltava da Seleção Brasileira e demais companheiros corriam leves e soltos no seu gramado. Antes dos 30 minutos iniciais de jogo, o Flamengo chegou a estar perdendo com um atípico, imbatível e desalentador placar de 3 a 0. Após o baque, como se estivesse magnetizado pela aguerrida “aura” rubro-negra, persistente e com vocação atuante em buscar a todo o momento não esmorecer, o Flamengo precisou jogar muito além que o seu adversário. Páreo duro! Até o empate seria bom para o “coroamento” do espetáculo, mas ao término dos noventa minutos prevaleceu à vitória na “raça” do elenco flamenguista orquestrado pelo gol derradeiro de Ronaldinho Gaúcho aos 35 minutos do tempo final. Estava selada a virada histórica!

E por falar nele, Ronaldinho, que vinha tendo atuações modestamente apagadas nos últimos jogos do Flamengo, realizou a sua melhor partida até o momento com o manto rubro-negro ao marcar três gols e protagonizar participação inspirada ao longo do jogo. Não faltaram lembranças dos bons tempos quando ele atuava no espanhol Barcelona e na Seleção Brasileira. Destaque também para ótima presença do santista Neymar com dois grandiosos gols (um deles de raro brilho e técnica) e a pertinente assistência de Thiago Neves do Flamengo, inclusive marcando um gol. Vale mencionar que aos 41 minutos ainda no primeiro tempo e com 3 a 2 para o time da Vila Belmiro, destaca-se ainda o pênalti batido de forma displicente pelo santista Elano com irônica defesa do goleiro Felipe e que poderia selar o desfecho da partida. Nada além de um capricho do futebol e da arrogância pueril dos que se dedicam a praticá-lo.

Gol não é um detalhe, mas é um sintoma do espetáculo. Em época de futebol burocrático, truncado e onde a preocupação é a zona defensiva, um merecido aplauso merece menção. Com técnicos em raros momentos de coragem e abrindo mão das retrancadas táticas, o atual campeão da Copa Libertadores da América, Muricy Ramalho e o rubro-negro Vanderlei Luxemburgo, dignificaram suas participações na partida ao posicionarem seus times de forma alegre, objetiva e ofensiva. Porém, nada além que uma partida de futebol deve (ou deveria) prevalecer dentro de um animado espetáculo.



3. Para além do espetáculo.

Decerto, não há espaço para maiores ilusões no futebol contemporâneo e tampouco é possível ignorar sua importância na sua amplitude sócio-político-cultural. A sina capital do futebol é angustiante: globalizado, despersonalizado quanto à incessante mercantilização de jogadores, atado aos interesses da grande mídia e movido aos bilionários motores da negociata, corrupção desenfreada e especulação financeira. O futebol vai além do esporte e se consolidou como o maior fenômeno de massa e o mais praticado em todos os continentes do globo sob as formas mais distintas e dispares situações qualitativas. Mesmo massacrado pela pulsão desenfreada do capital, o futebol ainda mantêm alguns lampejos de que ainda é capaz de emocionar de forma qualitativa seus espectadores.

Saído de uma lógica presumivelmente materialista, a “mercadoria-futebol” é muito mais que um objeto reificado pelo capitalismo diante das engrenagens da indústria cultural. O “elemento-futebol” se tornou um lugar fundante de uma cultura globalizada e movimenta uma demanda de contingencias. Todavia, é possível verificar que na amplitude do “espetáculo-futebol” que constitui num movimento que emociona, dilacera e reconstrói uma identidade naqueles que de alguma forma são atraídos pelo encanto de uma dualidade entre a simplicidade de como o jogo é praticado e a carga energética oriunda em cada lance empolgante ou gol marcado.

Na vibração no campo, na audição do rádio, no fluxo de bytes da internet ou no monitor de alguma solitária televisão, sozinho ou em grupo, no cerne do “elemento-futebol” é possível perceber também uma “autorização” para a “descarga energética” das tensões do fragmentar cotidiano de um indivíduo (em linguagem psicanalítica, o espetáculo do futebol é um lugar “autorizado” para o gozo). Neste ínterim, na noite de quarta-feira, para os torcedores mais ávidos, o jogo memorável entre Flamengo e Santos é um destes “lugares” onde funde a amálgama que se encontra a emoção arrebatadora de uma partida de futebol e a identificação ressaltada para além de “torcer por um time” (na condição particular de um “time-nação”). Naturalmente, aqui não cabe fazer uma alegoria reducionista, mas somente observar a grande magnitude que condensa dentro de um espetáculo que desperta o desejo de multidões.

