terça-feira, 20 de julho de 2010

IDEB e Educação Básica: Da retórica a realidade


Com a divulgação do início do mês de julho pelo Ministério da Educação (MEC) dos números do Índice de Desenvolvimento Básico da Educação (Ideb), para quem acompanha o estágio atual da Educação Básica no Brasil já era esperado muita publicidade ufanista para uma lamentável realidade. É sabido que a Educação Básica pública nunca foi prioridade real de nenhum governo na esfera federal ou estadual, salvo exíguas exceções em pequenos municípios. Logo, todo o discurso que se faz em torno da Educação Básica é muito mais verborrágico do que efetividade governamental.



Estatísticas servem como norteadores e nunca como verdades absolutas. Por sua vez, os números das estatísticas podem ser curiosos. Analisar seus significados em aspectos positivos ou negativos será trabalhado de acordo com o seu articulador. É a história do copo pela metade de água: meio cheio ou meio vazio. Isto não significa formalmente “manipulação”, mas uma “interpretação” de dados. Sendo assim, o Ideb segue como mais um norteador burocrático criado pelo governo federal para diagnosticar obviedades na educação básica.



Usando a lógica do chão de fábrica do tecnicismo metrológico, segundo seus idealizadores e medido a cada dois anos, o Ideb serviria para avaliar o desempenho e propor “metas” a serem atingidas até 2022. Neste caso, o Ideb é composto de dados auferidos por algumas notas de provinhas que enfatizam a matemática e língua portuguesa realizadas pelos alunos das séries iniciais e finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. As “metas” a serem alçadas pelas unidades de ensino são propostas pelos técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Estatísticas (INEP).



Os dados da média nacional do Ideb recém divulgados pelo INEP para as séries iniciais do Ensino Fundamental para 2005, 2007 e 2009 foram respectivamente, 3,8, 4,2 e 4,6. Para a projeção das metas para ao período 2007, 2009 e 2021 são respectivamente, 3,9, 4,2 e 6,0. Para as séries finais do Ensino Fundamental, os dados obtidos para 2005, 2007 e 2009 foram respectivamente 3,5, 3,8 e 4,0. A meta estabelecida para esta série para os anos de 2007, 2009 e 2021 foi respectivamente de 3,5, 3,7 e 5,5. E por fim, a avaliação nacional para o Ensino Médio observado para 2005, 2005 e 2009 foi respectivamente, 3,4, 3,5 e 3,6. A projeção das metas para o Ensino Médio para 2007, 2009 e 2022 foi respectivamente 3,4, 3,5 e 5,2. Cada unidade escolar, pública e privada, possui seus respectivos valores medidos e suas metas de projeção pelos técnicos do INEP. Segundo o próprio site oficial do MEC, por meio de aporte de recursos do Fundo da Educação Básica (FUNDEB), o órgão promete dar suporte para municípios e estados para aplicarem nas escolas e supostamente melhorarem seus índices do Ideb, com ênfase na alfabetização de todas as crianças até oito anos de idade.



O investimento por aluno na Educação Básica é muito aquém do que se poderia esperar de um mínimo padrão aceitável. Utilizando os mesmos dados disponibilizados pelo INEP/MEC em nível nacional, entre 2000 e 2008, o investimento médio anual por aluno na Educação Básica foi de R$ 1.752,89, ou seja, cerca de R$ 146 ao mês por aluno. Neste mesmo período, no caso do Ensino Médio, foi de R$ 1.434,78, ou seja, o valor médio por aluno de R$ 120 ao mês. Estes dados são referentes ao investimento governamental direto em educação pública.



