quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Washington D.C. e as Ilusões da Obamania: Contradições do Capitalismo no Coração do Império
Quem poderia imaginar que dentro do coração do maior império da história da humanidade convive um “outro país” mais similarmente parecido com as mais pobres regiões africanas do que a exuberância sedutora do Primeiro Mundo? Para os arautos de plantão do capitalismo tal disparidade é apenas uma “excrescência” dentro do sistema. Para quem não cai na sedução do dogma da beatitude do “livre mercado”, a questão é exemplarmente contundente. Vale a pena destacar a matéria do jornalista Sérgio Dávila para o UOL Notícias sobre as visíveis contrições do sistema capitalista no berço político do império estadunidense (Assista ao vídeo abaixo).
Dávila relata os números da cidade de Washington D.C. (abreviatura de Distrito de Colúmbia), capital dos Estados Unidos. A matéria tem como mérito trazer a tona um sombrio recorte dentro de Washington, a qual o jornalista denomina simplesmente de um "país sem nome" com uma grande quantidade de população negra imersa em índices africanos de HIV e alarmante criminalidade.
América subsaariana
Na capital do império do primeiro presidente negro da história, dos 590 mil habitantes de Washington, 56% são negros. Os índices de infectados com o vírus da AIDS na população adulta de Washington é de inacreditáveis 7% e contrasta com a média de 0,6% do restante do país. Em termos de comparação, segundo o Ministério da Saúde (2007), no Brasil o índice é o mesmo da média da população estadunidense: 0,6%. Os números alarmantes de infectados por HIV na população de Washington acompanham os índices de países africanos mais pobres, tais como Serra Leoa e Costa do Marfim. Até mesmo o falido Estado do Haiti na América Central que está sob ocupação de militares da Força de Paz da ONU possui índices semelhantes a Washington.
Capital mundial do império político e dona de decisões que podem devastar belicamente o planeta, paradoxalmente a cidade Washington goza de índices de criminalidade comparáveis aos das grandes cidades brasileiras. Para conter a onde de violência, a polícia da capital estadunidense recorreu aos bloqueios policiais em bairros mais violentos e passou a realizar triagem de moradores. Semelhante à situação de guerra, como Afeganistão ou Iraque, a polícia local somente liberava a entrada das pessoas que moravam nos bairros. Sob protestos de moradores locais, tais práticas locais de segurança pública foram suspensas. Em Washington, o índice de crimes violentos é de quase 1500 por cem mil habitantes enquanto que no restante do país são três vezes menores: 454 por cem mil habitantes. O apartheid social em Washington se evidencia com mais força na apresentação das estatísticas sociais. Segundo Dávila, em média, há mais negros em situação de pobreza em Washington do que outras regiões do país. Também em Washington desponta com inglórios índices de maiores números médios de população de analfabetos, doentes, mães solteiras e jovens mortos. As contradições entre os ocupantes da Casa Branca e seus vizinhos depauperados mais próximos são sensíveis.
Crise, promessas e encruzilhada obamista
No olho do furacão da crise financeira mundial eclodida em 2008, os Estados Unidos estão longe de uma recuperação da antiga solidez de sua economia, mesmo ainda gozando de prestígio internacional e a manutenção de um mercado atrativo. Após um ano da posse de Barack Obama, a expectativa de uma mudança na estrutura social da população negra nos Estados Unidos vem paulatinamente caindo perante os duros números da realidade.
Herança de sucessivas adminstrações conservadoras e cujo clímax se processou na Era George W. Bush, a tragédia do neoliberalismo para os estadunidenses mais pobres é incalculável. Projetado como a esperança da população negra, Obama prometeu ser a “mudança que a América precisa”. Fortalecido com um sedutor movimento apelidado de “obamania”, eleito com um entusiasmo sem paralelo histórico e grande expectativa nas últimas décadas, Obama esta sendo consumido pelo seu próprio prestígio e promessas de campanha. O tempo continua impiedosamente a girar os ponteiros do relógio e a “mudança” não surge no horizonte das famílias negras estadunidenses imersas na pobreza. Logo, a esperança declina com a magnitude inversa que demora as prometidas e propaladas reformas da administração Obama. Como era esperado, sem a materialização da mudança prometido na campanha eleitoral, o apoio popular à administração Obama vem sofrendo queda vertiginosa. Para exemplificar o desgaste obamista, a aprovação no Congresso estadunidense do controvertido projeto de reforma do sistema de saúde de Obama (algo similar à implantação do programa brasileiro do Sistema Único de Saúde – SUS) foi um calvário político que deixou riscos políticos e a sensação para os seus adversários que o presidente não é “intocável”. No início deste mês, as eleições para membros do Congresso estadunidense também sofreram impacto com o declínio da popularidade de Obama resultado em derrota do seu partido, o Democrata. Naturalmente, a Casa Branca negou qualquer vínculo com a imagem do presidente. Mais uma vez, torna-se patente que não se mudam arcaicas estruturas sociais dentro dos prazos prometidos em campanhas eleitorais mesmo utilizando a maior de toda “boa-fé” dos sistemas eleitorais de uma democracia de livre mercado. Mesmo agraciado precocemente com o Nobel da Paz, a natural projeção do semblante de Obama como líder mundial não minimiza o fardo de ser a mudança que até agora não vingou para boa parte dos eleitores estadunidenses mais carentes e desamparados.