A realidade que escapa é a realidade que consome. Imerso na corrupção engendrada pela administração de Ricardo Teixeira em seu reinado sombrio diante da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e às vésperas de sediar uma Copa do Mundo, o Brasil precisa (e deve) resgatar o meu melhor e primoroso futebol dentro de campo e além das “quatro-linhas” deverá se preocupar na realização de uma verdadeira faxina na “caixa-preta” da administração dos clubes e das entidades que organiza o esporte. Na democracia de representação simbólica e regida pela batuta do capital, futebol e política se tornaram irmãs siamesas tão explosivas quando devastadoras.

Longe de fazer menção de uma política do “pão-e-circo” e das praticas nefastas da corrupção endêmica, mas refletindo o futebol como uma contribuição cultural, o jogo desta noite entre Flamengo e Santos merece um registro especial. Uma partida para o resgate do bom futebol brasileiro que remete às suas épocas áureas. Com o sabor de um “mais querer” nostálgico ainda latejante pela partida, cabe aqui um desejo que melhor seria para o bem do futebol que a magia ainda gotejante nos gramados contagiasse o imobilismo popular nas ruas e avenidas exigindo uma maior transparência e dignidade na administração de uma atividade cultural tão cortejada e reverenciada. Notoriamente, a corrupção na administração no futebol é apenas mais uma necrose atávica da longa lista de mazelas que assolam a sociedade brasileira.

Num mundo engessado pelos desmandos impunes dos senhores feudais dos clubes e entidades esportivas com total conivência do Poder Público, toda esperança de mudança deste nefasto cenário está longe de ver a cor da bola e segue sufocada em algum armário de vestiário. Diante da fosca realidade, um jogo como Flamengo e Santos não deverá ser a exceção, mas a regra para que o (bom) futebol possa ser cortejado pela sua magnitude e não pela sua mediocridade efêmera.




Para conferir os gols, assista abaixo:

terça-feira, 26 de julho de 2011

A Retórica do Combate




Apesar do samaritanismo governamental com viés eleitoreiro, os supostos esforços de "combate à miséria" no Brasil se tornou muito mais um bordão politico-demagógico do que uma real a preocupação de realizar o que prometem tais ações. Vale a pena lembrar alguns trechos da entrevista do professor da USP José Eli da Veiga, docente da pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP, à FOLHA DE S. PAULO:



FOLHA - O senhor acha que a linha de R$ 70 estabelecida pelo governo para definir miséria é correta?

José Eli da Veiga - Linhas de pobreza --ou de miséria-- não podem ser estabelecidas apenas com definições de níveis de renda monetária. Não creio que os colegas que estão no governo sejam imorais. Mas com certeza chegaram à insuficiente definição dos R$ 70 de renda domiciliar mensal per capita porque foram incumbidos de elaborar um plano factível, que possa ter sucesso em quatro anos.

FOLHA - Qual deveria ser, objetivamente, a linha que define quem é ou não miserável no Brasil?

VEIGA - Nas circunstâncias brasileiras, é miserável quem não tem acesso ao esgotamento sanitário. A rigor, além de tudo que está ligado ao saneamento ambiental e a um mínimo de conforto, duas outras coisas merecem destaque: o acesso a um serviço de saúde que realmente funcione e o acesso a um sistema educacional de qualidade.

FOLHA - Mas o número de domicílios sem esgoto tem diminuído nos últimos anos.

VEIGA - O número de moradias insalubres diminuiu dez pontos percentuais entre 1995 e 2002, e mais cinco entre 2003 e 2008. Mantidos tais níveis de desempenho, a universalização do esgoto com tratamento só ocorreria em 2060. Se o investimento dobrasse e a produtividade aumentasse um terço, essa meta poderia ser atingida em 2024. Seriam necessários quatro governos bem melhores que os de Lula para que a pobreza fosse minimizada.