Por mais inverossímil que possa apresentar em pleno século XXI no Brasil, somente no ano de 2008 foi decretado o piso nacional que trata do salário do professor da Educação Básica.A Lei nº 11.738 sancionada pelo presidente da República estipulando o valor de R$ 950 mensais para uma jornada máxima de 40 horas semanais. Bem acima dos mitos tecnológicos e as falácias do ensino a distância, é importante frisar que a estrutura educacional é alicerçada essencialmente pelos recursos humanos. Além das notórias disparidades econômicas regionais, a falta de subsídios para os professores e conjunto com as precárias estruturas de trabalho e de formação e atualização profissional colaboram profundamente para a degeneração do quadro da Educação Básica pública no país.



De todas as categorias profissionais do serviço público e sua importância social, o ofício docente da Educação Básica é a que mais sofre pelo profundo descaso das ações governamentais. Há poucas vagas nos cursos de licenciatura nas universidades públicas e a formação do professor da rede pública é basicamente relegada para as faculdades privadas que muitas delas fazem promoções ao estilo “pague um e leve dois” cursos de licenciatura. A farra indiscriminada da pífia qualidade de ensino da grande maioria destas empresas privadas disfarçadas em faculdades é negligenciada pelo MEC. Quando a educação é tratada um mero produto mercantil o resultado é a nítida falta de social com sua finalidade primária.



Na balança entre o público e o privado que falsamente é induzido o debate educacional, os pais que podem subsidiar a educação de seus filhos encontram escolas que na média nacional ainda estão abaixo ou, no máximo, no limite das metas estabelecidas pelos critérios do Ideb. Supostamente, com maior aporte de recursos proveniente das mensalidades cobradas pelas empresas gerenciadoras, tais escolas privadas patinam no mito da “superioridade” em níveis de qualidade e nas veleidades consumistas dos pais dos alunos que em geral tratam a educação como mera mercadoria.



Sem uma profunda mudança na estrutura educacional da Educação Básica pública aliada ao aporte de recursos financeiros com valorização efetiva dos professores pouco adiantará gastar dinheiro público na elaboração idílica de modelos estatísticos e econométricos. Sobretudo vale ainda destacar que ao não tratar educação pública como verdadeira prioridade governamental, é relegar milhões de brasileiros ao ostracismo da ignorância e miséria, além da manutenção perpetua das disparidades sociais. Para quem acredita no vislumbre sedutor das estatísticas, basta uma breve visita a qualquer uma escola pública “não-maquilada” para sentir o abismo que adormece a Educação Básica brasileira.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Divulgação da Revista Contra a Corrente




Aproveito a oportunidade de fazer a divulgação da nova revista de Brasília, "Contra a Corrente: Revista Marxista de Teoria Política e História Contemporânea" que está no seu terceiro número.

O presente número 3 da CaC, trata do Dossiê - Crise Econômica Internacional. Faço uma pequena contribuição na revista com o artigo "Washington D. C. e as ilusões da Obamania: contradições do capitalismo no coração do império".

Depois de Auschwitz, o mundo não ousaria ser o mesmo. Todavia, o tempo se encarregou de apagar as luzes do passado e formas similares de barbárie são vistas perambulando entre várias sociedades ao redor do mundo. Para muitos, em especial os arautos do neoliberalismo, o Deus Mercado se impôs como sendo a resposta definitiva para todo o universo de angustias e insatisfações onde um batalhão de vorazes consumidores mimetiza o evangelho do "Progresso Material". O capitalismo tem como mérito ser dono de um mecanismo de sedução imediata do gozo total. Nunca um sistema econômico conseguiu unir com tamanha precisão a esfera do conforto humano que sinteza na captura do gozo pulsional com a mais-valia (o “mais-gozar” de estipe lacaniana).

Hoje, o mundo esteticamente mudou, porém muito de sua essência permanece no horizonte. A luta contra esta “barbárie interior” é a grande batalha a ser travada contra inimigos invisíveis e pseudo-ideologias que uniram a economia de mercado e a tecnociencia num discurso que hostiliza, ridiculariza e impõem o ostracismo a todos que ousarem pensar contra sua torrente lógica.

