Nesta quarta-feira, 24 de janeiro, mais um dia de pura bizarrice na história brasileira patrocinada por um Judiciário que vem fazendo a Constituição Federal como suporte de sua diarreia crônica e, hoje, na figura de três patéticos e populistas desembargadores. Nada mais podre e sórdido foi usar todo um aparato midiático sensacionalista com transmissão em “tempo real” para banalizar a justiça e ampliar o circo da vida política nacional. O resultado foi mais um capítulo de vexame internacional do país cuja opinião pública mundial se encontra perplexo e, logo, desmoralizando todo o progresso conquistado justamente nos governos Lula e Dilma no campo das relações externas.
O Brasil de Alices que acha que os grandes problemas
nacionais se resolverão caso Lula for preso, mesmo sabendo que não existe
nenhuma prova concreta contra o sujeito e sequer conseguiram escrever um
processo decente dentro de um estado de direito. Nada mais dantesco é inverter a ordem de
legítima defesa dentro de um estado democrático de direito, ou seja, quem é
acusado tem que provar e não o acusador de apresentar provas de supostas
denúncias! É a inversão total de qualquer mínima prática jurídica processual e
criminal! Vale lembrar, que essa é uma velha prática muito usual das polícias
em bairros de periferia do país cuja operação que é praticada com qualquer
cidadão que é abordado pelos “homens da lei”.
A questão não é julgar Lula, mas o destino eleitoral deste
ano. Será se Lula não estivesse ainda tão forte em pesquisas eleitorais, a
trupe de toga e a pastoral do Ministério Público partidarizados e seletivos estariam tão
preocupados com o ex-presidente ao ponto de forjar uma série de acusações sem
nenhuma prova material? Gostar ou não de Lula, é uma questão que qualquer um
pode considerar, porém é inegável o direito de todos aqueles supostamente
acusados terem direito de ampla defesa. Isto é lei e não uma questão subjetiva
de algum juizeco narcisista apoiado pelo grande capital. A justiça não poderá
ser excessivamente partidarizada de tal forma que muda radicalmente sentenças
de acordo com a vontade pessoal e política dos acusadores somente para promover
o desejo daqueles que efetivamente controlam este país.
Um ano e meio antes, as mesmas Alices diziam que o Brasil
entraria no Éden Tropical se puxassem escandalosamente o tapete de Dilma. Pois
é, puxaram o tapete da presidenta, derrubaram todos os direitos trabalhistas e,
logo em brevíssimo tempo, os previdenciários, além da entrega de todas as
riquezas possíveis para as mãos de um punhado de burgueses, por sinal, os
mesmos que patrocinaram todo financiamento do golpe.
Cerca de quatro anos antes, algumas Alicinhas juravam de pés
juntinhos que o problema principal do país (talvez único, oxalá!) era a alta das tarifas de ônibus da gestão do
Fernando Haddad, o então prefeito petista de São Paulo, pois tudo era uma
questão próxima de vinte centavos. Coitadas das crianças Alicinhas! Serviram
apenas como bucha de canhão para a burguesia lançar a onda psicótica de
imbecilização social que varreu o país e culminou no golpe de 2016. Claro, toda
esta histeria coletiva não poderia ser realizada senão pela campanha de guerra
diária da grande mídia em distorcer
fatos, mentir deliberadamente e provocar um clima de desespero irreal e ódio
político em pessoas que sequer se dão conta do que é a Política. O mais curioso
é ação fulminante dos elementos manipulatórios por parte da grande mídia,
justamente, naqueles grupos sociais menos desprovidos de “senso crítico” (ou
seja, menos elaboradores de questionamentos) e total ignorância da percepção do
mundo da Política. Desta forma, a narrativa do “ódio ao PT” seduziu as Alices
de plantão em seu berço de dormência a respeito da real vida política envolta
em suas vidas.
De 2013 para cá, o Brasil somente desceu a dantesca ladeira
do abismo sem ainda encontrar nenhum chão para se apoiar. Os principais
golpistas e toda a junta de conspiradores tomaram conta dos destinos políticos
e econômicos e, consequentemente,
plantam com muito agrotóxico um futuro dantesco para todos os trabalhadores e
miseráveis da nação.
Diante do caos instalado com o apoio militante de uma
imprensa bandida que faz parte da arquitetura de imbecilização e domesticação
da “massa” que constitui a multidão que assiste o tsunami tropical passivamente,
tudo é possível em um mundo onde não existem regras legais. A lei na democracia
burguesa que sempre pendeu mais favoravelmente
aos mais ricos os quais possuem maior capital para pagar todo o teatro
jurídico, portanto, esperar que parta do Judiciário uma equidade milagrosa e
“apolítica” é ser mais uma Alice no campo dos sonhos. E, para ampliar o drama
do caos brasileiro, o maior responsável pela erosão do estado de direito no
país é o próprio Poder Judiciário a mando da macroestrutura que opera o grande
capital (nacional e estrangeiro)!
O problema não é Lula, pois ele pode ou não vencer mais uma
eleição ou, ainda, simplesmente, sair para a vida de avô dos seus netos. “Boa
sorte a ele”!, muitos diriam com rancor ou piedade! Porém, a conjuntura
política atual é muito mais complexa. A questão é a amplitude do golpe que
esquartejou em pouquíssimos meses o que foi conquistado arduamente durante anos
pela valorosa classe trabalhadora. Lula não é a solução dos nossos abissais
problemas, mas é parte dela (queiramos ou não!). Diante das circunstancias de
confronto imposto pela burguesia que decidiu não aceitar nenhum tipo de
encenação do "jogo democrático" provido pelas urnas, a questão que
urge está em um caminho complexo e cheio de espinhos: quem componentes
políticos poderão ser construídos para cessar a queda livre dentro do abismo?
Ao contrário do que alguns propalam com soluções mágicas e sem renovação real
dos quadros políticos do campo das esquerdas, temos ainda que apostar na única
liderança possível no momento, na figura de Lula, caso também o PT use as
"sandálias da humildade", de aglutinar uma composição entre os
partidos de esquerdas (algo sempre complicado no que tange um sectarismo de
idéias e vaidades diversas) em torno de um programa mínimo de regate da
democracia e das lutas sociais.
Se Lula não é o líder ideal para o Brasil por uma série de
razões, que se apresente outro em seu lugar, com potencial de votos e carisma
para canalizar apoios necessários para enfrentar o trator compulsivo da
perversão burguesa. Cabe exclusivamente à população decidir nas urnas de forma
democrática, sob o ponto de vista eleitoral de forma soberana e livre. Caso
contrário, é preciso saber lidar entre um "tipo ideal" weberiano de
um suposto líder político e as condições impostas de uma duríssima "Realpolitik"
que vem canalizando para o endurecimento do estado de exceção.
Em tempo: Que as Alices não fiquem esperando que a
“democracia” cairá novamente no colo do país pela bondade samaritana daqueles
que, simplesmente, estraçalhou-a com perversão para seus próprios interesses.
Nunca foi assim na História brasileira e não será agora que tal misticismo irá
se realizar.