O dia 08 de janeiro ficará
marcado, na história brasileira, como o momento em que o fascismo nacional
tentou tomar de assalto o país. Os atos de terrorismo com a invasão dos prédios
dos Três Poderes, em Brasília, simbolizou, drasticamente, a inédita investida
de um “fascismo popular” que tem origem recente, a partir dos anos 2010.
Acreditar que atos tão bem orquestrados e com um número incalculável de pessoas
foram organizados, repentinamente, e de forma espontânea é não dar a devida
dimensão à gravidade da contaminação da extrema direita no país.
Desde 2013, com o grande ensaio
das fascistizantes “jornadas de junho”, quando Brasília foi invadida por uma
turba alienada contra o governo Dilma, o país conheceu um novo tipo de
política: o "fascismo popular". De lá para cá, o descalabro só
aumentou, o país conheceu o maior retrocesso político da Nova República.
Jamais, na história brasileira, a extrema direita obteve tanto apoio popular, elegendo
um fascista como presidente da república: Jair Messias Bolsonaro.
Neste ínterim, as esquerdas
perderam toda a carga ideológica de ação e mobilização popular, ficando à
margem de um alienante discurso culturalista identitário que pouco ajuda a
entender os ditames da realidade e, tampouco, se forjar como contraponto ao
poder e influência da extrema direita. O antipetismo, o combustível incessante
da extrema direita na atualidade, nasceu, basicamente, com a grande frustração
de setores médios da população, projetada pelo excesso de otimismo irrealista
que Lula e o PT geraram na sociedade, desde o início do primeiro mandato, em
2003.
Toda a cumplicidade criminosa da
Grande Mídia foi responsável, diretamente, por uma avalanche de disparates
contra o PT, Dilma e Lula, culminando na campanha de demonização nacional da
"linhagem petista" que, por sua vez, resultou no Golpe de Estado de
2016. Os grotescos erros petistas de não acreditarem em atos golpistas debaixo
do próprio nariz e que derrubaram Dilma, foram os mesmos que, neste domingo, os
petistas experimentaram de forma ampla e, tragicamente, espetacular. O que
precisa mais para o PT compreender e levar a sério a extrema direita no Brasil?
Nunca os protestos contra PT,
Dilma ou Lula foram sobre a alardeada “corrupção”. Desde o circo midiático que
levou Lula para a cadeia, como resultado na maior farsa jurídica da história
nacional, a “Operação Lava Jato”, guiada pelo seu mentor, o político de extrema
direita travestido de juiz, Sérgio Moro, o PT sempre acreditou mais em
“conciliação nacional”, do que na compreensão dos fatos da conjuntura política.
No substrato da alucinação
social, amplos setores da sociedade se fascistizaram na perigosa "loucura
das massas": partidos políticos, camadas das polícias em todos os seus
segmentos, frações da classe média, pequenos e médios “empreendedores”, grandes
patrões que ganharam muito dinheiro nos governos Lula, decidiram patrocinar uma
série de articulações golpistas (em particular, a burguesia predatória do
agronegócio).
Do submundo das redes sociais e
seus perversos “influenciadores” aos partidos políticos, surge do limbo, o
maior nome político deste movimento conservador, reacionário e golpista: o
miliciano fluminense do Baixo Clero da Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro!
Quanto às Forças Armadas, elas sempre foram plasmadas com bases fascistas e
produziram um nefasto histórico golpista que se perpetua, até hoje, na história
brasileira.
A arbitrária prisão de Lula,
impedindo-o de concorrer, em 2018, a mais uma disputa presidencial, foi mais
uma arbitrariedade contra o alardeado “Estado de Direito” e uma pá de cal na
frágil democracia brasileira. A vitória de Bolsonaro representou a apoteose da
crise institucional do país que se arrastava desde o golpe de 2016 e a instalação
o governo golpista de Michel Temer com total cumplicidade dos poderes
Legislativo e Judiciário. Nenhuma orquestração fascista na sociedade vinga sem
ajuda generosa da burguesia, aparelhamento estatal e amplos setores da classe
média.
O desejo de demolição da
democracia brasileira se tornou a maior obsessão das principais frações da
burguesia, visando à destruição de direitos trabalhistas e sociais, além de
todas as barreiras que possam impedir a ampliação das potencialidades da
acumulação de capital pelos setores detentores da economia brasileira.