Sempre é oportuno salientar a importância da dispersão do conhecimento e a democratização do seu acesso. Além disso, a crítica com responsabilidade deverá ser sempre o norte em busca de um pensamento que tenha a reflexão para um mundo onde a liberdade, a igualdade e a solidariedade sejam práticas essenciais dentro de uma sociedade.

Meu agradecimento especial ao editor da revista, Gilson Dantas.


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Contra a Corrente na Internet: os sumários da revista Contra a Corrente podem ser encontrados no site http://www.revistaantitese.com/contra_a_corren_13.html
Também podem ser encontrados no site http://dflivros.blogspot.com
Informamos que o conteúdo da revista CaC, por enquanto, ainda não está disponível na web.

Para adquirir números anteriores da revista: Entre em contato com Lúcia, de Brasília; basta telefonar para 61-92921965 ou preferencialmente pelo e-mail: dflivros.lucia@gmail.com As revistas serão imediatamente enviadas ao preço total (já incluída a postagem) de 15 reais cada revista, mediante depósito em conta corrente.

Assinaturas
A assinatura de Contra a Corrente abrange cinco números (corresponde a aproximadamente 1 ano e meio). Para assinar, comunique-se com Lucia (email: dflivros.lucia@gmail.com) avisando que pretende fazer a assinatura, deposite a quantia de R$ 60,00 (já inclui postagem) na conta indicada por ela e passe a receber Contra a Corrente durante 5 números.

sábado, 10 de julho de 2010

Rescaldos da Jabulani



1. Waka Waka.

Com o final da Copa do Mundo de Futebol, a primeira em solo africano, muito foi regurgitado ao longo da competição e muito ainda deverá virar profecias a serem confirmadas. Para isto, nem é preciso invocar os tentáculos de Paul, o famoso polvo do aquário alemão que ficou conhecido durante a Copa por fazer “previsões” acertadas do time da Alemanha ao longo da competição. Sem nenhum mistério, a falta de escrúpulos de um diminuto círculo de administradores da FIFA está acima de qualquer interesse público. O futebol se globalizou de tal maneira que pouco importa para os dirigentes deste esporte: as nações, as pessoas ou as paixões futebolísticas envolvidas. Sem o menor constrangimento, o importante mesmo é o lucro. Sim, sem ilusões, o lucro rasteiro e imediato acima de tudo e de todos. É chutar a bola no gol vazio dizer que o capitalismo consegue canibalizar tudo que possa ser coagido a dar dividendos (e de preferência com rápido retorno do capital investido).

Sem entrar no mérito do baixo índice técnico apresentado pelas seleções ao longo da competição, aqui saliento alguns pontos que considero merecer reflexão. A primeira delas é a ganância de seus grandes gestores do futebol em realizar um evento tão pesadamente custoso num país que não tem menor tradição neste esporte e tampouco é da melhor das preferências de sua população. Uma nação que busca um processo de reconstrução com o fim da famigerada política do Apartheid e na condução da democratização racial. A Big Mídia em sintonia com a FIFA (ou a serviço dela) abusou da balela a respeito de sediar a “primeira copa em solo africano” como mote do espetáculo. Se a proposta fosse realmente séria, teríamos outras nações que poderiam sediar a competição e com mais tradição no futebol, como por exemplo, Camarões, Gana ou Egito (este último país é o atual campeão africano de seleções e melhor posicionado no próprio “ranking” da FIFA entre todos os países da África). Por outro lado, o rúgbi destila muito mais simpatia na África do Sul do que o “soccer”.