Darwinismo social e a ilusão da democracia neoliberal
Trocando em miúdos e deixando de lado os comezinhos acadêmicos, o capitalismo é um sistema desequilibrado entre “espertos” e “otários”. Cinicamente alguns adoram rotular tal regime como a “terra das oportunidades”, ou seja, a ficção da mobilidade social no meio da guerra da sobrevivência. Fazendo uso de uma alegoria poética, podemos comparar o sistema capitalista com um restaurante. Para uns “espertalhões” do capital, o almoço é sempre grátis. A burocracia dos bem letrados arruma e serve a mesa, e, se fizer um bom serviço, até ganha a gorjeta. Aos munidos de criatividade artística, tocam algum instrumento e fazem shows para animar o ambiente. Os proletários de várias cores e etnias fazem a comida, lavam os pratos e levam o lixo para fora do recinto. Do lado de fora, próximo da porta do restaurante, pares de muitas mãos estendidas e com alguma sorte receberão alguma esmola e restos de comida para que não criem a ousadia de atacar a despensa do restaurante.
A realidade mostra que no capitalismo, as ações políticas são apenas forjadas para a administração do grande capital e das forças produtivas. Nitidamente é possível perceber o discurso falacioso (em geral, bem arquitetado) entre democracia, liberdade e igualdade no sistema capitalista como se fosse possível misturar tais ingredientes e num passe de mágica chegaríamos ao Paraíso prometido em livros sagrados. A economia de mercado com ranço neoliberal suprime a idéia de liberdade e igualdade para uma expressão dona de uma estrelada magnitude sedutora: “oportunidade de mercado”. Impulsionada pelo capital, a democracia é uma mera abstração do “desejo das urnas” com o livre exercício do consumo dos cidadãos.
As contradições socioeconômicas no coração político do império estadunidense são mais uma face evidente das contradições intrínsecas do engenhoso tear capitalista. Mesmo com todo um furor midiático ao estilo da obamania, é impossível um sistema social mais equilibrado ou ambientalmente mais sustentável dentro de um modelo econômico que privilegie apenas a voraz sanha pelo lucro do capital e exploração permanente da mais-valia. Os poderes da tríade do regime democrático neoliberal (executivo, legislativo e judiciário) situam na primeira e na última instâncias como os grandes gerenciadores do sistema de continuidade das forças produtivas capitalistas. Qualquer alteração na estrutura da democracia neoliberal somente será possível sua materialização a partir de fortes pressões de grupos coesos e articulados dentro da sociedade. Como a luta pela sobrevivência da massa trabalhadora, desempregados e refugos humanos contra o poder econômico do capital não é possível escolher regras ou etiquetas, o emprego da força e da violência não poderão ser descartados ou desvalidados. Ressaltando que o monopólio da violência, ou seja, o emprego das forças públicas de polícia e repressão, é exercitado livremente e impunemente pelo Estado a serviço das forças do capital.
São Paulo, Pequim, Berlim, Bombaim, Tóquio, Moscou, Nova Iorque ou Washington. Cada um ao seu modo, mas todos com o mesmo retrato. Seja qual for o pólo de representação simbólica do capital (uma vez que o capital flui pelos dutos econômicos do planeta), é possível encontrar nos seus interstícios a permanente contradição entre os números da geração de bens materiais e financeiros e os números das discrepâncias sociais da pobreza. A cidade de Washington é um relevante exemplo que a democracia neoliberal é um exuberante espetáculo de magnetismo tácito e intrínseca desigualdade. Portanto, sem criar falsas esperanças, na democracia neoliberal políticos como Obama são eleitos não para fazerem a propalada justiça social, mas somente salvaguardar as forças produtivas e a organização do hiperespaço capitalista.
Fonte do Vídeo: Blog do Sérgio Dávila. Disponível em: http://sergiodavila.blog.uol.com.br/
Acesso em 11 de dezembro de 2009.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Um Elogio ao Autismo: Narcisismo, Misanscene e peripécias da Godiva da Uniban na cínica moralidade à brasileira
*
É uma louraça belzebu, provocante
Uma louraça Lúcifer, gostosona
Uma louraça Satanás, gostosona e provocante
Que só usa calcinhas comestíveis e calcinhas bélicas
Dessas com armamentos bordados
Calcinha framboesa, calcinha antiaérea, calcinha de morango, calcinha Exocet
[...]
Pelo rádio da polícia ela manda o seu recado
Alô, polícia!
