segunda-feira, 14 de julho de 2025

DA CHANTAGEM DE TRUMP À UM PORTAL DE INESPERADA OPORTUNIDADE

 


1.      O Porrete de Trump e as loucuras de um império em decadência

Após quedas sucessivas de popularidade e um mandato muito abaixo do esperado, o presidente Lula ganhou um presente irrecusável na semana passada. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o único ser humano que tem o poder de detonar o maior número de ogivas nucleares ao redor do planeta, anunciou uma grosseira e surreal carta ao Brasil decretando a taxação em 50% sobre os impostos de produtos brasileiros, a partir do mês de agosto. O que pensar sobre todo este surrealista picadeiro da loucura que se transformou as relações diplomáticas internacionais?

Pensando o caso brasileiro: como a imposição de uma medida imperialista draconiana ao Brasil poderia favorecer o governo do Lula? A chave está na defesa da soberania! A partir daí, o destino de Lula, do seu esquálido governo e da moribunda Esquerda brasileira ganhou um inesperado e renovado fôlego político e eleitoral.

A motivação de Trump para tal empreitada contra o Brasil é, no mínimo, em duas frentes: (a) em primeiro lugar, a econômica, como retaliação, diretamente, ao fortalecimento do bloco dos BRICS e a tentativa de não mais utilizar o dólar estadunidense como moeda principal nas negociações comerciais do bloco; (b) em segundo lugar, a política, como retaliação contra o governo brasileiro diante do caso Bolsonaro.

Diante da insaciável sede de loucura megalomaníaca de Trump, a questão impositiva das tarifas não é uma exclusividade para o Brasil. Outros países e blocos econômicos, tais como, México, Canadá, África do Sul, Indonésia, Japão, Coréia do Sul, China e União Europeia sofreram as mesmas sanções tarifárias, exceto pelo uso de percentuais menores ao aplicado ao Brasil. Curiosamente, a Rússia de Vladimir Putin, até o momento, passa incólume da sanha desloucada de Trump.

Entretanto, no caso brasileiro, para além do que seria uma imperialista sanção ao país, Trump impõe algo, no mínimo, inédito, ultrajante e inacreditável ao Estado brasileiro: a exigência de que a Justiça do Brasil deixasse de perseguir “imediatamente” o ex-presidente, Jair Bolsonaro! De forma patética, unilateral e megalomaníaca, Trump impôs punição agregada à uma ordem típica de senhor da guerra com a diplomacia na ponta da baioneta e tratou o Brasil como uma república das bananas!

Seguramente, em um dos episódios mais vergonhosos da história recente brasileira com enredo tragicômico do vira-latismo nacional, os filhos de Bolsonaro, viajam para os Estados Unidos (em particular o então vira-lata deputado federal, Eduardo, o chamado “Bananinha”) e imploram apoio de Trump para livrar o pai de uma possível condenação na Justiça por tentativa de golpe de Estado no Brasil orquestrado no alucinado 08 de janeiro de 2023.

A narrativa teatral que está sendo armada pela família Bolsonaro é que o chefe da máfia bolsonarista (Bolsonaro, o pai), é a “vítima” e o Estado brasileiro é o vilão “predador”. Na artimanha organizada para não ser condenado, a “patriótica” família Bolsonaro faz qualquer coisa, inclusive se apresentar como ponta da lança para atingir o próprio estado brasileiro.

Vale recordar o episódio inédito da tentativa de golpismo orquestrada pela família Bolsonaro, tendo o próprio Bolsonaro com líder do movimento, após a derrota eleitoral, em 2022, que contou com uma vasta colaboração de grupos de Extrema Direita, simpatizantes de Bolsonaro, militares, empresários e políticos. O golpe foi frustrado e quase toda a quadrilha golpista foi desarticulada. Diante disso, começarão, em breve, os julgamentos cruciais se parte nuclear dos envolvidos diretamente com os atentados na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

 

2.      A chance de renascimento do Governo Lula

Como em um roteiro de quinta categoria para algum filme “patriótico” estadunidense, Trump impôs ao Brasil algo inédito na história recente a relação entre os dois país: uma declaração pública de uma guerra, no caso, até o momento, de natureza comercial. Diante deste cenário beligerante e inóspito, Lula agiu rápido e respondeu que não aceitaria esta condição de subalternidade perante o mandatário estadunidense.