Vale destacar o exorbitante valor dos ingressos em comparação à renda média dos sul-africanos. A ganância pelos lucros é cega e o esperado “boom” de turistas não se concretizou. Resultado insólito para a gula dos organizadores: foi preciso uma ampla campanha de distribuição gratuita de ingressos para a população em jogos menos badalados e assim evitar os conhecidos “buracos” no público dos estádios. Trocando em miúdos, claramente o evento da Copa do Mundo é uma competição para os gringos endinheirados assistirem e afastar definitivamente os nativos pauperizados dos estádios. A ostentada democracia liberal se faz pela divisão econômica e não somente pelos tons de pele. Apesar dos lampejos de melhorias nas condições da vida da sofrida população, o azucrinar entediante das vuvuzelas e o sorriso de Mandela, o resultado herdado para os bolsos dos contribuintes sul-africanos serão os faraônicos estádios. Os “elefantes brancos” que se transformarão as suntuosas arenas e terão como destino a concentração de moscas e similares após o descanso eterno da Jabulani, a controvertida bola oficial da Adidas imposta pelos organizadores da competição.



2. Amarelo, amarelou.

Ufanismos à parte, com pífia participação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo realizada na África do Sul restou para o aprendiz de técnico alguns grunhidos e falsas lamentações. Dunga foi uma dantesca invenção narcísea do presidente da CBF. Fora de campo, a Seleção é cortejada por tantas alegorias do milionário mundo do marketing. Mas na realidade dos gramados, o Brasil dentro das quatro linhas foi um retumbante fiasco.

Dona de um misancene de mídia sem que nada seja resultante em bom futebol. Uma campanha sofrível em cinco jogos. Na fase de grupos, vitórias sem graça contra uma surreal Coréia do Norte, a africana Costa do Marfim e um empate sonífero com Portugal. Nas oitavas de finais, uma vitória enganadora em nossa freguesia local, o Chile. Como em 2006, o Brasil foi até chegar à desclassificação nas quartas de finais. O capitulo final foi o morimbundo futebol demonstrado no segundo tempo da partida contra a Holanda. Com o resultado de 2 a 1 de virada, ficou evidente o desequilíbrio do time brasileiro resultante de um futebol sem criatividade. A grosseria infantilizada do problemático Felipe Melo em campo simbolizou definitivamente o safari na África, os milionários jogadores brasileiros se despediram da Copa com um comportamento de um time de amadores.

Para não repetir outro fiasco como ocorrido na Copa de 2006 na Alemanha, onde a descompromissada baterna imperou na concentração da Seleção, a regra adotada foi o confinamento dos jogadores ao modo de freiras carmelitas. Na falta de uma postura tática convincente da equipe em campo, a resposta veio ao estilo do ecos dos militares: “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Sem permitir margem à qualquer crítica ao seu trabalho, a adoção da tática do patriotismo alienado de Dunga não vingou. No fim da farsa, o ex-capitão do tetracampeonato de 1994, Dunga se mostrou muito mais um débil personagem de algum filme da “sessão pipoca” pela sua rabugice grosseira do que um técnico qualificado para orientar sequer uma seleção de juvenis. Possivelmente, seu único legado é a ousadia de ter enfrentando por alguns momentos o monopólio da Rede Globo na intromissão no cotidiano da concentração da Seleção Brasileira na África do Sul. Porém é sabido que mexer com a Rede Globo no Brasil é assinar contrato para o Inferno. Como é da natureza oportunista de Ricardo Teixeira, antes mesmo de Dunga chegar à sua casa no Brasil, já estava demitido pelo seu criador. Mesmo que voltasse como a taça do hexacampeonato, Dunga seria demitido do mesmo jeito.

Com um futebol pobre, previsível, acéfalo e sonolento, sem culpar a Jabulani e devido um histórico invejável no cenário mundial, a Seleção Brasileira deixou muito a desejar. Passado um ou dois dias, a derrota foi favas contadas. Lágrimas perplexas de milhares, lucros de alguns. Cada um dos participantes da seleção canarinho receberá seus polpudos cachês por ter vestido a camisa da CBF-NIKE, sair na fotografia e pegar o próximo vôo para a Europa. Não deu... Perdeu, paciência! Valeu, parceiro!