Eu tô usando
Um Exocet - Calcinha!
("Kátia Flávia", Fausto Fawcett)
*
Que o Brasil é um país da farsa e retórica hipócrita não é de causar estranheza a ninguém. Gabamo-nos por construir uma Suíça diplomática do Terceiro Mundo, mas geralmente esquecemos-nos dos números da barbárie explícita da nossa própria Faixa de Gaza escondida nas periferias e rincões pelo país afora. Nos holofotes umbilicais de São Paulo, a Avenida Paulista não espelha o Brasil e tampouco devemos acreditar que tal horizonte pictográfico será palco nos próximos anos da “realidade nacional” apesar das promessas do neoliberalismo-keynesiano. Para os ares da política a partir do eixo tucano-petista, uma nova elite dirigente eclodiu no cenário nacional e mais performático do que as anteriores com misto de sindicalistas emergentes de centrais sindicais e neocapitalistas criaram uma amálgama que podemos identificar como sendo um desenvolvimento “retro-modernista” de uma refundação capitalista à brasileira com maior desenvoltura hipertrofiada da construção capital-trabalho.
Ares políticos, ares sociais. Novos tempos não substituíram velhas e atormentadas práticas. Um celeiro internacional da prostituição e exploração infantil cujas mulheres continuam são exportadas com rótulo de qualidade “made in brazil” como gado para os prostíbulos do mundo inteiro (ironias do agrobusiness!). Adolescentes pobres se prostituem dançando nuas em troca de pedras de crack e alguns tostões em bailes da “cultura funkeira”. Apresentamos peitos siliconados e nádegas avantajadas sacolejantes ao mundo em troca dos dólares do turismo sexual disfarçado da maior “festa popular” do planeta. Ainda patrocinamos concursos machistas de “misses” para todos os gostos e pecuária de corte: “miss Brasil”, “miss penitenciária”, “miss universitária”, “miss garota da laje”, “miss dos maiores glúteos”, “miss mirim” (!) e corre a fértil imaginação à bel prazer. Aplaudimos entusiasticamente e adoramos ostentar a beleza do açougue de “nossas mulheres”. Nas listas imbecilizadas da “sedução internacional” os brasileiros sempre despontam nas primeiras colocações nos diversos “ranking”: mais sedutores, maiores números de orgasmos por metro quadrado, maior número de parceiros. Haja virilidade e libido! Agora como uma nação-olímpica, somos uma mistura da carne violenta com o gozo desmedido salpicado com o espetáculo da barbárie silenciosa. Eis uma caricatura do Brasil retro-moderno: carnaval, futebol, traficantes paramilitares, verde-cinza amazônico e, claro, a apoteose do glúteo empinado. E agora na Era Lula, gozamos da exuberância do capital fictício financeiro polvilhado de miragens miraculosas do pré-sal e bolsas de perpetuação da miséria.
Para retratar nossa Babilônia, reportemos à lenda de Lady Godiva, a mítica aristocrática anglo-saxã que viveu na Inglaterra no inicio dos anos mil. Para cumprir uma aposta feita com seu marido Leofric, o Duque de Mercia, para que o mesmo diminuísse os altos impostos do povo local se por caridade ela desfilasse despida montada sobre um cavalo branco nas ruas inglesas de Coventry. Mesmo duvidando da palavra de sua esposa, o Leofric ordenou que os moradores locais trancassem em suas casas para que ninguém pudesse ter a ousadia de admirá-la. Feito o desfile de Godiva e aposta cumprida, reza a lenda que seu marido retirou os impostos mais altos. A nossa genérica nacional de Godiva do momento é a estudante da Universidade Bandeirantes (Uniban) que ganhou espaço gratuito nos holofotes da mídia e do misanscene de defensores da liberdade.
Recapitulando a novela. Há duas semanas uma aluna enrolada num pedaço de pano denominado “microssaia” (ou vernáculo similar) desfilou seus dotes naturais nos corredores universidade onde está matriculada na região paulista do ABC. Até aí, não é nenhuma novidade o semi-nudismo narcíseo no país da tropicália e das genitálias desnudas. Um apelo ao primitivismo instintivo: provavelmente após incitar à ira feminina do recinto e supostamente “excitar a libido” masculina (sempre uma ótima desculpa!) foi se avolumando uma voluntária horda estudantil de achincalhamento da garota dentro do ambiente “acadêmico”. Um espetáculo de surrealismo fantástico para uma geração que é sempre ovacionada pela mídia por ser “descolada de moralismos”. Quantas ilusões da hipermodernidade! Dentro do galpão estudantil da Uniban construiu-se um legado importante da iniciativa privada da Educação “Superior” para a sociedade: o misanscene do autismo estudantil hipermoderno. Após conquistar histridentemente à apoteose com sua vestimenta em compasso com os instintos primitivos da horda acadêmica local, a situação perdeu-se o controle e temendo pela segurança, a Godiva da Uniban precisou ser escoltada pela polícia para fora da faculdade. Os inusitados minutos de fama se estenderam para o neófito estrelato da Godiva, a ficção se consolidou esquizofrenicamente e, para variar, a mídia ganhou motivos para lucrar pontos preciosos no IBOPE.
