Na onda da identidade como construção egoica única do sujeito em
detrimento de toda a realidade material existente, o surto psicótico
culturalista identitário está em epifania com a execução da vereadora do PSOL.
Neste campo, tal grupo se soma com a extrema-direita e transforma uma amálgama
de puro delírio psicodélico em prol de amplitude de medidas grotescas de coerção social.
Ao contrário a insistência
narcísica por uma "moda identitária", uma mártir que tais grupos
tanto buscariam encontrar, Marielle não foi executada por ser negra, ser
mulher, ser "favelada" ou por sua sexualidade, bandeira narcisicamente
exaltada pelo curto mandato da vereadora e dos grupos que ela se propôs a
representar, mas foi produto nefasto do crime organizado que plasmou a vida
social do Rio do Janeiro e reflete um quadro de "mexicanização" do
país. Sim, foi assassinato com interesses políticos e não por condição de
identidade a vereadora. O crime organizado com braço nos agentes públicos, em
particular de policiais, não tem interesses simplistas em querelas
identitárias, mas essencialmente econômicos.
Ao ficar apostando nas querelas
da "execução identitária", tais grupos culturalistas que exaltam uma
visão com simplificação unidimensional, vitimista e maniqueísta da vida
material, negando a luta de classes e a dominação do capital, contribuem para a
pauta dos grupos mais reacionários da sociedade. Por sinal, inclusive, estão na
mesa esteira ideológica da criminosa e manipuladora Rede Globo, propagando o
discurso da militarização da vida social com a intensificação das forças
violentas estatais na figura do exército e profundando a violência social endêmica.
É preciso esclarecer com total
profundidade a execução covarde de Marielle e desarticular os terríveis
tentáculos destas organizações criminosas e os interesses do grande capital,
sem cair no discurso reducionistas com tom masoquista de grupos culturalistas e
na fabricação do ódio social da extrema-direita. Todavia, é preciso lembrar que
estamos imersos em um golpe de estado o qual o país sucumbiu ao estado de
exceção o qual resultou diretamente na banalização da violência que vitimou a
vereadora carioca. O fosso é muito mais profundo e vai além de meros devaneios
narcísicos.