Diante dos abusos de Trump, algumas medidas de reciprocidade poderão ser empregadas pelo governo brasileiro em resposta ao tarifaço de Trump.  É um momento, neste instante, que o governo brasileiro precisa ter calma, sanidade, estratégia e astúcia. A partir daí, uma nova fase do seu governo cambaleante começa a ser construída com o incremento motivacional da “defesa da soberania”.

A chantagem tarifária de Trump repercutiu de diferentes maneiras no Brasil, mas com a tendência daqueles que entenderam que não se tratava apenas de um ataque ao governo brasileiro, mas a própria soberania nacional. A questão tarifária deixou o campo político polarizado entre os que defendiam esta soberania ameaçada e os que consideravam natural um presidente de outro país declarar guerra tarifária, repentinamente, de acordo com o humor do mandatário!

Acreditando que fosse uma medida para atacar Lula, se forjou uma típica cena do vira-latismo tupiniquim: ao correrem, imediatamente, para apoiar o tarifaço de Trump contra o Brasil, os principais políticos de Direita, entre eles os governadores ligados ao bolsonarismo (agindo como futuros candidatos ao Planalto nas próximas eleições), em particular, Tarcísio de Freitas, o carioca que ocupa a cadeira de governador de São Paulo, se viu em uma encruzilhada tão alucinada quanto constrangedora.

São Paulo é um dos estados da federação que mais sofrerão os impactos diretos do petardo tarifário de Trump, prejudicando as exportações para os Estados Unidos. Portanto, ao mesmo tempo que Tarcísio apoiou a sanha tarifária de Trump, tal ação intempestiva prejudica, diretamente, a economia exportadora do estado mais rico da federação. O tiro no pé da Direita foi dado, agora, em bando ou isoladamente, políticos da Direita que apoiaram Trump buscam colar a culpa em Lula ou se desgarrar da polêmica tarifária.

 

3.      Um último trem para recuperar a sanidade e a vida

Ao longo de anos de marasmo político, pela primeira vez e de forma factível, é possível criar uma renovada agenda para as Esquerdas, observando o cenário de defesa da soberania e com farto material para contra-atacar a nefasta agenda da Extrema-Direita. Se existir um mínimo de sensatez e equilíbrio, Lula e a própria Esquerda poderão surfar com grande potencial político e eleitoral na onda escaldante das bravatas insana de Trump.

Ao aderir cegamente ao tarifário de Trump, a pose de “patriótica” da Extrema Direita cai por terra. Lembrando que a ideologia política dos patrões termina quando a ideologia econômica sofre perdas consideráveis em sua lucratividade bate à porta. Portanto, setores como o do agronegócio e o industrial, afetados diretamente pelo tarifaço trompista, poderão dar apoio veemente à Lula.

Neste caso, o presidente procura, abertamente, fazer uma política de defesa, justamente, dos interesses nacionais destes dois setores. Diante desta postura, parece muito plausível um ganho político considerável para sua campanha de reeleição para o próximo ano.

Quanto às Esquerdas, isto implica diretamente o PT, é imperativo abandonar as neoliberais, moralistas e imbecilizantes pautas do catecismo e patrulhamento identitário da “cultura woke” estadunidense para retomar o seu caminho natural de defesa dos trabalhadores.

Os fetiches neuróticos de uma classe média descolada e sem nenhum compromisso com as grandes questões da humanidade, jamais foram os horizontes de uma Esquerda que urge cultivar a luta de classes como norte em prol de uma sociedade que privilegie os valores do coletivo em detrimento das perversões do Grande Capital.

Já se esgotaram politicamente as bobagens irrelevantes das identidades narcísicas nas Esquerdas. Esse identitarismo se forjou como um cavalo de Tróia que serviu para impor um transe que beira o total ridículo que, até agora, somente serviu para a desmoralização das Esquerdas e de trampolim do alpinismo social para alguns espertalhões que surfam na onda identitária.

A abdução das Esquerdas pelo transe identitário que carrega a exclusiva e reacionária preocupação com as supostas “minorias” em detrimento da ampla classe trabalhadora, implicou em sucessivas derrotas e vexatórias eleitorais e descrédito da maioria população.