Os fatos que se sucederam foram mais bizarros e patéticos do que o show da pós-adolescente e a catarse hormonal de seus colegas “acadêmicos”. Sem pestanejar, do pátio da faculdade, a garota foi para as telas dos shows baratos de exploração da miséria humana na televisão. Para capitalizar o momento, se expôs no vídeo com o mesmo “vestido” para os lares da “pudica” sociedade, portou-se como a vítima dos hormônios de “abutres universitários”, ganhou seu cachê (dificilmente irá ter comprovação tal fato) e não será surpresa se conseguir contrato para exibir seus dotes em alguma revista masculina de “ensaios fotográficos” ou estrelar alguma produção do mercado pornográfico (o “roteiro” é demasiadamente propício!). Certamente a Godiva da Uniban irá conquistar mais fãs e dinheiro do que toda a sua vida batendo cartão como os demais “trabalhadores comuns” a serviço do capital. Para as dores no cotovelo dos seus detratores pseudo-puritanos, méritos da garota e “sorte” do país que irá ganhar mais uma candidata a “modelo-atriz-apresentadora-universitária-e-sangue-bom”. Talvez se ela for mais emotiva, deixar milimetricamente cair uma gota de lágrima (um bom colírio sempre ajuda!) em suas declarações midiáticas poderá até mesmo estrelar numa novela do “baixo clero” da televisão ou participar de algum Big Brothers da vida. Com alguma sorte e solicitação de grupos de ONGs, a Godiva da Uniban ainda poderá ser canonizada na pós-vida pela excelência de seus pares de pernas em prol da excitação libidinal dos onanistas de plantão, além de valorosa contribuição para “intelligetsia” universitária do capital. Em suma, mais uma provável candidata criada para o incipiente time dos personagens sacros brasileiros. A mídia adora o show da barbárie apimentada com sexo, intrigas e comezinhos autistas! Como diria o folclórico apresentador das futilidades burguesas da nossa pátria mãe gentil, Athayde Patreze: “Simplesmente um luxo!”.
Do outro lado, deslanchou o espetáculo institucional da estupidez. É notório que os únicos objetivos de um galpão universitário que explora mensalidades dos seus alunos são três e vale destacar: lucrar, lucrar e lucrar. A Meca do neopetismo visando o “voto da juventude”, o PROUNI, foi o grande espetáculo de desvio de recursos públicos para os bolsos dos empresários da educação. Com polpudos empréstimos do BNDES, para estas empresas o único compromisso é com o lucro fácil, rápido e garantido. Os galpões universitários tratam a Educação como um açougue ou uma mera quitanda. Portanto, não foi estranho que aos autistas gestores da Uniban não sabendo como agir diante da repercussão da Godiva (e inusitada garota-propaganda da faculdade) preferiam utilizar o recurso óbvio da “moralidade”. Como resultado de tamanha sapiência intelectual dos gestores da Uniban, a entidade expulsou a garota com direito a uma inverossímil justificativa com matéria paga estampada nos principais jornalões paulistas. Pelo olhar do capital, a bizarra expulsão da garota poderá ser melhor ainda para a poupança da nossa Godiva que poderá pedir uma rechonchuda indenização movendo um processo contra as lambanças de sua querida universidade. Ademais, fale deixar claro que soa patético o subterfúgio da moralidade para capitalistas imorais! Para ampliar a misanscene e morder um naco de espaço na mídia, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), a provinciana União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Ministério da Educação (MEC) entraram em campo, além de outras entidades de classes e ONGs ligadas à “defesa da mulher”. Em nome do espetáculo da hipocrisia, o circo somente aumentou e perdeu-se o foco do que realmente estava em pauta. Quanto vale o show?
Por mais patético que foi o teatro adolescente entre o enlace da exibicionista Godiva e sua hormonal turma, tudo não passou de um acontecimento pontual que deveria estar dentro do recinto da faculdade. Porém, graças ao poder das filmadoras dos celulares de seus colegas de turma da garota e a exposição na internet via site do YOUTUBE, as cenas midiáticas atravessaram as cascas de lona da faculdade. Paradoxalmente, uma faculdade academicamente insignificante ganhou status nacional e pela lógica da mídia, o espetáculo foi benéfico para todas as partes: notoriedade da sigla universitária, a consagração da Godiva, os “levantes estudantis da juventude” (como soa romântico!) e o uso da exploração da barbárie como “validade” de participação da cidadania. É importante lembrar que estamos na era da superexibição narcísea que tanto faz sucesso entre adolescentes, pós-adolescentes, agências de publicidade e propaganda entre tantos outros nichos. Todos os atores ganharam, exceto para a Educação e para o arcabouço de uma sociedade mais saudável.