Com o contexto internacional da
ascensão da extrema direita nas principais democracias do mundo, aqui, em
território brasileiro, não poderia ser diferente. O bizarro teatro da invasão
do Capitólio, o congresso estadunidense, em janeiro de 2021, foi o maior de
toda a história. Liderada pelo então candidato derrotado à reeleição
estadunidense, Donald Trump, a malta de obcecados militantes da extrema direita
dos Estados Unidos vandalizou o maior símbolo da democracia daquele país. O
golpe da tomada do Capitólio foi frustrado, seus delirantes terroristas foram
presos e julgados, além dos processos envolvendo Trump.
O ressurgimento de Lula,
resgatando o messianismo político, foi vital para derrotar, eleitoralmente,
Bolsonaro. Todavia, foi uma vitória tão apertada que não conseguiu cessar o
ímpeto da “rebeldia” da malta bolsonarista. Além de qualquer coisa, foi uma
tentativa da burguesia de frear os chacais de Bolsonaro que haviam sido
liberados e estavam destruindo o país.
Como todo estratagema do golpismo
burguês pavimentando o Estado de exceção, derrubam-se governos democráticos,
impõem-se fascistas para limpar o terreno, mas depois, há uma dificuldade de
fazer os cães voltarem para o canil.
Se não fosse a tragédia da
pandemia de COVID-19 que ceifou mais de 700 mil vidas em quase três anos e mais
de 36 milhões de casos, provavelmente, Bolsonaro venceria facilmente as
eleições de 2022, conquistando mais um mandato! Porém, o jaguncismo bolsonarista
faz de tudo para implantar o caos e a morte por atacado, sabotando a saúde
pública brasileira diante do paiol de monstruosidades. Bolsonaro,
perversamente, implantou a desinformação, o desmantelamento das políticas de
prevenção da doença e, pior de todas as pragas, o negacionismo na opinião
pública para alienar e matar o maior número de brasileiros.
O compromisso do fascismo é
sempre com o caos social, o poder político e a morte daqueles que não
interessam aos planos fascistas. Não há ilusões sobre as ações de Bolsonaro
que, desde que tomou posse em primeiro de janeiro de 2019, fez de tudo para
arquitetar um golpe de Estado e se perpetuar no poder. As cenas lastimáveis do
terror imposto pela “rebeldia” da malta bolsonarista em Brasília, neste
domingo, 08 de janeiro de 2023, foi uma tentativa calculada de arquitetar um
“Capitólio tupiniquim”.
Com a devastação histórica, não
sobrou nada em pé nos prédios dos Três Poderes, coração do poder político
brasileiro. O dia de glória dos “rebeldes” bolsonaristas chegou com pompa e
destruição, repercutindo tanto nas redes sociais, como nos principais
noticiários do mundo. Por algumas horas, a capital do Brasil se transformou em
uma região sem lei, típica de uma "república das bananas", sendo
mostrada ao mundo a fragilidade institucional da nação.
O país e o mundo assistiram com
perplexidade uma horda de zumbis, toda ela fantasiada com a camisa
verde-amarela da Seleção Brasileira, destruindo tudo pela frente, sem nenhuma
piedade pelo patrimônio público e histórico, em nome de uma causa que nem mesmo
eles conseguem explicar com mínima clareza, que não seja, a loucura das massas:
o “golpe pelo golpe” como sendo o gozo em si mesmo!
De todos os males possíveis,
destaca-se que Bolsonaro faz o grande favor ao país ao mostrar que é preciso
combater, sem piedade e dubiedade, o ranço golpista instalado estruturalmente
na república brasileira. Por sinal, Bolsonaro, um militar aposentado
precocemente por seus atentados militares, é um produto da deformação sistêmica
da democracia brasileira que anistiou e acolheu, servilmente, todos seus
generais golpistas e assassinos da maldita ditadura brasileira (1964-1985).
Não é possível construir e manter
ereta qualquer democracia, por mais frágil que ela for, se o Estado perdoar
todos os seus demolidores impiedosos golpistas, sem nenhum tipo de punição.
Do caos de Brasília, com suas
cenas ultrajantes de vandalismo insano e aterrador, uma lição é certeira: ou
Lula começa a fazer um governo que nunca foi feito, com precisão, decisão e
energia, ou será derrubado, ampliando os focos pelo país de insanas e
descontroladas reações bolsonaristas golpistas. As atitudes dos Três Poderes de
se unirem contra os atos do golpismo terrorista de Bolsonaro e sua malta de
golpistas são importantes e precisam ser intensificadas.
Chegou a hora da verdade de Lula
e da república brasileira: ou acaba com os terroristas, ou eles acabaram de vez
com a democracia brasileira.
✒️ Wellington Fontes Menezes - Doutor em Ciências Jurídicas e
Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
Nenhum comentário:
Postar um comentário