3. Fraudes & Lucros Futebol Clube.

Mas acima de tudo, o futebol profissional é sinônimo de negócios. Em geral, o "profissionalismo" significa no mundo da bola que se trata de negócios demasiadamente lucrativos e subterrâneos cuja transparência causa inveja às putrefatas águas do paulistano Rio Tietê. Aliás, a Fédération Internationale de Football Association (FIFA), entidade monopolística do futebol mundial com seus draconianos anciões que acumulam anos de concentração do poder e sequer admite qualquer auditoria externa em suas contas. A mais leve sugestão nesse sentido é visto como um afronta a “samaritana” entidade. Desde 1989, sua sucursal brasileira, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é regida tranquilamente pelas mãos de ferro de Ricardo Teixeira. O czar da CBF controla todas as federações estaduais e por conseqüência, todo o destino do futebol nacional. De contratos milionários com um amplo leque de patrocinadores às relações expúrias que destino o monopólio de transmissão do futebol da Rede Globo, passando pelo bom relacionamento com a politicagem de Brasília, todo o destino futebolístico deste país passa nas mãos de Ricardo Teixeira.

Desde o Maracanazo de 1950, o país não sediava uma Copa. Com duas década de reinado de Ricardo Teixeira na CBF e a influência de João Havelange, sombra sempre atuante e presente na FIFA, e livre de qualquer empecilho, o Brasil “ganhou” o direito de sediar a próxima edição da Copa do Mundo da FIFA em 2014. Como os louros do ufanismo e com o Brasil crescendo com um ritmo de "chinafrica", o sonho do "Brasil Grande" é vendido.

Bravo, a Copa será aqui! Entre o devaneio e a realidade, o país terá que desembolsar uma extraordinária cifra para a construção e reforma de estádios de futebol e aparelhamento da infra-estrutura e logística urbana para receber os turistas. É pertinente que se frise que a idéia é fluir a competição de módicos trinta dias e receber bem os "turistas"; os residentes das cidades-sedes que se danem! As arrogantes imposições da FIFA com suas questionáveis metodologias sobre as cidades-sedes é mais um sintoma que a submissão aos caprichos faraônicos desta entidade é um pré-requesito para um país sediar um mundial de futebol.

No dia 08 de julho, em mais um discurso na África do Sul, o presidente Lula prometeu transparência nas contas públicas quanto aos gastos para o Mundial. Promessa que se torna impossível de acreditar no que tange a tal “transparência”, levando em consideração que a responsabilidade pela execução de todos os preparativos do Mundial estará nas mãos de tentáculos de Ricardo Teixeira. A obscuridade na condução na administração da “coisa pública” já começou com escolha da agência de publicidade brasileira “África” (sem alusões ao continente) para produção do chinfrim e tosco logotipo da Copa do Brasil 2014, lançado ontem pelo trio copeiro na África do Sul: Lula, Teixeira e Joseph Blatter, o atual presidente da FIFA.



4. Até 2014.

Diga-se de passagem, que a importância do futebol na sociedade brasileira tem como matrizes suas raízes históricas e culturais. Este fenômeno não pode ser sublimado ou simplesmente desprezado. Simbolo contumaz da mítica mobilidade social, o futebol carrega a mística da bola nos pés e uma farta conta bancária no futuro. Para além do gramado das paixões e ilusões, o futebol é um negócio dos mais lucrativos: seja para acumular, seja lavar dinheiro em operações obscuras. Ao contrário que muitos jornalistas pregam na Big Mídia, o Estado pode e deve intervir nas federações de futebol uma vez que se trata de interesse nacional. Uma auditoria pública nas contas das entidades que regem o futebol nacional é salutar para o bom encaminhamento do esporte visando o interesse público. Ademais, ao invés de torrar dinheiro do erário com falsa publicidade na mídia, o Estado poderia ter real participação na condução do esporte dentro nas escolas públicas na promoção da Educação de milhões de crianças e jovens.