Diante deste vácuo político deixado pelas Esquerdas, a Extrema Direita cresceu vertiginosamente no país no último decênio. Agora, se desejar não tomar mais uma sova de humilhação eleitoral, as Esquerdas precisarão retomar o caminho inquestionável da defesa dos trabalhadores, da soberania nacional e dos interesses inerentes ao Brasil.

Os ataques históricos à soberania brasileira dão margem à uma defesa do país, ao espírito de integridade nacional e a percepção fundamental da cidadania universal. Caso não desejar aproveitar esta inesperada oportunidade que as insanidades de Trump está oferecendo, as Esquerdas deverão seguir o curso incontornável da morte anunciada.

Se uma Esquerda não defende os trabalhadores, o universalismo da cidadania e os direitos políticos econômicos igualitários, não serve, absolutamente, para nada! Portanto, é hora de acordar para agir, senão, nada escapará de um cataclisma ideológico onde a Direta e a Extrema Direita reinarão sem nenhuma outra contraparte factível e realista no turvo horizonte da política brasileira.

Por fim, é preciso fazer justiça: o tresloucado Trump fez mais para a Esquerda brasileira em um semestre do que todo o período catatonia programática e ideológica, desde a queda do Muro de Berlim até a atualidade.

Agora, basta saber o que o governo Lula e as Esquerdas brasileiras, em particular, terão juízo o suficiente para capturar a janela de oportunidade histórica e, o mais importante, fazer grandes mudanças estruturais em seus projetos e programas políticos e que repercuta em toda a sociedade e, consequentemente, que recupere a credibilidade junto à classe trabalhadora.

(Wellington Fontes Menezes)

 

 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

A IMPORTÂNCIA DE COMPREENDER O PENSAMENTO OCIDENTAL

 


O século XXI, embriagado, ideologicamente, pela desertificação Pós-moderna, assiste à uma espécie de desmoralização ou demonização do que se denomina “Pensamento Ocidental”. Entre a desvalorização, o desconhecimento e, perigosamente, um “festejado” negacionismo, como é possível que chegamos nesta encruzilhada tão maniqueísta e pouco factível para a compreensão da nossa própria história civilizatória?

Devemos nos perguntar quais os motivos para uma suposta decadência deste modelo de interpretação basilar e secular do mundo Ocidental? Quais são as origens, estruturas e valores que são alicerçados pelo Pensamento Ocidental? Por outro lado, quais são as críticas argumentativas ou ideológicas, usualmente, mais comuns e, por sua vez, quais as possíveis veracidades ou desonestidades? É possível compreender o mundo hoje sem conhecer a natureza de sua trajetória multidimensional e altamente complexa do Pensamento Ocidental?

É, analiticamente, desafiador tratar séculos de uma série de amplas construções políticas, ideológicas e culturais dentro de um único arcabouço sem contestar suas possíveis falhas ou distorções. Todavia, neste presente entendimento, convencionamos a construir uma espécie de “guarda-chuva” enciclopédico na tentativa de promover um vetor dinâmico que orienta trajetória do que se conhece como Mundo Ocidental.

A partir deste limite, é possível elaborar o idéia de um “Pensamento Ocidental” como sendo um conjunto de tradições filosóficas, culturais, científicas, políticas e éticas que têm suas raízes na Europa, especialmente na Grécia Antiga e em Roma, e que foram desenvolvidas ao longo dos séculos por meio do Cristianismo, do Iluminismo, da Revolução Científica e advento da Modernidade. O grande tear do Pensamento Ocidental influenciou, fortemente, a forma como o Ocidente entende o ser humano, a natureza, o conhecimento, a moral, os conflitos inerentes, as contradições da sociedade e o desejo de progresso.

Diante do arcabouço do Pensamento Ocidental, podemos destacar algumas características principais:

(a) Racionalismo: valorização da razão como meio principal de compreender o mundo;

(b) Individualismo: importância do indivíduo como centro da experiência moral, política e existencial;

(c) Humanismo: foco no ser humano, sua dignidade e capacidade de agir e transformar a realidade;

(d) Cientificismo: confiança no método científico para alcançar conhecimento objetivo e desenvolver a tecnologia;

(e) Democracia e direitos humanos: ideais políticos baseados na liberdade individual, igualdade e participação cidadã;

(f) Dualismos clássicos: corpo/alma, razão/emoção, natureza/cultura.