Conseqüentemente, precisou do desfile exibicionista da Godiva e os uivos de seus colegas da faculdade para os enormes traseiros acomodados de entidades de classes saírem das cadeiras confortáveis com ar aclimatado. Com a exposição na mídia, todos querem parecer como “guardiões das liberdades civis”. Se tais pessoas realmente tivessem preocupadas com as “liberdades civis” jamais teríamos um hecatombe nuclear no sistema educacional público. Ambientes degradados, violência gratuita, fracassado projeto pedagógico e circulação constante da barbárie que vicejam nas unidades escolares públicas. Em nenhum momento a OAB-SP, UNE ou o MEC tomou medidas efetivas para intervir decisivamente na Educação Pública ou sequer levantaram questionamentos mais incisivos. Ao contrário, tais entidades fingem-se de cegas, surdas e mudas na amplitude cínica da complacência com a barbárie real e não apenas despertar a sanha protetora para brandir no teatrinho ficcional. Criações estéreis do Estado Neoliberal com o mote de abstração da “sociedade civil”, muitas ONGs que adoram enrijecer suas musculaturas financeiras com verbas públicas, aparecem justamente nestes momentos para ocupar espaço na mídia. O importante é fingir que está se fazendo “alguma coisa” para tudo se manter exatamente no mesmo lugar. Alguns incautos bradaram aos quatro ventos olhando cinematograficamente para o cinegrafista: “Liberdade para a calcinha! Abaixo a burka do preconceito!”. Pela lógica da pseudo-libertinagem, se não é possível “estabelecer critérios” para vestimentas para determinados lugares, então tudo é possível e plausível. Se o pano foi inventado para cobrir nossas “vergonhas”, por que então não abolir as vestimentas? Logo chegamos a um beco sem saída. Falsos moralismos à parte, se ficarmos reféns destas falsas retóricas simplistas da estética da indumentária humana, o debate não levará a nenhum lugar plausível. Apenas criar musculatura de um debate vazio.
De volta à barbárie real, na sociedade brasileira o “errado” é o “certo” (o inverso também é possível). Não existem limites para os impulsos destrutivos humanos e apenas minimizamos seus efeitos. Com trauma totalitário dos “anos de chumbo”, dádiva da herança de nossa classe militar, vivemos nos anos da complacência e liberdade assimétrica. Pais que não educam filhos são apenas confortáveis e assépticos “amigos”. Famílias multimídia das relações humanas e uma miríade de abstrações dos teares afetivos. As causas são colocadas em panos quentes e fingimos a complacência. O aluno que ofende ou agride gratuitamente um professor é um desamparado social em “situação de risco”. Alguém assalta e seqüestra um ônibus, posteriormente vira herói de cinema. Traficantes e assassinos são heróis “marginalizados”. Policiais viram clones mais-que-perfeito de Charles Bronsons. Latifundiários multimilionários são vítimas indefesas de “favelados do campo”. Sindicalistas que se enriquecem gerindo sindicatos de fachada é a esperança do mundo proletariado. Garotas materialistas e seminuas são mártires da nova “liberdade feminina” e do novo mundo acadêmico do capital e da mídia da barbárie.
Reentrâncias para a reflexão. Diga-se de passagem, os gritos de protestos e a queima de sutiãs em praça pública em prol da construção libertária da sexualidade ao estilo de Simone de Beauvoir do passado recente, hoje cedeu espaço para estampar de pigmentos coloridos para encobrir o corpo (as libertárias “tatoos”), ampliação da degradação silenciosa do trabalho feminino, aumento dos índices de problemas cardiovasculares (antes era uma “conquista feminina”) e o direito ao vômito feminino alcoolizado nas calçadas (para não dizer o direito feminino de literalmente urinar na rua! E por que não?). O progresso da ilusão material movido pela riqueza narcísea do espetáculo misanscene da mídia. Adentramos nos subterrâneos da barbárie: caras e bocas, desapego humano e futilidade intelectual de uma voraz sociedade de consumo movido ao descarte material, descomprometimento ideológico-afetivo, angústia avassaladora e altas doses de um magnetismo canalizado pelo binômio Prozac e “free love”. A transgressão gratuita passou do “afrontamento” para a obrigatoriedade hipermoderna. Aos poucos o reacionário se torna “cult”, a vanguarda se torna “obrigação” e as liturgias entre sagrado e o profano são apenas meretrizes menores do grande espetáculo do consumo imediato de adjetivos e condutas sociais. Logo, uma bobagem adolescente qualquer toma vulto de acontecimento tão significativo como à queda do Império Romano. Até a mídia entronar outra bobagem adolescente para ocupar o vácuo da mediocridade e a incipiência de valores. Sintoma da hipermodernidade, até mesmo a heterossexualidade se encontra desnorteada na necessidade de um midiático mundo de necessidades psicanalíticas de midiático pansexualismo universal. Lembrando o intelectual francês Guy Debord, a sociedade de mercado, alienada pela sedução da reificação da mercadoria, é movida pela arte do espetáculo e não pelas vitais necessidades humanas. Uma sociedade protagonizada por valores líquidos se forma e deforma sob qualquer circunstancia ao sabor da luzes de qualquer espetáculo. Ao sabor dos ventos midiáticos, um punhado de “conceitos” de qualquer coisa vira histriônicos “preconceitos”. É proibido proibir (mas depende de qual referencial será adotado)!