Torna-se cinicamente patético um país que pretende sediar uma Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e uma Olimpíada, em 2016, sem que exista nenhuma política factível de incentivo à pratica de esportes dentro da Educação Básica. Se fosse algum político de plantão precisasse de consultoria, o polvo Paul diria que a construção dos futuros atletas está no presente processo da adolescencia. Aliás, entre tantas calamidades que se abate na escola pública, em qualquer visita a uma unidade escolar, é um desafio conseguir achar uma única quadra em condições minimamente apta para práticas esportivas. O descaso e a calamidade permeiam o ensino de práticas esportivas dentro das escolas públicas ao longo do mapa brasileiro.

Para variar, nem o polvo Paul precisará usar sua famosa “vidência” para prever a farra que será o festival da gastança do dinheiro público até a Copa de 2014. Em nome dos negócios que impulsiona um nicho segmentado do esporte, a hipocrisia reina absoluto num país que verbaliza aos quarto ventos dizendo que tem o melhor futebol do mundo. Todavia, após cair na realidade, o orgulho patriótico dificilmente será ecoado quando vierem à tona os lastimáveis números da corrupção com amplo horizonte em obras superfaturadas em licitações fictícias e fraudulentas. Que o Brasil pode promover um evento como uma Copa do Mundo, não é novidade. Ao contrário das propagandas oficiais, não se pode perder de vista que aqui não é uma Suécia dos trópicos. Portanto, sem uma profunda e generalizada fiscalização e democratização na gestão do futebol nacional, a questão será qual o preço da conta que o contribuinte estará disposto a pagar para uma farra com dinheiro público cuja dimensão será de dificil precisão. Neste quesito, nem o polvo Paul ousaria a advinhar.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lula: o melhor do Brasil na África do Sul


“Eu não ia fazer discurso esta noite, porque já fiz mais discurso hoje do que a seleção jogou aqui na África.”
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“Em 2013 teremos a Copa das Confederações no Brasil. É aquela que a gente ganha sempre para enganar para o ano seguinte.”
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“A floresta mais incrível do mundo, rios maravilhosos, mas tem que ser de maneira ordeira. Se sair da linha, uma sucuri destreinada vai pegar vocês”.

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“Mas tem a grande capacidade de fazer mímica. É a capacidade de mimicar (sic) do povo brasileiro”. (Sobre o caráter de acolhedor do povo brasileiro, mas que não sabe falar inglês)



(Presidente Lula na abertura de sua participação no evento do Ministério do Turismo e da Embratur em Johanesburgo em 09/07/2010. )


Fonte: Folha de S. Paulo. Disponível em http://copadomundo.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/07/09/lula-volta-a-cutucar-selecao-de-dunga-e-coloca-pressao-por-titulo-em-2014.jhtm

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Alô FUNAI, tem muito cacique pra pouco índio! (ou Pra que serve um Papagaio de Pirata?)



Enquanto as atenções da Big Mídia correm nos gramados sul-africanos e o torcedor brasileiro assiste aflito figuras como Michel Bastos, Felipe Melo e Julio Batista destilando um relacionamento sofrível e burocrático com a Jabulani, os bastidores da política tupiniquim seguem de vento em popa. Ao estilo de Nelson Rodrigues, a “pátria de chuteiras” com os carnês em aberto das Casas Bahia permanece ganhando dribles desconsertantes da classe política.


Para a modorrenta campanha presidencial deste ano, cada dia que se passa é um festival de alianças espúrias e personalidades de laboratório. Nos sussurrantes corredores do Palácio do Planalto, os bastidores da política não levam em consideração os interesses do país, exceto os famigerados comezinhos pessoais e os olhares vultosos dos grandes interesses do capital. Depois de encarnar o espírito de Dr. Frankenstein no seu laboratório presidencial e com sua maestria exemplar, Lula impôs goela abaixo dos petistas mais resistentes a figura biônica de Dilma Rousseff para percorrer o mandato-tampão até o filme “Lula-2014: o retorno dos que não foram”.


