É puro deboche da avacalhação
identitária na UNICAMP: realizar uma "aula aberta" para ser
"ministrada" por um ilustre desconhecido “funkeiro" metido a
"intelectual do gueto". Afinal, do que se trata o saber da academia
ou, sinteticamente, o saber universitário?
A questão não é “censurar”
algum expositor, mas ter algum mínimo critério que faça jus do que é formada a
academia e quais os compromissos que ela representa enquanto instituição
pública ou que tem algum compromisso com o saber universitário. Pior ainda, são
fatos, que vem se avolumando, quando as universidades, que deveriam privilegiar
o saber técnico e o científico, tratarem tais sujeitos oportunistas e cafetões
da mediocridade como grandes "intelectuais", ou, de forma mais
abrangente, “intelectuais públicos”.
Temos aqui um obscuro e
preocupante fenômeno da construção de sujeitos midiáticos, irrelevantes social
e cognitivamente, como se fossem “intelectuais públicos”. No mundo do estrelato
artificial e efêmero, surgem figuras que desfilam um flácido verniz de saberes,
mas se vendem como "doutores" de si próprios, o micromundo do umbigo!
Em nome de um populismo academicista, ou uma espécie de “vale tudo” como
expressão de “conhecimento”, exalta-se uma pobreza reacionária fantasiada de “rebeldia”
fetichizada.
O identitarismo, assim como boa
e sedutora cepa do fascismo, procura fabricar seus “intelectuais” cujo
conhecimento se limita apenas a se posar de vitimas e a tagarelar sobre o
próprio umbigo. Portanto, se vale colocar um lacrador “funkeiro” cujo feito
maior é ter milhares de seguidores em redes sociais para balbuciar narcisismo
em “aula aberta”, logo, por que não poderá ter o mesmo “privilégio” as criaturas
do naipe de um “beato” como Fernandinho Beira-Mar ou o Pastor Silas Malafaia? Assim,
o dantesco impasse se forma, arrepiam até os pelos da extremidade mais opaca,
porém, é preciso ser sanado!
Oras, se vale para uma forma
de “fascismo colorido” do “politicamente correto”, deverá servir para as outras
aberrações monocromáticas. E, paulatinamente, a universidade é corroída, diante
da submissão covarde e silenciosa à ignorância da Caverna de Platão, doutrinada
por uma boçalidade medíocre e tosca, de todas as frentes ideológicas, como base
do conhecimento pós-moderno!
Trocando em miúdos, é a ética
midiática pós-moderna do oportunismo narcísico dos sujeitos que buscam surfar
na onda do delírio egóico e galgar degraus no alpinismo social. Claro, mediante
um mundo cujas perspectivas são cada vez mais turvas, tudo se torna válido em
busca de dinheiro, fama e ostentação da própria mediocridade.
Entre o oportunismo e a
cretinice inescrupulosa, assim se atracam os papagaios de pirata no lodaçal
ideológico do neoliberalismo. Eis o fetiche pós-moderno: fraturar, distorcer, destroçar
o conhecimento e fazer apologia à falácia de um senso comum cada vez mais
delirante, centrado no narcisismo e corrompido pela ideologia do capital. A
mesma lógica que rege o instrumental fascista diante da realidade.
Para quê labutar, estudar,
escrever e pesquisar, anos à fio com seriedade e tenacidade, se basta qualquer
criatura estúpida soltar um flato que se faz, por si mesmo, um grande evento da
cultura cósmica universal?
Depois, os mesmos lacradores
que tentam transformar as universidades em um grande circo non sense de
bestialidades e charlatanismos, vem reclamar quando a Extrema Direita grita,
com furor orgástico, que os cursos de humanidades nas universidades é puro
esterco que só serve para torrar dinheiro público!
Do alto do sanatório, os
cursos de humanidades vêm sendo abduzidos por uma onda irresponsável de fetichismo
obsessivo do oba-oba "decolonial", daí, vem a porra-louquice
identitária para justificar as histerias dos fanáticos extremistas. Nunca a Extrema
Direita chegou a fazer tanto estrago ideológico dentro das universidades qual
como vem se mostrando, recentemente, o fascismo pós-moderno neoliberal fantasiado
com o fetiche das identidades!
O mundo está sendo consumido
por duas guerras preocupantes simultâneas. A Extrema Direita cresce em todas as
partes do mundo. O Brasil vive um processo cavalar de desindustrialização,
retorno à dependência das exportações de commodities e desemprego estrutural...
E a UNICAMP vai dar ouvidos aos oportunistas abobalhados da lacração?
É, simplesmente, inacreditável
uma universidade como a UNICAMP, um centro de referência para a
intelectualidade e o saber acadêmico no Brasil e no mundo, deveria ser mais
reflexiva e cuidadosa à esta invasão de oportunismos que usam as estruturas
universitárias para promoção pessoal! Quando um centro de excelência da
intelectualidade crítica se aliena com ondas de modismos do capital e começa a
chocar os ovos de um serpentário, imaginemos o que está acontecendo com a
própria sociedade dentro da Caverna de Platão!
(Wellington Fontes Menezes)
FONTE: https://www.terra.com.br/visao-do-corre/mc-hariel-participa-de-aula-aberta-na-unicamp-e-fala-sobre-a-filosofia-do-funk,68da6e70a58ed71aecbae1aa293f9d68ktb8i9kf.html