Fonte: Folha de S. Paulo, 26 de julho de 2011. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/ult76u942646.shtml

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Prova de Amor

Um interessante reportagem da Agência EFE sobre o condicionamento social frente a grandes e greves catastrófes naturais.

Os terremoto e o tsunami que vitimaram o território japonês em 11 de março não apenas criaram abalos na infra-estrutura e economia nacional mas também nos laços sociais dos habitantes no Japão.

A pesquisa exibida pela Agência EFE indicou forte procura por relacionamentos estáveis e também a ruputura definitiva dos casos que já haviam instabilidade antes da crise que abalou o Japão, culminando no que foi apelido de "divorcios do terremoto".

Importante é refletir sobre como o modo de vida fluído, consumista e efêmero atinge drasticamente o convivío social. Desta maneira, se mostra pertinente do ponto de vista das sociabilidades, paradoxalmente parece que somente em momentos de cataclismas urgem alguns espaços para a reflexão das ações dos indivídios bestializados num sistema de alienação social diante da sociedade do imediatismo espetáculo.

Assista vídeo abaixo:





Fonte original: FOLHA ONLINE.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Impunidade como Regra: a corrupção na Copa do Brasil de 2014



Se o futebol é uma das vitrines da “alienação” de milhões de indivíduos, ela também não pode ser negada como fonte de cultura, identidade, entretenimento e, claro, muito, muito e muito dinheiro do voraz e corrupto capitalismo patrocionado pela cartolagem do futebol globalizado. Longe de fazer uma pretensa “antropologia do futebol”, a preocupação das próximas linhas é imediata e latente sobre a corrupção enraizada na vida esportiva do Brasil, o neófito bufão ufanista esportivo derivado da herança megalomaníaca da Era Lula e sediador de maga-eventos na área como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Pela proximidade da data, o primeiro mega-evento é que mais urge preocupação no momento.


Antes mesmo de qualquer jogador tocar na bola, a corrupção endêmica do “jeitinho brasileiro” será levada ao auge diante dos desastrosos e atabalhoada preparativos da Copa do Mundo de 2014. Atrasos e após atrasos propositais das obras estão deixando o esperado rastro de cheirume do festival de corrupção governamental e gastança do erário do contribuinte. A desorganização é o esqueleto do “espírito da corrupção” necessário para o maior aproveitamento da voluptosa mordida no dinheiro público.


Não precisaria de futurologia ou cartomante para enxergar os previsíveis atrasos nas obras dos estádios que culminariam na aproximação dos prazos ditados pelo notório antro da corrupção esportiva mundial, a poderosa FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado), dona da patente do espetáculo. Agora, faltando cerca de três anos para o pontapé inicial da estréia da Copa de 2014, a “pressa” funciona como um eficiente trator para fazer os governos das três esferas liberar medidas fomentadas pelo baú do erário com efeito de atender a "emergência" da situação onde serão executadas inúmeras obras na enxurrada de licitações públicas. Driblando toda e qualquer fiscalização, no lugar de incrementar a educação, a saúde, a habitação popular e o saneamento básico, o poder da corrupção endêmica pode ser visto na condução da farra do dinheiro público na construção e reforma dos estádios em todo o país (alguns ainda sequer saíram da maquete!).


Os custos se elevam cada vez mais para atender os inúmeras e arrogantes exigências da FIFA para a construção de estádios que sequer respeitam a dinâmica das cidades que acolhem os jogos. Sob o olhar matreiro da corrupção, no Brasil houve uma inflação de doze cidades-sedes para sediar um mísero punhado de partidas de futebol da Copa de 2014: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Brasília (DF), Cuiabá (MT), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Natal (RN), Recife (PE) e Salvador (BA). O risco é notório de se polvilhar “elefantes brancos” de concreto armado em praças onde o futebol tem uma dinâmica insipiente e praticamente irrisória diante do cenário nacional. De nada serviu o exemplo perdulário dos inúteis "elefantes africanos" dos estádios custeados com o suado dinheiro do contribuinte local na insossa Copa da África do Sul em 2010. É espetacular o poder da corrupção de bastidores que impôs a realização de vitrines da Copa do Mundo em países de pouca tradição no esporte, como as futuras Copas do Mundo de 2018 sediada na Rússia e a de 2022 no impensável Catar. É compreensível que no reinado do corrupto presidente Joseph Blatter, quando se trata da impune FIFA, a ordem é sempre esbanjar, gastar e faturar nas comissões e relações promíscuas entre o dinheiro publico e o enriquecimento privado.