Com tantas benesses distribuídas em quase oitos anos do governo Lula, o sempre oportunista PMDB se aliou ao PT e emplacou o seu insosso Michel Temer na chapa da companheira Dilma. Com uma multicolorida tenda circense de alianças que vai do ex-comunista PC do B ao evangélico PSC (agora monopolizado pelo evangelho oportunista do eterno latifundiário da política de Brasília, Joaquim Roriz), o PT segue firme para mais uma trajetória de poder sem o menor escrúpulo com sua história e seus antigos ideais. Há quem diga que os “ideais” são para os loucos, românticos ou recém-casados... O PT é a versão Bolsa-Família do “Labour Party”, o Partido Trabalhista do Reino Unido, cujos expoentes são a ex-promessa Tony Blair e o desengonçado Gordon Brown.


“A oportunidade faz o ladrão”, diz um surrado ditado popular. No Brasil, a eleição faz a oportuna ocasião. Depois de quase sete anos de mandato à frente do Ministério do Meio-Ambiente, Marina Silva saltou do barco e repentinamente se tornou uma opositora do governo Lula. Uma opositora “light”, melhor dizendo... De olho nas eleições, pediu divórcio do PT e foi amparada pelos braços do PV que a lançou sua candidata a sucessão do seu ex-chefe. Buscando encarnar na figura do lendário Chico Mendes e reivindicando para si o discurso ecológico do “desenvolvimento sustentável” (ou ecobusiness), Marina Silva posa como a novidade para a “mudança ecológica”, uma espécie de “Lula da Amazônia”. Para ostentar a bandeira verde do ecobusiness, seu vice, Guilherme Leal, é proprietário da Natura e dono de uma das maiores fortunas do país (situando no patamar da 13º posição no ranking dos bilionários brasileiros segundo a “Revista Forbes”).


E agora, José? Faltou o nome do ninho tucano para vice na chapa de Serra... Aliados de longa data no plano nacional, as esporas entre PSDB e DEM andavam afiadas. O nome de consenso que unia se neuroses as duas siglas era Aécio Neves. Mas como bom mineiro e pensando no próprio umbigo político, o governador tucano preferiu se "incluir fora dessa" e bateu asas deixando o desnorteado timoneiro Serra na mão.... Coisas da política sem "amabilidade! Com a vaga de vice em aberto, a disputada corrida para um novo consenso não se encerrava e os prazos que da Lei Eleitoral estavam se esgotando. Os bicos tucanos não aprovaram alguns nomes de figurinhas carimbadas sugeridas pelo DEM para o cargo. Motivo? Com as penas de molho, o PSDB receava malfadados espectros políticos que poderiam trazer problemas no futuro para campanha de Serra. Ética? Não, precaução eleitoral... Meramente eleitoral!


Nem lá, nem cá... A novela se arrastava durante semanas sem os dois lados entrarem num “civilizado” acordo partidário. Há poucos dias, a opção tucana era a chapa “puro-sangue” tucana, com o nome do senador paranaense, Álvaro Dias, com vice, o que deixou o DEM com as tamancas balançando. A estratégia tucana era clara: DEM apoia, mas sem vice! Daí veio a tal convenção partidária do DEM desta quarta-feira, 30 de junho. (Ademais, para os desavisados, “convenção partidária” é aquela bobagem protocolar que apenas serve para o que seus signatários balançarem a cabeça e dizer amém para oficializar ações previamente já delimitadas pelos caciques de plantão.)


Avidamente impondo ao PSDB o posto de vice na chama de Serra, o DEM de forma surrealista tirou da cartola (ou da oca) o nome do “ilustríssimo” deputado federal do Rio de Janeiro, Índio da Costa! Quem? Algum herdeiro do imortal ex-deputado federal, o cacique xavante Mário Juruna que transitou pelo Congresso Nacional nos anos 1980? Obra da família Maia, pai e filho, que loteia o DEM fluminense, o tal Índio da Costa foi uma forma mesquinha de dar o troco aos tucanos pela forma “deselegante” que o partido de Serra estava conduzindo a aliança com a legenda do ex-PFL. Afinal de contas, os herdeiros da famigerada ARENA não poderiam ser tratados como aliados de segunda categoria, como um PC do B qualquer.