 Com relação à importância do pensamento ocidental no mundo atual, destaca-se:

(a) Base das democracias modernas: Sistemas políticos contemporâneos, como o Estado de direito, a separação de poderes e os direitos civis, têm raízes no pensamento político ocidental;

(b) Progresso científico e tecnológico: O modelo científico ocidental impulsionou grandes avanços em medicina, comunicações, transporte, energia e mais;

(c) Educação e universidades: A estrutura das universidades modernas deriva de tradições ocidentais de ensino e debate crítico;

(d) Globalização cultural e econômica: Muitos valores ocidentais – como liberdade de expressão, mercado livre e direitos individuais – foram difundidos globalmente, influenciando sistemas e culturas ao redor do mundo.

Compreender o Pensamento Ocidental é buscar conexões sobre os alicerces materiais e ideológicos do mundo em que vivemos. Ele nos fornece ferramentas para interpretar a realidade, fazer escolhas éticas, dialogar com o passado e planejar o futuro com mais consciência.

Grande parte da cultura ocidental moderna — incluindo literatura, artes, instituições políticas e sistemas educacionais — foi moldada por ideias originadas na Grécia Antiga, em Roma, na Idade Média cristã, no Iluminismo e em outras etapas do pensamento ocidental.

O Pensamento Ocidental enfatiza o uso da razão, da lógica e da argumentação como formas de compreender o mundo — algo iniciado por filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Democracia, direitos humanos, ciência empírica, capitalismo e até mesmo o conceito de indivíduo têm raízes no Pensamento Ocidental.

O desafio para uma compressão materialista, filosófica e ideológica do mundo passar por um entendimento da natureza dialética das transformações sociais e, por sua vez, as implicações causais que impactaram diretamente nos rumos da sociedade ocidental. Portanto, conhecer as bases sistemáticas do Pensamento Ocidental é buscar compreender as raízes do mundo em que vivemos. Ele nos fornece ferramentas para interpretar a realidade, fazer escolhas éticas, dialogar com o passado e planejar o futuro com mais consciência.

(Wellington Fontes Menezes)

 

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 CURSO LIVRE ON-LINE

 INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO OCIDENTAL:

Origens, metamorfoses e hegemonia

Ministrado por: Prof. Dr. Wellington Fontes Menezes (Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais/UFF)


PLANO DE AULAS:

·         Parte 1: A origem do Pensamento Ocidental: Filosofia, Polis e Cosmo.

·         Parte 2: A razão da Idade Média: Fé, Autoridade e Conhecimento

·         Parte 3: O Renascimento e a Revolução Científica: Redescoberta do mundo e do homem

·         Parte 4: Iluminismo e Modernidade: Razão, Progresso e Contradições

·         Parte 5: Crises da Modernidade: Ciência, Política e Filosofia no século XX e nas primeiras décadas do século XXI

 

PROGRAMAÇÃO:

·         CINCO ENCONTROS – Segundas-feiras e Quintas-feiras: dias 17, 21, 24, 28 e 31 de julho de 2025.

·         Horário: 20 às 22 horas.

 

MODALIDADE: O curso será transmitido de forma síncrona, ou seja, ao vivo (online), e suas aulas serão todas gravadas e disponibilizadas, posteriormente, aos participantes.

INVESTIMENTO: O valor da inscrição no curso é R$ 80,00. Por gentileza, fazer uso do PIX para a chave-pix wfmenezes@uol.com.br (Banco do Brasil). Após efetuar o pagamento, enviar o comprovante para o número de WhatsApp: (11)97551-2468. Se preferir, poderá usar a Plataforma Sympla para o pagamento no link: https://www.sympla.com.br/evento-online/introducao-ao-pensamento-ocidental-origens-metamorfoses-e-hegemonia/3023280

INSCRIÇÕES NO FORMULÁRIO: https://forms.gle/8d4mDy6ZT15EF175A

 

OBSERVAÇÕES GERAIS:

·         O curso completo terá 05 (cinco) encontros com carga horária de 10 (dez). horas de duração e cada aula terá duração de 2 horas e será ministrado por via da plataforma GOOGLE MEET.

·         O certificado de participação será emitido do participante mediante 75% de presença.