Ainda lembrando o exemplo sul-africano da Copa de 2014, entronar simplesmente mega-estádios em cidades não é sinônimo crível de "desenvolvimento local", exceto para quem irá "lucrar imediatamente" com tais praças esportivas. Portanto, sob o olhar operante da corrupção, o teatro armado de um coliseu esportivo pode ser visto com um avatar exuberante da impune farra da gastança pública com exemplos catastróficos. O estádio majestoso do Maracanã é uma draga de dinheiro público no Rio de Janeiro com suas inexplicáveis e sucessivas obras de reforma com valores astronômicos. Porém, como exemplo mais emblemático da farra preparada para Copa no Brasil é o caso da cidade-sede de São Paulo. Depois de muito blablablá e jogo de cena sobre qual seria o estádio a ser utilizado para os jogos da Copa no estado, a irresponsabilidade do Poder Público tripartite (Federal, Estadual e Municipal) atingiu o auge ao optar por descarregar dinheiro público (em particular, abrindo mão de tributação fiscal) na promessa da construção do estádio do Corinthians em Itaquera, zona leste da cidade paulistana. Paradoxalmente, imbróglio após imbróglio, o “Fielzão” até hoje não passou de uma mera maquete, o bairro continua com sua costumeira precariedade e segue o vendaval de propaganda bairrista nos meios passivos de comunicação.


Desde Lula a Dilma, após ser rasgado todo o padrão ético da história partidária e aderir a uma espécie de “neoliberalismo populista”, é sintomático quando se leva em consideração que o atual partido hegemônico no governo federal, o Partido dos Trabalhadores (PT), se mantém conivente e servidor atuante da corrupção generalizada no interior da gestão esporte brasileiro, em particular, dando o suporte político para as sucessivas fraudes do Ministério dos Esportes com o inapto ministro Orlando Silva, filiado da sigla do ex-comuna PC do B.


Para coreografar o trágico e tétrico enredo, o país assiste impunemente a condução fraudulenta e mafiosa de Ricardo Teixeira entronado há mais de duas décadas na presidência soberana da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Agora, Teixeira desfila à frente como um audaz líder predestinado da organização brasileira da Copa de 2014 e ainda segue absoluto sendo o farol bisonho do esporte nacional.

Do ponto de vista do dinheiro público, se a seleção brasileira irá ou não conquistar seu sexto título da competição é o que pouco importará. A única e lastimável certeza é que até 2014 a corrupção parasitária usurpadora do erário do contribuinte irá atingir níveis inimagináveis no histórico dos esportes e na vida pública no Brasil. Tudo com a cínica e complacente chancela da ação governamental e o bestializado silêncio da população. Na tabelinha entre Blatter e Teixeira, está a raíz de um verdadeiro golaço da corrupção e da impunidade.



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LinkAbaixo, segue um trecho o programa “Tabelinha” da UOL comandado por Juca Kfouri e Birner que comenta o escoamento do dinheiro público para fomentar o “sigilo” das licitações podres.




domingo, 8 de maio de 2011

Legalize Já?

Na fluidez imediatista e fragmentária da Pós-Modernidade com seu atroz e contaminante mal-estar, nunca é tarde para refletirmos e questionarmos nossos posicionamentos perante a sociedade.

Neste “Dia das Mães”, 08 de maio, segue abaixo um registro atualíssimo da suposta “luta por reconhecimento” dos tais “valores sociais” que se projeta em nome de uma "reivindicação social".

