quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

O aprofundamento do golpe: um país de Alices e a dura realidade política


Nesta quarta-feira, 24 de janeiro, mais um dia de pura bizarrice na história brasileira patrocinada por um Judiciário que vem fazendo a Constituição Federal como suporte de sua diarreia crônica e, hoje, na figura de três patéticos e populistas desembargadores. Nada mais podre e sórdido foi usar todo um aparato midiático sensacionalista com transmissão em “tempo real” para banalizar a justiça e ampliar o circo da vida política nacional. O resultado foi mais um capítulo de vexame internacional do país cuja opinião pública mundial se encontra perplexo e, logo, desmoralizando todo o progresso conquistado justamente nos governos Lula e Dilma no campo das relações externas.

O Brasil de Alices que acha que os grandes problemas nacionais se resolverão caso Lula for preso, mesmo sabendo que não existe nenhuma prova concreta contra o sujeito e sequer conseguiram escrever um processo decente dentro de um estado de direito.  Nada mais dantesco é inverter a ordem de legítima defesa dentro de um estado democrático de direito, ou seja, quem é acusado tem que provar e não o acusador de apresentar provas de supostas denúncias! É a inversão total de qualquer mínima prática jurídica processual e criminal! Vale lembrar, que essa é uma velha prática muito usual das polícias em bairros de periferia do país cuja operação que é praticada com qualquer cidadão que é abordado pelos “homens da lei”.

A questão não é julgar Lula, mas o destino eleitoral deste ano. Será se Lula não estivesse ainda tão forte em pesquisas eleitorais, a trupe de toga e a pastoral do Ministério Público  partidarizados e seletivos estariam tão preocupados com o ex-presidente ao ponto de forjar uma série de acusações sem nenhuma prova material? Gostar ou não de Lula, é uma questão que qualquer um pode considerar, porém é inegável o direito de todos aqueles supostamente acusados terem direito de ampla defesa. Isto é lei e não uma questão subjetiva de algum juizeco narcisista apoiado pelo grande capital. A justiça não poderá ser excessivamente partidarizada de tal forma que muda radicalmente sentenças de acordo com a vontade pessoal e política dos acusadores somente para promover o desejo daqueles que efetivamente controlam este país.

Um ano e meio antes, as mesmas Alices diziam que o Brasil entraria no Éden Tropical se puxassem escandalosamente o tapete de Dilma. Pois é, puxaram o tapete da presidenta, derrubaram todos os direitos trabalhistas e, logo em brevíssimo tempo, os previdenciários, além da entrega de todas as riquezas possíveis para as mãos de um punhado de burgueses, por sinal, os mesmos que patrocinaram todo financiamento do golpe.

Cerca de quatro anos antes, algumas Alicinhas juravam de pés juntinhos que o problema principal do país (talvez único, oxalá!)  era a alta das tarifas de ônibus da gestão do Fernando Haddad, o então prefeito petista de São Paulo, pois tudo era uma questão próxima de vinte centavos. Coitadas das crianças Alicinhas! Serviram apenas como bucha de canhão para a burguesia lançar a onda psicótica de imbecilização social que varreu o país e culminou no golpe de 2016. Claro, toda esta histeria coletiva não poderia ser realizada senão pela campanha de guerra diária da grande mídia em  distorcer fatos, mentir deliberadamente e provocar um clima de desespero irreal e ódio político em pessoas que sequer se dão conta do que é a Política. O mais curioso é ação fulminante dos elementos manipulatórios por parte da grande mídia, justamente, naqueles grupos sociais menos desprovidos de “senso crítico” (ou seja, menos elaboradores de questionamentos) e total ignorância da percepção do mundo da Política. Desta forma, a narrativa do “ódio ao PT” seduziu as Alices de plantão em seu berço de dormência a respeito da real vida política envolta em suas vidas.

De 2013 para cá, o Brasil somente desceu a dantesca ladeira do abismo sem ainda encontrar nenhum chão para se apoiar. Os principais golpistas e toda a junta de conspiradores tomaram conta dos destinos políticos e econômicos  e, consequentemente, plantam com muito agrotóxico um futuro dantesco para todos os trabalhadores e miseráveis da nação.

Diante do caos instalado com o apoio militante de uma imprensa bandida que faz parte da arquitetura de imbecilização e domesticação da “massa” que constitui a multidão que assiste o tsunami tropical passivamente, tudo é possível em um mundo onde não existem regras legais. A lei na democracia burguesa  que sempre pendeu mais favoravelmente aos mais ricos os quais possuem maior capital para pagar todo o teatro jurídico, portanto, esperar que parta do Judiciário uma equidade milagrosa e “apolítica” é ser mais uma Alice no campo dos sonhos. E, para ampliar o drama do caos brasileiro, o maior responsável pela erosão do estado de direito no país é o próprio Poder Judiciário a mando da macroestrutura que opera o grande capital (nacional e estrangeiro)!

O problema não é Lula, pois ele pode ou não vencer mais uma eleição ou, ainda, simplesmente, sair para a vida de avô dos seus netos. “Boa sorte a ele”!, muitos diriam com rancor ou piedade! Porém, a conjuntura política atual é muito mais complexa. A questão é a amplitude do golpe que esquartejou em pouquíssimos meses o que foi conquistado arduamente durante anos pela valorosa classe trabalhadora. Lula não é a solução dos nossos abissais problemas, mas é parte dela (queiramos ou não!). Diante das circunstancias de confronto imposto pela burguesia que decidiu não aceitar nenhum tipo de encenação do "jogo democrático" provido pelas urnas, a questão que urge está em um caminho complexo e cheio de espinhos: quem componentes políticos poderão ser construídos para cessar a queda livre dentro do abismo? Ao contrário do que alguns propalam com soluções mágicas e sem renovação real dos quadros políticos do campo das esquerdas, temos ainda que apostar na única liderança possível no momento, na figura de Lula, caso também o PT use as "sandálias da humildade", de aglutinar uma composição entre os partidos de esquerdas (algo sempre complicado no que tange um sectarismo de idéias e vaidades diversas) em torno de um programa mínimo de regate da democracia e das lutas sociais.

Se Lula não é o líder ideal para o Brasil por uma série de razões, que se apresente outro em seu lugar, com potencial de votos e carisma para canalizar apoios necessários para enfrentar o trator compulsivo da perversão burguesa. Cabe exclusivamente à população decidir nas urnas de forma democrática, sob o ponto de vista eleitoral de forma soberana e livre. Caso contrário, é preciso saber lidar entre um "tipo ideal" weberiano de um suposto líder político e as condições impostas de uma duríssima "Realpolitik" que vem canalizando para o endurecimento do estado de exceção.


Em tempo: Que as Alices não fiquem esperando que a “democracia” cairá novamente no colo do país pela bondade samaritana daqueles que, simplesmente, estraçalhou-a com perversão para seus próprios interesses. Nunca foi assim na História brasileira e não será agora que tal misticismo irá se realizar.

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