Como hipócritas “guardiões da liberdade”, saímos em defesa do direito de exposição gratuita das genitálias de pós-adolescentes, mas recuamos no apoio de muitos trabalhadores que calejam na luta inglória para construir uma sociedade mais justa. Claro, é mais “fashion” acolher o zunir das birras narcíseas de Barbies de outdoors do que erguer qualquer bandeira de protesto a favor daqueles que penam em condições desumanas de trabalho e educação. Sempre tem aqueles que irão refutar dizendo que as “liberdades civis” são mais importantes que as “outras” liberdades. Geralmente se faz um emaranhado de confusão entre liberdade e excrescência. Aliás, um dos argumentos banais mais freqüentes do baluarte capitalista contra o ideal Socialista é que “todos terão direito às mesmas coisas” (porém o narcíseo ego foge desta premissa como o diabo se afasta da cruz!). Portanto, os conceitos de “liberdade” e “igualdade” são sempre relativizados quando se referem ao confronto da mídia (imaginário) e da realidade. Mostrar a genitália gratuita pode; a igualdade econômica não pode. Manifestar ruidosamente contra pseudo-moralismo pode; fingir a pseudo-libertinagem pode. A oportunista rapinagem do sistema jurídico em apoiar molecagens de pós-adolescentes pode; dar assistência jurídica gratuita à milhões de pessoas sem condições econômicas na semidemocracia brasileira não pode. Deixar o livre mercado dos galpões educacionais privados engolirem dinheiro público pode; resgatar da barbárie o sistema público de Educação não pode. Exibicionismo gratuito pode; sinapse neural não pode. Alienação pode; emancipação não pode.
Elogio ao “jeitinho” nacional. Naturalmente é mais fácil ficar do lado do “senso comum” do que a sua contraparte. Na retórica da cínica moralidade à brasileira, relativamos tudo a “custo zero”. Invertemos virtudes e elogiamos a esperteza. Queremos ter as virtudes sociais de uma Suíça, mas queremos somente pagar os impostos raquíticos do Zimbábue. Queremos o trono de Economia do “Primeiro Mundo”, mas não queremos as indigestas obrigações internacionais de uma potência madura de grande porte. Somos sedutores e espertos; astutos e sexuais. Somos herdeiros egocêntricos de uma terra abençoada por Deus e ornamentada por natureza (Salve Jorge Ben Jor!)... O Diabo “pros outros”! Portanto, nada melhor do que a excentricidade mordaz dos pelos pubianos e a excitação da libido pansexual de uma Godiva tipicamente nacional. Para desvelar os caminhos da moralidade à brasileira, é preciso eliminar a inconveniência da microssaia e visualizar o tamanho homérico do complacente cinismo pseudo-libertário do autismo social.
terça-feira, 3 de novembro de 2009
Crime, império e impunidade: As quadrilhas de exploração da Fé e a crise na crença em Deus
Fé: Rubrica: filosofia. Na escolástica, crença religiosa sem fundamento em argumentos racionais, embora eventualmente alcançando verdades compatíveis com aquelas obtidas por meio da razão (Dicionário Houaiss Eletrônico)
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Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. (Mateus, 24.11)
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Segunda-feira, 02 de novembro: Dia de Finados. Os principais portais da internet de notícias de São Paulo estampam a “Marcha para Jesus” que segundo estimativas da Polícia Militar embarcaram um milhão de pessoas no show religioso na capital paulistana. O mesmo destaque da “marcha” sairá nas capas impressas de todos os jornais paulistanos nesta quarta-feira. A fé que movimenta mercados, ganha votos, constrói impérios e fortalece quadrilhas.
Com direito a trios elétricos, fáceis discursos de louvores a Jesus e óbvias invocações aos pseudo-moralismos, o movimento foi muito mais que uma “ação religiosa”. Com a adesão de outras seitas que utilizam a religião para seus obscuros interesses, a “Marcha para Jesus” é promovida pela seita religiosa denominada “Renascer em Cristo” de propriedade do casal Estevam e Sônia Hernandes. O destaque este ano da “marcha” vai para o uso como palanque de políticos como o senador Marcello Crivella (PRB-RJ) principal braço político da maior seita religiosa do país, a Igreja Universal de Edir Macedo e de outros políticos menores ligados às seitas de diversas denominações, como o “homem de fé”, Bispo Gê (DEM-SP) ligado à própria Renascer. O evento também marcou a primeira exibição pública do casal Hernandes que retornaram ao Brasil após cumprirem pena nos Estados Unidos por crimes de contrabando de dinheiro e conspiração para contrabando de dinheiro. Comprovada pelas autoridades estadunidenses, o casal da Renascer são pessoas de idoneidade ilibada! Vale a pena uma nota do surrealismo deste gênero de “show da fé”, além da mescla de artistas e papagaios de palanque de olhos esbugalhados para as eleições do próximo ano, foram montadas duas piscinas para realizar “batismos”. Que show, “my God”!
