Os ataques contra Lula
representam o símbolo de uma nova era de retomada da ganância da burguesia
nacional anti-nacionalista, escravocrata e colonizada. É a reação dos donos do
poder com sua sede feroz pelo esquartejamento dos direitos trabalhistas e sociais
em nome da escravização do trabalhador.
Não se aplica um ardiloso golpe de estado apenas por amores às
práticas da "ética política”. Um golpe de estado é a virada de mesa, é o
puro reacionarismo dos grupos que sempre defecaram
em cima dos mais pobres e da democracia. A direita brasileira nunca foi
democrática e seu viés "republicano" somente foi projetado quando
seus interesses não foram prejudicados ou ameaçados.
As esquerdas e o campo mais
progressistas sempre lutaram ao longo da História com suor e sangue por
direitos e horizontes que, por outro lado, uma mídia podre a todo o momento
procurou desconstruir o discurso do real. A projeção midiática da ideologia
proto-fascista de um discurso depressivo e niilista de que nada neste mundo
prestaria, toda a política seria exclusiva de uma “coisa de ladrão” e,
portanto, todos deveriam olhar somente para o próprio rabo. A projeção dos
aspectos individualistas, a maldição da ideologia neoliberal do
empreendedorismo, a repulsa infanto-juvenil à política e a política do ódio a
tudo aquilo que não seja em prol dos interesses dos patrões se torna
beatificado como verdade absoluta pela constelação da grande mídia dominada
histórica e sistematicamente por seletas
famílias.
Lembrando que os protestos da
onda conservadora fabricada midiaticamente em 2013 culminariam no endosso
passivo pelas camadas médias da população diante da derrubada da presidenta
Dilma em 2016 e demonização do seu Partido dos Trabalhadores (PT) e do
ex-presidente Lula. Desta maneira, contra qualquer ilação da consciência de classe
por parte dos trabalhadores, segue atacado sistematicamente pelo apelo
midiático aos elementos narcísicos mais atávicos e primários e alinhavados pela
retórica da “pureza política” no suposto combate à corrupção.
A centralidade do trabalho é
concomitantemente aliada da centralidade da violência. Portanto, o par trabalho-violência
é um binômio que constitui, alicerça e modela as sociedades capitalistas. No
Brasil, a ênfase da violência, em todos os seus aspectos, é pressuposto central
da domesticação e doutrinação das massas sufocadas e deixadas à reboque dos
acontecimentos. Diante a ação persecutória à
figura pessoal de Lula por parte dos setores golpistas do Judiciário, em
particular, a operação midiática da Lava Jato e seu expoente “heroico”, o juiz Sergio
Moro, é um fator emblemático. É desnecessário dizer que Lula não é santo, pois
é homem de carne e osso. Nem Lula é santificado e tampouco os seus detratores. Lugar
de santo é na bricolagem religiosa do oratório. Não existe nenhum paradigma que
se possa dizer que para atuar na política é preciso angariar nível de “santidade”,
como se o ser humano fosse possível ser casto e puro ao longo de toda a sua
vida. Basta lembrar que a reivindicação irracional, assassina e eugênica do “puritanismo”
na política foi da práxis dos setores da extrema-direita cujo ápice desenvolveu
na Alemanha nazista dos anos 1930 e 1940. Todavia, não se trata da figura
pessoal de Lula acossado covardemente por uma Justiça parcial e que destrata o
estado de direito, mas o que ele representa para o campo das esquerdas no meio
do lodaçal que afoga o golpeado Brasil.
A perseguição de Lula é o combate
simbólico contra as esquerdas e tudo que representa o campo progressista. A
luta de classes agora é escancarada e os setores privilegiados da burguesia
brasileira, sempre atrelados aos interesses internacionais, não medem esforços
para atacar todas as parcas conquistas dos trabalhadores dos últimos anos. O
reflexo da natureza do golpe de 2016 se mostra cristalino no trator impiedoso
do governo Temer diante das “reformas” previdenciária e trabalhista aliado a
todo um cabedal dos mais bizarros retrocessos humanitários já vistos no país em
num curtíssimo período histórico de apenas alguns meses. O depoimento de Lula
ao juiz Sérgio Moro, nesta quarta-feira, 10 de maio, reafirmou que a única
coisa de concreto em todo o circo midiático instalado na cidade de Curitiba é o
caráter persecutório em torno da vida pessoal do ex-presidente e a obsessão de
Moro em incriminá-lo sem provas cabais.
Não nos iludimos e nem tenhamos
falsas esperanças! Não há nenhum horizonte que dê alguma garantia factível para
a realização das eleições presidenciais em 2018 e, por sua vez, seriam as
primeiras após o golpe 2016. Como acreditar no estabelecimento das normas
democráticas em um país sob a imposição de um estado de exceção com turvo verniz
de “normalidade jurídica” e tendo os principais golpistas no comando do Poder
Judiciário, em especial, no Supremo Tribunal Federal (STF)? Nem tampouco que
haja uma figura política que agregue as forças democráticas e as esquerdas sem
a participação direta de Lula e o seu partido, o PT. A Constituição é apenas
uma peça retórica o qual foi violentada e ignorada principalmente por aqueles
que têm como tarefa constitucional de protegê-la de arbítrios e violações.
O que está em jogo é muito além
da figura pessoal do ex-presidente Lula, mas as possibilidades da
contra-ofensiva diante da hegemonia da burguesia golpista e escravocrata.
Aceitar com indiferença, arrogância ou desprezo como mote egóico diante dos
abusos coercitivos do estado de exceção imposto ao país é calar-se servilmente
diante de qualquer possibilidade de mudança diante do quadro vigente, além de
entregar a cabeça passivamente aos abutres. Quando o estado de direito é
sufocado em nome da imposição de históricos grupos dominantes, é sinal que o
país está a deriva diante da sua própria História e colocando em potencial
risco o destino de todos os brasileiros que não compactuarem com as premissas
impostas pelos atuais usurpadores nominais do poder.