·         Mais informações pelo telefone/WhatsApp (11) 97551-2468.

 

 

 

 

terça-feira, 8 de julho de 2025

A ILUSÃO DO BORDÃO "TAXAR OS RICOS" COMO ESGOTAMENTO POLÍTICO: OS RISCOS ENTRE INTERESSES DE ESTADO E A DEMAGOGIA ELEITOREIRA

 


Quando assumiu seu terceiro mandato como presidente, em janeiro de 2025, Lula teve com uma das primeiras tarefas, a articulação das candidaturas das presidências do Senado e da Câmara dos Deputados. É bastante ingênuo acreditar que a as escolhas das lideranças das casas legislativas são "independentes" e não passam pelo crivo do Executivo.

Diante disto, Lula e seus arautos palacianos, liderados por Rui Costa, na pasta da Casa Civil, empregaram a rasteira aposta nos apadrinhados do bolsonarista e o presidente da Câmara dos Deputados daquele momento, Arthur Lira. Eles eram Hugo Motta, o medíocre deputado do Baixo Clero pelo partido do "bispo" Edir Macedo (Republicanos) para a Câmara dos Deputados e o retorno à presidência do Senado de Davi Alcolumbre do União Brasil (fusão entre o partido Democratas e o PSL), um bolsonarista do latifúndio do Amapá de primeira ocasião.

Motta e Alcolumbre são duas figuras das mais desprezíveis representantes de clãs corruptos das predatórias oligarquias regionalistas brasileiras. A pergunta que deveria ser feita à Lula: por que renunciar a construção de um arco de alianças mais "progressista" no Congresso e, destrutivamente, apoiar os dejetos oferecidos pelos piores inimigos?

Entretanto, nada é estranho para Lula quando a tarefa é unir o inconciliável para faturar (questionáveis) dividendos. Eis a eterna política de conciliação de classes, ou seja, na prática, a total rendição aos interesses da burguesia em detrimento dos anseios dos trabalhadores. Uma "obra-prima" de Lula que jamais abriu mão desta premissa. Eis a lógica delimitada de ascensão ao poder do "sindicalismo de resultados" de Lula: em troca do estar, nominalmente, no poder, os dedos e alianças são entregues, sem nenhum constrangimento. Mesmo com todas as turbulências oceânicas, Lula serviu fiel ao pacto conciliatório.

Da rendição ao neoliberalismo com a "Carta ao Povo Brasileiro", em 2002, à demagógica campanha publicitária da "taxação dos ricos", em 2025, utilizando inteligência artificial, típica do submundo da "deepweb", o que se observa são as metamorfoses camaleônicas e o esgotamento político-eleitoral do Partido do Trabalhadores (PT).

Não é nenhuma surpresa quando o PT é visto, hoje, como uma espécie de PMDB, ou seja, um agregado amorfo de políticos e algumas oligarquias sem nenhuma ideologia consistente e calcado na demagogia discursiva. De agremiação sindicalista ao bonde de identitários oportunistas, o PT pouco comove os trabalhadores da mesma forma dos tempos áureos com programas políticos efetivos e lúcidos. Uma vez que até o próprio Lula só se preocupou em minimizar e reduzir seus direitos trabalhistas e transformá-los em zumbis do rebotalho capitalista, os "empreendedores". Lembrada no palanque eleitoral, mas sequer as reformas neoliberais do golpista Temer foram revogadas pelo atual governo Lula, como outrora foi prometido!

 Voltando à Motta, o alvo da fúria teatral e seletiva petista. Nada mais rasteira e demagógica a atual "guerra publicitária" promovida por Lula e seus arautos palacianos de juízo infanto-juvenil contra o Congresso. Lula sempre fez questão de elogiar as suas "maravilhosas" relações institucionais com o Congresso, inclusive com elogios explícitos à Motta e Alcolumbre. No entanto, azedou o humor de Lula ao perder a votação de ampliação de alíquota do imposto de IOF na Câmara. Por sinal, imposto que seria usado para financiar a famigerada continuidade da política econômica de austeridade fiscal, introduzida por governos anteriores, de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