A “marcha” deste ano foi batizada com um pomposo título que merece menção: “Marchando para derrubar gigantes”. Certamente o casal Hernandes deveria estar se referindo a Justiça dos Estados Unidos os quais ainda possuem pendências, pois a Justiça brasileira é totalmente míope, omissa e leniente com as quadrinhas que utilizam do mote religioso para formarem impérios do crime. Previsivelmente estúpida é a retórica esfarrapada do discurso dos chefes destas máfias organizadas, denominadas “igrejas” ao reportar à balela da “discriminação” ou “perseguição religiosa” de suas organizações. Deixando o PCC e o Comando Vermelho no chinelo, muito melhor do que o negócio do narcotráfico e contrabando de armas, a exploração da fé religiosa é muito mais simples, fácil e exponencialmente lucrativa; principalmente num mundo mercantilizado e desnorteado de valores básicos de conduta e dignidade humana. A era do excesso também é a era do atrofiamento da crença e da vertigem existencial.
Que o mercado da fé é tão velho quanto Adão e Eva ninguém deve pairar alguma significativa dúvida. O que distingue as antigas das atuais seitas é o seu potencial canalizador de recursos numa rapidez impressionante para construir impérios econômicos. Guerras, crimes, pilhagens, torturas, banhos de sangue e tantas outras atrocidades foram cometidos pelos homens em nome de Deus. O mercado das crenças sempre foi o mais lucrativo de todos os negócios bem antes da construção do capitalismo como sistema econômico como um auspicioso avassalador e acumulador de riquezas e bens materiais. O temor a Deus ou a força de coerção divina foi um grande modelador de atitudes e comportamento imposto por um grupo de comando aos seus subordinados. A ideologia religiosa sempre foi um poderoso estratagema na construção de impérios políticos e econômicos, privados ou públicos. Na ausência absoluta de respostas para simples (porém, não triviais) questões existenciais, o nome de Deus ventilou ao longo dos séculos para servir como um cobertor existencial que amenize o sofrimento e um alimento existencial para a esperança e dor. Aliás, nada mais humano que a necessidade de continuar “vivo” perante a total desesperança do seu meio circundante. A fé é a projeção do inconsciente para a construção de um imaginário simbólico a ser delimitado com “real”. Um dos principais estudiosos mundiais sobre mitos, o estadunidense Joseph Campbell, trás em suas análises uma provocativa e instigante construção teórica pela observação de grande similaridade de ritos e mitos que constituíram diversas crenças e religiões ao longo de diferentes sociedades possibilitando o nascimento de tais manifestações religiosas a partir de raízes ou geratrizes comuns. A religiosidade é, em muitos aspectos, uma necessidade tão humana quanto às necessidades fisiológicas, afetivas ou sexuais. A partir de tais premissas que se apoderam as diversas quadrilhas de exploração da fé ou da boa-fé alheia.
O império criminoso constituído pela seita da “Igreja Universal do Reino de Deus” (IURD) de Edir Macedo é um marco referencial do quão é lucrativa a exploração da fé. Dona de um império incalculável, a pujança econômica da IURD se enraizou por diversos setores da sociedade, fomenta financeiramente partidos políticos de quase todos os espectros ideológicos, além de ter seu partido próprio (com o irônico nome de Partido Republicano Brasileiro, PRB, aliás, sigla partidária do vice-presidente, José de Alencar) e constituir uma sólida base no Congresso Nacional. Ressalta-se o exponencial império midiático de Edir Macedo e sua IURD, dona de um sólido aparelhamento dos meios de comunicação (aquisição de rádios, jornais e televisões) e possui bases (os templos ou “igrejas”) em quase todas as regiões do planeta Terra (talvez a exceção ficasse sendo a ausência da “Universal” nos pólos gelados na Terra e no deserto do Saara!). A Renascer do casal Hernandes é outro império econômico que segue os mesmo passos da “co-irmã” Universal, com a aquisição de templos, canais de comunicação e enraizamento dentro de partidos políticos. Demais seitas com mote religioso seguem a mesma linha empresarial do crime organizado baseando no “pioneirismo” da IURD, tais como a “Igreja da Graça” de R.R. Soares, “Deus é Amor” de David Miranda, além de outras seitas mais exóticas como a “Sara Nossa Terra” e a bizarra e surreal “Bola de Neve”.
