Durante o ato "Fora
Temer" na Avenida Paulista, em São Paulo, nesta gelada noite de
sexta-feira, 10/06, após ouvir a maioria das intervenções e devaneios das
frentes que compõem a organização do movimento, a sensação é que estão como na
canção de Olivia Newton-John em busca de uma imaginária Xanadu para resolver todos
os problemas políticos diante de um golpe que está longe de trazer um retorno
da estabilidade democrática.
Restou a alguns poucos como Rui Falcão (PT), Vagner
Freitas (CUT), Gilmar Mauro (MST) e o Guilherme Buolos (MTST) terem intervenções
mais pragmáticas e realistas de acordo com a conjectura do golpe, porém sem
maior objetividade. O ponto importante tratado por eles foi a necessidade de
uma greve geral contra o golpe de estado cuja faceta maior é a da quadrilha de
Temer no Planalto. O discurso de Lula cativou a plateia, um excepcional orador,
como sempre, no entanto foi mais uma fala da defesa de sua história e do PT
frente aos ataques da quadrilha mafiosa instalada no Poder Judiciário do que
exatamente em defesa de Dilma.
Notadamente não houve um discurso
definido. Sequer a questão de dois grande “players” go golpe, o banditismo do
Judiciário e da grande mídia golpista, foi lembrada ou citada como mais vigor. A
impressão maior que apenas pelos gritos e força de vontade irão conquistar a
Xanadu contra o golpe! Sequer ouve um apoio mais abrangente e explícito de um
"Volta Dilma", mas apenas a manifestação de um sonoro "Fora
Temer" que é importante como movimentação, mas sem conteúdo programático.
Sintomas estes sinalizam que o atoleiro da política brasileira é tão fundo que sequer as esquerdas conseguem um
horizonte mínimo de discurso e ação além de meia-dúzia de palavras de ordem,
apesar dos esforços dos grupos envolvidos no maior ato coletivo após o golpe.
Tarefa que sozinhas e isoladas narcisisticamente tão terão mínima chance de
vitória diante da consolidação do golpe costurado por um amplo leque dos
setores mais selvagens e putrefatos da sociedade.
Após uma inércia assustadora
pós-golpe seguida de uma letargia inexplicável entre uma perplexidade
atormentada com a queda de Dilma e um pragmatismo arrogante eleitoral de olho
em uma hipotética conquista em 2018, uma pergunta que fica: o que realmente
quer o PT?