Entre tantas possíveis questões e sem cairmos em histerias sencionalistas ou narcisistas, é salutar refletirmos até que ponto valores imediatos de alguns interfere no futuro daqueles que sequer tem alguma consciência do mundo ao seu redor. Qual a real responsabilidade das mães e também dos pais pela prole que geram? E acima de tudo, qual o papel ético e moral da responsabilidade do Estado sobre seus cidadãos?
(WFM)




Link

"Mulher empurra carrinho de bebê decorado com desenhos de folhas de cannabis, durante protesto pela legalização da maconha, em Buenos Aires, na Argentina" neste sábado, 07 de maio de 2011. (Fonte do fragmento: Folha.com e Foto: Juan Mabromata/AFP)

sábado, 7 de maio de 2011

Artigo Publicado na REA



Prezad@s Amig@s,


Para apreciação e divulgaçao, informo que meu artigo “O horizonte perdido: assombros e falácias neoliberais no debate em torno da educação básica brasileira” foi publicado na edição atual da Revista Espaço Acadêmico (REA), Edição Especial 10 anos, nº 120, Maio de 2011, ISSN 1519-6186 (on-line), contendo o DOSSIÊ PSICANÁLISE & EDUCAÇÃO que poderá ser acessado pelo endereço: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/issue/current.


Para quem não conhece a revista, a REA é uma interessante e valorosa publicação eletrônica ligada ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e editada pelo Prof. Antônio Ozaí da Silva. Recomendo o acesso regular desta publicação de periodicidade mensal.


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Resumo:

A onda neoliberal vem permeando cada vez mais aspectos no discurso da realidade brasileira. Em crise sistêmica, o debate em torno da Educação Básica pública se fragiliza coercitivamente quando seus pilares fundamentais são cerceados pelas imediatas veleidades da economia de livre mercado. Com o declínio dos sindicatos de profissionais da área educacional e a pouca (ou nula) cooperação entre universidades e escolas públicas os sintomas do deslocamento da centralidade do debate na esfera do interesse público são evidentes. A privatização dos espaços de reflexão a respeito da educação possui efeitos deletérios ao abrir caminho para interesses privados de ONGs e entidades similares com questionáveis ações de filantropia e idoneidade. Longe de resultarem alguma eficácia prática, ostensivas exposições de marketing eleitoral do asséptico discurso da meritocracia e a aplicação de provas sumárias como recurso para a majoração da idílica “qualidade total” na Educação. O discurso do mérito se tornou prática recorrente dos atuais governos em suas frágeis políticas públicas. O presente artigo buscar refletir sobre algumas falácias pertinentes do discurso neoliberal e seus impactos no atual debate do sistema público de Educação Básica no Brasil.




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Caso haja maior interesse, o acesso do artigo completo poderá ser obtido através do endereço a seguir: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/10561

terça-feira, 19 de abril de 2011

Um Senador Desabilitado na Política sem Freio




No último domingo, 17 de abril, o ex-governador das Minas Gerais, atual senador e futuro postulante ao Planalto, o tucano Aécio Neves no alto de sua soberba de político “democrático” foi flagrado numa situação patética no Rio de Janeiro. Parado numa blitz na Avenida Bartolomeu Miltre, no Leblon, o tucano ávido herdeiro da moral e dos bons costumes se recusou a fazer o teste do bafômetro. Para completar o inusitado quadro, sua habilitação estava vencida. No computo da situação da digníssima eminência parda do bom mocismo da política nacional, Aécio levou para casa (sem dirigir, é claro) a "polpuda" multa de R$ 957,69. Diga-se de passagem que foi louvável a atitude dos policiais que realizaram a abordagem do veículo sem se submeteram a popular "carteirada" do ilustre desabilitado que é tão comum da genealogia cultural do "jeitinho brasileiro".


Dias atrás, o mesmo senador tucano inflava seus pulmões nas tribunas do Senado um discurso inflamado e se autoproclamando o guardião da “oposição responsável” no país contra o governo neopetista de Dilma. Seria cômico se não fosse tragicômico que no Brasil ser “oposição” é tão somente reverberar laudatórias demagogias e pleitear mais cargos para os “aliados” em gordas boquinhas no vespeiro infeccioso da administração publica de alto escalão.


