sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

A NATURALIZAÇÃO INSTITUCIONAL DA BARBÁRIE


Uma das grandes desgraças da ascensão do jaguncismo fascista de Bolsonaro ao poder é a naturalização da barbárie como mecanismo de operação da vida em sociedade.

Entretanto, tal mecanismo é tão velho quanto o estéril debate sobre o sexo dos anjos ou o formato geométrico da Terra. Exceto no período da perversão assassina da ditadura militar, ele nunca foi tão institucionalizado em um regime democrático como agora está acoplado ao grupo grotesco que dá sustentação às insanidades de Bolsonaro.

Em pouco mais de um ano com a faixa presidencial, Bolsonaro já falou tantas patifarias que é impossível listá-las minimamente nestas linhas. Salvo alguns raros momentos de indignação da imprensa com a profunda grosseira do presidente com o cordão umbilical ligado às milícias criminosas do Rio de Janeiro, tudo vêm sendo conduzido com a maior complacência da sociedade (leia-se, burguesia e setores das classes médias), da grande mídia corporativa e dos demais poderes do que restou da república pós-golpe de 2016.

O país se acostumou rapidamente a naturalizar as escrotices de Bolsonaro como se fosse à coisa mais habitual do planeta Brasil! O parâmetro quando se coloca uma figura tão despreparada e abjeta no mais alto cargo público do país é que todos abaixo dele poderão repetir seus feitos imbecis e não terá nenhum elemento impeditivo.

De um ponto de vista psicanalítico, o superego descolado no lastro social não fomenta a Lei necessária que produz laço como requer a convivência no liame social. Desde um microbiano ministro da Educação que ofende sistematicamente estudantes à vigarista que apresenta programa em televisão aberta que ofende jornalistas dizendo que "todos são maconheiros"! A escrotice jagunça virou o parâmetro da comunicação entre os viventes nas terras de Pindorama. Fazendo uma rasteira analogia de um velho ditado popular, no Brasil da horda miliciana de Bolsonaro, a banana come o macaco.

Vem sendo esquartejado qualquer parâmetro de mínima racionalidade e sociabilidade a tal ponto de assistirmos anestesiados o próprio Bolsonaro postar em suas famigeradas redes sociais apoio explicito à uma suposta "convocação cívica" para uma manifestação abertamente golpista cujos objetivos delinquentes são fechar o Congresso Nacional, suspender garantias constitucionais e impor uma ditadura nos moldes do jaguncismo bolsonarista. Por sinal, tamanha aberração dentro de uma democracia razoavelmente em funcionamento era motivo imediato de cassação de mandato de qualquer eleito pelo sufrágio popular!

Não é possível aceitamos passivamente sem uma gota de reflexão responsável a naturalização da barbárie  na sociedade de forma a contaminar todos os níveis de sociabilidade. O risco é a ampliação do frágil, assimétrico e tácito contrato social o que rege a vida em sociedade do ponto de vista da ampliação da endêmica violência.

Os bizarros episódios do motim de milicianos de cepa bolsonarista disfarçados de policiais militares no estado do Ceará resultaram, direta ou indiretamente, em um dantesco saldo de quase duas centenas de pessoas assassinadas em um espaço de poucos dias. Um mórbido quadro que demostrou a dimensão da barbárie apoiada pelo nefasto presidente da república e silenciada coniventemente por todos os demais poderes.

A oposição de esquerda e os sindicatos no Brasil viraram purpurina, confete e serpentina no "carnaval da resistência". A burguesia nacional se agarrou cega e insanamente às birutices de um jagunço dublê de bicheiro que se passa como ministro da Economia que não sabe nada de Economia, exceto parasitar o mercado financeiro para auferir vantagens para seus bolsos.
Com o nível de desemprego estratosférico e pauperização crescente, a classe trabalhadora vem se contentando voluntariamente em ser afanada de seus direitos básicos e sobreviver de forma mutilada achando que o destino-manifesto da vida de servo da rapinagem do capital é se tornar o glamourizado e precário "uber"!

Para colocar uma cereja apodrecida no bolo da desfiguração nacional, o Brasil derrete sua credibilidade a cada dia com posições cada vez mais covardes, submissas e patéticas no cenário da diplomacia internacional e, pior ainda, Bolsonaro transformou o Itamaraty em embaixada dos velhacos inferninhos da região da boca do lixo da Paulicéia bem paulistana!

Um Brasil em transe é o sustentáculo para toda uma celeuma psicótica de elementos que irriga a pavimentação da barbárie naturalizada. Todo este cenário foi amplamente alertado, escancarado e desenhado durante as fraudulentas eleições presidenciais de 2018, porém os ouvidos insanos e apoiadores da barbárie fizeram questão de serem cinicamente tampados.

Ficamos reféns de nossa própria estupidez grotesca e a conta salobra não demorou a chegar! É preciso acordar deste imenso pesadelo antes que possamos internalizar que a barbárie é "inevitável" como processo social.

É fundamental recusarmos a nossa "animalização" do darwinismo social imposto pelos seres mais monstruosos do país. Não merecemos tamanha destrutividade em nossas vidas e em nossa sociedade cuja burguesia aposta no esmagamento das classes subalternas como obsessivo mecanismo de controle psicossocial. Sim, só para variar, é a velha e sangrenta luta de classes fervilhando como sempre e com uma horda de sociopatas no poder.

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