Que tais quadrilhas motorizadas pela fé sofisticam cada vez mais seu poder de atuação dentro da sociedade não é de causar estranheza. A retórica falaciosa do casal Hernandes sobre o “preconceito contra os evangélicos” é totalmente previsível na medida em que esta é a única “salvação moral” para ocultar seus crimes e salvar seus próprios pescoços atolados na lama do crime organizado. Como no exemplo bíblico da via-crúcis de Jesus Cristo, Edir Macedo e o casal Hernandes se equiparam na santidade de seus atos. Eles se projetam como a encarnação do próprio Jesus Cristo em sua jornada bíblica na Terra. Previsível e nenhum pouco sofisticado o patético discurso de “perseguidos”: tudo tão simples quanto dois e dois resultarem muito além de cinco.
Todavia, há poucos dias, causa espanto uma declaração completamente equivocada e desorientada do Presidente da República, Lula da Silva, em mais um evento eleitoreiro pró-Dilma. Na sanha por apoios esdrúxulos e coleta de votos, Lula desta vez pousou na inauguração de novo empreendimento da Rede Record de propriedade da Edir Macedo e sua Universal. Em mais uma das falas improvisadas de Lula, o presidente disse que a emissora de Edir Macedo é “vítima de preconceito” por parte de alguns setores da sociedade. Porém Lula “esqueceu” dos processos a respeito de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro contra a quadrilha de Edir Macedo que estão empacados na morosidade criminosa da Justiça. Bem, para quem há pouco tempo dizia que no Brasil Jesus se aliaria à Judas na política doméstica, talvez a fala de Lula soasse para uma pá de cal para alguns resquícios da moralidade na política. Neste ínterim, cabe uma reflexão: se Deus alia-se com o Diabo, estaria Ele menos “puro” ou Satã mais “divino”?
A impunidade da Justiça beatifica a construção de impérios do crime com a mesma facilidade que se constrói fáceis e ingênuos louvores à Jesus. Quanto aos partidos políticos toda a discussão é ignorada e os mesmos adotam o “discurso de avestruz”, inclusive os partidos que se auto-intitulam mais esquerda do leque político. Em troca de votos, qualquer fé é bem-vinda. Uma cara banalização ideológica na triste rotina de desorientação e omissão!
Nem o Diabo faria melhor e mais folclórico. A “Marcha para Jesus” é um grande espetáculo de liturgias midiáticas do vazio da fé imediatista. Um ótimo cartão de visitas para as quadrilhas que utilizam a exploração desta mesma fé, com promessas envoltas de um bizarro espetáculo que entre outras histerias coletivas. Como numa instantânea liquidação de fim-de-feira, os “bispos” destas seitas prometem aos seus desesperados fiéis “alcançar Jesus” pela via material aquisição de riquezas, emprego, casamento e “descarrego” (isto é, após cada fiel estar quite com o dízimo da fé!). O palco bizarro destas seitas é atacar os preconceitos sociais, culturais e sexuais e seus semi-divinos “bispos” prometem a cura miraculosa de enfermos, portadores de necessidades especiais, alcoólatras e usuários de drogas, “tirar mulheres da prostituição”, “extração de encosto provenientes de rituais afrorreligiosos”, “curar homossexuais” entre outras “benesses da cura divina”. Os espetáculos de insanidades são imensos e macabros provenientes dos discursos irresponsáveis e preconceituosos destas quadrilhas que operam como seitas religiosas. Cabe ressaltar também na raiz básica destas retóricas pseudo-religiosas é o esvaziamento existencial da grande massa de indivíduos que buscam a qualquer custo uma “iluminação” para suas vãs existências num mundo cada vez mais fugaz, efêmero, embrutecido e alienado.
Não é raro encontrar “fiéis” que depositam até o último níquel de suas famélicas economias nas mãos destes “bispos” acreditando que estará contribuindo para a construção do “Reino dos Céus”. Inconscientemente, é possível inferir no imaginário destes “fiéis” é o pragmatismo materialista e imediatista desta “modalidade de fé”. Uma vez que cada níquel depositado é a certeza que haverá um lote no Céu esperando por sua futura alma a migrar “desta vida para outra”.
A crise na crença em Deus. Quando a mercantilização da sociedade transborda para todas as esferas sociais e imaginárias, não é difícil de entender o quanto é impossível combater ou dizimar por completo as quadrilhas que exploram a ingenuidade, a ganância e o desespero existencial de uma miríade de fiéis com “descrédito” em Deus. Em outras palavras, a “Marcha para Jesus” é mais um exemplo de mobilização de um pragmatismo materialista e descrente de um idealizado poder divino do que meras obviedades de uma “exibição de fé”. Neste caminho, Deus e o Diabo são meros acessórios descartáveis do imaginário de uma complexa sociedade alicerçada pelo aprofundamento de um arraigar materialista e vazio existencial. O fosso existencial está muito mais abaixo do que aparenta as águas da discórdia e do desespero humano.
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