A lógica da política brasileira de dignidade chinfrim é tão profunda quanto um pires. As elites econômicas talham a política conforme seus interesses privados e os “eleitos” apenas administram a “ordem pública” de acordo com a farra bisonha das contribuições pré-eleitorais. “Fatos pontuais” como desvios de conduta, corrupção endêmica e crimes eleitorais ou não, tudo é envolto num grande tear putrefato da política nacional que é tão moderna quanto os primeiros australopitecos que perambulavam no continente africano há quatro milhões de anos.


O curioso no caso do episódio envolvendo o senador tucano foi a postura de alcova da imprensa. A "Big Media" fez vista grossa ao principal nome da “oposição” da política brasileira. Tratou delicadamente o caso com um “desvio normal" que “qualquer ser humano poderia fazer". Claro, dirigir com habilitação vencida e se esquivando do bafômetro como o Diabo da cruz é algo realmente muito “normal” de qualquer “cidadão”! Não custa lembrar que o nobre senador é atualmente o nome mais forte para subir a rampa do Planalto. Caso vença a disputa interna do seu partido (particularmente na briga com o clã paulista representado pela dupla fratricida José Serra e Geraldo Alckmin), Aécio será o nome da tal “oposição” ao neopetismo em 2014 e se entronará como representante do setor mais neoliberal da sociedade brasileira. Naturalmente, a ocultação pela Big Mídia do deslize do senador tem como o óbvio e escancarado objetivo de colocar em formol o suposto ilibado caráter de “homem público honrado”.


A política é a arte da lobotomia casual. Em defesa do pobre tucano de bico sem bafômetro, vale ressaltar o episódio curioso ensaiado pela atitude do ex-cara pintada e neopetista de retórica atucanada, Lindberg Faria, o senador pelo Rio de Janeiro. Amigo no Senado, Lindberg do PT, com mesma rapidez que se nega o teste do bafômetro, de prontidão virou um inusitado guarda-costa do ilustre democrático e pudico tucano ao defender a “figura pública” do senador mineiro no Twitter. O cinismo na política somente não é mais bizarro porque é um elemento constituinte da genética da política brasileira e suas parasitárias práticas da leviandade corporativista. Em tese para "boi dormir", o PT do senador fluminense e o PSDB do colega mineiro são “partidos distintos”. Episódio como este, entre o senador desabilitado e seu colega bajulador fazem coro na farra da irresponsabilidade política dos tais “homens públicos” e que reduzem o debate político em meras retóricas estéreis entre o “vermelho” e o “azul”, o "bom" e o "mal" ou o que “rouba mais” e o que “rouba menos”.


Coroando a lambança do senador tucano, em vídeo gravado em julho de 2009 e disponível no YOUTUBE, mostra o então sorridente governador Aécio Neves anunciando a criação do batalhão de Trânsito em Minas Gerais. Mais irônico ainda é o depoimento colhido pela Agência Minas onde o desabilitado tucano falava vigoroso aos microfones sobre a “Lei Seca” e a tal responsabilidade do publicitário “Se beber, não dirija”. Eis o Brasil do cinismo cartorial: fazer milionárias campanhas publicitárias de manipulação popular voltadas principalmente aos mais jovens consumirem sedutoramente bebidas alcoólicas e tabaco pode... Beber não pode! Retóricas, retóricas e mais retóricas...


Aécio desabilitado é apenas mais um da via fácil da política que esquarteja a retórica bufona do discurso inflado da vida prática real. Neste lodaçal interminável de hipocrisia, segue a vida real numa sociedade com seus milhares de mortos anuais estirados no leito do asfalto devido aos acidentes de automotores movido pelo irresponsável consumo de bebidas alcoólicas aliada a inabilidade ao volante. Na estrada da via política do retrovisor quebrado, prossegue sem parada a trágica amálgama entre discurso e prática contaminada numa surreal democracia polvinhada de figuras públicas ridículas, irresponsáveis, sem freio e sem nenhum compromisso com a população.




TRUMP NÃO FOI UM (NOVO) ACIDENTE DA HISTÓRIA. FOI UMA ESCOLHA!

  Quase todas as tentativas de explicação que surgem do campo de uma Esquerda, magnetizada pelo identitarismo, é de uma infantilidade atroz,...