O que fez Lula? Resolver bater no seu "companheiro" Motta utilizando seu braço político, o partido-fantoche do PT e sua militância robotizada. O PT, na condição de partido político, se reduziu a ser um comitê nacional de reeleição permanente de Lula. O mote do atual instante é a angelical prosopopeia da batalha dos "ricos contra os pobres" e usando a galhofa do IOF como o "imposto para taxar ricos". Deste modo, assiste-se ao esgotamento político-ideológico do PT que aderiu ao populismo mais simplista para se escorar em um mote farsesco e antecipando a campanha eleitoral do próximo ano. É claro que, na prática, Lula não quer "taxar ricos" e tão pouco o PT quer levar tal mote à sério. Criador e criatura nunca o fizeram em momentos mais à Esquerda e com cinco governos petistas, desde 2003. Naturalmente, não será agora, rendidos, completamente, ao neoliberalismo que Lula e o PT vestirão para valer à fantasia de Robin Hood.

No entanto, diante da oportunista fantasia demagógica, Lula e o PT entregam de bandeja para a Extrema Direita a estratégia de como erodir as relações institucionais e criar uma instabilidade democrática da pior forma possível. Lula não é apenas o presidente de honra do PT, mas o presidente da república! Imagine se Bolsonaro, na época de seu mandato, utilizasse diretamente o seu partido para fazer campanha contra o Congresso, tal como Lula e o PT estão orquestrando no atual momento? Certamente, diriam que Bolsonaro estaria criando um caldo putrefato para dar um golpe político no país. Tudo que Bolsonaro, sua malta de aloprados fascistas, sua horda de “bolsomínions” e os velhacos generais golpistas tentaram fazer foi golpear o país, diretamente, tal como visto das dantescas cenas do 08 de janeiro de 2023. É muito cedo para outro empreendimento desta natureza para uma democracia cambaleante como a nossa!

Lula e o PT, de forma irresponsável e oportunista, busca criar um similar caldo de cultura do velho mote “nós contra eles”, cujas implicações poderão deflagrar um grande tiro no pé. Alguém tem alguma dúvida que tal estratégia "kamikaze" de Lula e do PT não poderá ser apontado como "golpista" pela Direita? O risco de o feitiço virar o feiticeiro é grande e real. Ademais, segue o processo contínuo de despolitização do PT que migrou para se posicionar à Direita do espectro político. 

Assim como, por exemplo, o PT fez ao propagandear que a demagogia neoliberal cotista ou programa de austeridade fiscal são "programas de Esquerda", a cúpula petista, que tem Lula como mártir, quer imprimir que uma ilusória e questionável possibilidade de "taxação de ricos" se transforme em uma "bandeira de Esquerda". Vale ressaltar que uma Esquerda que se dignifica sua ideologia, não coaduna com uma falácia sobre "taxar os ricos", mas impulsionaria uma política de expropriação de propriedade privada que explora os trabalhadores e com dívidas "impagáveis" de qualquer natureza perante o Estado.

Ao se atirar, antecipadamente e sem paraquedas, na turva corrida eleitoral de 2026, Lula e o PT acreditam que criar falácias sobre as quais nunca, de fato, quiseram agir ou defenderam, gerará votos tão imediatos quanto verdadeiros! Este episódio traduz no desespero pela falta de um programa real que mobilize a população e se avoluma o esgotamento político do PT como partido que pudesse representar os trabalhadores.

Apesar da euforia inicial da campanha do PT em pressionar o Congresso, o risco é oposto: poderá esvaziar todo um possível programa de enfrentamento da Extrema Direita. O IOF não é um imposto para "taxar os ricos" e, tampouco, o PT não tem a menor idéia real de como fazer tal tarefa na prática se, por hipótese, tentasse, realmente, impor uma política de "taxação dos ricos". Pior ainda, é a possibilidade crível do PT despencar do alçapão do descrédito popular, como foi observado de forma avassaladora com durante o contexto do golpe contra Dilma, em 2016, e que culminou na esmagadora e tragicômica vitória de Bolsonaro, em 2018. Mais uma vez, o PT teima em não aprender nada ou, simplesmente, negar a sua própria história!

 (Wellington Fontes Menezes)

DA CHANTAGEM DE TRUMP À UM PORTAL DE INESPERADA OPORTUNIDADE

  1.       O Porrete de Trump e as loucuras de um império em decadência Após quedas sucessivas de popularidade e um mandato muito abaixo d...