Lambendo o limão que seu estratosférico ego plantou, Serra teve que engolir à seco um nome que provavelmente numa ouviu na vida... Aliás, "Índio" sim, mas "da Costa"?... E de onde? Se Serra não sabia de que Costa brotou ou tal Índio, muito menos a esmagadora maioria do eleitorado brasileiro! O que torna ainda mais emblemático é fato peculiar da história política brasileira que reserva ao vice-presidente ser quase um sinônimo de titularidade. Pensando de forma catastrófica, num eventual governo com Serra no poder, e pensando de forma mais catastrófica ainda o presidente tucano "parte deste plano para o além" (três batidas na madeira?), teríamos um ilustre desconhecido como presidente da República eleito como papagaio de pirata dos tucanos... Melhor ainda, "índio de pirata"! Adianto que tanto os outros “vices” das duas presidenciáveis, Michel Temer quanto Guilherme Leal são outros nomes que hipoteticamente poderiam assumir a presidência numa externalidade lamentável. Nomes absolutamente sem significado algum para a vida política nacional, sem representatividade e à tiracolo dos conchavos políticos mais rasteiros e subterrâneos. Trocando em miúdos, verdadeiros papagaios de pirata!


É a política brasileira ventilada pelas suas velhas raposas do latifúndio do poder não é apenas sórdida e canalha, mas acima de tudo é profundamente indiferente aos anseios da população que mais necessita de apoio do Poder Público. É um lugar-comum tal assertiva, mas vale sempre lembrar que a política tem com o objetivo primordial o trato ético, humanitário e responsável da coisa pública. O mais salutar seria o fim da vaga de vice para cargos executivos nas três esferas de poder. Logo, eleições para prefeitos, governadores e presidente teriam apenas um único eleito nome cada esfera de poder executivo, sem os papagaios de pirata. No caso das casas legislativas, o fim dos suplentes e na vacância do titular, seria conduzido o candidato que recebeu mais votos mas que não conseguiu um número suficiente para se eleger. Logo, teria uma numa "lista de espera" nas casas legislativas ou simplesmente fizessem uma nova eleição (que seria mais justa ou menos distorcida). Democracia eleitoral é derivada da representação indireta que ocorre inevitavelmente distorções. O grande problema deste mecanismo de representatividade indireta é a distância dos eleitores e o eleito. Todavia, sem o menor comprometimento dos eleitos com seu eleitorado (e, por extensão, com todo o povo que em tese deveria ser representado), todo o processo democrático se reduz a uma mera ficção cosmética.


Como é notório, o tal “vice” nada contribui para o processo da democracia política. Neste sentido, apenas serve para emaranhar conchavos e acomodar interesses de meandros partidários. Mas isto seria conversa para uma profunda reforma política no Brasil, bem como tantas outras reformas que poderiam dar maior transparência, legitimidade e igualdade aos cidadãos brasileiros (prioritariamente as urgentes reformas de conjunturas sociais). Afinal, do jeito que está o pantanoso sistema de representação do poder, nenhum político de plantão quer tocar no "vespeiro". Quem quer perder seu latifúndio de poder?... Enquanto isso, os caciques reinam em terra de poucos índios e muita resignação social via deslumbramento consumista. E a FUNAI vai tendo trabalho...

TRUMP NÃO FOI UM (NOVO) ACIDENTE DA HISTÓRIA. FOI UMA ESCOLHA!

  Quase todas as tentativas de explicação que surgem do campo de uma Esquerda, magnetizada pelo identitarismo, é de uma infantilidade atroz,...